quinta-feira, 30 de abril de 2009

Os trabalhos e os dias...


“Para nós é difícil imaginar a importância dos jogos e das festas na sociedade antiga: hoje, tanto para o homem da cidade como para o do campo, existe apenas uma margem muito estreita entre uma atividade profissional laboriosa e hipertrofiada, e uma vocação familiar imperiosa e exclusiva. Toda a literatura política e social, reflexo da opinião contemporânea, trata das condições de vida e de trabalho. Um sindicalismo que protege os salários reais e seguros que reduzem o risco da doença e do desemprego: eis as principais conquistas populares, ao menos as mais aparentes na opinião pública, na literatura e no debate político. Mesmo as aposentadorias tornam-se cada vez menos possibilidades de repouso: são antes privilégios que permitem uma renda mais gorda. O divertimento, tornado quase vergonhoso, não é mais admitido, a não ser em raros intervalos, quase clandestinos: só se impõe como dado dos costumes uma vez por ano, durante o imenso êxodo do mês de agosto que leva às praias e às montanhas, à beira d’água, ao ar livre e ao sol uma massa cada vez mais numerosa, mais popular e ao mesmo tempo mais motorizada. Na sociedade antiga, o trabalho não ocupava tanto tempo do dia, nem tinha tanta importância na opinião comum: não tinha o valor existencial que lhe atribuímos há pouco mais de um século. Mal podemos dizer que tivesse o mesmo sentido. Por outro lado, os jogos e os divertimentos estendiam-se muito além dos momentos furtivos que lhes dedicamos: formavam um dos principais meios de dispunha uma sociedade para estreitar seus laços coletivos, para se sentir unida.” Philippe Ariès - História Social da Criança e da Família

segunda-feira, 27 de abril de 2009


terça-feira, 21 de abril de 2009

DICA DE FILME: GIORDANO BRUNO


Talvez o filme de 1973, dirigido por Giuliano Montaldo, não seja lá muito adequado ao uso em sala de aula, em função da ausência da opção "dublado", mas é uma obra essencial para qualquer professor de História que se preze.
Mestre nas artes mnemônicas, Bruno ousou discutir questões que atingiam centralmente as crenças e práticas da poderosa Igreja, como o heliocentrismo, a relação entre as forças do Universo e até mesmo a natureza de Cristo, considerado pelo filósofo apenas um homem comum.
A trilha sonora, composta pelo grande Enio Morricone, engrandece ainda mais a obra.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

sábado, 18 de abril de 2009

hoje


sexta-feira, 17 de abril de 2009

P.D. - Federação Russa


Mais material para desenvolver esse tema. Extraído do jornal Folha de São Paulo (17/04/2009 - página A13)



Rússia encerra operação na Tchetchênia
Medida deve remover 20 mil militares da região e fortalecer politicamente líder local, aliado do Kremlin

DA REDAÇÃO


A Rússia anunciou ontem o fim de sua operação de contraterrorismo na Tchetchênia. Iniciada em 1999, no início da segunda guerra separatista travada na região de maioria muçulmana nos últimos 15 anos, a ação russa impunha toques de recolher, restrições a voos civis e ao trabalho de jornalistas, entre outras medidas repressoras.A ordem do presidente Dmitri Medvedev abre caminho para a retirada de cerca de 20 mil homens do Exército posicionados na república-membro da Federação Russa, situada no sudoeste do país. Moscou não divulga oficialmente o total de seu contingente na Tchetchênia, mas analistas trabalham com a cifra de 40 mil militares.Na praça central da capital tchetchena, Grozni -cidade descrita pela ONU como "a mais destruída do mundo" em 2004, mas que desde então passa por um processo de reconstrução-, as pessoas ontem celebravam com bandeiras da Rússia e da Tchetchênia.Entre os que festejavam dançando estava Ramzan Kadyrov, o presidente tchetcheno. Ex-ativista pela separação e atualmente respaldado pelo Kremlin, é ele quem mais deverá lucrar com o fim da operação russa de contraterrorismo."É uma vitória sobre o mal, que combatemos nos últimos 15 anos", declarou ele. "Uma pacífica e próspera república tchetchena na família unida dos povos da Rússia é o nosso rumo estratégico no futuro."Kadyrov disse que o aeroporto de Grozni logo será aberto para voos e comércio internacionais -o que, segundo ele, ajudará a atrair investimentos de países árabes e europeus.O crédito por atrair investimento russo para a reconstrução de Grozni e por controlar a militância separatista -cooptando antigos ativistas a ingressarem em suas temidas equipes de segurança- fez crescer a popularidade do tchetcheno.Entretanto, a Tchetchênia permanece apontada por entidades humanitárias como palco de abusos. A milícia de Kadyrov é acusada de sequestro, tortura e assassinato."Divisor de águas"Para a Anistia Internacional (AI), a decisão de ontem deve ser seguida de investigação independente de violações cometidas por russos e tchetchenos."O verdadeiro divisor de águas do retorno à normalidade é dar às pessoas o que esperam por mais de uma década: elas querem a verdade e justiça. Elas querem saber o paradeiro de amigos e parentes desaparecidos e que os responsáveis sejam identificados e punidos", declarou Irene Khan, secretária-geral da AI.Ela não foi a única a receber com reservas o anúncio de ontem. Arkady Babchenko, ex-soldado russo, veterano das duas Guerras da Tchetchênia e autor de um livro sobre as atrocidades cometidas nos confrontos que deixaram cerca de 100 mil mortos, escreveu no britânico "Guardian" que o fim da operação "é puramente uma jogada populista"."Significa só uma coisa: que o Kremlin coroou Kadyrov para reinar na região e deu a ele plena liberdade como o mestre da Tchetchênia, um lugar onde uma coisa já está bem clara, sua palavra é a lei", declarou Babchenko, para quem o líder tchetcheno não deixa aos que discordam dele outra alternativa além de pegar armas e conspirar nas montanhas.



País precisa de pluralismo, diz Medvedev
DA REDAÇÃO


O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, criticou ontem medidas restritivas à liberdade de expressão tomadas pelo seu antecessor, Vladimir Putin, atual primeiro-ministro russo, e afirmou que seu país se beneficiaria de maior competição na arena política.Há um ano no poder, Medvedev foi pessoalmente escolhido por Putin para sucedê-lo.Num encontro com representantes da sociedade civil divulgado ontem pelo Kremlin, o dirigente criticou uma lei aprovada por Putin que dificulta a regularização e impõe controles contábeis severos sobre organizações civis na Rússia. Ele disse que mudanças na lei são não só "possíveis, como necessárias". A Rússia, disse ainda, precisa ter vozes dissonantes. "É preciso que exista uma competição política maior; isso é insubstituível."

quinta-feira, 16 de abril de 2009

RELATOS - EUROPEUS EM CONTATO COM NOVAS CULTURAS



A Situação de Aprendizagem 4 do 2º E.M. traz como tema "Contatos Culturais". Pede-se que primeiro trabalhemos a questão das grandes navegações, para depois dar ênfase ao encontro das culturas européia, asiática, africana e americana. Disponibilizo abaixo coletânea de relatos, extraídos de diversos sites.






Frei Bartolomé de Las Casas - “Brevíssima Relação da Destruição das Índias”



"Nestas mansas ovelhas, e com sobreditas qualidades dotadas pelo seu Feitor e Criador, entraram desde logo os espanhóis, mal as conheceram, como lobos e tigres e crudelíssimos leões famintos de muitos dias. E outra coisa não fizeram de há quarenta anos a esta parte, até hoje, e no próprio dia de hoje não fazem senão despedaçá-las, matá-las, angustiá-las, afligi-las, atormentá-las e destruí-las por vias estranhas e novas e várias nunca vistas nem lidas nem ouvidas formas de crueldade, das quais mais adiante umas poucas hão-de dizer, a tal ponto que havendo na ilha Espanhola perto de três milhões de almas, que vimos, ali não há hoje de seus naturais duzentas pessoas".
“E ainda hoje em dia, outra coisa não fazem (os espanhóis) ali senão despedaçar, matar, afligir, atormentar e destruir este povo ... A ilha de São João e de Jamaica, ambas muito grandes e muito férteis estão desoladas ... quanto à grande terra firme, estamos certos de que nossos espanhóis, por suas crueldades e execráveis ações, despovoaram e desolaram mais de dez reinos, maiores que toda a Espanha.” “
Entravam pelas aldeias, não poupando crianças nem velhos, nem sequer mulheres prenhas a quem rasgavam o ventre e faziam em pedaços, como se dessem com cordeiros metidos em seus redis. Faziam apostas sobre quem de um só golpe havia de abrir ao meio um homem, ou lhe cortaria a cabeça com uma espadeirada ou lhe poria fora as entranhas. Tomavam pelas pernas as crianças de mama do seio de suas mães, e atiravam com elas contra os penedos, de cabeça".



