Dirigido por José Luiz Cuerda, o filme espanhol trata do pouco abordado tema "Guerra Civil Espanhola". A história se passa num pequeno vilarejo da Galícia, às vesperas da guerra. O clima é de liberdade, já que a república está no poder e, pela primeira vez, os espanhóis tem voz ativa nos destinos do país.
Neste cenário nos são apresentados os protagonistas: Moncho, um menino de 7 anos que é filho de um alfaiate republicano, e seu professor Dom Gregório, um livre-pensador anti-autoritário. Destaca-se também a mãe do menino, personagem que está na fronteira entre aderir ao republicanismo, cujos princípios lhe agradam, ou prudentemente se agarrar à onda autoritária, para proteger a família da sanha reacionária.
Do ponto de vista da história, o filme é valioso ao mostrar o contexto pré-guerra civil. Percebemos as contradições entre os que estavam descontentes com o que consideravam "liberdade excessiva", e que seriam os pricipais fomentadores das forças de Franco, e os que abraçaram a República com todas as suas forças. O fillme desenha essa cisão em andamento, que desembocaria na sangrenta guerra fratricida.
Mas o filme vai além, e faz algo muito difícil, raramente atingido por filmes do gênero: consegue tratar com profundidade e coerência tanto o contexto histórico quanto a vida pessoal e familiar (digamos, a microhistória) dos que ali estavam presentes. O diretor nunca deixa de contemplar essas dimensões, talvez porque, intencionalmente, não as trata como duas coisas, mas as vê como intimamente ligadas: são as vidas individuais, escolhas, sentimentos e ações das pessoas que determinam a "história grande", e, em contrapartida, são por ela influenciadas.
Poética, reveladora, e com um final impactante, a obra merece ser vista por professores de História, estudantes e por todos os que gostem de bom cinema.
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