quinta-feira, 21 de maio de 2009

Iluminismo - algumas considerações

É uma constante nos livros didáticos de História: ao tratar do tema Iluminismo, o que se exibe é um resumo muito parcial e incompleto do assunto. São citadas as principais obras de alguns autores (geralmente Voltaire, Montesquieu, Rousseau e Smith) acompanhadas de uma explicação muito sumária das principais idéias de cada um. Alguns livros trazem, a bem da verdade, pequenos trechos das obras iluministas, o que confere a eles um pouco mais de profundidade. Mas no geral, o livro aprisiona o tema, muito complexo e multifacetado, num esquematismo primário que retira muito do valor didático do assunto. Numa escola sem outros recursos de pesquisa, algo muito comum no ensino público, o tema acaba minguando por falta de elementos...
Na aula de hoje sobre o assunto, um dos alunos, que pesquisava Rousseau, quis saber sobre a atuação do filósofo no mundo real. Havia ele tentado em alguma ocasião por em prática as idéias que havia desenvolvido? Questionamentos semelhantes surgiram a respeito de outras figuras.
Para elucidar essas questões, decidi abordar paralelamente breves biografias destes pensadores. Este é um exercício interessante: comparar as idéias de alguém com sua trajetória pessoal, e tentar extrair dessa relação explicações de causa e efeito.

Posto abaixo textos biográaficos que selecionei na rede, com as devidas fontes citadas em seus rodapés.

Adam Smith – Perfil Biográfico
(Nascimento: ?/?/1723, Kirkcaldy, Escócia - Morte: 17/7/1790, Edimburgo, Escócia)




"Ao buscar seu próprio interesse, o indivíduo freqüentemente promove o interesse da sociedade de maneira mais eficiente do que quando realmente tem a intenção de promovê-lo." Defendendo o valor do interesse individual para garantir o interesse público, Adam Smith criou, neste trecho de sua "A Riqueza das Nações", o conceito de "mão invisível do mercado", fundamental para a doutrina do liberalismo.Filho de um fiscal da alfândega, Adam Smith fez seus primeiros estudos em Kirkcaldy, sua cidade natal. Aos 14 anos, ingressou na Universidade de Glasgow, onde se graduou em 1740 e conseguiu uma bolsa de estudos para a Universidade de Oxford, onde estudou filosofia.Seis anos depois, retornou à Escócia e tornou-se conferencista público em Edimburgo. Adquiriu reconhecimento como filósofo, o que lhe proporcionou ser professor de lógica na Universidade de Glasgow, em 1751. No ano seguinte, passou a lecionar filosofia moral, cadeira pleiteada alguns anos antes, sem sucesso, pelo filósofo David Hume.Nessa época, travou relações com nobres e altos funcionários, freqüentando a sociedade de Glasgow e, em 1758, foi eleito reitor da Universidade. Seu primeiro trabalho, "A Teoria dos Sentimentos Morais", foi publicado no ano seguinte.Por intermédio do político Charles Townshend, foi convidado para o cargo de tutor do duque de Buccleuch. Em 1763, Adam Smith renunciou ao seu posto na Universidade de Glasgow e mudou-se para a França. Passou quase um ano na cidade de Toulouse e depois foi para Genebra, onde se encontrou com o filósofo Voltaire.Já em Paris, Adam Smith pode freqüentar os salões literários e travou contato com os filósofos iluministas. Um incidente com um irmão de seu pupilo, no entanto, obrigou Adam Smith a ir para Londres, onde passou a residir.Em 1767, Smith retornou a Kirkcaldy, onde iniciou a elaboração e revisão de sua célebre teoria econômica. Passou mais três anos em Londres, onde seu livro foi concluído. "Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações" foi publicado em 1776, tornando-se um dos mais influentes livros de teoria moral e econômica do mundo. As teorias formuladas em "A Riqueza das Nações" lançaram as bases do liberalismo, como a teoria da livre concorrência e o conceito de livre mercado.Depois da publicação do livro, tornou-se comissário da alfândega na Escócia, o que lhe garantiu bons proventos. Reconhecido e considerado por seus contemporâneos, Adam Smith morreu em 1790, aos 67 anos.