MARCO PÓLO – O LIVRO DAS MARAVILHAS



“Os tártaros usam carroças com um couro preto que as protege da chuva. As mulheres lá ficam encarregadas de comprar, vender e outras tarefas. Já os homens se ocupam de caçar e dos combates. Os tártaros se alimentam de carne, leite e verduras. Os tártaros se casam depois de mortos é assim que acontece: Um senhor tem uma filha que morreu a muito tempo, então ele procura uma família que tenha morrido um homem e pergunta se eles querem se casar, se aceitarem, faz-se uma cerimônia e as famílias se tornam parentes. (...)”
“ No Porto de Ormuz as pessoas são negras e adoradores de Maomé. É um lugar muito quente que todos os dias de manhã vem do deserto um vento muito quente e forte. É tão quente o vento que as pessoas do local não conseguem respirar perfeitamente por isso quando ele chega, as pessoas entram na água que cobre até seu queixo. Nesse porto chegam várias mercadorias, de tecidos até elefantes, que de lá vão para o mundo inteiro.”



AMÉRICO VESPÚCIO – NOVUS MUNDUS



“Começarei pela gente. Foi tanta a multidão dela, mansa e tratável, que encontramos naquelas regiões, que, como diz o Apocalipse, não se pôde contar. Os de um e outro sexo andam nus, sem cobrir nenhuma parte do corpo, como saem dos corpos das mães, e assim vão até a morte. Têm os corpos grandes e robustos, bem dispostos e proporcionados, de cor tirante a vermelha, o que, segundo creio, lhes procede de serem tintos pelo sol, andando nus.
Têm os cabelos negros e crescidos; são ágeis e fáceis no andar e nos jogos, e de mui belas feições, as quais contudo a si próprios desfiguram, furando as faces, os lábios, as ventas e as orelhas. E não se creia que os buracos sejam pequenos ou tenham apenas um, pois vi muitos com sete, cada um dos quais tão grandes como um abrunho. Tapam estes buracos com bonitas pedras azuis de mármore, cristalinas ou de alabastro, e com ossos alvíssimos e outros objetos elaborados segundo seu uso, que é insólito e monstruoso. Homens há que levam nas faces e lábios sete pedras, cada uma de metade da palma da mão de comprido. Não sem admiração, muitas vezes achei pesarem essas sete pedras dezesseis onças, além das que trazem pendentes de três buracos nas orelhas.
Mas este uso é somente dos homens. As mulheres não furam as faces, mas somente as orelhas.
Outro costume têm extravagante, e que parece incrível: que as mulheres, sendo libidinosas, fazem inchar o membro de seus maridos tanto, que parecem brutos, e isto por meio de certo artifício e mordedura de uns bichos venenosos, por cujo motivo muitos deles o perdem e ficam como eunucos.
Não possuem panos de lã nem de linho, nem mesmo de algodão; porque os não necessitam, nem têm bens de propriedade; porém tudo lhes é comum. E vivem juntos, sem rei nem império, e cada qual é senhor de si. Tomam tantas mulheres quantas querem, e o filho se junta com a mãe, e o irmão com a irmã, e o primo com a prima, e o caminhante com a que encontra. Basta a vontade para matrimoniarem, no que não observam ordem alguma. Além disso não possuem templos nem leis, nem são idólatras. Que mais direi? Não há entre eles comerciantes nem comercio. Guerreiam-se entre si, sem arte nem ordem. Os mais velhos, com alguma parcialidade, obrigam a quanto querem os jovens, e os levam à guerra, na qual se matam cruamente; e aos que cativam não poupam as vidas senão para que os sirvam toda a vida, ainda que a outros comem, sendo certo que é entre eles a carne humana manjar comum; e se há visto haver o pai comido mulher e os filhos. E um conheci eu, a quem falei, que se gabava de haver saboreado trezentos corpos humanos, e até estive vinte e sete dias em certa povoação, onde vi dependurada pelas habitações carne humana salgada, como entre nós se usa com o toucinho e a chacina de porco.”



Colombo e relatos de seu diário



Os arawak foram os primeiros ameríndios a ter contato com os europeus. Quando Cristóvão Colombo chegou às Bahamas, o navio atraiu a atenção dos nativos que, maravilhados, foram ao encontro dos visitantes, a nado. Quando Colombo e seus marinheiros desembarcaram, armados com suas espadas e falando uma língua estranha, os arawak lhes trouxeram comida, água e presentes. Mais tarde, Colombo escreverá em seu diário de bordo:Eles nos trouxeram papagaios, trouxas de algodão, lanças e muitas outras coisas que trocaram por contas de vidro e guizos. Trocavam de bom coração tudo o que possuíam. Eram bem constituídos, com corpos harmoniosos e feições graciosas. [...] Não usavam armas, que não conheciam , pois quando lhes mostrei uma espada, tomaram-na pela lâmina e se cortaram, por ignorância. Não conheciam o ferro. As lanças são feitas de cana. Dariam bons criados. Com cinqüenta homens, poder-se-ia submeter todos eles e fazer deles o que se quisesse.
Colombo, fascinado por essa gente tão hospitaleira, escreverá ainda:Desde que cheguei às Índias, na primeira ilha que encontrei, peguei alguns indígenas à força para que eles aprendam e possam me dar informações sobre tudo o que poderíamos encontrar nestas regiões.



Trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha



“Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijamente sobre o bater; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes. bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros.
Mostram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhe um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhe uma galinha; quase tiveram medo dela: não lhe queiram pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados.Deram-lhe ali de comer: pão e peixe cozido, confeites, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada daquilo; e se alguma coisa provaram, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal puseram a boca; não gostaram nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada. Não beberam. Mal a tomaram na boca, que lavaram, e logo a lançaram fora.Então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir, sem buscarem maneira de encobrir suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas. E lançaram-lhes um manto por cima; e eles consentiram, quedaram-se e dormiram.”



HANS STADEN - DUAS VIAGENS AO BRASIL



"Formaram um círculo ao redor de mim, ficando eu no centro com duas mulheres, amarraram-me numa perna um chocalho e na nuca penas de pássaros. Depois começaram as mulheres a cantar e, conforme um som dado, tinha eu de bater no chão o pé onde estavam atados os chocalhos. As mulheres fazem bebidas. Tomam as raízes de mandioca, que deixam ferver em grandes potes. Quando bem fervidas tiram-nas (...) e deixam esfriar (...) Então as moças assentam-se ao pé, e mastigam as raízes, e o que fica mastigado é posto numa vasilha à parte. Acreditam na imortalidade da alma(...)."
"Voltando da guerra, trouxeram prisioneiros. Levaram-nos para sua cabana: mas a muitos feridos desembarcaram e os mataram logo, cortarm-nos em pedaços e assaram a carne (...) Um era português (...) O outro chamava-se Hyeronimus; este foi assado de noite."


Hernan Cortez - CARTAS

Antes que os nativos pudessem se juntar, queimei seis povoados e prendi e levei para o acampamento quatrocentas pessoas, entre homens e mulheres, sem que me fizessem qualquer dano.
Antes do amanhecer do dia seguinte tornei a sair com cavalos, peões e índios e queimei dez povoados, onde havia mais de três mil casas. Como trazíamos a bandeira da cruz e lutávamos por nossa fé e por serviços de vossa sacra majestade, em sua real ventura nos deu Deus tanta vitória, posto que matamos muita gente sem que nenhum dos nossos sofresse dano.
No outro dia vieram cerca de cinquenta índios que traziam comida e começaram a olhar as saídas de nosso acampamento, bem como as cabanas onde dormíamos. Os de Cempoal vieram até mim e alertaram-me para olhar aqueles homens que eram maus e vinham espionar. Dissimuladamente prendi um deles sem que os outros vissem. [ ...] Depois tomei mais outros cinco ou seis e todos confessaram a mesma coisa. Em vista disso, mandei prender todos os cinquenta e cortar-lhes as mãos e os enviei a seu senhor para que dissessem a ele que quando ele viesse saberia quem éramos.
...saí uma noite, depois de rendida a guarda da prima, com os peões, índios e cavalos, e antes que amanhecesse dei com dois povoados onde matei muita gente.
...Como sempre que batíamos em retirada ao final do dia os índios atrás dos nossos cavalos em grande alarido, resolvi preparar-lhes uma cilada. [...] Depois que os nossos passaram por ali no retorno do fim da tarde, os de cavalo caíram sobre os inimigos que vinham logo atrás fazendo seu constante alarido. Foi uma cilada muito bem feita e conseguimos matar uns quinhentos dos índios mais bravos e mais corajosos. [...] graças a esta vitória que Deus Nosso Senhor nos concedeu neste dia, se tornou mais próximo o momento de se ganhar toda a cidade, porque os nativos sofreram um grande abalo [...] A única perda lamentável que tivemos naquele dia foi uma égua cujo cavaleiro caiu, e que saiu em corrida sem rumo, indo parar no meio dos nossos inimigos que a flecharam...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

