sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Texto e atividade - Renascimento


“No presente, o homem se faz através da posse da razão. Se as árvores e bestas selvagens crescem, os homens, creia-me, moldam-se. (...) A natureza, ao dar-vos um filho, vos presenteia com uma criatura rude, sem forma, a qual deveis moldar para que se converta em um homem de verdade. Se este ser moldado se descuidar, continuareis tendo um animal; se, ao contrário, ele se realiza com sabedoria, eu poderia quase dizer que resultaria em um ser semelhante a Deus.”

Erasmo de Rotterdam. Reproduzido de Van Acker, T. Renascimento e Humanismo. São Paulo: Atual, 1992. p. 32-3.

A idéia central desse trecho, escrito pelo humanista holandês Erasmo de Rotterdam, em 1529, é que “o homem se faz através da posse da razão”. Segundo o autor, como se adquire a razão? Você concorda com isso?

Esse texto e a atividade que o segue foram extraídos de RODRIGUE, Joelza Ester. História em Documento – Imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Itacoatiaras

A arte rupestre brasileira ganhou uma análise inteligente e interessante na obra de Luiz Galdino (Itacoatiaras. Uma pré-história da arte no Brasil. São Paulo, Editora Rios, 1988). O trabalho começa com um resumo bibliográfico daquilo que se escreveu sobre elas, desde os cronistas coloniais até os cientistas do século XIX, passando pelos religiosos de diversas denominações que com elas travaram contato. Essas impressões podem ser usadas nas aulas de história, pois tem o potencial de demonstrar a variação das mentalidades ao longo do tempo, simultaneamente à exposição sobre este tipo de manifestação pré-histórica. Posto abaixo texto produzido a partir da obra supracitada.


Itacoatiara é palavra que na língua dos índios significa pedra pintada, pedra marcada, pedra escrita. São conjuntos de pinturas e insculturas produzidas em tempos imemoriais, pelos habitantes mais antigos do Brasil. Estão presentes em todos os territórios do país, e foram produzidas por diversos grupos, que empregaram variadas técnicas e temas.

O primeiro relato escrito sobre as itacoatiaras pertence a Brandônio, que viveu no século XVI. Eis o que ele escreveu:

“Relatou-me por coisa verdadeira que, andando Feliciano Coelho de Carvalho, capitão-mór que foi da dita Capitania (Pernambuco), pela mesma serra, fazendo guerra ao índio potiguar, aos 29 dias do ano de 1598, se achara junto a um rio chamado Araçuagipe que, por ir então seco, demonstrava somente alguns poços de água, que o calor do verão não tinha ainda gastado, e que alguns soldados, que foram por ele abaixo, toparam nas suas fraldas, com uma cova, da banda do poente, composta de três pedras, que estavam conjuntas umas com as outras, capaz de se poderem recolher dentro quinze homens; a qual cova tinha de alto, para banda do sol nascente, de sete a oito palmos e ali, por toda a redondeza que fazia a face da pedra se achavam umas molduras, que demonstravam, na sua composição, serem feitas artificialmente.
Primeiramente à banda do poente dessa cova, na face mais alta dela, estavam cinqüenta mossas todas conjuntas, que tomavam princípio de baixo para cima de um tamanho, que semelhavam no modo com que estavam arrumadas o que se pinta por retablos o rosário de Nossa Senhora; e no cabo dessas mossas, se formava uma moldura de rosa dessa maneira:_____________. E é de se advertir que os mais dos caracteres, que se demonstravam nessa cova se arrumavam da banda do poente, aonde da parte da direita das cinqüenta mossas, em um cotovelo que a pedra fazia, se mostravam outras trinta e seis mossas, como as demais; das quais nove delas corriam de comprido para cima, e as outras tomavam através contra a mão esquerda, em cima delas todas estava outra rosa, como a primeira que tenho pintado; e logo, um pouco mais abaixo, estava outra semelhante rosa e junto dela um sinal que parecia caveira de defunto, e logo, contra a mão esquerda, se formavam doze mossas semelhantes às demais e no alto delas, que era conjunto às cinqüenta primeiras, pareciam uns sinais de modo de caveiras, e da banda direita do cotovelo estava uma cruz e logo, para a banda da esquerda, na face da pedra, se demonstravam, em seis partes, cinquenta mossas.
Em uma das partes estava uma rosa mal clara, porque parecia estar gastada pelo tempo, e logo adiante estavam outras nove mossas semelhantes às primeiras, e, por toda redondeza da cova, se viam pintadas outras seis rosas, e na pedra, que se assentava em meio das duas, estavam vinte e cinco sinais ou caracteres que abaixo debuxarei, divididos em três partes, com mais três rosas que o acompanhavam.
O que de tudo era de mais consideração, era o estar sobre duas pedras muito grandes, uma que botava a borda sobre as outras arcadamente, com estarem tão juntas, que por nenhuma parte davam lugar a se meter por elas o braço. E na pedra de mais baixo da cova pareciam doze mossas da própria maneira das que temos mostrado e no meio delas se formava um círculo redondo dessa qualidade:____ com mais uma rosa, pintada perfeitamente; e é de se notar que todas as rosas eram de uma maneira, exceto uma que tinha doze folhas com a do meio. E pela redondeza dessa cova estavam molduras que tenho dito ou caracteres que se formavam na maneira seguinte:______. Estes caracteres todos nos deram debuxados na forma que aqui vo-lôs demonstro.”


