quinta-feira, 30 de abril de 2009
Os trabalhos e os dias...
segunda-feira, 27 de abril de 2009
terça-feira, 21 de abril de 2009
DICA DE FILME: GIORDANO BRUNO
segunda-feira, 20 de abril de 2009
sábado, 18 de abril de 2009
sexta-feira, 17 de abril de 2009
P.D. - Federação Russa
Medida deve remover 20 mil militares da região e fortalecer politicamente líder local, aliado do Kremlin
A Rússia anunciou ontem o fim de sua operação de contraterrorismo na Tchetchênia. Iniciada em 1999, no início da segunda guerra separatista travada na região de maioria muçulmana nos últimos 15 anos, a ação russa impunha toques de recolher, restrições a voos civis e ao trabalho de jornalistas, entre outras medidas repressoras.A ordem do presidente Dmitri Medvedev abre caminho para a retirada de cerca de 20 mil homens do Exército posicionados na república-membro da Federação Russa, situada no sudoeste do país. Moscou não divulga oficialmente o total de seu contingente na Tchetchênia, mas analistas trabalham com a cifra de 40 mil militares.Na praça central da capital tchetchena, Grozni -cidade descrita pela ONU como "a mais destruída do mundo" em 2004, mas que desde então passa por um processo de reconstrução-, as pessoas ontem celebravam com bandeiras da Rússia e da Tchetchênia.Entre os que festejavam dançando estava Ramzan Kadyrov, o presidente tchetcheno. Ex-ativista pela separação e atualmente respaldado pelo Kremlin, é ele quem mais deverá lucrar com o fim da operação russa de contraterrorismo."É uma vitória sobre o mal, que combatemos nos últimos 15 anos", declarou ele. "Uma pacífica e próspera república tchetchena na família unida dos povos da Rússia é o nosso rumo estratégico no futuro."Kadyrov disse que o aeroporto de Grozni logo será aberto para voos e comércio internacionais -o que, segundo ele, ajudará a atrair investimentos de países árabes e europeus.O crédito por atrair investimento russo para a reconstrução de Grozni e por controlar a militância separatista -cooptando antigos ativistas a ingressarem em suas temidas equipes de segurança- fez crescer a popularidade do tchetcheno.Entretanto, a Tchetchênia permanece apontada por entidades humanitárias como palco de abusos. A milícia de Kadyrov é acusada de sequestro, tortura e assassinato."Divisor de águas"Para a Anistia Internacional (AI), a decisão de ontem deve ser seguida de investigação independente de violações cometidas por russos e tchetchenos."O verdadeiro divisor de águas do retorno à normalidade é dar às pessoas o que esperam por mais de uma década: elas querem a verdade e justiça. Elas querem saber o paradeiro de amigos e parentes desaparecidos e que os responsáveis sejam identificados e punidos", declarou Irene Khan, secretária-geral da AI.Ela não foi a única a receber com reservas o anúncio de ontem. Arkady Babchenko, ex-soldado russo, veterano das duas Guerras da Tchetchênia e autor de um livro sobre as atrocidades cometidas nos confrontos que deixaram cerca de 100 mil mortos, escreveu no britânico "Guardian" que o fim da operação "é puramente uma jogada populista"."Significa só uma coisa: que o Kremlin coroou Kadyrov para reinar na região e deu a ele plena liberdade como o mestre da Tchetchênia, um lugar onde uma coisa já está bem clara, sua palavra é a lei", declarou Babchenko, para quem o líder tchetcheno não deixa aos que discordam dele outra alternativa além de pegar armas e conspirar nas montanhas.
DA REDAÇÃO
O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, criticou ontem medidas restritivas à liberdade de expressão tomadas pelo seu antecessor, Vladimir Putin, atual primeiro-ministro russo, e afirmou que seu país se beneficiaria de maior competição na arena política.Há um ano no poder, Medvedev foi pessoalmente escolhido por Putin para sucedê-lo.Num encontro com representantes da sociedade civil divulgado ontem pelo Kremlin, o dirigente criticou uma lei aprovada por Putin que dificulta a regularização e impõe controles contábeis severos sobre organizações civis na Rússia. Ele disse que mudanças na lei são não só "possíveis, como necessárias". A Rússia, disse ainda, precisa ter vozes dissonantes. "É preciso que exista uma competição política maior; isso é insubstituível."
quinta-feira, 16 de abril de 2009
RELATOS - EUROPEUS EM CONTATO COM NOVAS CULTURAS
"Nestas mansas ovelhas, e com sobreditas qualidades dotadas pelo seu Feitor e Criador, entraram desde logo os espanhóis, mal as conheceram, como lobos e tigres e crudelíssimos leões famintos de muitos dias. E outra coisa não fizeram de há quarenta anos a esta parte, até hoje, e no próprio dia de hoje não fazem senão despedaçá-las, matá-las, angustiá-las, afligi-las, atormentá-las e destruí-las por vias estranhas e novas e várias nunca vistas nem lidas nem ouvidas formas de crueldade, das quais mais adiante umas poucas hão-de dizer, a tal ponto que havendo na ilha Espanhola perto de três milhões de almas, que vimos, ali não há hoje de seus naturais duzentas pessoas".
“E ainda hoje em dia, outra coisa não fazem (os espanhóis) ali senão despedaçar, matar, afligir, atormentar e destruir este povo ... A ilha de São João e de Jamaica, ambas muito grandes e muito férteis estão desoladas ... quanto à grande terra firme, estamos certos de que nossos espanhóis, por suas crueldades e execráveis ações, despovoaram e desolaram mais de dez reinos, maiores que toda a Espanha.” “
Entravam pelas aldeias, não poupando crianças nem velhos, nem sequer mulheres prenhas a quem rasgavam o ventre e faziam em pedaços, como se dessem com cordeiros metidos em seus redis. Faziam apostas sobre quem de um só golpe havia de abrir ao meio um homem, ou lhe cortaria a cabeça com uma espadeirada ou lhe poria fora as entranhas. Tomavam pelas pernas as crianças de mama do seio de suas mães, e atiravam com elas contra os penedos, de cabeça".