Fonte:
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u337.jhtm


Charles-Louis de Secondat, barão de Montesquieu – Perfil Biográfico
(Nascimento: 18/01/1689, La Brède, França – Morte: 10/02/1755, Paris, França )


Charles-Louis de Secondat, barão de Montesquieu, foi um dos grandes filósofos políticos do Iluminismo. Curioso insaciável, tinha um humor mordaz. Ele escreveu um relatório sobre as várias formas de poder, em que explicou como os governos podem ser preservados da corrupção.Nobre, de família rica, Charles-Louis formou-se em direito na Universidade de Bordeaux, em 1708, e foi para Paris prosseguir em seus estudos. Com a morte do pai, cinco anos depois, voltou à cidade natal, La Brède, para tomar conta das propriedades que herdou.Casou-se com Jeanne Lartigue, uma protestante. O casal teve duas filhas. Em 1716 ele herdou de um tio o título de Barão de La Brède e de Montesquieu, além do cargo de presidente da Câmara de Bordeaux, para atuar em questões judiciais e administrativas da região. Pelos próximos onze anos ele esteve envolvido em julgamentos e aplicações de sentenças, inclusive torturas. Nessa época também participou de estudos acadêmicos, acompanhando os desenvolvimentos científicos e escrevendo teses.Em 1721, Montesquieu publicou as "Cartas Persas", um sucesso instantâneo que lhe trouxe a fama como escritor. Inspirou-se no o gosto da época pelas coisas orientais para fazer uma sátira das instituições e dos costumes das sociedades francesa e européia, além de fazer críticas fortes à religião católica e à igreja: foi a primeira vez que isso aconteceu no século 18. O livro tem um estilo divertido, mas também é desanimador: apresenta a virtude e o autoconhecimento como impossíveis de serem atingidos.Montesquieu começou dividir seu tempo entre os salões literários em Paris, os estudos em Bordeaux, o cargo na Câmara e a atividade de escritor. Logo, ele deixaria a função pública para se dedicar aos livros. Foi eleito para a Academia Francesa em 1728. Viajou pela Europa e decidiu morar na Inglaterra, onde ficou por dois anos. Estava muito impressionado com o sistema político inglês e decidido a estudá-lo. Na volta a La Brède, escreveu sua obra-prima, "O Espírito das Leis": foi outro grande sucesso, e também bastante criticada, como haviam sido as "Cartas Persas".Montesquieu quis explicar as leis humanas e as instituições sociais: enquanto as leis físicas são regidas por Deus, as regras e instituições são feitas por seres humanos passíveis de falhas. Definiu três tipos de governo existentes: republicanos, monárquicos e despóticos, e organizou um sistema de governo que evitaria o absolutismo, isto é, a autoridade tirânica de um só governante. Para o pensador, o despotismo era um perigo que podia ser prevenido com diferentes organismos exercendo as funções de fazer leis, administrar e julgar.Assim, Montesquieu idealizou o Estado regido por três poderes separados, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Essa é a teoria da separação de poderes e teve enorme impacto na política, influenciando a organização das nações modernas. O pensador levou dois anos escrevendo "Em defesa do Espírito das Leis", para responder ao vários críticos.Apesar desse esforço, a Igreja católica colocou "O Espírito das Leis" no seu índice de livros proibidos, o Index Librorum Prohibitorum. Mas isso não impediu o sucesso da obra, que foi publicada em 1748, em dois volumes, em Genebra, na Suíça, para driblar a censura. Seus livros seguintes continuaram a ser controvertidos, desagradando protestantes (jansenistas), católicos ordodoxos, jesuítas e a Universidade Sorbonne, de Paris.Montesquieu morreu, aos 66 anos, de uma febre. Estava quase cego. Deixou sem concluir um ensaio para a Enciclopédia, de Diderot e D'Alembert.

Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u639.jhtm




François-Marie Arouet (Voltaire) – Perfil Biográfico
(Nascimento: Paris, 21 de novembro de 1694 – Morte: Paris, 30 de maio de 1778)




François-Marie Arouet, ou Voltaire, nasceu em Paris, em 21 de novembro de 1694. Seu pai era tabelião e possuía pequena fortuna. Sua mãe tinha origem aristocrática. Ela morreu depois do parto. François foi franzino durante a infância e teve saúde fraca durante toda a vida.
Reinava Luís XIV. A França era grande, e os franceses, infelizes. Ou melhor, nem todos, porque para um pequeno setor da nobreza o monarca construiu sua armadilha dourada: Versalhes.
A nova sede da corte era, basicamente, um suborno. A nobreza podia optar: continuar entre gado e campônios, nas fazendas, ou ir para Versalhes. E havia mais um incentivo: quem se mantivesse quieto sob o olhar do rei receberia como prêmio uma pensão.
A tentação era grande. E, enquanto ia sendo construído aquele sonho de jardins e salões a perder de vista, a nobreza afluía para usufruir uma vida brilhante e parasitária. A formação desse núcleo de ociosos em Versalhes mudaria o panorama intelectual da França. Abandonados os hábitos antigos, era preciso matar o tempo de outra forma. A nobreza agora lia, organizava concursos, interessava-se por ocultismo e filosofia.
O espírito versalhês não se fez em um dia. Na infância de Voltaire, ainda se estava formando. E nessa época Ninon de Lenclos, bela e inteligente cortesã francesa, ao sentir que envelhecia recolheu-se numa cidadezinha de província. Havia pouco se mudara para ali a família Arouet, e o olho treinado da cortesã distinguiu no menino François os ‘sintomas’ do jovem literato. Acabou deixando-lhe uma herança de 2 mil francos com a condição de que fossem gastos em livros. E assim François mergulhou nas leituras que determinariam o curso de sua vida.
Aos dez anos, em 1704, entrou para o colégio de jesuítas Louis-le-Grand, em Paris. Terminado o curso, matriculou-se na faculdade de Direito. Mas não ia às aulas. Freqüentava tavernas, perseguia as criadas e embebedava-se com relativa assiduidade. Para tirá-lo da libertinagem, o pai arrumou-lhe o emprego de secretário de um parente: o marquês de Châteaunneuf, que estava prestes a embarcar para Haia, em 1713. Na Holanda, François não arriscou um tostão pela glória de seu rei. Apaixonou-se por Pimpette, graciosa filha de um exilado. Pilhado em flagrante, foi obrigado a voltar para Paris em 1715, aos 21 anos.
Seu regresso coincidiu com a morte de Luís XIV, o “Rei-Sol”. Sob a regência liberal do duque de Orléans - já que Luís XV, o herdeiro do trono, era muito menino para governar – o estilo de vida de Versalhes e Paris, antes refreado pela autoridade de Luís XIV, eclodiu em mil cintilações.
Magrinho, espirituoso e rápido improvisador, o jovem Arouet logo se introduziu nesse ambiente muito à vontade, e não tardou a sentir o sabor do sucesso mundano. Mas esse sucesso tornava sua língua cada vez mais ferina. Todas as boas anedotas que corriam sobre o duque de Orléans lhe eram atribuídas. E custaram-lhe a liberdade. Em 16 de abril de 1717, aos 23 anos, François foi levado à
Bastilha, famoso cárcere parisiense onde se encontravam os opositores políticos, intelectuais rebeldes e simples desafetos dos amigos do monarca.
Nos onze meses de cárcere, François escreveu uma peça de teatro – Édipo – e um longo poema épico – Henriade. Durante esse período adotou o pseudônimo de Voltaire, cuja origem jamais explicou [em francês, a palavra significa ‘poltona de enconsto alto’]. Mas prender um poeta por tempo excessivo tornaria o regente impopular entre os elegantes. Achando que a lição terminara, o duque ordenou a soltura de Voltaire e destinou-lhe uma razoável pensão anual.