Os religiosos tinham uma relação dúbia com as Itacoatiaras. Aos jesuítas os índios explicaram que elas eram obras de Sumé, um herói mitológico tupi. Os jesuítas trataram de identificar Sumé com São Tomé, criando a lenda da peregrinação desse santo apóstolo pelas terras do Brasil, tendo em mira facilitar a catequese. Outras ordens religiosas, como os capuchinhos franceses, trataram os mitos e a cultura indígena com respeito maior, tentando compreendê-la.

Os naturalistas do século XIX e início do XX desenvolveram interpretações diferentes a respeita das itacoatiaras, que podem ser agrupadas em duas categorias: alguns, como Wilhelm Lund, diminuíam a importância das obras, tratando-as como expressões de uma cultura bárbara, inferior e incivilizada. Nas palavras dele: “os selvagens nômades da tribo dos Caiapós, segundo penso, ali fixaram residência e acharam abrigo nas grutas, sob as abóbadas deste imenso rochedo. Entusiasmados pela beleza da paisagem circunvizinha, ensaiaram representar os objetos que mais lhe davam na vista. O pé do rochedo está coberto de seus desenhos, que tão primitivos quanto a imaginação que guiou as mãos de seus autores, nem por isso interessa menos ao filósofo que deseje conhecer as produções do espírito no seu mais baixo grau de desenvolvimento.” Outros, como Paul Ehrenreich, conferiam valor a essas manifestações: “contudo, não devemos considerar estes litógrafos como simples desporto sem significação, executados em horas de ócio, porquanto, atento aos primitivos instrumentos indígenas, devem ter exigido extraordinário dispêndio de tempo e de trabalho.”

Finalmente, há aqueles que vêem nas itacoatiaras provas que fundamentam suas teorias disparatadas. Bernardo da Silva Ramos afirmou que os caracteres presentes nelas eram de origem fenícia. Para Alfredo Brandão, eram os componentes de uma “escrita-mãe”, sistema ancestral de escrita do qual todos os outros teriam se ramificado. O engenheiro Appolinário Frott, mais ousado, declarava ter descoberto nos escritos do norte do Amazonas a explicação para a “misteriosa” origem dos egípcios. Nos tempos mais recentes, as itacoatiaras tem sido vistas por alguns como sinais da presença extraterrestre no Brasil pré-cabralino.

Fontes:
BRANDÔNIO, (Anônimo) – Diálogo das Grandezas do Brasil – Edições Melhoramentos/INL, São Paulo, 1977.
GALDINO, Luiz. Itacoatiaras. Uma pré-história da arte no Brasil. São Paulo, Editora Rios, 1988.