MARCO PÓLO – O LIVRO DAS MARAVILHAS
“Os tártaros usam carroças com um couro preto que as protege da chuva. As mulheres lá ficam encarregadas de comprar, vender e outras tarefas. Já os homens se ocupam de caçar e dos combates. Os tártaros se alimentam de carne, leite e verduras. Os tártaros se casam depois de mortos é assim que acontece: Um senhor tem uma filha que morreu a muito tempo, então ele procura uma família que tenha morrido um homem e pergunta se eles querem se casar, se aceitarem, faz-se uma cerimônia e as famílias se tornam parentes. (...)”
“ No Porto de Ormuz as pessoas são negras e adoradores de Maomé. É um lugar muito quente que todos os dias de manhã vem do deserto um vento muito quente e forte. É tão quente o vento que as pessoas do local não conseguem respirar perfeitamente por isso quando ele chega, as pessoas entram na água que cobre até seu queixo. Nesse porto chegam várias mercadorias, de tecidos até elefantes, que de lá vão para o mundo inteiro.”
AMÉRICO VESPÚCIO – NOVUS MUNDUS
“Começarei pela gente. Foi tanta a multidão dela, mansa e tratável, que encontramos naquelas regiões, que, como diz o Apocalipse, não se pôde contar. Os de um e outro sexo andam nus, sem cobrir nenhuma parte do corpo, como saem dos corpos das mães, e assim vão até a morte. Têm os corpos grandes e robustos, bem dispostos e proporcionados, de cor tirante a vermelha, o que, segundo creio, lhes procede de serem tintos pelo sol, andando nus.
Têm os cabelos negros e crescidos; são ágeis e fáceis no andar e nos jogos, e de mui belas feições, as quais contudo a si próprios desfiguram, furando as faces, os lábios, as ventas e as orelhas. E não se creia que os buracos sejam pequenos ou tenham apenas um, pois vi muitos com sete, cada um dos quais tão grandes como um abrunho. Tapam estes buracos com bonitas pedras azuis de mármore, cristalinas ou de alabastro, e com ossos alvíssimos e outros objetos elaborados segundo seu uso, que é insólito e monstruoso. Homens há que levam nas faces e lábios sete pedras, cada uma de metade da palma da mão de comprido. Não sem admiração, muitas vezes achei pesarem essas sete pedras dezesseis onças, além das que trazem pendentes de três buracos nas orelhas.
Mas este uso é somente dos homens. As mulheres não furam as faces, mas somente as orelhas.
Outro costume têm extravagante, e que parece incrível: que as mulheres, sendo libidinosas, fazem inchar o membro de seus maridos tanto, que parecem brutos, e isto por meio de certo artifício e mordedura de uns bichos venenosos, por cujo motivo muitos deles o perdem e ficam como eunucos.
Não possuem panos de lã nem de linho, nem mesmo de algodão; porque os não necessitam, nem têm bens de propriedade; porém tudo lhes é comum. E vivem juntos, sem rei nem império, e cada qual é senhor de si. Tomam tantas mulheres quantas querem, e o filho se junta com a mãe, e o irmão com a irmã, e o primo com a prima, e o caminhante com a que encontra. Basta a vontade para matrimoniarem, no que não observam ordem alguma. Além disso não possuem templos nem leis, nem são idólatras. Que mais direi? Não há entre eles comerciantes nem comercio. Guerreiam-se entre si, sem arte nem ordem. Os mais velhos, com alguma parcialidade, obrigam a quanto querem os jovens, e os levam à guerra, na qual se matam cruamente; e aos que cativam não poupam as vidas senão para que os sirvam toda a vida, ainda que a outros comem, sendo certo que é entre eles a carne humana manjar comum; e se há visto haver o pai comido mulher e os filhos. E um conheci eu, a quem falei, que se gabava de haver saboreado trezentos corpos humanos, e até estive vinte e sete dias em certa povoação, onde vi dependurada pelas habitações carne humana salgada, como entre nós se usa com o toucinho e a chacina de porco.”
Colombo e relatos de seu diário
Os arawak foram os primeiros ameríndios a ter contato com os europeus. Quando Cristóvão Colombo chegou às Bahamas, o navio atraiu a atenção dos nativos que, maravilhados, foram ao encontro dos visitantes, a nado. Quando Colombo e seus marinheiros desembarcaram, armados com suas espadas e falando uma língua estranha, os arawak lhes trouxeram comida, água e presentes. Mais tarde, Colombo escreverá em seu diário de bordo:Eles nos trouxeram papagaios, trouxas de algodão, lanças e muitas outras coisas que trocaram por contas de vidro e guizos. Trocavam de bom coração tudo o que possuíam. Eram bem constituídos, com corpos harmoniosos e feições graciosas. [...] Não usavam armas, que não conheciam , pois quando lhes mostrei uma espada, tomaram-na pela lâmina e se cortaram, por ignorância. Não conheciam o ferro. As lanças são feitas de cana. Dariam bons criados. Com cinqüenta homens, poder-se-ia submeter todos eles e fazer deles o que se quisesse.
Colombo, fascinado por essa gente tão hospitaleira, escreverá ainda:Desde que cheguei às Índias, na primeira ilha que encontrei, peguei alguns indígenas à força para que eles aprendam e possam me dar informações sobre tudo o que poderíamos encontrar nestas regiões.
Trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha
“Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijamente sobre o bater; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes. bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros.
Mostram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhe um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhe uma galinha; quase tiveram medo dela: não lhe queiram pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados.Deram-lhe ali de comer: pão e peixe cozido, confeites, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada daquilo; e se alguma coisa provaram, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal puseram a boca; não gostaram nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada. Não beberam. Mal a tomaram na boca, que lavaram, e logo a lançaram fora.Então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir, sem buscarem maneira de encobrir suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas. E lançaram-lhes um manto por cima; e eles consentiram, quedaram-se e dormiram.”