MEMÓRIA



Alguns excertos do livro "História e Memória" de Jacques Le Goff


“Chego agora aos campos e às vastas zonas da memória, onde repousam os tesouros das inumeráveis imagens de toda a espécie de coisas introduzidas pelas percepções; onde estão também depositados todos os produtos do nosso pensamento, obtidos através da ampliação, redução ou qualquer outra alteração das percepções dos sentidos, e tudo aquilo que nos foi poupado e posto à parte ou que o esquecimento ainda não absorveu e sepultou. Quando estou lá dentro, evoco todas as imagens que quero. Algumas apresentam-se no mesmo instante, outras fazem-se desejar por mais tempo, quase que são extraídas dos esconderijos mais secretos. Algumas precipitam-se em vagas, e enquanto procuro e desejo outras, dançam à minha frente com ar de quem diz:”Não somos nós por acaso?”, e afasto-as com a mão do espírito da face da recordação, até que aquela que procuro rompe a névoa e avança do segredo para o meu olhar; outras surgem dóceis, em grupos ordenados, à medida que as procuro, as primeiras retiram-se perante as segundas e, retirando-se, vão recolocar-se onde estarão, prontas para vir de novo, quando eu quiser. Tudo isto acontece quando conto qualquer coisa de memória”.
Santo Agostinho – Confissões

“O uso das letras foi descoberto e inventado para conservar a memória das coisas. Aquilo que queremos reter e aprender de cor fazemos redigir por escrito a fim de que o que se possa reter perpetuamente na sua memória frágil e falível seja conservado por escrito e por meio de letras que duram sempre.”
Guy de Nevers – 1174

“Aí, aprendem de cor, segundo o que se diz, um grande número de versos. Por isso alguns permanecem vinte anos nessa aprendizagem. Não crêem porém lícito transcrever os dogmas da sua ciência, enquanto que para as restantes coisas em geral, para as normas públicas e privadas, se servem do alfabeto grego. Parece-me que estabeleceram este uso por duas razões: porque não querem divulgar a sua doutrina nem ver os seus alunos negligenciar a memória confiando na escrita; porque acontece quase sempre que a ajuda dos textos tem por conseqüência um menor zelo em aprender de cor e uma diminuição da memória.”
César – De Bello Gallico – sobre o processo de aprendizagem seguido por jovens que tinham como mestres os druidas gauleses.
"O alfabeto engendrará esquecimento nas almas de quem o aprender: estas cessarão de exercitar a memória porque, confiando no que está escrito, chamarão as coisas à mente não já do seu próprio interior, mas do exterior, através de sinais estranhos."
Platão - Fedro
"Entendo por 'nossa época' o período que é para nós moderno, quer dizer, a extensão destes cem anos de que vemos agora o fim e de que todos os acontecimentos notáveis ainda estão frescos e presentes nas nossas memórias, primeiro porque alguns centenários ainda sobrevivem e também porque muitos filhos têm relatos muito seguros do que não viram dos seus pais e dos seus avós."
Gautier Map - século XII



"A Galeria de Retratos democratizou-se e cada fampília tem, na pessoa do seu chefe, o seu retratista. Fotografar as suas crianças é fazer-se historiógrafo da sua infância e preparar-lhes, como um legado, a imagem do que foram... O álbum de família exprime a verdade da recordação social. Nada se parece menos com a busca artística do tempo perdido do que estas apresentações comentadas das fotografias de família, ritos de integração a que a família sujeita os seus novos membros. As imagens do passado dispostas em ordem cronológica, 'ordem das estações' da memória social, evocam e transmitem a recordação dos acontecimentos que merecem ser conservados porque o grupo vê um fator de unificação nos monumentos da sua unidade passada ou, o que é equivalente, porque retém do seu passado as confirmações d sua unidade presente. É por isso que não há nada que seja mais decente, que estabeleça mais a confiança e seja mais edificante que um álbum de família: todas ass aventuras singulares que a recordação individual encerra na particularidade de um segredo são banidas e o passado comum ou, se quiser, o menor denominador comum do passado, de nitidez de um monumento funerário frequentado assiduamente."
Pierre Bordieu - 1965
"A memória humana é particularmente instável e maleável, enquanto que a memória das máquinas se impõe pela sua grande estabilidade, algo semelhante ao tipo de memória que representa o livro, mas combinada, no entanto, com uma facilidade de evocação até então desconhecida."
Dermane e Rouquerol - 1959
"O homem é conduzido progressivamente a exteriorizar faculdades cada vez mais elevadas."
Leroi-Gurhan 1964
"O molde interior representa uma estrutura escondida, uma 'memória' que organiza a matéria de forma a produzir a criança à imagem dos pais."
Buffon - século XVIII
"E se a memória mais não fosse que um produto da imaginação?"
André Breton - 1822


"A tradição é biologicamente tão indispensável à espécie humana como o condicionamento genético o é às sociedades de insetos: a sobrevivência étnica funda-se na rotina, o diálogo que se estabelece suscita o equilíbrio entre rotina e progresso, simbolizando a rotina o capital necessário à sobrevivência do grupo, o progresso, a intervenção das inovações individuais para uma sobrevivência melhorada."

Leroi-Gourhan - 1964

terça-feira, 14 de abril de 2009

PESQUISA - ISAÍAS MATIAZZO - 2005


Encontrei esse recorte de jornal no meio de um dicionário (estava bem guardado mesmo...).

Essa matéria foi publicada no jornal de Caieiras (cujo nome não me lembro) por engenho e força do Joselton, que procurou os editores e divulgou o trabalho.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

DICA DE FILME: "O GRANDE DITADOR"


O filme serve para ilustrar os temas Primeira Guerra Mundial (mostrando muitas das armas introduzidas neste conflito, de maneira bem humorada), Ascensão do Nazi-fascismo, Antissemitismo e Segunda Guerra Mundial.

Escrito, dirigido e protagonizado por Charles Chaplin, esta obra de 1940 é seu primeiro filme falado. Ele faz dois papéis: um barbeiro judeu, veterano da Primeira Guerra, que é perseguido pelos nazistas, e Adenoyd Hynkel, um ditador tão severo quanto atrapalhado (uma clara alusão a Adolf Hitler). Chaplin ousou criticar Hitler num momento em que ele ainda era visto por muitos como um político competente e estrategista visionário. Já desgastado entre os conservadores e autoridades pelas críticas que fizera ao capitalismo em seu filme anterior, Tempos Modernos, a sátira a Hitler causou sua expulsão dos Estados Unidos, para onde só voltaria em 1972, quando receberia um Oscar pelo conjunto de sua obra.

A semelhança física entre Hitler e Chaplin foi o ponto de partida para esta obra, que chegou a ser proibida no Brasil pelo governo de Getúlio Vargas, que considerou o filme "comunista e desmoralizador das forças armadas".

Pela polêmica que despertou, é certamente uma obra corajosa, realização de um artista que nunca escondeu sua simpatia pelos mais fracos.

domingo, 12 de abril de 2009

S.A. 4 - 2ºE.M. - CONTATOS CULTURAIS

Gravura asteca mostra pessoas bebendo o xocoatl,
bebida feita de cacau que deu origem ao chocolate.
Índios fumando charuto de tabaco


A Situação de Aprendizagem 4 do 2ºE.M. traz como tema os contatos culturais ocorridos entre europeus e "indígenas" a partir dos "descobrimentos". Essa entrevista com a historiadora norte-americana Marcy Norton trata de um assunto correlato muito interessante: a assimilação, por parte dos europeus, dos hábitos americanos de se beber chocolate e fumar tabaco. Cabe como uma luva no tema proposto pela Proposta Curricular. Mais uma vez, o texto é de propriedade da Folha de São Paulo (caderno MAIS - 12/04/2009 - pág. 4 e 5).




Poder e prazer



EM ENTREVISTA À FOLHA, A AUTORA DE "DÁDIVAS SAGRADAS, PRAZERES PROFANOS" DEFENDE QUE O TABACO E O CHOCOLATE INVERTERAM O SENTIDO DA COLONIZAÇÃO AO IMPOR AO OCIDENTE ELEMENTOS DA CULTURA DA AMÉRICA


O chocolate era algo associado à elite; já o tabaco permeava todas as classes e gêneros: homens e mulheres da cidade e do campo, pobres e ricos o consumiam
ERNANE GUIMARÃES NETO


DA REDAÇÃO



A forma tradicional de receber uma visita é com uma xícara -de chocolate. Foi assim quando Montezuma recebeu os espanhóis que colonizaram seu império mesoamericano. Dessa relação se disseminaram novos hábitos sociais, comportamentais e de paladar hoje difundidos em todo o mundo, argumenta a historiadora norte-americana Marcy Norton, 39. A própria palavra xícara, de origem náuatle, presta reverência indireta às diversas variedades de bebidas feitas com cacau. Decorado com pinturas, o recipiente fazia jus ao luxo representado pela fruição dos líquidos quentes ou frios, doces ou apimentados, sempre dissoluções de uma pasta que seria conhecida pelos colonizadores como "chocolate". A imagem de ritual das elites -vinda de uma cultura em que grãos de cacau eram moeda corrente e a fruta era exigida como tributo-, marcaria assim o alimento muito antes de existirem os processos industriais que o transformariam em pó e barra no século 19. O processo de assimilação ou "somatização" -nas palavras da professora de história da Universidade George Washington (EUA)- do chocolate é contrastado com o do tabaco em seu recém-lançado "Sacred Gifts, Profane Pleasures" [Dádivas Sagradas, Prazeres Profanos, Cornell University Press, 334 págs., US$ 35, R$ 77]. Em entrevista à Folha, a autora defende que os dois produtos inverteram a relação imperialista: por meio deles, os costumes dos colonizados foram expandidos mundialmente, em vez de desaparecerem. "A visão comum de que o consumo de café levou ao consumo de chocolate está invertida. Na verdade, o chocolate parece ter ajudado a pavimentar o caminho para o café ao criar o anseio nos consumidores por bebidas escuras, amargas, adocicadas, quentes e estimulantes", afirma a pesquisadora.