Textos - Surgimento e evolução dos hominídeos

I . À procura de nossa origem

Há dezenas de anos, os cientistas têm pesquisado sobre a origem do ser humano. Encontraram muitos fósseis de ancestrais humanos. Os mais antigos foram descobertos na África, o que sugere que o homem originou-se neste continente.
Na África foram descobertas ossadas aparentemente humanas datando de milhões de anos. São pedaços de crânios, maxilares, dentes e fêmures. Estudando-os, os cientistas perceberam que eles pertenceram a diferentes tipos de seres. Por serem semelhantes ao homem, deram-lhes o nome genérico de hominídeos. Todos eles eram bípedes, quer dizer, andavam apoiando-se somente nas pernas. Atualmente, os hominídeos são classificados em dois gêneros: Australopithecus e Homo.
O Australopithecus é o nosso mais antigo ancestral. Vivia na parte sul e oriental da África, há cerca de 1,5 a 5,5 milhões de anos, agrupado em pequenos núcleos familiares.
De longe, os Australopthecus pareciam macacos. Eram pequenos: o adulto media cerca de 1,20 m de altura e pesava uns 30 kg. Alimentavam-se basicamente de vegetais. Não fabricavam nenhuma ferramenta e, por isso, não foram considerados humanos pelos cientistas. Mas distinguem-se dos macacos por uma única diferença decisiva: ficavam de pé sobre as patas traseiras e usavam as mãos e pedras brutas para arrancar raízes ou quebrar frutas de cascas duras, por exemplo.
O andar ereto e a habilidade manual contribuíram para o desenvolvimento cerebral e para a sobrevivência dos hominídeos. Eles tinham a capacidade de usar simultaneamente os membros inferiores (pernas) e os superiores (braços) para carregar alimentos e mover-se rapidamente. Com isso, podiam, por exemplo, levar alimentos para os companheiros.
A mais conhecida ossada de Australopithecus foi encontrada em 1974 na Etiópia. Ela tinha 3,5 milhões de anos. Era uma fêmea adulta e recebeu o nome de Lucy em referência à música dos Beatles “Lucy in the Sky with Diamonds”, o maior sucesso da época.
Não se sabe exatamente por que os Australopithecus desapareceram. Mas, centenas de milhares de anos antes disso acontecer, surgiu outro gênero de hominídeo: O Homo.

II. O hominídeo tornou-se humano

O Homo tem inteligência, isto é, tem capacidade de raciocinar, de fabricar utensílios, de articular uma linguagem e de se comunicar. Mas estas capacidades foram surgindo aos poucos. Os cientistas constataram que o gênero Homo dividiu-se em quatro espécies distintas (nós pertencemos a uma delas), sendo que uma não gerou a outra e algumas delas podem ter convivido entre si em curtos períodos de tempo. Forma elas:
Homo habilis - o “homem habilidoso” fabricava toscas peças de pedra para usar como ferramentas e arma. Esta habilidade manual deve estar relacionada ao aumento do tamanho do cérebro. Com as armas de que dispunha, conseguia caçar pequenos animais. Disputava com as hienas e os abutres a carne de animais maiores, comendo-a crua, pois conhecia mas não dominava o fogo. Seus restos forma encontrados na África, onde ele viveu há cerca de 1,5 a 2,4 milhões de anos;
Homo erectus – o “homem ereto” possuía a cabeça e a coluna vertebral perfeitamente alinhadas, como o homem moderno. Talhava melhor a pedra e fazia diferentes tipos de instrumentos. O controle do fogo foi sua maior conquista. Organizava-se em grupo para caçar animais de grande porte, como mamutes, cavalos e rinocerontes. O alimento era distribuído entre os membros do grupo. Estas atividades requeriam uma capacidade de comunicação verbal que ele provavelmente possuía. Viveu há cerca de 1,3 milhão de anos;
Homo sapiens neanderthalensis – sua aparência física era muito semelhante à nossa. Sabia produzir fogo, vivia em comunidade, fabricava instrumentos de pedra, de osso e de madeira e decorava-os com figuras de animais entalhadas. Foi o primeiro hominídeo a enterrar seus mortos e o fazia com rituais e oferendas. Viveu há cerca de 40 mil a 200 mil anos. No final de sua existência, foi contemporâneo do homem moderno. Deconhecem-se as razões de seu desaparecimento.
Homo sapiens sapiens – é o homem moderno de cuja espécie descendemos. Ele surgiu há 100 mil anos e é o único hominídeo existente na Terra hoje. Tinha todas as habilidades dos hominídeos anteriores, mas sua maior conquista foi a capacidade de se expressar através de pinturas, desenhos e esculturas. Este foi um passo importante para uma grande invenção: a escrita. Mas ela demoraria ainda muitos milênios para acontecer.
Fonte: RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento. Imagem e Texto. FTD: São Paulo, 2002.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Atividade - aula inicial

Para as primeiras aulas, esta atividade pode servir como ferramenta de detecção e sondagem.