A Bastilha não rendeu a Voltaire apenas a pensão. Édipo foi o
grande sucesso teatral da temporada. Com o dinheiro das apresentações, fez investimentos. Nunca mais teria dificuldades financeiras. O pai, que morrera em 1722, quando Voltaire contava trinta anos, podia repousar sossegado.Embriagado pelo sucesso, lisonjeado por um séquito de aduladores, encenou sua segunda peça teatral: Artemire. A peça foi um fracasso, e as luzes se apagaram em torno de Voltaire, que começou a definhar. Em pleno declínio físico, contraiu varíola e entrou em estado de coma, do qual emergiu alguns dias depois para descobri que Henriade o tornara novamente popular.
Em 1726, durante um juntar no castelo do duque de Sully, o Cavalheiro de Rohan perguntou em tom de desafio: “Quem é esse sujeito que fala tão alto?”. “Alguém, caro senhor”, respondeu Voltaire, “que não precisa de um grande nome, porque faz respeitar aquele que possui”. O cavaleiro engoliu a afronta, mas enviou seus lacaios para espancar Voltaire à saída da recepção. No dia seguinte, coberto de ataduras, o poeta atravessou o teatro até o camarote do cavalheiro e desafiou-o para um duelo. Um nobre, contudo, não se batia com literatos; preferia encarcerá-los. Assim, Voltaire retornou à Bastilha, onde lhe ofereceram duas opções: permanecer nela ou emigrar para a Inglaterra. Escolheu a segunda.
A Inglaterra desse período era muito diferente da França. Ao contrário da França, a nobreza não constituía uma casta fechada. Voltaire tornou-se amigo do lorde Bolingbroke, nobre, comerciante e intelectual e certa reputação e travou conhecimento com os principais literatos do momento, entre eles Jonathan Swift.
A liberdade com que Bolingbroke, Swift, Pope, Locke, Berkeley e tantos outros filósofos e literatos discutiam religião e política deixou Voltaire perplexo. Do outro lado do canal da Mancha, esses autores estariam na Bastilha antes mesmo de pensar em publicar seus livros. O que Voltaire presenciava naqueles animados serões era o desabrochar do
Iluminismo.
Em 1729, serenados os ânimos, Voltaire retornou a Paris. Estava com 35 anos e era mais famoso por sua língua ferina que por sua pena. E provavelmente teria continuado por muito tempo assim se um editor, sem sua permissão, não resolvesse publicar em 1734, as Cartas sobre os Ingleses, que ele escrevera quando estava exilado na Inglaterra, com o título de Cartas Filosóficas.
O Parlamento de Paris mandou queimar o livro por considerá-lo escandaloso, contrário à religião e à moral. Pressentindo o cheiro da Bastilha, Voltaire resolveu escapar a tempo. E, para amenizar o isolamento, levou consigo Êmilie de Breteuil, marquesa de Châtelet.
No ano seguinte, por influência de amigos na corte, a condenação foi revogada, mas Voltaire continuava indesejável em Versalhes, e permaneceu no Castelo de Cirey, propriedade da marquesa Émilie de Breteuil, que despertara nele um amor sincero.E certamente também uma grande admiração.
De quando em quando Voltaire aparecia em Paris, para em seguida ser visto em misteriosas viagens à Bélgica, Holanda e à corte prussiana, onde se fizera amigo de Frederico II. Prestando serviços de diplomata oficioso, tentava recuperar as boas graças de Versalhes. Em Cirey, pela segunda vez desde a infância, Voltaire se lançou com grande empenho e entusiasmo à literatura.
Ao mesmo tempo que criava peças para teatro, iniciou um de seus trabalhos mais sérios – O século de Luís XV, em que pretendia revelar o sentido da história. Voltaire mal iniciara essa obra quando o cardeal de Fleury, conselheiro do rei, informou-o de que considerava ofensiva esta apologia de um rei que não teve como primeiro-ministro um príncipe da Igreja. E o autor, obediente, trancou a chave de seu manuscrito, para só publicá-lo em 1751.