HANS STADEN - DUAS VIAGENS AO BRASIL
"Formaram um círculo ao redor de mim, ficando eu no centro com duas mulheres, amarraram-me numa perna um chocalho e na nuca penas de pássaros. Depois começaram as mulheres a cantar e, conforme um som dado, tinha eu de bater no chão o pé onde estavam atados os chocalhos. As mulheres fazem bebidas. Tomam as raízes de mandioca, que deixam ferver em grandes potes. Quando bem fervidas tiram-nas (...) e deixam esfriar (...) Então as moças assentam-se ao pé, e mastigam as raízes, e o que fica mastigado é posto numa vasilha à parte. Acreditam na imortalidade da alma(...)."
"Voltando da guerra, trouxeram prisioneiros. Levaram-nos para sua cabana: mas a muitos feridos desembarcaram e os mataram logo, cortarm-nos em pedaços e assaram a carne (...) Um era português (...) O outro chamava-se Hyeronimus; este foi assado de noite."
Hernan Cortez - CARTAS
Antes que os nativos pudessem se juntar, queimei seis povoados e prendi e levei para o acampamento quatrocentas pessoas, entre homens e mulheres, sem que me fizessem qualquer dano.
Antes do amanhecer do dia seguinte tornei a sair com cavalos, peões e índios e queimei dez povoados, onde havia mais de três mil casas. Como trazíamos a bandeira da cruz e lutávamos por nossa fé e por serviços de vossa sacra majestade, em sua real ventura nos deu Deus tanta vitória, posto que matamos muita gente sem que nenhum dos nossos sofresse dano.
No outro dia vieram cerca de cinquenta índios que traziam comida e começaram a olhar as saídas de nosso acampamento, bem como as cabanas onde dormíamos. Os de Cempoal vieram até mim e alertaram-me para olhar aqueles homens que eram maus e vinham espionar. Dissimuladamente prendi um deles sem que os outros vissem. [ ...] Depois tomei mais outros cinco ou seis e todos confessaram a mesma coisa. Em vista disso, mandei prender todos os cinquenta e cortar-lhes as mãos e os enviei a seu senhor para que dissessem a ele que quando ele viesse saberia quem éramos.
...saí uma noite, depois de rendida a guarda da prima, com os peões, índios e cavalos, e antes que amanhecesse dei com dois povoados onde matei muita gente.
...Como sempre que batíamos em retirada ao final do dia os índios atrás dos nossos cavalos em grande alarido, resolvi preparar-lhes uma cilada. [...] Depois que os nossos passaram por ali no retorno do fim da tarde, os de cavalo caíram sobre os inimigos que vinham logo atrás fazendo seu constante alarido. Foi uma cilada muito bem feita e conseguimos matar uns quinhentos dos índios mais bravos e mais corajosos. [...] graças a esta vitória que Deus Nosso Senhor nos concedeu neste dia, se tornou mais próximo o momento de se ganhar toda a cidade, porque os nativos sofreram um grande abalo [...] A única perda lamentável que tivemos naquele dia foi uma égua cujo cavaleiro caiu, e que saiu em corrida sem rumo, indo parar no meio dos nossos inimigos que a flecharam...
quarta-feira, 15 de abril de 2009
MEMÓRIA
Santo Agostinho – Confissões
Guy de Nevers – 1174
César – De Bello Gallico – sobre o processo de aprendizagem seguido por jovens que tinham como mestres os druidas gauleses.
"A tradição é biologicamente tão indispensável à espécie humana como o condicionamento genético o é às sociedades de insetos: a sobrevivência étnica funda-se na rotina, o diálogo que se estabelece suscita o equilíbrio entre rotina e progresso, simbolizando a rotina o capital necessário à sobrevivência do grupo, o progresso, a intervenção das inovações individuais para uma sobrevivência melhorada."
Leroi-Gourhan - 1964
terça-feira, 14 de abril de 2009
PESQUISA - ISAÍAS MATIAZZO - 2005
segunda-feira, 13 de abril de 2009
DICA DE FILME: "O GRANDE DITADOR"
domingo, 12 de abril de 2009
S.A. 4 - 2ºE.M. - CONTATOS CULTURAIS
EM ENTREVISTA À FOLHA, A AUTORA DE "DÁDIVAS SAGRADAS, PRAZERES PROFANOS" DEFENDE QUE O TABACO E O CHOCOLATE INVERTERAM O SENTIDO DA COLONIZAÇÃO AO IMPOR AO OCIDENTE ELEMENTOS DA CULTURA DA AMÉRICA
ERNANE GUIMARÃES NETO
A forma tradicional de receber uma visita é com uma xícara -de chocolate. Foi assim quando Montezuma recebeu os espanhóis que colonizaram seu império mesoamericano. Dessa relação se disseminaram novos hábitos sociais, comportamentais e de paladar hoje difundidos em todo o mundo, argumenta a historiadora norte-americana Marcy Norton, 39. A própria palavra xícara, de origem náuatle, presta reverência indireta às diversas variedades de bebidas feitas com cacau. Decorado com pinturas, o recipiente fazia jus ao luxo representado pela fruição dos líquidos quentes ou frios, doces ou apimentados, sempre dissoluções de uma pasta que seria conhecida pelos colonizadores como "chocolate". A imagem de ritual das elites -vinda de uma cultura em que grãos de cacau eram moeda corrente e a fruta era exigida como tributo-, marcaria assim o alimento muito antes de existirem os processos industriais que o transformariam em pó e barra no século 19. O processo de assimilação ou "somatização" -nas palavras da professora de história da Universidade George Washington (EUA)- do chocolate é contrastado com o do tabaco em seu recém-lançado "Sacred Gifts, Profane Pleasures" [Dádivas Sagradas, Prazeres Profanos, Cornell University Press, 334 págs., US$ 35, R$ 77]. Em entrevista à Folha, a autora defende que os dois produtos inverteram a relação imperialista: por meio deles, os costumes dos colonizados foram expandidos mundialmente, em vez de desaparecerem. "A visão comum de que o consumo de café levou ao consumo de chocolate está invertida. Na verdade, o chocolate parece ter ajudado a pavimentar o caminho para o café ao criar o anseio nos consumidores por bebidas escuras, amargas, adocicadas, quentes e estimulantes", afirma a pesquisadora.
FOLHA - Por que apresentar chocolate e tabaco juntos num livro?
