quarta-feira, 8 de abril de 2009

Cocanha


Pra acompanhar o Caderno do Aluno, que às vezes parece meio confuso, venho usando alguns textos complementares. Vou postando-os aqui no caso de haver mais algum professor de história precisando dessas coisas...
O caso da Cocanha é um exemplo. Na situação de aprendizagem 3 do caderno do aluno do 2ºEM, você tem trechos de textos de Thomas Morus e de Maquiavel, mas nada sobre essa lenda medieval. Nas atividades, o aluno tem que saber bem as características para conseguir resolver. Essa poesia do século XIII ajuda a visualizar a coisa (a fonte é http://www.klepsidra.net/klepsidra5/loucos.html)

Poesia do século XIII - COCANHA

Além do mar, a oeste da Espanha, Há uma terra chamada Cocanha; Não há sob o céu região Tão rica em bens e virtudes. Mesmo o Paraíso risonho e atraente,
Não é tão maravilhoso quanto a Cocanha. O que existe no Paraíso Além da grama, flores e ramos? Ali há alegria e grande prazer, Mas come-se apenas frutas:
Lá não existe sala, quarto ou banco, Contra a sede apenas água. Há apenas dois homens ali, Elias e Enoch. Se alguém, coitado, for lá,
Não terá companhia. Na Cocanha há comida e bebida Sem preocupação, esforço e trabalho. Ali come-se bem, bebe-se clarete Ao meio dia, às 16:00 e no jantar.
Asseguro a vocês, Nenhuma terra a iguala; Não há sob o céu país Tão alegre e feliz. Lá existem muitas coisas doces;
É sempre dia, jamais noite. Ali não há conflitos, discussões, Ou morte, só vida eterna; Não faltam comida ou roupa,
Nem homem nem mulher sentem raiva. Não existem serpentes, lobo ou raposa, Cavalo, vaca ou boi, Carneiro, porco ou cabra, Tampouco sujeira, Deus sabe. Nem haras, nem estábulo;
A terra esta cheia de coisas boas. Lá não existe mosca, pulga ou piolho Na roupa, no campo, na cama, na casa. Ali não tem trovão, neve ou granizo, Tampouco verme ou serpente;
Nem tempestade, chuva ou vento, Nem homem ou mulher cegos, Tudo ali é brincadeira, alegria e satisfação; Feliz de quem pode estar lá. Há belos e grandes rios
De azeite, leite, mel e vinho; A água serve apenas Para ser olhada e para lavar. Existem frutas de todo o tipo; Tudo é diversão e prazer.
Existe ali uma bela abadia De monges brancos e cinzas. Seus quartos e salas Tem paredes de massa, Carne, peixe e ricos pratos,
Os mais deliciosos que há. É de bolo de farinha o teto Da igreja, do claustro e da sala. As torres são de salsichas, Pratos de príncipes e reis.
Ali todos podem se saciar, Sem pecar. Tudo é comum a jovens e velhos, Altivos e violentos, fracos e medrosos. O claustro é belo e leve,
Largo e comprido, agradável. Os pilares deste claustro São de cristal, Suas bases e seus capitéis São de jaspe verde e de coral vermelho.
No jardim há uma árvore Muito bonita de se ver. Sua raíz é gengibre e junça, Seus brotos de zedoária, Suas flores de noz moscada,
Sua casca, perfumada canela; Sua fruta, saboroso cravo; Lá não faltam cúbebas. Existem ali rosas vermelhas E lírios agradáveis de ver.
Lá o dia não acaba nunca, a noite não existe; Tudo isso deve ser uma doce visão Há quatro fontes na abadia, De teriaga e água medicinal. De bálsamo e de vinho com especiarias.
Dessas fontes sempre sai, Espalhando-se pela terra, Pedras preciosas e ouro, Safira e pérola, Rubi e astrion.
Esmeralda, jacinto e diamante, Berilo, ônix e topázio, Ametista e crisólito, Calcedônia e hepatite. Existem ali numerosos e variados pássaros:
Tordo, tordo canoro e rouxinol. Cotovia e melro, E outras aves sem nome Que jamais deixam De cantar alegremente dia e noite.
Os jovens monges todo dia Depois da comida vão brincar. Não existe ave tão rápida Que voe melhor Que estes monges de espírito alto
Graças às mangas e ao capuz. Quando o abade os vê voar, Sente grande satisfação; Mas no meio desses exercícios Ele os chama para a prece das vésperas.
Quando os monges não descem, Voando mesmo mais alto, O abade ao perceber Que eles se afastam, Pega uma moça.
Vira suas brancas nádegas E bate nelas como em um tambor, Para os monges retornarem. Quando eles percebem, Fazem um vôo rasante
Na direção da moça, Beliscando suas nádegas. Depois desses exercícios, Entram no mosteiro sedentos E dirigem-se ao refeitório
Em organizada procissão. Existe lá perto uma abadia De monjas, A montante de um rio de leite e doce, Onde há muita seda
E logo chegam perto delas. Cada monge escolhe uma, E rapidamente leva sua presa Para a grande abadia cinza Onde ensinam às monjas uma oração
Com pernas para cima e para baixo. O monge que se mostrar um grande garanhão E que souber bem manejar o capuz, Terá sem dificuldades Doze mulheres por ano
Mergulhado até o pescoço. Assim se ganha aquela terra. Nobres e corteses senhores, Quem vocês não deixam o mundo Antes de ter a sorte
(fragmentos de Cocanha, poema inglês do século XIII, in Cocanha: Várias faces de uma Utopia de Hilário Franco Jr.)

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