sexta-feira, 8 de maio de 2009

LEADBELLY


"A voz que canta neste álbum possui os poderes mais elementares – emoção e humor – e o home à qual pertence foi intimamente familiarizado com as paixões que referiu-se em sua canções. Huddie Ledbetter, conhecido como Leadbelly, nasceu em Louisiana, nos anos de 1880. Morreu em 6 de Dezembro de 1949 no Hospital Bellevue, de Nova Iorque, do mesmo mal que matou Lou Gehring [esclerose lateral amiotrófica]. Durante os 60 anos de intervalo, levou uma vida repleta de violência, depravação, crime, cobiça e numerosos caminhos próximos da morte.
Leadbelly nasceu numa fazenda de seu pai, próximo a Mooringsport, na Louisiana. De acordo com suas próprias palavras, ele foi “um rapaz mau e terrível”. Com 15 anos foi acusado pela filha de um vizinho de ser pai de sua criança. Um ano mais tarde, quando a mesma moça, ainda solteira, engravidou novamente, a ira moral da comunidade forçou Leadbelly a fugir. Com a guitarra sobre o ombro e um Colt preso sob seu braço, Leadbelly foi para a cidade. Tentou Shreveport por algum tempo e depois foi para Dallas. Leadbelly conheceu um padrão de vida agradável. Nos outonos e verões trabalhou nas terras das fazendas ao leste de Dallas, arando e colhendo algodão. Durante os invernos levava uma vida tranqüila, cantando e tocando em salões de baile e casas suspeitas; mas havia a falta de sorte. Seus modos insolentes, seu temperamento agitado e sua maneira de tratar as mulheres deram-lhe inimigos. Numa ocasião, um rival pegou-o desprevenido e rachou sua cabeça com uma garrafa. Outra vez, cantava e dançava num salão, quando um assaltante enfiou uma faca em sua garganta, puxou a metade da lâmina e girou-a em torno do seu pescoço antes que Leadbelly o jogasse longe. Como resultado, uma cicatriz marcou, como um colar, em torno do seu pescoço, pelo resto de sua vida.
As mulheres apareciam em outro tipo de confusões. Como raramente encontrava resistência por parte delas, tornou-se arrogante e exigente ao mesmo tempo. Certa vez, em Marshall, uma delas repeliu-o e ele violentou-a. Por causa disso foi condenado a um ano na cadeia de Harrison County, mas, depois de três dias, pulou uma cerca e correu para a liberdade através de um campo de plantação.
Em outra ocasião, Leadbelly viajava com dois companheiros por um rio. A noite estava escura e eles estavam armados. Um dos rapazes começou a gracejar com o outro, dizendo que Leadbelly havia visto algo de sua garota. O companheiro, vexado, puxou sua arma ameaçadoramente, mas, antes que pudesse usá-la, Leadbelly atirou na sua cabeça. Desta vez pegou uma sentença de trinta anos, e falharam todos seus esforços para escapar. Também falhou uma tentativa de afogar-se num lago. Com o correr do tempo e bom comportamento, conseguiu tornar-se o chefe do melhor grupo dos trabalhadores da penitenciária.
Tornou-se, igualmente, o artista favorito dentre os presos. Nesta época, Leadbelly já tinha uma vasta coleção de blues, canções diversas, work songs, baladas e spirituals, que juntaram-se ao seu repertório de blues de prisão.
Tocando sua guitarra de 12 cordas e cantando com sua voz intensa e áspera, transformou este repertório em algo para ser ouvido. Uma ocasião, visitou a prisão o governador do Texas, Pat M. Neff, do qual diziam jamais ter perdoado qualquer homem. Leadbelly dançou, cantou e tocou para Neff, sua esposa e comitiva. O governador disse: “Leadbelly, vou libertá-lo algum dia, mas terá que ficar e tocar para mim”. Um ou dois dias antes de terminar seu mandato Neff enviou ordens para Leadbelly ser libertado; ele ficara preso 6 anos, sete meses e oito dias.
Dez anos depois Leadbelly foi preso novamente. Desta vez recebeu uma sentença de dez anos na Fazenda Estadual da Louisiana, em Angola, por esfaquear seis homens numa briga de rua (eles queriam tomar-lhe a sua vasilha de refeições para colocarem uísque nela).
Foi nessa ocasião que o conhecido pesquisador folclórico John Lomax, compromissado em gravar canções e diversos cantores para a Biblioteca do Congresso Americano, encontrou-o. Lomax e seu filho Alan trouxeram uma gravação de Leadbelly feita em alumínio, cantando num lado um pedido de perdão e, no outro, “Goodnight Irene” para o governador da Louisiana, O. K. Allen. Logo após, Leadbelly estava livre.
A conduta de Leadbelly na prisão foi exemplar. Os Lomax levaram-no em suas expedições para cantar nas prisões, pelo sul do país. Ele provou ser um companheiro e assistente digno de confiança, gentil e útil, exceto por seus desaparecimentos imprevisíveis, quando saía em busca de uísque e mulheres. De tempos em tempos, John Lomax realizava conferências em Harvard e outros honoráveis estabelecimentos de ensino; o canto e a execução de Leadbelly tornaram-se parte das mesmas. Os bacharelandos sentavam-se fascinados quando ele os advertia num aparte: “Jamais matem mulheres, ou isso será o seu fim”. Os Lomax levaram Leadbelly para Nova Iorque. A imprensa começou a escrever sobre ele, e o resto é história. Nos seus últimos anos, um homem alto e musculoso, de semblante temível e cabelos brancos, apresentou-se em concertos nos Estados Unidos e em Paris.
Em Hollywood, Leadbelly gravou essas doze faixas para a Capitol; cantou e tocou sua guitarra de doze cordas em Goodnight Irene, Take this Hammer, Ella Speed e outras de suas canções famosas. Ele também foi persuadido a gravar duas faixas do seu piano influenciado pelo ragtime, hoje duas raridades.
Poucos anos depois Leadbelly morria. A voz parou, o coração parou, as aflições, a agitação e o humor chegaram a um fim. Deixou como legado sua rara herança de excelentes gravações, entre elas estas 12 faixas importantes.
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Texto encontrado na contracapa do álbum (LP) Capitol Jazz Classics Vol. 7, lançado no Brasil pela EMI em 1975. Não há referências à autoria do mesmo.



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