NORTON - Em certa medida, o sucesso do tabaco e do chocolate foi um "acidente de império". Os europeus chegaram à América com um conjunto de noções sobre como iriam se beneficiar. Mas, ao longo da experiência colonizatória, o encontro com o tabaco por toda a América -e o chocolate na Mesoamérica- foi inevitável, e sua assimilação aconteceu. No caso do chocolate, a ideia de "luxo supremo" veio desde o começo. Uma combinação de poder e prazer -é isso o que resume o chocolate. No caso do tabaco, houve sempre um atrito entre a consciência de que havia algo de religioso, de idolatria em seu uso e, ao mesmo tempo, um ato sublime de sociabilização. Um dos temas de meu livro é a tensão contínua entre essa imagem de idolatria diabólica do tabaco e seu uso social.
NORTON - Não. No contexto original, "xicálli" era para qualquer coisa. Mas, para os espanhóis, no início a palavra era associada prioritariamente ao chocolate.
NORTON - Quando os espanhóis chegaram, o limite sul aonde chegava o chocolate -não o cacau- era a região onde fica a Costa Rica. Aparentemente outras culturas tinham o cacau, mas não faziam o chocolate. Em direção ao norte, o chocolate havia chegado pelo menos até a região do cânion Chaco, onde hoje é o Estado do Novo México. Mas não que o comércio do chocolate chegasse lá no século 15.
NORTON - Sim, pois suas diferentes variedades podem crescer em qualquer lugar do Alasca à Argentina. E tinha muita importância social, com o uso medicinal ou espiritual, em grupos sociais que nada tinham a ver uns com os outros.
NORTON - No período pré-colombiano, era uma hábito sul-americano -pelo que já se pesquisou até agora, era comum nos Andes e na costa onde hoje estão Venezuela e Colômbia. A palavra "rapé" é francesa, referindo-se à criação dos franceses no século 18, algo diferente, mais fino -e o que hoje se chama de rapé na América é provavelmente diferente de ambas as formas. Os espanhóis adotaram os hábitos das regiões por onde passaram -"humo", "polvo" e "hoja" [fumaça, pó e folha]. O pó [rapé] foi a forma que pegou com a elite no início, mas isso mudou rapidamente, quando os charutos se tornaram populares. Mas desde o início houve o desenvolvimento de um mercado complexo e segmentado -inclusive contrabando de tabaco brasileiro para a Espanha no século 18, apesar do bloqueio imposto pelo sistema colonial. O tabaco do Brasil, como era mais barato, era contrabandeado de Lisboa para a Península Ibérica.
NORTON - Cárdenas [em texto de 1591] relatou isso, mas não é possível confirmar. Sabe-se que havia muitas bebidas com cacau, e essa mistura era uma das formas mais comuns.
NORTON - Existe um empresário em Santa Fe, no Novo México [www.kakawachocolates.com], que tenta reproduzir o chocolate feito pelas sociedades pré-colombianas e pelos primeiros europeus. O problema é que alguns dos ingredientes são muito restritos. Os pré-colombianos tinham uma constelação de plantas que não fazem parte da dieta ocidental -exceto, é claro, a baunilha.
NORTON - Sem dúvida, mas a polpa fresca só estava disponível onde o cacau era cultivado, e são áreas restritas, porque o cacau é uma planta frágil.
NORTON - Não estudei muito esse capítulo da história, que se passa já no século 19. O que acontece é que as pessoas estavam satisfeitas com o que havia, não precisavam melhorar o chocolate. Foi a industrialização que possibilitou essa mudança. Em 1828, o holandês Van Houten percebeu a utilidade de reconstituir o cacau de modo mais barato, utilizando outras gorduras. Desse modo, o cacau passou a render mais dinheiro.
NORTON - Isso só aconteceu no século 19. A distância entre o modo como o chocolate era consumido na Tenochtitlán nos Quinhentos e na Madri de 1685 é menor do que entre essa Madri e qualquer outro lugar do mundo nos anos 1950. Mas essa transformação só aconteceu no século 19. Para o chocolate atravessar o Atlântico, foi necessário haver essa somatização.
NORTON - Sim, e há relatos de tradição centenária na Sicília (Itália), no México etc.
FOLHA - Agora é moda consumir chocolate com percentual mais elevado de cacau. Essa onda de chocolateria é um movimento na direção da estética original do chocolate?
NORTON - Por um lado, nos aproxima, porque há ênfase no gosto de cacau, muito mais próximo que um Hershey's Kiss, por exemplo, que quase não tem cacau. Por outro lado, nos leva mais longe das bebidas, restritas a grupos étnicos. Existe uma pessoa, Mark Christian, que vai colocar no ar um website [www.c-spot.com, com previsão de lançamento em maio] sobre o "chocolate de ponta". Nós discutimos recentemente o fato de o chocolate estar vivendo um apogeu -há um movimento por chocolates de alta qualidade, pelo alto percentual de cacau, que vê a procedência do cacau e incorpora o vocabulário dos enólogos. Diz que agora temos o melhor chocolate do mundo, mas rebato: não sabemos o que perdemos, mesmo que algumas tradições tenham sobrevivido.
NORTON - Não. O tabaco não era parte do sistema de tributos, mas continuou. Meu palpite é o de que o chocolate seria assimilado do mesmo jeito. Se bem que, se por alguma razão os colonizadores quisessem utilizar o solo de outra maneira -por exemplo, se resolvessem criar ovelhas-, isso seria uma ameaça à sobrevivência do cacau, que é uma planta muito frágil. Aliás, uma das razões para as plantações migrarem para o sul foi a ganância dos espanhóis, que aumentaram os tributos, causando um desequilíbrio ecológico.
NORTON - Esse é o argumento de Sidney Mintz, um dos primeiros a estudar a história de uma só commodity [em livros como "O Poder Amargo do Açúcar", ed. UFPE]. É daquelas coisas impossíveis de provar, mas eu gostaria de levar a sério a ideia de que tais bebidas serviram como veículos para o consumo de açúcar. Mintz usa esse argumento no caso do chá. Mas, para considerar o chá, é preciso considerar o chocolate, que chegou primeiro. Aliás, o açúcar já estava disponível desde a Idade Média -a cana era cultivada por portugueses-, e uma razão para o aumento da popularidade do açúcar deve ter sido o consumo dessas bebidas.