FOLHA - Por que apresentar chocolate e tabaco juntos num livro?
MARCY NORTON - Ambos são produtos nativos da América que se tornaram muito populares na sociedade europeia e nas sociedades europeizadas da América. Sua importância para a Europa surgiu na mesma época. Têm coisas relevantes em comum, geraram debates semelhantes, e foram muito diferentes na maneira de cruzar as culturas. Isso me atraiu.
FOLHA - Um se tornou um bem comum e outro viveu a glória social, a glamourização no cinema e a posterior demonização, o tabaco...
NORTON - O que você está chamando de comum, o chocolate? No período que estudo, da chegada dos europeus [século 15] até o século 18, era o oposto. Há repetidos relatos afirmando que o tabaco permeava todas as classes e gêneros: homens e mulheres da cidade e do campo, pobres e ricos o consumiam, enquanto o chocolate era algo associado à elite. Somente a partir do final do século 17 começa a se espalhar para outros grupos.
FOLHA - A sra. abre seu livro com as impressões de um espanhol na corte de Montezuma, dando grande importância a ambos os produtos -aí aparece um aspecto da "nobreza" de seu consumo. Mas também conta que o chocolate não foi um sucesso imediato, que foram necessárias décadas de aculturação dos migrantes para chegar à Espanha. Que força simbólica prevaleceu: a do luxo pagão ou o da massificação?

NORTON - Em certa medida, o sucesso do tabaco e do chocolate foi um "acidente de império". Os europeus chegaram à América com um conjunto de noções sobre como iriam se beneficiar. Mas, ao longo da experiência colonizatória, o encontro com o tabaco por toda a América -e o chocolate na Mesoamérica- foi inevitável, e sua assimilação aconteceu. No caso do chocolate, a ideia de "luxo supremo" veio desde o começo. Uma combinação de poder e prazer -é isso o que resume o chocolate. No caso do tabaco, houve sempre um atrito entre a consciência de que havia algo de religioso, de idolatria em seu uso e, ao mesmo tempo, um ato sublime de sociabilização. Um dos temas de meu livro é a tensão contínua entre essa imagem de idolatria diabólica do tabaco e seu uso social.
FOLHA - A palavra "xicálli" (que gerou "xícara") era usada especificamente para o chocolate?

NORTON - Não. No contexto original, "xicálli" era para qualquer coisa. Mas, para os espanhóis, no início a palavra era associada prioritariamente ao chocolate.
FOLHA - Onde havia chocolate antes da chegada dos europeus?

NORTON - Quando os espanhóis chegaram, o limite sul aonde chegava o chocolate -não o cacau- era a região onde fica a Costa Rica. Aparentemente outras culturas tinham o cacau, mas não faziam o chocolate. Em direção ao norte, o chocolate havia chegado pelo menos até a região do cânion Chaco, onde hoje é o Estado do Novo México. Mas não que o comércio do chocolate chegasse lá no século 15.
FOLHA - O tabaco era mais difundido do que o chocolate?

NORTON - Sim, pois suas diferentes variedades podem crescer em qualquer lugar do Alasca à Argentina. E tinha muita importância social, com o uso medicinal ou espiritual, em grupos sociais que nada tinham a ver uns com os outros.
FOLHA - O rapé já era um hábito forte dos nativos americanos?

NORTON - No período pré-colombiano, era uma hábito sul-americano -pelo que já se pesquisou até agora, era comum nos Andes e na costa onde hoje estão Venezuela e Colômbia. A palavra "rapé" é francesa, referindo-se à criação dos franceses no século 18, algo diferente, mais fino -e o que hoje se chama de rapé na América é provavelmente diferente de ambas as formas. Os espanhóis adotaram os hábitos das regiões por onde passaram -"humo", "polvo" e "hoja" [fumaça, pó e folha]. O pó [rapé] foi a forma que pegou com a elite no início, mas isso mudou rapidamente, quando os charutos se tornaram populares. Mas desde o início houve o desenvolvimento de um mercado complexo e segmentado -inclusive contrabando de tabaco brasileiro para a Espanha no século 18, apesar do bloqueio imposto pelo sistema colonial. O tabaco do Brasil, como era mais barato, era contrabandeado de Lisboa para a Península Ibérica.
FOLHA - Quanto ao chocolate, a variante mais comum era o "atole" (versão refrescante da bebida)?

NORTON - Cárdenas [em texto de 1591] relatou isso, mas não é possível confirmar. Sabe-se que havia muitas bebidas com cacau, e essa mistura era uma das formas mais comuns.
FOLHA - O sabor da bebida era forte para os espanhóis? Seria forte para o gosto contemporâneo?

NORTON - Existe um empresário em Santa Fe, no Novo México [www.kakawachocolates.com], que tenta reproduzir o chocolate feito pelas sociedades pré-colombianas e pelos primeiros europeus. O problema é que alguns dos ingredientes são muito restritos. Os pré-colombianos tinham uma constelação de plantas que não fazem parte da dieta ocidental -exceto, é claro, a baunilha.
FOLHA - Eles não tomavam simplesmente suco de cacau?

NORTON - Sem dúvida, mas a polpa fresca só estava disponível onde o cacau era cultivado, e são áreas restritas, porque o cacau é uma planta frágil.
FOLHA - Mas a pasta de cacau não era comestível? Por que, afinal, demorou tanto para ser criado o chocolate em barra?

NORTON - Não estudei muito esse capítulo da história, que se passa já no século 19. O que acontece é que as pessoas estavam satisfeitas com o que havia, não precisavam melhorar o chocolate. Foi a industrialização que possibilitou essa mudança. Em 1828, o holandês Van Houten percebeu a utilidade de reconstituir o cacau de modo mais barato, utilizando outras gorduras. Desse modo, o cacau passou a render mais dinheiro.
FOLHA - Então o coração da Europa -Bélgica e Suíça- assume o papel de autoridade em chocolate. Isso não é prova de que o alimento foi recriado pelos europeus, e não "somatizado"?

NORTON - Isso só aconteceu no século 19. A distância entre o modo como o chocolate era consumido na Tenochtitlán nos Quinhentos e na Madri de 1685 é menor do que entre essa Madri e qualquer outro lugar do mundo nos anos 1950. Mas essa transformação só aconteceu no século 19. Para o chocolate atravessar o Atlântico, foi necessário haver essa somatização.
FOLHA - E o costume do chocolate quente espanhol guarda mais semelhanças com aquela origem?

NORTON - Sim, e há relatos de tradição centenária na Sicília (Itália), no México etc.
FOLHA - Agora é moda consumir chocolate com percentual mais elevado de cacau. Essa onda de chocolateria é um movimento na direção da estética original do chocolate?

NORTON - Por um lado, nos aproxima, porque há ênfase no gosto de cacau, muito mais próximo que um Hershey's Kiss, por exemplo, que quase não tem cacau. Por outro lado, nos leva mais longe das bebidas, restritas a grupos étnicos. Existe uma pessoa, Mark Christian, que vai colocar no ar um website [www.c-spot.com, com previsão de lançamento em maio] sobre o "chocolate de ponta". Nós discutimos recentemente o fato de o chocolate estar vivendo um apogeu -há um movimento por chocolates de alta qualidade, pelo alto percentual de cacau, que vê a procedência do cacau e incorpora o vocabulário dos enólogos. Diz que agora temos o melhor chocolate do mundo, mas rebato: não sabemos o que perdemos, mesmo que algumas tradições tenham sobrevivido.
FOLHA - A sra. escreveu em um estudo que "as políticas coloniais asseguraram a continuidade do cultivo, do comércio e do consumo do cacau, pois a possibilidade imediata de os governantes espanhóis lucrarem com a conquista dependia de sua usurpação e manutenção de um sistema organizado pelo governante asteca". O chocolate desapareceria se não fosse parte desse sistema?

NORTON - Não. O tabaco não era parte do sistema de tributos, mas continuou. Meu palpite é o de que o chocolate seria assimilado do mesmo jeito. Se bem que, se por alguma razão os colonizadores quisessem utilizar o solo de outra maneira -por exemplo, se resolvessem criar ovelhas-, isso seria uma ameaça à sobrevivência do cacau, que é uma planta muito frágil. Aliás, uma das razões para as plantações migrarem para o sul foi a ganância dos espanhóis, que aumentaram os tributos, causando um desequilíbrio ecológico.
FOLHA - Em lugar de dizer que o chocolate abriu caminho para o café e o chá na cultura ocidental, não seria justo dizer que o mercado de cana-de-açúcar puxou a aceitação de bebidas amargas?