Os tempos do tempo

Quanto tempo dura o dia e a noite? O que demora mais para passar: cinco minutos na praia ou cinco minutos na cadeira do dentista? Em que horário você tem fome? Qual é a data mais importante na sua vida? Essas perguntas se referem a tempo diferentes: o tempo astronômico, o psicológico, o biológico e o histórico. E cada um deles é percebido de uma determinada maneira. Marcar o tempo, dividi-lo em horas, dias meses, anos etc. é uma criação humana. Em outras palavras, a contagem do tempo é uma convenção.
A primeira forma de marcar o tempo, talvez usada pelos caçadores da Pré-História, teve como referência a sucessão do dia e da noite. Depois, a observação das mudanças do aspecto da Lua em suas quatro fases levou à criação do calendário lunar, ainda hoje utilizado por vários povos. Mas o calendário lunar não marca as estações climáticas – informação importante para o desenvolvimento de muitas atividades. Os agricultores, por exemplo, precisam saber qual a melhor época para preparar a terra e plantar, qual o período das chuvas, qual o momento de armazenar alimentos para enfrentar o inverno.
Há uns 6 mil anos, os egípcios, um povo agricultor que vivia às margens do rio Nilo, no norte da África, observaram uma coincidência: a época de cheia do rio ocorria com o aparecimento da estrela Sirius. Contando os dias transcorridos até a repetição cíclica desse fato, fixaram o ano em 365 dias. Dividiram o ano em doze meses de trinta dias ao quais adicionaram cinco dias suplementares. O calendário egípcio é o calendário solar mais antigo que se conhece.
Para contar as horas, inventou-se o relógio solar. A passagem do tempo era marcada por um obelisco fincado num lugar amplo. A direção e o comprimento da sombra projetada por esse “ponteiro de pedra” mudavam ao longo do dia de acordo com altura do Sol, indicando a hora. O problema do relógio solar era os dias nublados e a impossibilidade de medir o tempo à noite, o que mais tarde, foi contornado com outras invenções, como o relógio de água (a clepsidra) e o de areia (a ampulheta).

RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento. Imagem e Texto. FTD: São Paulo, 2002.

1) Os antigos romanos levaram do Egito para Roma um obelisco de pedra do século VII a.C, Era usado como gnômon (ponteiro) de um grande relógio solar, indicando a passagem das horas ao longo do dia. Como funcionava? Qual a sua desvantagem?
2) A clepsidra utilizada pelos egípcios no século III a. C, marca o tempo pela passagem da água de um recipiente a outro, sendo que uma engrenagem movimenta os ponteiros do relógio. Que vantagem ela tinha em relação ao relógio solar?
3) Os gregos antigos contavam que Cronos, um dos titãs que habitavam a Terra no início dos tempos, tomou o lugar do pai e proclamou-se o senhor do Céu. Mas seu pai e sua mãe o alertaram de que seus filhos o destronaria. Para evitar que o destino se cumprisse, Cronos tratou de se livrar dos filhos que teve, devorando-os à medida que iam nascendo. Cronos, em grego, quer dizer “tempo”. De acordo com esse mito, que idéia os gregos tinham sobre o tempo? Que palavras derivam do nome Cronos?

Material para trabalhar o Renascimento

O RENASCIMENTO

Galileu Galilei


Que mudanças ocorreram na cultura e na arte da Europa?

No século XV e sobretudo no XVI, a Europa passou por grandes mudanças. O tempo dos castelos e dos feudos ficava para trás. Uma profunda renovação no pensamento e na arte estava ocorrendo. Valorizavam a observação, a experiência e o espírito crítico, como mostra este trecho de uma peça teatral sobre o período.

“GALILEU – Você entendeu o que eu lhe expliquei ontem?

ANDREA – O quê? Aquela história do Copérnico e da rotação?

GALILEU – É

ANDREA – Não. Por que o senhor quer que eu entenda? É muito difícil, e eu ainda não fiz onze anos, vou fazer em outubro.