NORTON - Não era nem a questão do sabor nem de interesse pela "cozinha local" -assim como, hoje em dia, procuramos um restaurante "exótico"-, mas sim o fato de que os espanhóis se adaptaram ao costume. Ou seja, se estavam numa relação diplomática, era melhor que bebessem a bebida que lhes ofereciam. Os espanhóis começaram buscando ouro e prata na América. Levaram para lá uma visão que tinham do Oriente, portanto buscaram também especiarias e remédios. Acabaram levando para a Europa coisas como salsaparrilha e tinturas. O tabaco e o chocolate foram levados depois, no final do século 16, com espanhóis aculturados -o aspecto social desses produtos foi levado junto. O tabaco variou mais. Um tratado publicado em Córdoba nos anos 1690 o descrevia ao mesmo tempo como "uma coisa vil de escravos e marinheiros", dos elementos mais baixos da sociedade, e como objeto de rituais semelhantes aos de Tenochtitlán -com o mesmo prestígio envolvido. Já o chocolate era, de modo mais uniforme, uma coisa de elite. Como veio de uma região menor, mais unificada culturalmente, sua cultura foi mais fácil de ser preservada.
NORTON - Nem uma coisa nem outra. Meu argumento é o de que o mundo que emergiu das viagens de Colombo ficou totalmente mudado. Não dá para entender a sociedade europeia sem levar a sério essas sociedades. Quem imaginaria que o tabaco seria a principal fonte de renda do Estado espanhol no final do século 17? Não dá para entender a história europeia isoladamente.
NORTON - Não gosto dele. Como especialista, não consigo fazer aquela "suspensão do juízo" que esse tipo de filme requer. Devo soar como uma rabugenta, mas esse é meu lado de historiadora sensível.
P.D. - Federação Russa
Esse material estava protegido por copyright. É a pirataria a serviço da Educação...
Lá vai:
Rússia reconquista espaço perdido na Ásia Central
Washington e Moscou revivem "Grande Jogo" por domínio da Ásia Central; retórica de reaproximação não arrefece as disputas
Quebradas, ex-repúblicas soviéticas recorrem a Moscou
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Rasputin e a Revolução Russa
Abaixo transcrevo uma biografia coletada no site http://www.spectrumgothic.com.br/ocultismo/personagens/rasputin.htm
A trajetória de Grigori Yefimovich Novykhn tem início na década de 1860. Mas há muitas incertezas em relação ao seu nascimento. Especula-se que tenha sido em 23 de janeiro de 1864, na pequena aldeia de Pokrovskoe, Sibéria. Outras fontes afirmam que o ano de seu nascimento está entre 1869 e 1872.
Pobre e parcialmente alfabetizado, o jovem Grigori atravessou sua infância e adolescência na região natal. Provavelmente, ajudando ao pai camponês nas tarefas diárias, e divertindo-se com mulheres, vodka e envolvendo-se em brigas com vizinhos. Por este motivo, logo ganhou o apelido de Rasputinik (Rasputin - equivalente à Pervertido).
Por outro lado, sua terra natal era de religiosidade e misticismo muito intensos. Principalmente porque ali próximo estavam depositados, numa igreja, os restos mortais de São Simão. O jovem Rasputin cresceu influenciado por esta atmosfera. Conta-se que, em sua juventude, já dava alguns sinais de possuir uma percepção especial, ou capacidade de predizer fatos futuros. Certa vez, um político chamado Stolypin passava de carruagem por uma estrada. O jovem Rasputin, que passava ao lado, acenou e gritou ao viajante: "A morte é para você. A morte está se aproximando!". Incrivelmente, no dia seguinte, o político foi ferido por balas e morreu dias depois.
Aos dezoito anos, Grigori Rasputin teve um encontro com o bispo de Barnaull. Em seguida, inesperadamente, passou a interessar-se por religião e decidiu viajar ao mosteiro de Verkhoture. Foi nesta viagem que entrou em contato com uma seita conhecida como Khlysty (Flagelantes), a qual pregava que o ato sexual era uma forma de obter a salvação espiritual. Sua passagem no mosteiro não foi longa, mas o fez entrar em contato com os preceitos e a disciplina religiosa.
Pouco tempo depois retorna à terra natal e casa-se com uma jovem chamada Praskovia Fyodorovna. Este matrimônio rendeu três filhos ao casal: Dimitri, Maria e Varvara, nascidos em 1897, 1898 e 1900, respectivamente (outras fontes especulam quatro filhos do casal). Porém, o casamento foi breve e Rasputin abandonou o lar. Quando conheceu um místico conhecido por Makaria, decidiu vagar pelo mundo. Em suas andanças, visitava preferencialmente, locais de peregrinação religiosa, como o Monte Athos, Grécia e Jerusalém. Paralelamente, ao longo de suas caminhadas, espalhavam-se as lendas de que aquele jovem possuía poderes especiais e era capaz de curar enfermos e prever o futuro. Mesmo que, em sua passagem pelo mosteiro de Verkhoture, não tenha recebido nenhum tipo de treinamento espiritual e tampouco tenha sido ordenado monge, muitas pessoas, desconhecendo seu passado conturbado, passaram a considerá-lo um sábio religioso.
Os habitantes das regiões por onde Rasputin passava, o procuravam em busca de suas bênçãos; em troca, ofereciam-lhe comida, roupas e dinheiro. Em pouco tempo, ganhou a condição de "homem santo" e sua fama disseminou-se nas aldeias da Europa Central. Rasputin contava que, um dia, arando as terras, recebeu uma revelação divina. Surgiu-lhe um anjo que entoou um canto místico e lhe atribuiu a missão espiritual de ajudar os necessitados.
De volta à terra natal, Rasputin é recebido pelo bispo Theophan e ganha notoriedade entre os religiosos da região; mas sua presença também gera desconforto em alguns. O Monge Iliodor era um de seus opositores. Conta-se que este monge, certa vez, enviou à casa de Rasputin, uma mulher para seduzi-lo e depois esfaqueá-lo. Rasputin foi esfaqueado mas sobreviveu.