NORTON - Esse é o argumento de Sidney Mintz, um dos primeiros a estudar a história de uma só commodity [em livros como "O Poder Amargo do Açúcar", ed. UFPE]. É daquelas coisas impossíveis de provar, mas eu gostaria de levar a sério a ideia de que tais bebidas serviram como veículos para o consumo de açúcar. Mintz usa esse argumento no caso do chá. Mas, para considerar o chá, é preciso considerar o chocolate, que chegou primeiro. Aliás, o açúcar já estava disponível desde a Idade Média -a cana era cultivada por portugueses-, e uma razão para o aumento da popularidade do açúcar deve ter sido o consumo dessas bebidas.
FOLHA - O chocolate era bebido por razões "funcionais" (tinha alta reputação como estimulante entre os nativos) ou por seu sabor?

NORTON - Não era nem a questão do sabor nem de interesse pela "cozinha local" -assim como, hoje em dia, procuramos um restaurante "exótico"-, mas sim o fato de que os espanhóis se adaptaram ao costume. Ou seja, se estavam numa relação diplomática, era melhor que bebessem a bebida que lhes ofereciam. Os espanhóis começaram buscando ouro e prata na América. Levaram para lá uma visão que tinham do Oriente, portanto buscaram também especiarias e remédios. Acabaram levando para a Europa coisas como salsaparrilha e tinturas. O tabaco e o chocolate foram levados depois, no final do século 16, com espanhóis aculturados -o aspecto social desses produtos foi levado junto. O tabaco variou mais. Um tratado publicado em Córdoba nos anos 1690 o descrevia ao mesmo tempo como "uma coisa vil de escravos e marinheiros", dos elementos mais baixos da sociedade, e como objeto de rituais semelhantes aos de Tenochtitlán -com o mesmo prestígio envolvido. Já o chocolate era, de modo mais uniforme, uma coisa de elite. Como veio de uma região menor, mais unificada culturalmente, sua cultura foi mais fácil de ser preservada.
FOLHA - O uso do chocolate em ovos de Páscoa é uma continuação do imperialismo do século 16, em que agora as tradições ocidentais são deixadas para trás em favor de um festival pagão do chocolate?

NORTON - Nem uma coisa nem outra. Meu argumento é o de que o mundo que emergiu das viagens de Colombo ficou totalmente mudado. Não dá para entender a sociedade europeia sem levar a sério essas sociedades. Quem imaginaria que o tabaco seria a principal fonte de renda do Estado espanhol no final do século 17? Não dá para entender a história europeia isoladamente.
FOLHA - Qual sua opinião sobre o filme "Chocolate" (baseado no romance de Joanne Harris, com Juliette Binoche)? Ali parece haver uma certa oposição entre o "estranho" e a "tradição", como em seu livro.

NORTON - Não gosto dele. Como especialista, não consigo fazer aquela "suspensão do juízo" que esse tipo de filme requer. Devo soar como uma rabugenta, mas esse é meu lado de historiadora sensível.

P.D. - Federação Russa


Um dos assuntos a serem tratados nas aulas de P.D. é o que se refere à Federação Russa e ao ressurgimento desse país como império. Esse material que disponibilizo abaixo saiu na Folha de São Paulo de hoje, no caderno MUNDO (páginas A18 e A19). São dois textos e um infográfico, que podem ser um tanto complexos para os alunos, mas se forem trabalhados com calma podem oferecer diversas informações sobre o conteúdo.

Esse material estava protegido por copyright. É a pirataria a serviço da Educação...

Lá vai:

Fonte: jornal Folha de São Paulo – 12/04/2009 – páginas A18 e A19
Rússia reconquista espaço perdido na Ásia Central

Fechamento de bases e crise de regimes aliados expõem recuo de influência dos EUA

Washington e Moscou revivem "Grande Jogo" por domínio da Ásia Central; retórica de reaproximação não arrefece as disputas


CHARLES CLOVER, ISABEL GORST, DANIEL DOMBEY

DO "FINANCIAL TIMES"


À sombra da cadeia de montanhas Tian Shan, na Ásia Central, os integrantes da 376ª Ala Aérea Expedicionária dos EUA estão envolvidos em uma operação de sedução. Nas últimas semanas, receberam alunos das escolas locais em sua base aérea em Manas, Quirguistão; uma banda de rock formada pelo pessoal da base tem se apresentado em orfanatos e escolas; e os aviadores visitaram hospitais infantis na capital, Bishkek. Mas parece que esses esforços se provarão tardios. Em fevereiro, o governo do Quirguistão deu aos EUA um prazo de 180 dias para que saia da base de Manas, principal polo de distribuição por via aérea para a guerra do Afeganistão. A maioria dos observadores acredita que o fechamento da base esteja acontecendo por influência do Kremlin, embora um diplomata russo insista em que o fato de a decisão ter surgido depois de Moscou oferecer um empréstimo de US$ 2 bilhões à ex-república soviética, em dificuldades financeiras, seja "coincidência". Moscou, que passará a utilizar a base de Manas, se restabeleceu como força dominante na Ásia Central, que era parte de seu território até a dissolução do império soviético em 1991. Os EUA, cuja saída do país se segue a expulsão semelhante do Uzbequistão, em 2006, parecem a ponto de perder suas últimas posições na região. Ainda que as relações entre Washington e Moscou estejam melhorando sob Barack Obama, a Ásia Central continua a ser um foco de conflito. A cooperação tem por foco "recomeçar do zero" o relacionamento, que se deteriorou sob o governo de George W. Bush. Mas sobram desacordos nos bastidores sobre temas como a defesa contra mísseis na Europa Central, e talvez a mais delicada das questões seja o relacionamento da Rússia com os Estados soberanos que um dia foram parte da União Soviética. Sobre isso, os líderes se mantiveram virtualmente silentes. Bases, gás e paradigmasNa região desenrola-se uma versão renovada do "Grande Jogo" travado entre a Rússia e o Império Britânico no século 19. O que está em questão são bases militares, fontes de petróleo e gás natural e modelos rivais de governo numa área cuja importância foi destacada pela Guerra do Afeganistão e pela crescente dependência energética da Europa Ocidental. "Durante meu período como especialista em assuntos russos no Conselho de Segurança Nacional, sob o governo do presidente Bush, nenhuma questão envenenou mais o relacionamento entre os países, e a situação não parou de piorar depois que deixei o cargo", afirma Thomas Graham, que trabalhou para a Casa Branca entre 2002 e 2007. "A capacidade russa de projetar poder na região confirma aos olhos de Moscou sua posição como potência, pois o que caracteriza melhor uma potência do que irradiar influência pela vizinhança?", indaga. Já para os EUA, a região se tornou "o campo de teste da capacidade para cumprir no mundo pós-Guerra Fria o que as elites americanas veem como missão histórica do país: a promoção da democracia e da economia de mercado". O campo em que o novo "Grande Jogo" se desenrola é vasto -vai das fronteiras da China às da Polônia, e inclui democracias disfuncionais como a Ucrânia, autocracias petroleiras como o Cazaquistão e paióis étnicos como a Geórgia. A soberania dessas nações instáveis é um obstáculo ao que muitos observadores veem como uma retomada do apetite russo pelo imperialismo. No momento, os sinais demonstram que a Rússia está reconquistando o terreno perdido nos 15 anos posteriores a 1991. O pico da influência americana na região veio na metade desta década, quando havia bases militares dos EUA; a Otan (aliança militar ocidental) se expandiu para três países bálticos, antes parte da União Soviética, em 2004; e as revoluções "coloridas" da Geórgia (2003) e da Ucrânia (2004) criaram governos pró-ocidentais em substituição a regimes pró-Moscou. Desde então, os EUA estão apenas assistindo. A Revolução Laranja da Ucrânia se desmancha em conflitos internos; a Rússia derrotou a Geórgia em seis dias de guerra em 2008; Moscou humilhou Kiev na disputa sobre os suprimentos de gás em janeiro, e o Kremlin se prepara para tomar o lugar do Pentágono em Manas.