GALILEU – Mas eu quero que também você entenda. É para que se entendam essas coisas que eu trabalho e compro livros caros em lugar de pagar o leiteiro.

ANDREA – Mas eu vejo que o Sol de noite não está onde estava de manhã. Quer dizer que ele não está parado! Nunca e jamais.

GALILEU – Você vê! O que é que você vê? Você não vê nada! Você arregala os olhos, e arregalar os olhos não é ver. (Galileu põe a bacia de ferro no centro do quarto.) Bem, imagine que isso é o Sol. Sente-se aí. (André senta-se na única cadeira; Galileu está de pé, atrás dele.) Onde está o sol, à direita ou à esquerda?

ANDREA – À esquerda.

GALILEU – Como fazer para ele passar para a direita?

ANDREA – O senhor carrega a bacia para a direita, claro.

GALILEU – E não tem outro jeito? (Levanta Andréa junto com a cadeira do chão, faz meia volta com ele.) Agora, onde é que o Sol está?

ANDREA – À direita.

GALILEU – E ele se moveu?

ANDREA – Ele, não.

GALILEU – E o que se moveu?

ANDREA – Eu.

GALILEU (berrando) – Errado, seu burro! A cadeira!

ANDREA – Mas eu com ela!

GALILEU – Claro. A cadeira é a Terra. Você está em cima dela.
(A empregada entra para fazer a cama e assiste à cena.)

DONASARTI – Senhor Galieu, o que o senhor está fazendo com o meu menino?

GALILEU – Eu o estou ensinando a ver.”

BRECHT, Bertold (1898-1956). Vida de Galileu (1938-39).
In Teatro Completo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. p.58-60.


Uma nova visão do homem e do mundo

Profundas transformações ocorreram na Europa entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, como a intensificação da vida urbana, da economia monetária e comercial, o enriquecimento da burguesia e o fortalecimento do poder dos reis. Esse foi também o período das Grandes Navegações, da criação de novas técnicas de exploração agrícola e mineral, da difusão do uso das armas de fogo, da imprensa, de novos tipos de papel e de tintas, do desenvolvimento da matemática, da geometria, da cartografia, da medicina etc.
Tais mudanças despertaram novas idéias sobre a natureza e o ser humano. Pensadores chamados humanistas acreditavam que o homem, com a educação adequada, seria capaz de dominar seu destino, controlar e transformar a natureza. Essa nova visão de mundo, chamada antropocentrismo, se opunha aos valores medievais, atribuindo ao homem, e não à vontade de Deus, a responsabilidade por suas conquistas e fracassos.
O humanismo tornou-se um movimento literário e filosófico que propunha uma nova educação, baseada na crítica dos textos, no estudo das línguas e das ciências e na observação da natureza. Seus seguidores traduziram e divulgaram os textos da Antiguidade grega e romana.
A paixão e o entusiasmo pelo conhecimento levaram os humanistas a expandirem-se nas mais diversas áreas – línguas, ciência, religião, música, geografia, astronomia, artes etc. – a fim de descobrirem o funcionamento e a razão de ser de todas as coisas.
Eles não se limitaram a estudar os textos antigos e os fenômenos naturais. Procuraram também melhorar a sociedade em que viviam. O inglês Thomas Morus, por exemplo, imaginou em sua obra Utopia (1516), uma sociedade ideal baseada na igualdade e na tolerância. O holandês Erasmo de Rotterdam criticou os costumes sociais e os abusos da Igreja em Elogio da Loucura (1511). O italiano Maquiavel, na sua obra O Príncipe (1513), estudou como se toma, se conserva e se perde o poder. O francês Rabelais, em seus livros Pantagruel (1532) e Gargântua (1534), defendeu a idéia de que os homens deviam se guiar apenas pelas leis da natureza.
Os humanistas, mesmo discordando da Igreja, não eram ateus. Eram cristãos que desejavam reinterpretar as mensagens bíblicas. Muitos foram perseguidos, exilado ou condenados à morte por suas idéias.