O Bruxo dos czares
Em 1902, Rasputin desloca-se para a cidade de São Petersburgo e Kazan, onde agregou alguns discípulos e criou um grupo místico denominado Polite Society, baseado nos princípios da Khlysty. Sua imagem de camponês simples e sem ambição foi significativa para que conquistasse confiança e simpatia junto aos moradores da região. A influência que a Polite Society exercia e o poder de persuasão de Rasputin, amenizavam a fama que seu envolvimento com prostitutas e bebidas lhe atribuía.
Nesse mesmo momento, as autoridades clericais da Rússia procuravam por um líder que transitasse entre a alta classe da sociedade, a nobreza e as classes inferiores, e pudesse reunir todas sob a influência da Igreja. Rasputin trazia todas essas características. Mas sua fama junto aos czares teve início em 1905, quando Anya Vyrubova, amiga próxima da czarina Alexandra Fedorovna, entrou em coma após ferir-se gravemente quando o trem em que viajava descarrilou. Os médicos já haviam perdido a esperança de curá-la quando Rasputin foi chamado. O místico, ajoelhado ao lado da cama da vítima, segurou sua mão e chamou-a pelo nome. Assim continuou por horas seguidas; até que a vítima, de forma inexplicável, despertou. Rasputin, com as roupas umedecidas de suor, desmaiou exausto.
Totalmente recuperada, Anya narrava à czarina as proezas curativas do místico. Quando a doença de Tsarevich Alexei Romanov se agravava, Rasputin era imediatamente solicitado e ajoelhava-se ao lado do leito da criança, por várias horas se necessário, pronunciando em profusão uma espécie de oração em um idioma desconhecido e a saúde de Alexei era restabelecida.
Desse modo, o "bruxo" ganhou confiança e credibilidade entre os czares. Porém, Nicolas, sentindo-se desconfortável com a presença de um "monge devasso" em seu palácio e com o grau de intimidade que ele desfrutava com a czarina Alexandra, despachou o místico para a Sibéria. Por outro lado, a czarina, sensibilizada pela doença e pelo sofrimento do filho hemofílico nascido em 1904, passava a considerar a hipótese de recorrer novamente a Rasputin pela saúde da criança, caso fosse necessário.
Numa noite de outubro de 1912, Alexei sofria intensamente pela dor causada pela hemorragia hemofílica. Desesperada, a czarina enviou um telegrama solicitando o auxílio de Rasputin. O místico respondeu imediatamente, dizendo que Alexei não ia morrer e o sangramento ia cessar. Conta-se que, assim que o telegrama de Rasputin chegou às mãos da czarina, Alexei obteve uma melhora súbita. A czarina Alexandra atribuiu este fato aos poderes de Rasputin, passando a exigir sua presença constantemente no palácio, como se a saúde do herdeiro dependesse deste fato. Sensibilizado e agradecido, o czar Nicolas II não apenas aceitou a presença de Rasputin no palácio, como passou a respeita-lo como um "líder extra-oficial", ou um sábio conselheiro do trono.
Desse modo, o "médico Rasputin" restabeleceu em si a confiança da alta cúpula russa e passou a atender também os cidadãos comuns que almejavam uma consulta, realizando "pequenos milagres" e promovendo algumas curas prodigiosas. Ao mesmo tempo em que Rasputin ganhava fama com as mulheres, principalmente da alta sociedade, conquistava também trânsito livre no palácio dos Romanov, como um chefe de estado ou um primeiro-ministro. Por outro lado, a inveja do príncipe Felix Yussupov e de outros líderes russos, crescia na mesma proporção que se desenvolvia a influência de Rasputin entre os Romanov.
O Bruxo e a Dinastia em declínio
Em setembro de 1915, quando as tropas russas estavam em desvantagem na I Guerra, Nicolas abandonou o trono temporariamente para liderar o exército. Rasputin já havia manifestado sua oposição com o fato da Rússia combater o império Austro-húngaro e alemão. A ausência do czar no palácio deu mais liberdade a Rasputin, que passou a influenciar ativamente nas decisões políticas do país.
Conta-se que certa vez, embriagado, Rasputin declarou na presença de muitas pessoas que era ele quem mandava na Rússia e que a czarina estava aos seus pés. Ainda, Alexandra Fedorovna não era de nacionalidade russa, e sim austríaca; sendo a Áustria uma das nações inimigas da Rússia. Isto levou a uma onda de suposições de que a czarina traía os ideais russos e sua aproximação com Rasputin, gerou também, boatos sobre uma suposta relação extra-conjugal da czarina.
Quando Nicolas retornou ao seu país, encontrou a população faminta e flagelada, a dinastia Romanov, seu trono e sua hombridade, sob contestação popular. Rasputin e Alexandra foram considerados pelo povo os maiores responsáveis por esta situação caótica. Aos olhos do povo, o místico era quem havia enfeitiçado e ludibriado os governantes visando apenas conforto social e poder político; a czarina era a traidora austríaca que levara ao declínio a nação que a acolheu.
Um paliativo para esta situação seria eliminar a presença de Rasputin, não apenas do palácio, mas de toda a Rússia. Desse modo, sem que Nicolas soubesse, foi engendrado pelos comandantes russos um meio de assassinar Rasputin. Participaram desta armação, o príncipe Felix Yussupov, um deputado de extrema-direita chamado Purishkevitch, o oficial Sukhotin, o médico Lazovert, e o grão-duque Dmitri, da própria família real.
O Assassinato
O plano consistia num convite do príncipe Felix Yussupov ao místico para que o visitasse em sua residência, sobre o canal do Mojka, um dos condutos que levava ao Rio Neva, em São Petersburgo. Nesta ocasião seria servido um jantar a Rasputin. Um dos argumentos era de que a esposa do príncipe, a bela Irene Alexandrovna, necessitava consultar-se com o sábio.
