domingo, 12 de abril de 2009

P.D. - Federação Russa


Um dos assuntos a serem tratados nas aulas de P.D. é o que se refere à Federação Russa e ao ressurgimento desse país como império. Esse material que disponibilizo abaixo saiu na Folha de São Paulo de hoje, no caderno MUNDO (páginas A18 e A19). São dois textos e um infográfico, que podem ser um tanto complexos para os alunos, mas se forem trabalhados com calma podem oferecer diversas informações sobre o conteúdo.

Esse material estava protegido por copyright. É a pirataria a serviço da Educação...

Lá vai:

Fonte: jornal Folha de São Paulo – 12/04/2009 – páginas A18 e A19
Rússia reconquista espaço perdido na Ásia Central

Fechamento de bases e crise de regimes aliados expõem recuo de influência dos EUA

Washington e Moscou revivem "Grande Jogo" por domínio da Ásia Central; retórica de reaproximação não arrefece as disputas


CHARLES CLOVER, ISABEL GORST, DANIEL DOMBEY

DO "FINANCIAL TIMES"


À sombra da cadeia de montanhas Tian Shan, na Ásia Central, os integrantes da 376ª Ala Aérea Expedicionária dos EUA estão envolvidos em uma operação de sedução. Nas últimas semanas, receberam alunos das escolas locais em sua base aérea em Manas, Quirguistão; uma banda de rock formada pelo pessoal da base tem se apresentado em orfanatos e escolas; e os aviadores visitaram hospitais infantis na capital, Bishkek. Mas parece que esses esforços se provarão tardios. Em fevereiro, o governo do Quirguistão deu aos EUA um prazo de 180 dias para que saia da base de Manas, principal polo de distribuição por via aérea para a guerra do Afeganistão. A maioria dos observadores acredita que o fechamento da base esteja acontecendo por influência do Kremlin, embora um diplomata russo insista em que o fato de a decisão ter surgido depois de Moscou oferecer um empréstimo de US$ 2 bilhões à ex-república soviética, em dificuldades financeiras, seja "coincidência". Moscou, que passará a utilizar a base de Manas, se restabeleceu como força dominante na Ásia Central, que era parte de seu território até a dissolução do império soviético em 1991. Os EUA, cuja saída do país se segue a expulsão semelhante do Uzbequistão, em 2006, parecem a ponto de perder suas últimas posições na região. Ainda que as relações entre Washington e Moscou estejam melhorando sob Barack Obama, a Ásia Central continua a ser um foco de conflito. A cooperação tem por foco "recomeçar do zero" o relacionamento, que se deteriorou sob o governo de George W. Bush. Mas sobram desacordos nos bastidores sobre temas como a defesa contra mísseis na Europa Central, e talvez a mais delicada das questões seja o relacionamento da Rússia com os Estados soberanos que um dia foram parte da União Soviética. Sobre isso, os líderes se mantiveram virtualmente silentes. Bases, gás e paradigmasNa região desenrola-se uma versão renovada do "Grande Jogo" travado entre a Rússia e o Império Britânico no século 19. O que está em questão são bases militares, fontes de petróleo e gás natural e modelos rivais de governo numa área cuja importância foi destacada pela Guerra do Afeganistão e pela crescente dependência energética da Europa Ocidental. "Durante meu período como especialista em assuntos russos no Conselho de Segurança Nacional, sob o governo do presidente Bush, nenhuma questão envenenou mais o relacionamento entre os países, e a situação não parou de piorar depois que deixei o cargo", afirma Thomas Graham, que trabalhou para a Casa Branca entre 2002 e 2007. "A capacidade russa de projetar poder na região confirma aos olhos de Moscou sua posição como potência, pois o que caracteriza melhor uma potência do que irradiar influência pela vizinhança?", indaga. Já para os EUA, a região se tornou "o campo de teste da capacidade para cumprir no mundo pós-Guerra Fria o que as elites americanas veem como missão histórica do país: a promoção da democracia e da economia de mercado". O campo em que o novo "Grande Jogo" se desenrola é vasto -vai das fronteiras da China às da Polônia, e inclui democracias disfuncionais como a Ucrânia, autocracias petroleiras como o Cazaquistão e paióis étnicos como a Geórgia. A soberania dessas nações instáveis é um obstáculo ao que muitos observadores veem como uma retomada do apetite russo pelo imperialismo. No momento, os sinais demonstram que a Rússia está reconquistando o terreno perdido nos 15 anos posteriores a 1991. O pico da influência americana na região veio na metade desta década, quando havia bases militares dos EUA; a Otan (aliança militar ocidental) se expandiu para três países bálticos, antes parte da União Soviética, em 2004; e as revoluções "coloridas" da Geórgia (2003) e da Ucrânia (2004) criaram governos pró-ocidentais em substituição a regimes pró-Moscou. Desde então, os EUA estão apenas assistindo. A Revolução Laranja da Ucrânia se desmancha em conflitos internos; a Rússia derrotou a Geórgia em seis dias de guerra em 2008; Moscou humilhou Kiev na disputa sobre os suprimentos de gás em janeiro, e o Kremlin se prepara para tomar o lugar do Pentágono em Manas.