Uma arte renovada

O melhor exemplo da renovação cultural dos séculos XV e XVI ocorreu nas artes plásticas. Pintores, escultores e arquitetos romperam com a arte medieval, utilizando novas técnicas e novo estilo. Inspiraram-se nas criações dos antigos gregos e romanos e, por isso, sua arte foi chamada de “renascentista”.
O Renascimento surgiu na Itália, onde ainda restavam muitos monumentos da Antiguidade romana. O comércio mediterrâneo havia feito florescer numerosas cidades-estados, como Florença, Veneza, Roma e Milão, rompendo definitivamente com a tradição feudal. Os governantes e burgueses poderosos dessas cidades disputavam entre si, mandando construir palácios, igrejas e catedrais, erguer estátuas em locais públicos e pintar quadros e afrescos para decorar os edifícios. Contratavam os artistas, pagavam suas despesas e a obra encomendada. Esses burgueses financiadores das artes eram chamados mecenas.
A arte renascentista tem um duplo aspecto: inspira-se no passado e mostra inovações. Os artistas exploraram temas da mitologia e da história antiga e imitaram as formas da arquitetura e da escultura greco-romana. Mas inventaram a perspectiva e aprimoraram o naturalismo, usando novos conhecimentos da matemática, da física, da anatomia, da geometria e de outras ciências.
O artista renascentista tratou a figura humana como a mais bela de toda a criação e procurou fazê-la exprimir força e harmonia. Estudou as proporções e o movimento do corpo, a tensão dos músculos, os traços fisionômicos e os gestos das mãos. Reproduziu cenas do cotidiano e, uma novidade, pintou a si mesmo e assinou seu quadro. Esse é um exemplo do culto ao indivíduo, que também caracterizou o período.
O Renascimento se difundiu por toda a Europa graças ao mecenato dos nobres e burgueses e às viagens dos artistas. Entre os maiores artistas destacaram-se os italianos:
- Leonardo da Vinci (1452-1519): um gênio criativo que, além de pintar (Última ceia, Virgem dos rochedos e Mona Lisa ou Gioconda), estudou anatomia, botânica, ótica, geologia e mecânica, formulando, em cada uma dessas áreas de conhecimento, múltiplos projetos e fecundas hipóteses.
- Michelangelo (1475-1564): célebre por seus afrescos na Capela Sistina (no Vaticano), entre eles A criação do Homem e Juízo Final, e suas esculturas Pietà, Moisés e Davi. Como arquiteto, projetou a gigantesca cúpula da basílica de São Pedro, em Roma.

Uma revolução nas ciências

Até o século XV, os fenômenos da natureza eram matéria religiosa. A verdade baseava-se na fé e na tradição, isto é, na Bíblia e nos ensinamentos dos mais velhos. Assim, desde as doenças até os movimentos dos astros, tudo estava relacionado com a vontade de Deus. Duvidar da verdade estabelecida pela Igreja ou estimular a curiosidade eram atitudes desrespeitosas e ofensivas. Na Idade Média, acreditava-se que a natureza era um mistério que só a Deus pertencia.
Os renascentistas não aceitaram essa atitude e ousaram questionar as verdades estabelecidas pela Igreja. Curiosos e observadores interessaram-se por tudo o que os rodeava. Usaram a razão para conhecer e explicar os fenômenos naturais. Recusaram-se a aceitar aquilo que não pudessem ser comprovados. Por basearem suas observações em cálculos e experimentos, os renascentistas deram origem à “ciência experimental”.
Copérnico se opôs à idéia de Ptolomeu de que a Terra era o centro do universo, afirmando que ela era apenas mais um planeta girando em volta do Sol. Mas confirmou a trajetória circular dos planetas. Em 1584, o filósofo italiano Giordano Bruno defendeu a idéia de um universo infinito e da existência de outros mundos habitados. Pouco depois, o alemão Kepler descobriu a trajetória elíptica dos planetas. Em 1610, o físico, matemático e astrônomo Galileu Galilei, no primeiro de sues muitos livros, confirmou o sistema heliocêntrico proposto por Copérnico e revelou suas descobertas, feitas por meio de um telescópio que ele próprio aperfeiçoara: as montanhas da Lua, os satélites de Júpiter, as manchas solares, as fases de Vênus e os anéis de Saturno.
Vesálio estudou o corpo humano por meio da observação e dissecação de cadáveres, fundando as bases da moderna anatomia. Na mesma época, o alquimista e médico suíço Paracelso curava doenças usando métodos novos que dariam origem à homeopatia e à quimioterapia. Em 1546, o livro do médico italiano Fracastoro revelava a teoria do contágio e explicava a causa das infecções. Em 1628, o inglês William Harvey publicou a sua descoberta sobre a circulação do sangue.
Leonardo da Vinci, além de artista, foi grande pesquisador, com agudo senso de observação. Projetou inventos espetaculares que, séculos depois, seriam realizados: o pára-quedas, o “parafuso-voador” (futuro helicóptero), o submarino, a máquina a vapor, o balão etc. Pesquisou também o som, as cores e as luzes.