Tradução de PAULO MIGLIACCI




Empréstimos fortalecem a geopolítica da Rússia
Quebradas, ex-repúblicas soviéticas recorrem a Moscou



DO FINANCIAL TIMES



A crise mundial acrescentou uma nova dimensão ao "Grande Jogo" na Ásia Central, já que a influência geopolítica gira acima de tudo em torno de dependência. Para países em situação financeira grave como Ucrânia, Belarus e Quirguistão, a Rússia parece indispensável, pois tem o poder de salvar ou arruinar nações. Moscou ofereceu bilhões de dólares em empréstimos bilaterais e está estabelecendo um fundo de emergência por meio da Comunidade Econômica Eurasiática (CEE), organização que reúne seis ex-repúblicas soviéticas. Tair Mansurov, presidente da CEE, diz que o fundo contará com US$ 10 bilhões em contribuições dos membros, 70% vindas da Rússia, e estará operacional em até três meses. Mesmo após ter gasto bilhões resgatando empresas à beira da bancarrota e sustentando a cotação do rublo, a Rússia ainda conta com reservas de cerca de US$ 385 bilhões, as terceiras maiores do mundo. "A Rússia está tentando usar a crise como oportunidade de comprar alguns países", brinca Dimitri Trenin, do Centro Carnegie em Moscou. "Essas nações estão em buracos ainda mais fundos que a Rússia. Em circunstâncias assim, um pouco de dinheiro vale muito." A lógica dos acordos de Belovezh, que dissolveram a União Soviética em 1991 e encorajavam a soberania dos países recém-independentes, ficou no passado. O presidente Dimitri Medvedev afirmou, em entrevista, que a Rússia tem "interesses privilegiados em certas regiões", que incluíam muitos países vizinhos. "Mas há uma grande diferença entre tentar desempenhar um papel na região e recriar a União Soviética... Não vejo, da parte desses países, disposição a ceder soberania", ressalva Dimitri Simes, diretor do Nixon Center em Washington. Trenin afirma que a Rússia vem dizendo aos vizinhos que existem regras claras, incluindo um rígido controle sobre acordos militares com potências externas, que devem passar pela aprovação russa. Serguei Lavrov, o chanceler russo, admite que a fórmula do presidente "assustou muita gente", mas negou que ela signifique uma esfera de influência à moda do século 19 ou um mega-Estado como foi durante o século 20. Mesmo assim, a visão russa de "parceria privilegiada" deixa pouco espaço aos EUA na Ásia Central. Moscou inicialmente aprovou a presença de bases americanas, em solidariedade após o 11 de Setembro, mas retirou o apoio em meio a suspeitas de que os EUA patrocinaram as revoluções pró-ocidentais na Ucrânia e na Geórgia. A decisão do Uzbequistão de expulsar os EUA de sua base em Khanabad, em 2006, surgiu depois de uma reunião do Conselho de Cooperação de Xangai, organização de segurança regional considerada uma ferramenta para reduzir a influência de Washington na Ásia Central. O fechamento da base de Manas, recentemente anunciado pelo Quirguistão, "sabotaria" os planos americanos no Afeganistão e permitiria que os russos negociassem seu apoio em uma posição de força, diz Pavel Felgenhauer, um analista independente de defesa russo. Os EUA se opõem a qualquer esfera de influência desse tipo e dificilmente se manterão passivos na região, a longo prazo. Mas a Rússia acredita ter uma cartada vitoriosa em mãos. Analistas russos preveem que os governos da Geórgia e da Ucrânia cairão, abrindo caminho para regimes menos próximos aos EUA e mostrando aos líderes regionais que o apoio de Washington não os protegerá.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

Três dias nas terras da Cocanha


Sem trabalho, só diversão...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Rasputin e a Revolução Russa


Um bom assunto a ser abordado durante a Situação de Aprendizagem 3 do E.M. (Revolução Russa) é a trajetória controversa de Rasputin. Até o mais desinteressado dos alunos pára o que estiver fazendo para ouvir...

Abaixo transcrevo uma biografia coletada no site http://www.spectrumgothic.com.br/ocultismo/personagens/rasputin.htm


A trajetória de Grigori Yefimovich Novykhn tem início na década de 1860. Mas há muitas incertezas em relação ao seu nascimento. Especula-se que tenha sido em 23 de janeiro de 1864, na pequena aldeia de Pokrovskoe, Sibéria. Outras fontes afirmam que o ano de seu nascimento está entre 1869 e 1872.
Pobre e parcialmente alfabetizado, o jovem Grigori atravessou sua infância e adolescência na região natal. Provavelmente, ajudando ao pai camponês nas tarefas diárias, e divertindo-se com mulheres, vodka e envolvendo-se em brigas com vizinhos. Por este motivo, logo ganhou o apelido de Rasputinik (Rasputin - equivalente à Pervertido).
Por outro lado, sua terra natal era de religiosidade e misticismo muito intensos. Principalmente porque ali próximo estavam depositados, numa igreja, os restos mortais de São Simão. O jovem Rasputin cresceu influenciado por esta atmosfera. Conta-se que, em sua juventude, já dava alguns sinais de possuir uma percepção especial, ou capacidade de predizer fatos futuros. Certa vez, um político chamado Stolypin passava de carruagem por uma estrada. O jovem Rasputin, que passava ao lado, acenou e gritou ao viajante: "A morte é para você. A morte está se aproximando!". Incrivelmente, no dia seguinte, o político foi ferido por balas e morreu dias depois.
Aos dezoito anos, Grigori Rasputin teve um encontro com o bispo de Barnaull. Em seguida, inesperadamente, passou a interessar-se por religião e decidiu viajar ao mosteiro de Verkhoture. Foi nesta viagem que entrou em contato com uma seita conhecida como Khlysty (Flagelantes), a qual pregava que o ato sexual era uma forma de obter a salvação espiritual. Sua passagem no mosteiro não foi longa, mas o fez entrar em contato com os preceitos e a disciplina religiosa.
Pouco tempo depois retorna à terra natal e casa-se com uma jovem chamada Praskovia Fyodorovna. Este matrimônio rendeu três filhos ao casal: Dimitri, Maria e Varvara, nascidos em 1897, 1898 e 1900, respectivamente (outras fontes especulam quatro filhos do casal). Porém, o casamento foi breve e Rasputin abandonou o lar. Quando conheceu um místico conhecido por Makaria, decidiu vagar pelo mundo. Em suas andanças, visitava preferencialmente, locais de peregrinação religiosa, como o Monte Athos, Grécia e Jerusalém. Paralelamente, ao longo de suas caminhadas, espalhavam-se as lendas de que aquele jovem possuía poderes especiais e era capaz de curar enfermos e prever o futuro. Mesmo que, em sua passagem pelo mosteiro de Verkhoture, não tenha recebido nenhum tipo de treinamento espiritual e tampouco tenha sido ordenado monge, muitas pessoas, desconhecendo seu passado conturbado, passaram a considerá-lo um sábio religioso.
Os habitantes das regiões por onde Rasputin passava, o procuravam em busca de suas bênçãos; em troca, ofereciam-lhe comida, roupas e dinheiro. Em pouco tempo, ganhou a condição de "homem santo" e sua fama disseminou-se nas aldeias da Europa Central. Rasputin contava que, um dia, arando as terras, recebeu uma revelação divina. Surgiu-lhe um anjo que entoou um canto místico e lhe atribuiu a missão espiritual de ajudar os necessitados.
De volta à terra natal, Rasputin é recebido pelo bispo Theophan e ganha notoriedade entre os religiosos da região; mas sua presença também gera desconforto em alguns. O Monge Iliodor era um de seus opositores. Conta-se que este monge, certa vez, enviou à casa de Rasputin, uma mulher para seduzi-lo e depois esfaqueá-lo. Rasputin foi esfaqueado mas sobreviveu.


O Bruxo dos czares

Em 1902, Rasputin desloca-se para a cidade de São Petersburgo e Kazan, onde agregou alguns discípulos e criou um grupo místico denominado Polite Society, baseado nos princípios da Khlysty. Sua imagem de camponês simples e sem ambição foi significativa para que conquistasse confiança e simpatia junto aos moradores da região. A influência que a Polite Society exercia e o poder de persuasão de Rasputin, amenizavam a fama que seu envolvimento com prostitutas e bebidas lhe atribuía.
Nesse mesmo momento, as autoridades clericais da Rússia procuravam por um líder que transitasse entre a alta classe da sociedade, a nobreza e as classes inferiores, e pudesse reunir todas sob a influência da Igreja. Rasputin trazia todas essas características. Mas sua fama junto aos czares teve início em 1905, quando Anya Vyrubova, amiga próxima da czarina Alexandra Fedorovna, entrou em coma após ferir-se gravemente quando o trem em que viajava descarrilou. Os médicos já haviam perdido a esperança de curá-la quando Rasputin foi chamado. O místico, ajoelhado ao lado da cama da vítima, segurou sua mão e chamou-a pelo nome. Assim continuou por horas seguidas; até que a vítima, de forma inexplicável, despertou. Rasputin, com as roupas umedecidas de suor, desmaiou exausto.
Totalmente recuperada, Anya narrava à czarina as proezas curativas do místico. Quando a doença de Tsarevich Alexei Romanov se agravava, Rasputin era imediatamente solicitado e ajoelhava-se ao lado do leito da criança, por várias horas se necessário, pronunciando em profusão uma espécie de oração em um idioma desconhecido e a saúde de Alexei era restabelecida.
Desse modo, o "bruxo" ganhou confiança e credibilidade entre os czares. Porém, Nicolas, sentindo-se desconfortável com a presença de um "monge devasso" em seu palácio e com o grau de intimidade que ele desfrutava com a czarina Alexandra, despachou o místico para a Sibéria. Por outro lado, a czarina, sensibilizada pela doença e pelo sofrimento do filho hemofílico nascido em 1904, passava a considerar a hipótese de recorrer novamente a Rasputin pela saúde da criança, caso fosse necessário.
Numa noite de outubro de 1912, Alexei sofria intensamente pela dor causada pela hemorragia hemofílica. Desesperada, a czarina enviou um telegrama solicitando o auxílio de Rasputin. O místico respondeu imediatamente, dizendo que Alexei não ia morrer e o sangramento ia cessar. Conta-se que, assim que o telegrama de Rasputin chegou às mãos da czarina, Alexei obteve uma melhora súbita. A czarina Alexandra atribuiu este fato aos poderes de Rasputin, passando a exigir sua presença constantemente no palácio, como se a saúde do herdeiro dependesse deste fato. Sensibilizado e agradecido, o czar Nicolas II não apenas aceitou a presença de Rasputin no palácio, como passou a respeita-lo como um "líder extra-oficial", ou um sábio conselheiro do trono.
Desse modo, o "médico Rasputin" restabeleceu em si a confiança da alta cúpula russa e passou a atender também os cidadãos comuns que almejavam uma consulta, realizando "pequenos milagres" e promovendo algumas curas prodigiosas. Ao mesmo tempo em que Rasputin ganhava fama com as mulheres, principalmente da alta sociedade, conquistava também trânsito livre no palácio dos Romanov, como um chefe de estado ou um primeiro-ministro. Por outro lado, a inveja do príncipe Felix Yussupov e de outros líderes russos, crescia na mesma proporção que se desenvolvia a influência de Rasputin entre os Romanov.