Tradução de PAULO MIGLIACCI




Empréstimos fortalecem a geopolítica da Rússia
Quebradas, ex-repúblicas soviéticas recorrem a Moscou



DO FINANCIAL TIMES



A crise mundial acrescentou uma nova dimensão ao "Grande Jogo" na Ásia Central, já que a influência geopolítica gira acima de tudo em torno de dependência. Para países em situação financeira grave como Ucrânia, Belarus e Quirguistão, a Rússia parece indispensável, pois tem o poder de salvar ou arruinar nações. Moscou ofereceu bilhões de dólares em empréstimos bilaterais e está estabelecendo um fundo de emergência por meio da Comunidade Econômica Eurasiática (CEE), organização que reúne seis ex-repúblicas soviéticas. Tair Mansurov, presidente da CEE, diz que o fundo contará com US$ 10 bilhões em contribuições dos membros, 70% vindas da Rússia, e estará operacional em até três meses. Mesmo após ter gasto bilhões resgatando empresas à beira da bancarrota e sustentando a cotação do rublo, a Rússia ainda conta com reservas de cerca de US$ 385 bilhões, as terceiras maiores do mundo. "A Rússia está tentando usar a crise como oportunidade de comprar alguns países", brinca Dimitri Trenin, do Centro Carnegie em Moscou. "Essas nações estão em buracos ainda mais fundos que a Rússia. Em circunstâncias assim, um pouco de dinheiro vale muito." A lógica dos acordos de Belovezh, que dissolveram a União Soviética em 1991 e encorajavam a soberania dos países recém-independentes, ficou no passado. O presidente Dimitri Medvedev afirmou, em entrevista, que a Rússia tem "interesses privilegiados em certas regiões", que incluíam muitos países vizinhos. "Mas há uma grande diferença entre tentar desempenhar um papel na região e recriar a União Soviética... Não vejo, da parte desses países, disposição a ceder soberania", ressalva Dimitri Simes, diretor do Nixon Center em Washington. Trenin afirma que a Rússia vem dizendo aos vizinhos que existem regras claras, incluindo um rígido controle sobre acordos militares com potências externas, que devem passar pela aprovação russa. Serguei Lavrov, o chanceler russo, admite que a fórmula do presidente "assustou muita gente", mas negou que ela signifique uma esfera de influência à moda do século 19 ou um mega-Estado como foi durante o século 20. Mesmo assim, a visão russa de "parceria privilegiada" deixa pouco espaço aos EUA na Ásia Central. Moscou inicialmente aprovou a presença de bases americanas, em solidariedade após o 11 de Setembro, mas retirou o apoio em meio a suspeitas de que os EUA patrocinaram as revoluções pró-ocidentais na Ucrânia e na Geórgia. A decisão do Uzbequistão de expulsar os EUA de sua base em Khanabad, em 2006, surgiu depois de uma reunião do Conselho de Cooperação de Xangai, organização de segurança regional considerada uma ferramenta para reduzir a influência de Washington na Ásia Central. O fechamento da base de Manas, recentemente anunciado pelo Quirguistão, "sabotaria" os planos americanos no Afeganistão e permitiria que os russos negociassem seu apoio em uma posição de força, diz Pavel Felgenhauer, um analista independente de defesa russo. Os EUA se opõem a qualquer esfera de influência desse tipo e dificilmente se manterão passivos na região, a longo prazo. Mas a Rússia acredita ter uma cartada vitoriosa em mãos. Analistas russos preveem que os governos da Geórgia e da Ucrânia cairão, abrindo caminho para regimes menos próximos aos EUA e mostrando aos líderes regionais que o apoio de Washington não os protegerá.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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