Esse material tem origem em diversos livros didáticos.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Pré-história - Situação de Aprendizagem 1 (1ºEM)

Alguns conceitos precisam ser trabalhados para que os alunos dessa série consiga resolver as atividades do Caderno do Aluno. Entre elas, as noções de nomadismo e sedentarismo e as fases da pré-história. O texto abaixo foi modificado a partir do original, cuja fonte é citada, e serve para introduzir esses elementos.






PALEOLÍTICO

O paleolítico abrange cerca de 99% do tempo de existência das sociedades humanas. Seu início é marcado pelo surgimento dos primeiros hominídeos e estende-se aproximadamente até 8000 a.C.
Durante esse período os seres humanos de diferentes regiões do mundo confeccionaram suas primeiras ferramentas – instrumentos feitos de madeira, ossos, chifres e pedras lascadas.
Nessa época os seres humanos ainda não produziam seus alimentos, isto é, não cultivavam plantas nem criavam animais. Consumiam o que encontravam na natureza como frutos, grãos e raízes, e o que caçavam e pescavam. Quando se esgotavam os alimentos da região que habitavam, mudavam-se para outra. Por isso, foram denominados caçadores-coletores e nômades.
O controle do fogo foi uma das maiores conquistas desse período, permitindo aos seres humanos suportar o frio, afastar animais perigosos e cozinhar alimentos. Supõe-se que, a princípio, procuraram manter aceso o fogo provocado ocasionalmente pelas forças da natureza, e mais tarde aprenderam a produzi-lo pelo atrito de pedaços de madeira, lascas de pedra, etc. Os grupos humanos aperfeiçoaram técnicas para proteger-se dos rigores do clima, construindo abrigos e roupas com peles de animais. Além disso, aprimoraram e diversificaram a produção de instrumentos e utensílios como lanças, arcos e flechas, arpões, lâminas e anzóis. O uso cada vez mais generalizado de instrumentos é um dos principais fatores que distinguiram os seres humanos dos demais animais.
Para melhor garantir a sobrevivência, as sociedades dos caçadores –coletores foram estabelecendo formas de cooperação e divisões de tarefas entre os membros do grupo. Com a cooperação. Conseguiam, por exemplo, construir abrigos em menor tempo ou desenvolver táticas de caça em conjunto.

NEOLÍTICO

A denominação neolítico se refere ao período em que a pedra recebeu uma nova forma de tratamento: antes lascada, passou a ser polida, sendo melhorado o fio de seu corte. Por esse motivo, o neolítico também é conhecido como Idade da Pedra Polida, enquanto o Paleolítico é chamado de Idade da Pedra Lascada.
Nesse período, tiveram início novos modos de relacionamento entre os seres humanos e a natureza. Eles passaram a interferir de forma ativa no ambiente, cultivando plantas, domesticando e criando animais. Começaram assim a produzir sua própria alimentação. A vida sedentária foi sendo adotada aos poucos, à medida que as atividades agrícolas e pastoris se consolidavam. Esse novo modo de vida, que se caracterizou pelo desenvolvimento da agricultura, da criação de animais e das aldeias sedentárias, ocorreu em diversas partes do planeta, mas em diferentes épocas. Calcula-se que começou a ocorrer por volta de 8000 a.C. no Oriente Próximo, e em cerca de 2500 a.C. na América Central. Os tipos de plantação variavam de uma região para outra, destacando-se as espécies vegetais como trigo, centeio, cevada, milho, batata, mandioca e arroz, entre outras. Os animais criados foram principalmente carneiros, cabras, bois e porcos. Com o domínio dessas técnicas, muitas comunidades puderam produzir mais alimentos que o necessário ao consumo imediato, passando, assim, a fazer estoques.
Outras inovações surgidas no neolítico foram a cerâmica (modelagem e cozimento de argila) e a tecelagem (produção de tecidos a partir de fibras vegetais e pêlos de animais).
As primeiras aldeias sedentárias surgiram quando as comunidades neolíticas se estabeleceram num território, dedicando-se predominantemente à criação de animais e ao cultivo agrícola. Nas aldeias, a população cresceu e ampliou-se a oferta de alimentos. A vida social foi se tornando mais complexa: a divisão do trabalho se ampliou. Por exemplo, uma pessoa com habilidade para fazer cerâmica podia trocar seus potes por alimentos, e assim, empregar a maior parte de seu dia produzindo cerâmica. Isso aos poucos aconteceu com outros tipos de trabalho, e foram-se constituindo atividades específicas, como as de tecelão, de sacerdote e, mais tarde, de metalúrgico. Algumas dessas aldeias foram incorporando à sua organização social novos elementos, como por exemplo, uma muralha protetora, um templo para o culto aos deuses ou um armazém para conservar os alimentos. Isso faz parte do processo de surgimento das primeiras cidades.