O Bruxo e a Dinastia em declínio

Em setembro de 1915, quando as tropas russas estavam em desvantagem na I Guerra, Nicolas abandonou o trono temporariamente para liderar o exército. Rasputin já havia manifestado sua oposição com o fato da Rússia combater o império Austro-húngaro e alemão. A ausência do czar no palácio deu mais liberdade a Rasputin, que passou a influenciar ativamente nas decisões políticas do país.
Conta-se que certa vez, embriagado, Rasputin declarou na presença de muitas pessoas que era ele quem mandava na Rússia e que a czarina estava aos seus pés. Ainda, Alexandra Fedorovna não era de nacionalidade russa, e sim austríaca; sendo a Áustria uma das nações inimigas da Rússia. Isto levou a uma onda de suposições de que a czarina traía os ideais russos e sua aproximação com Rasputin, gerou também, boatos sobre uma suposta relação extra-conjugal da czarina.
Quando Nicolas retornou ao seu país, encontrou a população faminta e flagelada, a dinastia Romanov, seu trono e sua hombridade, sob contestação popular. Rasputin e Alexandra foram considerados pelo povo os maiores responsáveis por esta situação caótica. Aos olhos do povo, o místico era quem havia enfeitiçado e ludibriado os governantes visando apenas conforto social e poder político; a czarina era a traidora austríaca que levara ao declínio a nação que a acolheu.
Um paliativo para esta situação seria eliminar a presença de Rasputin, não apenas do palácio, mas de toda a Rússia. Desse modo, sem que Nicolas soubesse, foi engendrado pelos comandantes russos um meio de assassinar Rasputin. Participaram desta armação, o príncipe Felix Yussupov, um deputado de extrema-direita chamado Purishkevitch, o oficial Sukhotin, o médico Lazovert, e o grão-duque Dmitri, da própria família real.


O Assassinato

O plano consistia num convite do príncipe Felix Yussupov ao místico para que o visitasse em sua residência, sobre o canal do Mojka, um dos condutos que levava ao Rio Neva, em São Petersburgo. Nesta ocasião seria servido um jantar a Rasputin. Um dos argumentos era de que a esposa do príncipe, a bela Irene Alexandrovna, necessitava consultar-se com o sábio.
Atendendo ao convite, na noite de 16 de dezembro de 1916, Rasputin foi visitar Yussupov. O místico foi levado ao porão da mansão, onde lhe serviram o jantar, sob a alegação de que Irene logo iria vê-lo. Após uma série de brindes com vinho envenenado, o bruxo não suportou e caiu sobre um sofá e deslizou para o chão do aposento. Youssoupov, vendo Rasputin caído e supondo que estava morto, chamou os comparsas que aguardavam no andar de cima. Entretanto, mesmo após uma ingestão incrivelmente alta de veneno, o místico levantou-se do chão. Youssoupov disparou duas vezes contra Rasputin; Purishkevitch entrou no aposento e descarregou sua arma de fogo sobre o corpo do bruxo que ainda tentou estrangular o príncipe e fugir em seguida. Mas não suportou e sucumbiu. O corpo imóvel do bruxo foi amarrado e castrado; em seguida, jogado nas águas frias do Rio Neva, sendo encontrado três dias depois e enterrado. Em fevereiro do ano seguinte, o corpo foi exumado e queimado pela multidão. Dias depois, numa autópsia, o coração de Rasputin foi retirado e guardado na Academia Militar de Medicina. Em 1930, o coração sumiu misteriosamente.
Na ocasião de seu assassinato, o veneno não surtiu o efeito desejado, provavelmente, devido a uma cirrose que "filtrou" a substância e atenuou seu efeito no organismo. Na véspera do Natal de 1916, a czarina prestou-lhe uma homenagem fúnebre. Nos autos legais, o óbito foi citado como morte acidental.
Ainda, conta-se que Rasputin teria previsto sua morte e profetizado uma tragédia. Numa carta enviada ao czar, o bruxo dizia que se Nicolas ou algum de seus familiares tivesse a intenção de assassiná-lo, nem o czar nem ninguém de sua família viveria por mais de dois anos. O fato é que dezenove meses após a morte do místico, o czar e toda sua família foram executados por revolucionários bolchevistas.


Rasputin em um século

O homem chamado Grigori Yefimovich Novykhn, que assumiu, de forma irônica e desafiadora, o apelido pejorativo que lhe foi dado; foi um camponês que, sem cultura, poder político ou financeiro, alcançou um dos mais altos postos do governo russo.
Não é possível afirmar que realmente possuía "dons especiais" ou era apenas um hábil hipnotizador. Desde a data exata de seu nascimento, seu nível de instrução, ascensão e queda política, e até sua morte, são alvos de especulações. Mesmo se fosse um místico, ou um ser espiritualmente elevado, não deixou um tratado ou um livro referencial. Algumas fontes cogitam que Rasputin possuía um comportamento rude e pernicioso; mas era extremamente hábil em suas palavras e argumentos, fato que certamente foi um dos principais trunfos de sua vida.
Ainda, especula-se que chegou a conhecer pessoalmente o mago inglês Aleister Crowley (fundador da doutrina Thelema). Hipóteses menos confiáveis afirmam que o bruxo ainda vive e teria sido fotografado. Outro fato curioso é que o pênis de Rasputin, conservado em substâncias químicas, encontra-se exposto atualmente num museu erótico na cidade de São Petersburgo. Numa publicação recente, o livro "Rasputin: a última palavra", do historiador russo Edvard Radzinski, desmente alguns mitos, mas reafirma que houve um caso amoroso com Alexandra.
De qualquer forma, toda sua biografia é repleta de lacunas que dão vazão à divagações de estudiosos e de meros curiosos. Mas, certamente, são essas incertezas que fazem de Rasputin um dos personagens mais intrigantes e misteriosos da história recente da humanidade.

Por Spectrum

quarta-feira, 8 de abril de 2009


do Paleolítico para o Neolítico


Material publicado na revista Superinteressante em 2008, no começo do ano. Ilustrações de Allan Sieber. Serve para trabalhar a questão da passagem do Paleolítico para o Neolítico, a agricultura e a domesticação de animais. Deixei o último balão em branco para que os alunos preenchessem, uma atividade interessante...

INTERDISCIPLINARIDADE, ESCRITA DA HISTÓRIA, PRÉ-HISTÓRIA AMERICANA


No 1ºEM gasta-se bastante tempo discutindo a questão da escrita da História, a interdisciplinaridade e o uso de fontes. Essa matéria da Folha de São Paulo do dia 27/03 (caderno Ciência - pág. A16) ilustra bem todas essas questões. Trata de novas descobertas a respeito do cultivo do milho na América Central, descobertas que recuam em 1.100 anos o cultivo do cereal. Usei e aprovei...
ATIVIDADES – INTERDISCIPLINARIDADE; PROCESSO DE ESCRITA DA HISTÓRIA

1) Do que trata o texto?

2) Que descobertas foram feitas pelos cientistas?

3) Que provas os cientistas apresentaram para defender suas afirmações?

4) Que ciências foram empregadas na elaboração dessa pesquisa?

5) O que são FITÓLITOS?

6) Qual é o papel dos fitólitos na descoberta anunciada pelo texto?

7) O que é TEOSINTO?

8) De que formas os arqueólogos distinguem pedras comuns das que foram empregadas na moagem de alimentos?

9) Qual a dificuldade de se encontrar restos orgânicos antigos preservados em áreas úmidas?

10) Observe nas ilustrações as modificações que ocorreram desde o teosinto até o milho moderno. De que maneira você acha que isso acontecer?

11) Qual é a importância desse tipo de estudo?

12) O que podemos saber sobre a vida das pessoas que viveram na região do atual México há 8.700 anos?

13) A que conclusões podemos chegar, após a leitura deste texto, sobre o processo de escrita da história? Como ele é feito? Quais suas características?