Atendendo ao convite, na noite de 16 de dezembro de 1916, Rasputin foi visitar Yussupov. O místico foi levado ao porão da mansão, onde lhe serviram o jantar, sob a alegação de que Irene logo iria vê-lo. Após uma série de brindes com vinho envenenado, o bruxo não suportou e caiu sobre um sofá e deslizou para o chão do aposento. Youssoupov, vendo Rasputin caído e supondo que estava morto, chamou os comparsas que aguardavam no andar de cima. Entretanto, mesmo após uma ingestão incrivelmente alta de veneno, o místico levantou-se do chão. Youssoupov disparou duas vezes contra Rasputin; Purishkevitch entrou no aposento e descarregou sua arma de fogo sobre o corpo do bruxo que ainda tentou estrangular o príncipe e fugir em seguida. Mas não suportou e sucumbiu. O corpo imóvel do bruxo foi amarrado e castrado; em seguida, jogado nas águas frias do Rio Neva, sendo encontrado três dias depois e enterrado. Em fevereiro do ano seguinte, o corpo foi exumado e queimado pela multidão. Dias depois, numa autópsia, o coração de Rasputin foi retirado e guardado na Academia Militar de Medicina. Em 1930, o coração sumiu misteriosamente.
Na ocasião de seu assassinato, o veneno não surtiu o efeito desejado, provavelmente, devido a uma cirrose que "filtrou" a substância e atenuou seu efeito no organismo. Na véspera do Natal de 1916, a czarina prestou-lhe uma homenagem fúnebre. Nos autos legais, o óbito foi citado como morte acidental.
Ainda, conta-se que Rasputin teria previsto sua morte e profetizado uma tragédia. Numa carta enviada ao czar, o bruxo dizia que se Nicolas ou algum de seus familiares tivesse a intenção de assassiná-lo, nem o czar nem ninguém de sua família viveria por mais de dois anos. O fato é que dezenove meses após a morte do místico, o czar e toda sua família foram executados por revolucionários bolchevistas.
Rasputin em um século
O homem chamado Grigori Yefimovich Novykhn, que assumiu, de forma irônica e desafiadora, o apelido pejorativo que lhe foi dado; foi um camponês que, sem cultura, poder político ou financeiro, alcançou um dos mais altos postos do governo russo.
Não é possível afirmar que realmente possuía "dons especiais" ou era apenas um hábil hipnotizador. Desde a data exata de seu nascimento, seu nível de instrução, ascensão e queda política, e até sua morte, são alvos de especulações. Mesmo se fosse um místico, ou um ser espiritualmente elevado, não deixou um tratado ou um livro referencial. Algumas fontes cogitam que Rasputin possuía um comportamento rude e pernicioso; mas era extremamente hábil em suas palavras e argumentos, fato que certamente foi um dos principais trunfos de sua vida.
Ainda, especula-se que chegou a conhecer pessoalmente o mago inglês Aleister Crowley (fundador da doutrina Thelema). Hipóteses menos confiáveis afirmam que o bruxo ainda vive e teria sido fotografado. Outro fato curioso é que o pênis de Rasputin, conservado em substâncias químicas, encontra-se exposto atualmente num museu erótico na cidade de São Petersburgo. Numa publicação recente, o livro "Rasputin: a última palavra", do historiador russo Edvard Radzinski, desmente alguns mitos, mas reafirma que houve um caso amoroso com Alexandra.
De qualquer forma, toda sua biografia é repleta de lacunas que dão vazão à divagações de estudiosos e de meros curiosos. Mas, certamente, são essas incertezas que fazem de Rasputin um dos personagens mais intrigantes e misteriosos da história recente da humanidade.
Por Spectrum
quarta-feira, 8 de abril de 2009
do Paleolítico para o Neolítico
INTERDISCIPLINARIDADE, ESCRITA DA HISTÓRIA, PRÉ-HISTÓRIA AMERICANA
1) Do que trata o texto?
2) Que descobertas foram feitas pelos cientistas?
3) Que provas os cientistas apresentaram para defender suas afirmações?
4) Que ciências foram empregadas na elaboração dessa pesquisa?
5) O que são FITÓLITOS?
6) Qual é o papel dos fitólitos na descoberta anunciada pelo texto?
7) O que é TEOSINTO?
8) De que formas os arqueólogos distinguem pedras comuns das que foram empregadas na moagem de alimentos?
9) Qual a dificuldade de se encontrar restos orgânicos antigos preservados em áreas úmidas?
10) Observe nas ilustrações as modificações que ocorreram desde o teosinto até o milho moderno. De que maneira você acha que isso acontecer?
11) Qual é a importância desse tipo de estudo?
12) O que podemos saber sobre a vida das pessoas que viveram na região do atual México há 8.700 anos?
13) A que conclusões podemos chegar, após a leitura deste texto, sobre o processo de escrita da história? Como ele é feito? Quais suas características?
A notícia dessa suposta carta que contava as maravilhas do reino de Preste João espalhou-se pela Europa. Até o século XV foram feitas várias traduções e cópias. Suas diferentes versões descrevem as maravilhas de seu reino. Jóias corriam nos rios, o palácio do Preste João abrigava 30.000 pessoas à mesa, todos os dias “... não contando com os forasteiros que chegam ou partem. E todos eles recebem em cada dia, da nossa câmara, ajudas de custo quer em cavalos quer em outras espécies” (Carta do Preste João das Índias. Versões Medievais Latinas, 1998: p. 82).
Seu palácio era ricamente decorado. Teto de cedro, cobertura de ébano, em seu cume dois pomos de ouro, portas de sardônica, janelas de cristal, mesas de ouro e ametista com colunas de marfim. Além disso, existiam seres fantásticos: “bois selvagens, sagitários, homens selvagens, homens com cornos, faunos, sátiros e mulheres da mesma raça, pigmeus, cinocéfalos, gigantes, cuja altura é de quarenta côvados, monóculos, ciclopes e uma ave que chamam fênix e quase todo o gênero de animais que existem debaixo do céu.” (Carta do Preste João das Índias, p. 56)
Preste João tinha um aspecto jovem, “apesar de ter então 562 anos de idade” (FRANCO JR., 1992: p. 39-40), porque banhava-se na própria Fonte da Juventude. A carta situa a Fonte num bosque, no sopé do monte Olimpo, não muito longe do Paraíso “de onde Adão foi expulso”: “Se alguém beber em jejum três vezes dessa fonte, a partir desse dia nunca mais sofrerá de qualquer doença e será sempre, enquanto viver, como se tivesse trinta e dois anos de idade” (Carta do Preste João das Índias, p. 64-66).