METALURGIA

Por volta de 4000 a.C., as primeiras sociedades urbanas do Oriente Próximo começaram a desenvolver a metalurgia, que consiste na utilização de metais para a fabricação dos mais variados objetos. O primeiro metal a ser fundido em larga escala foi o cobre. Sua utilização, porém, não eliminou os instrumentos de pedra, que foram sendo substituídos muito lentamente. Misturando cobre com estanho, o ser humano conseguiu obter o bronze, metal mais resistente que o cobre, empregado na fabricação de instrumentos como espadas, lanças e martelos. Por volta de 1500 a.C. alguns povos desenvolveram a metalurgia do ferro, e a nova técnica foi difundida. Os instrumentos de ferro possibilitaram significativo aumento da produção artesanal e agrícola. O desenvolvimento da metalurgia representou enorme conquista tecnológica, pois possibilitou a produção de instrumentos e objetos resistentes, das mais variadas formas. Os metais, em geral, são tão duros quanto a pedra, mas podem ser modelados na forma que se desejar, por meio da infusão (derretimento pela ação do calor intenso). Assim tornou-se possível confeccionar panelas, vasos, enxadas, machados, pregos, agulhas, facas e lanças de meta, entre outros objetos. O trabalho metalúrgico exigia habilidade, conhecimentos especializados e disponibilidade de tempo.

Características das sociedades civilizadas

Aparecimento de grupos sociais – com o surgimento de ricos e pobres, exploradores e explorados, foram se estabelecendo diferenças entre as pessoas, o que formou grupos sociais distintos.
Formação do Estado – organizou-se um governo para administrar a sociedade e controlar a força militar (exército).
Divisão Social do Trabalho – as atividades foram divididas entre os membros da sociedade, surgindo trabalhadores especializados (metalúrgicos, ceramistas, barqueiros, vidraceiros, agricultores, pastores, sacerdotes, comandantes militares etc.)
Aumento da Produção Econômica – o desenvolvimento das técnicas agrícolas e pecuárias e do artesanato propiciou o crescimento da produção econômica. Além do necessário consumo imediato, as sociedades começaram a produzir excedentes, armazenando vários produtos para a troca comercial.
Registros Escritos - acompanhando a organização das primeiras cidades, desenvolveram-se a escrita, a numeração, o calendário e um sistema de pesos e medidas.

Relações sociais

Das primeiras comunidades às sociedades civilizadas, as relações sociais sofreram grandes mudanças.
Nas primeiras comunidades, as relações sociais baseavam-se nos laços de parentesco, nos usos e costumes comuns, na cooperação entre os membros do grupo. O alimento, a terra, o rebanho compunham propriedades coletivas da comunidade.
Nas sociedades civilizadas, quase todos esses elementos se modificaram. A cooperação foi substituída pela competição social, surgindo a propriedade privada da terra e de outros bens. O acúmulo desigual de bens materiais pelos indivíduos passou a diferenciar as pessoas, surgindo então relações de poder entre ricos e pobres. Criou-se um estado governado por uma minoria, detentora dos poderes econômico (riqueza), político (força) e ideológico (saber).

Fonte do texto: COTRIM, Gilberto. História Global - Brasil e Geral. Editora Saraiva: São Paulo, 2007.