O Reino de Preste João e o mito da Fonte da Juventude

A vitória dos cristãos na Primeira Cruzada (1095) durou pouco. Em 1144 os muçulmanos retomaram o controle da região da Palestina. Nessa época, um alemão chamado Oto Babenberger, bispo de Freising, começou a espalhar um boato de que um cristão ainda resistia aos inimigos: o Preste João. Foi dessa forma que o mito de Preste João "entrou" na História, ou seja, pelas mãos de Oto de Freising. O bispo foi além: já na corte de Frederico I falsificou uma carta, que teria sido enviada em 1150 por Prestes João ao imperador bizantino Manuel I Comneno (1143-1180), ao papa e ao próprio Frederico I.
A notícia dessa suposta carta que contava as maravilhas do reino de Preste João espalhou-se pela Europa. Até o século XV foram feitas várias traduções e cópias. Suas diferentes versões descrevem as maravilhas de seu reino. Jóias corriam nos rios, o palácio do Preste João abrigava 30.000 pessoas à mesa, todos os dias “... não contando com os forasteiros que chegam ou partem. E todos eles recebem em cada dia, da nossa câmara, ajudas de custo quer em cavalos quer em outras espécies” (Carta do Preste João das Índias. Versões Medievais Latinas, 1998: p. 82).
Seu palácio era ricamente decorado. Teto de cedro, cobertura de ébano, em seu cume dois pomos de ouro, portas de sardônica, janelas de cristal, mesas de ouro e ametista com colunas de marfim. Além disso, existiam seres fantásticos: “bois selvagens, sagitários, homens selvagens, homens com cornos, faunos, sátiros e mulheres da mesma raça, pigmeus, cinocéfalos, gigantes, cuja altura é de quarenta côvados, monóculos, ciclopes e uma ave que chamam fênix e quase todo o gênero de animais que existem debaixo do céu.” (Carta do Preste João das Índias, p. 56)
Preste João tinha um aspecto jovem, “apesar de ter então 562 anos de idade” (FRANCO JR., 1992: p. 39-40), porque banhava-se na própria Fonte da Juventude. A carta situa a Fonte num bosque, no sopé do monte Olimpo, não muito longe do Paraíso “de onde Adão foi expulso”: “Se alguém beber em jejum três vezes dessa fonte, a partir desse dia nunca mais sofrerá de qualquer doença e será sempre, enquanto viver, como se tivesse trinta e dois anos de idade” (Carta do Preste João das Índias, p. 64-66).
Quando atingiam os cem anos de idade, os homens rejuvenesciam bebendo da água da Fonte, até completarem 500 anos, quando então morrem, e, por tradição, são enterrados juntos de árvores que possuem folhas que nunca caem e são duríssimas. “A sombra dessas folhas é agradabilíssima e os frutos dessas árvores de suavíssimo odor” (Carta do Preste João das Índias, p. 68).

Cocanha


Pra acompanhar o Caderno do Aluno, que às vezes parece meio confuso, venho usando alguns textos complementares. Vou postando-os aqui no caso de haver mais algum professor de história precisando dessas coisas...
O caso da Cocanha é um exemplo. Na situação de aprendizagem 3 do caderno do aluno do 2ºEM, você tem trechos de textos de Thomas Morus e de Maquiavel, mas nada sobre essa lenda medieval. Nas atividades, o aluno tem que saber bem as características para conseguir resolver. Essa poesia do século XIII ajuda a visualizar a coisa (a fonte é http://www.klepsidra.net/klepsidra5/loucos.html)

Poesia do século XIII - COCANHA

Além do mar, a oeste da Espanha, Há uma terra chamada Cocanha; Não há sob o céu região Tão rica em bens e virtudes. Mesmo o Paraíso risonho e atraente,
Não é tão maravilhoso quanto a Cocanha. O que existe no Paraíso Além da grama, flores e ramos? Ali há alegria e grande prazer, Mas come-se apenas frutas:
Lá não existe sala, quarto ou banco, Contra a sede apenas água. Há apenas dois homens ali, Elias e Enoch. Se alguém, coitado, for lá,
Não terá companhia. Na Cocanha há comida e bebida Sem preocupação, esforço e trabalho. Ali come-se bem, bebe-se clarete Ao meio dia, às 16:00 e no jantar.
Asseguro a vocês, Nenhuma terra a iguala; Não há sob o céu país Tão alegre e feliz. Lá existem muitas coisas doces;
É sempre dia, jamais noite. Ali não há conflitos, discussões, Ou morte, só vida eterna; Não faltam comida ou roupa,
Nem homem nem mulher sentem raiva. Não existem serpentes, lobo ou raposa, Cavalo, vaca ou boi, Carneiro, porco ou cabra, Tampouco sujeira, Deus sabe. Nem haras, nem estábulo;
A terra esta cheia de coisas boas. Lá não existe mosca, pulga ou piolho Na roupa, no campo, na cama, na casa. Ali não tem trovão, neve ou granizo, Tampouco verme ou serpente;
Nem tempestade, chuva ou vento, Nem homem ou mulher cegos, Tudo ali é brincadeira, alegria e satisfação; Feliz de quem pode estar lá. Há belos e grandes rios
De azeite, leite, mel e vinho; A água serve apenas Para ser olhada e para lavar. Existem frutas de todo o tipo; Tudo é diversão e prazer.
Existe ali uma bela abadia De monges brancos e cinzas. Seus quartos e salas Tem paredes de massa, Carne, peixe e ricos pratos,
Os mais deliciosos que há. É de bolo de farinha o teto Da igreja, do claustro e da sala. As torres são de salsichas, Pratos de príncipes e reis.
Ali todos podem se saciar, Sem pecar. Tudo é comum a jovens e velhos, Altivos e violentos, fracos e medrosos. O claustro é belo e leve,
Largo e comprido, agradável. Os pilares deste claustro São de cristal, Suas bases e seus capitéis São de jaspe verde e de coral vermelho.
No jardim há uma árvore Muito bonita de se ver. Sua raíz é gengibre e junça, Seus brotos de zedoária, Suas flores de noz moscada,
Sua casca, perfumada canela; Sua fruta, saboroso cravo; Lá não faltam cúbebas. Existem ali rosas vermelhas E lírios agradáveis de ver.
Lá o dia não acaba nunca, a noite não existe; Tudo isso deve ser uma doce visão Há quatro fontes na abadia, De teriaga e água medicinal. De bálsamo e de vinho com especiarias.
Dessas fontes sempre sai, Espalhando-se pela terra, Pedras preciosas e ouro, Safira e pérola, Rubi e astrion.
Esmeralda, jacinto e diamante, Berilo, ônix e topázio, Ametista e crisólito, Calcedônia e hepatite. Existem ali numerosos e variados pássaros:
Tordo, tordo canoro e rouxinol. Cotovia e melro, E outras aves sem nome Que jamais deixam De cantar alegremente dia e noite.
Os jovens monges todo dia Depois da comida vão brincar. Não existe ave tão rápida Que voe melhor Que estes monges de espírito alto
Graças às mangas e ao capuz. Quando o abade os vê voar, Sente grande satisfação; Mas no meio desses exercícios Ele os chama para a prece das vésperas.
Quando os monges não descem, Voando mesmo mais alto, O abade ao perceber Que eles se afastam, Pega uma moça.
Vira suas brancas nádegas E bate nelas como em um tambor, Para os monges retornarem. Quando eles percebem, Fazem um vôo rasante
Na direção da moça, Beliscando suas nádegas. Depois desses exercícios, Entram no mosteiro sedentos E dirigem-se ao refeitório
Em organizada procissão. Existe lá perto uma abadia De monjas, A montante de um rio de leite e doce, Onde há muita seda
E logo chegam perto delas. Cada monge escolhe uma, E rapidamente leva sua presa Para a grande abadia cinza Onde ensinam às monjas uma oração
Com pernas para cima e para baixo. O monge que se mostrar um grande garanhão E que souber bem manejar o capuz, Terá sem dificuldades Doze mulheres por ano
Mergulhado até o pescoço. Assim se ganha aquela terra. Nobres e corteses senhores, Quem vocês não deixam o mundo Antes de ter a sorte
(fragmentos de Cocanha, poema inglês do século XIII, in Cocanha: Várias faces de uma Utopia de Hilário Franco Jr.)

segunda-feira, 6 de abril de 2009






Deraldo José da Silva, imigrante nordestino recém-chegado a São Paulo, não possui documentos que atestem sua identidade e, para completar, se parece muito com um operário-assassino fugitivo da polícia... Este é o ponto de partida para um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, o genial "O Homem que Virou Suco" (João Batista de Andrade - 1980). O que faz o filme sobreviver a suas qualidades técnicas inferiores é a escolha feita pelos escritores do roteiro de não fazer do protagonista uma vítima, mas um homem que se recusa a reconhecer a derrota ou aceitar docilmente o papel inferior reservado a ele e a seus pares na sociedade paulistana. É uma obra essencial.


Casa nova

Decidi mudar... O antigo endereço estava um pouco apertado para o tamanho da família, que aumenta a cada ano que passa. Para simplificar as coisas, nesta nova casa vou juntar tudo: desenhos, fotos do trabalho e algumas coisas mais pessoais e, sempre que a vontade superar a preguiça, textos. Ainda estou me acostumando com os móveis e com os cômodos novos, então acho que no começo vou acabar abrindo portas erradas e deixando alguns lugares vazios, mas com o tempo me acostumo. Esteja à vontade para visitar quando quiser, mi casa es su casa...