Quando atingiam os cem anos de idade, os homens rejuvenesciam bebendo da água da Fonte, até completarem 500 anos, quando então morrem, e, por tradição, são enterrados juntos de árvores que possuem folhas que nunca caem e são duríssimas. “A sombra dessas folhas é agradabilíssima e os frutos dessas árvores de suavíssimo odor” (Carta do Preste João das Índias, p. 68).
Cocanha
Poesia do século XIII - COCANHA
Além do mar, a oeste da Espanha, Há uma terra chamada Cocanha; Não há sob o céu região Tão rica em bens e virtudes. Mesmo o Paraíso risonho e atraente,
Não é tão maravilhoso quanto a Cocanha. O que existe no Paraíso Além da grama, flores e ramos? Ali há alegria e grande prazer, Mas come-se apenas frutas:
Lá não existe sala, quarto ou banco, Contra a sede apenas água. Há apenas dois homens ali, Elias e Enoch. Se alguém, coitado, for lá,
Não terá companhia. Na Cocanha há comida e bebida Sem preocupação, esforço e trabalho. Ali come-se bem, bebe-se clarete Ao meio dia, às 16:00 e no jantar.
Asseguro a vocês, Nenhuma terra a iguala; Não há sob o céu país Tão alegre e feliz. Lá existem muitas coisas doces;
É sempre dia, jamais noite. Ali não há conflitos, discussões, Ou morte, só vida eterna; Não faltam comida ou roupa,
Nem homem nem mulher sentem raiva. Não existem serpentes, lobo ou raposa, Cavalo, vaca ou boi, Carneiro, porco ou cabra, Tampouco sujeira, Deus sabe. Nem haras, nem estábulo;
A terra esta cheia de coisas boas. Lá não existe mosca, pulga ou piolho Na roupa, no campo, na cama, na casa. Ali não tem trovão, neve ou granizo, Tampouco verme ou serpente;
Nem tempestade, chuva ou vento, Nem homem ou mulher cegos, Tudo ali é brincadeira, alegria e satisfação; Feliz de quem pode estar lá. Há belos e grandes rios
De azeite, leite, mel e vinho; A água serve apenas Para ser olhada e para lavar. Existem frutas de todo o tipo; Tudo é diversão e prazer.
Existe ali uma bela abadia De monges brancos e cinzas. Seus quartos e salas Tem paredes de massa, Carne, peixe e ricos pratos,
Os mais deliciosos que há. É de bolo de farinha o teto Da igreja, do claustro e da sala. As torres são de salsichas, Pratos de príncipes e reis.
Ali todos podem se saciar, Sem pecar. Tudo é comum a jovens e velhos, Altivos e violentos, fracos e medrosos. O claustro é belo e leve,
Largo e comprido, agradável. Os pilares deste claustro São de cristal, Suas bases e seus capitéis São de jaspe verde e de coral vermelho.
No jardim há uma árvore Muito bonita de se ver. Sua raíz é gengibre e junça, Seus brotos de zedoária, Suas flores de noz moscada,
Sua casca, perfumada canela; Sua fruta, saboroso cravo; Lá não faltam cúbebas. Existem ali rosas vermelhas E lírios agradáveis de ver.
Lá o dia não acaba nunca, a noite não existe; Tudo isso deve ser uma doce visão Há quatro fontes na abadia, De teriaga e água medicinal. De bálsamo e de vinho com especiarias.
Dessas fontes sempre sai, Espalhando-se pela terra, Pedras preciosas e ouro, Safira e pérola, Rubi e astrion.
Esmeralda, jacinto e diamante, Berilo, ônix e topázio, Ametista e crisólito, Calcedônia e hepatite. Existem ali numerosos e variados pássaros:
Tordo, tordo canoro e rouxinol. Cotovia e melro, E outras aves sem nome Que jamais deixam De cantar alegremente dia e noite.
Os jovens monges todo dia Depois da comida vão brincar. Não existe ave tão rápida Que voe melhor Que estes monges de espírito alto
Graças às mangas e ao capuz. Quando o abade os vê voar, Sente grande satisfação; Mas no meio desses exercícios Ele os chama para a prece das vésperas.
Quando os monges não descem, Voando mesmo mais alto, O abade ao perceber Que eles se afastam, Pega uma moça.
Vira suas brancas nádegas E bate nelas como em um tambor, Para os monges retornarem. Quando eles percebem, Fazem um vôo rasante
Na direção da moça, Beliscando suas nádegas. Depois desses exercícios, Entram no mosteiro sedentos E dirigem-se ao refeitório
Em organizada procissão. Existe lá perto uma abadia De monjas, A montante de um rio de leite e doce, Onde há muita seda
E logo chegam perto delas. Cada monge escolhe uma, E rapidamente leva sua presa Para a grande abadia cinza Onde ensinam às monjas uma oração
Com pernas para cima e para baixo. O monge que se mostrar um grande garanhão E que souber bem manejar o capuz, Terá sem dificuldades Doze mulheres por ano
Mergulhado até o pescoço. Assim se ganha aquela terra. Nobres e corteses senhores, Quem vocês não deixam o mundo Antes de ter a sorte
(fragmentos de Cocanha, poema inglês do século XIII, in Cocanha: Várias faces de uma Utopia de Hilário Franco Jr.)
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Deraldo José da Silva, imigrante nordestino recém-chegado a São Paulo, não possui documentos que atestem sua identidade e, para completar, se parece muito com um operário-assassino fugitivo da polícia... Este é o ponto de partida para um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, o genial "O Homem que Virou Suco" (João Batista de Andrade - 1980). O que faz o filme sobreviver a suas qualidades técnicas inferiores é a escolha feita pelos escritores do roteiro de não fazer do protagonista uma vítima, mas um homem que se recusa a reconhecer a derrota ou aceitar docilmente o papel inferior reservado a ele e a seus pares na sociedade paulistana. É uma obra essencial.