Morto o cardeal de Fleury,
madame de Pompadour tornou-se a primeira influência na corte. Velha amiga e confidente do poeta, conseguiu-lhe o cargo de historiógrafo real, o que lhe permitiu reunir enorme documentação, o título de fidalgo e, finalmente, em 1746, um lugar na Academia.
Por essa época, Voltaire inaugurou um novo gênero literário: o conto filosófico, e passou a publicar alguns deles ao longo dos anos seguintes. Esses pequenos ‘romances’, como ele os chamava, constituem, juntamente com seus artigos da Enciclopédia, que ele reelaborou e ampliou para Dicionário Filosófico (1764), a parte mais viva e atual de sua obra.
Zadig (1747), Micrômegas (1752) e O Ingênuo (1767) têm em comum uma notável construção. Nada de supérfulo. São descarnados, puro diálogo e ação. Com uma veia cínica e cética na narração que revela o conhecimento os textos de Swift, desfilam a corrupção dos funcionários, os amores eternos que duram duas semanas, as discussões teológicas que terminam em massacres.
Em 1749, morria a marquesa de Châtelet, que Voltaire abandonara havia algum tempo em troca da vida versalhesa. Todavia, a morte da amiga abalou-o profundamente. A vida na França tornou-se amarga, e o poeta aceitou o convite para visitar a corte prussiana.
Frederico II, herdeiro do melhor Exército da Europa, era um príncipe muito especial. Admirador da França e do Iluminismo, desejoso de se tornar um clássico da língua francesa, importava a peso de ouro intelectuais da França para a sua corte. Entre eles, Voltaire.
Mas em pouco tempo o rei e o escritor se desentenderam. Voltaire devolveu-lhe a chave de camareiro, a fita da Ordem de Mérito e procurou regressar à França em 1754. Mas em Frankfurt foi detido pelos soldados reais. Esquecera de devolver um poema satírico de autoria de Sua Majestade, que não queria torná-lo público. O poema, porém, se perdera, e Voltaire permaneceu prisioneiro por duas semanas, até que se encontrou o manuscrito; só então ele pôde partir. Mas não queria voltar à França imediatamente. Preferiu adquirir uma propriedade perto de Genebra, na Suíça. Em Lês Délice, seu novo lar, escreveu o Ensaio sobre os Costumes e o Espírito dos Povos, em 1756, primeiro grande trabalho da historiografia moderna, que tenta mostrar como as sociedades evoluíram da barbárie para a civilização.
Nessa mesma época, juntou-se a D’Holbach, Condillac, Condorcet, Helvetius, Buffon, Montesquieu e iniciou a redação da Enciclopédia ou Dicionário Raciocinado das Artes e Ofícios. Sob a direção de Diderot, essa obra se tornaria a publicação mais importante do século XVIII, a bíblia do Iluminismo. Os verbetes de Voltaire estão entre os mais brilhantes da obra, mas não entre os mais profundos. Um deles, entretanto, sobre a cidade de Genebra – onde os protestantes haviam proibido os espetáculos de teatro - provocou grande tumulto e obrigou-o a mudar de residência. Manteve Lês Délices, mas comprou outra fazenda, em Ferney, na França, próximo à fronteira belga.
No dia de Todos os Santos do ano de 1755, um terremoto em Lisboa fez desabar igrejas. Trinta mil pessoas ficaram sepultadas, sob os escombros, e o clero francês explicava dos púlpitos que Deus castigara dessa forma o povo de Portugal por seus pecados.
Leibniz, grande matemático e filósofo, por seu lado, sustentara que ‘vivemos no melhor dos mundos possíveis’. A resposta de Voltaire resultou no melhor de seus ‘contos filosóficos’: Cândido, ou O Otimismo, publicado em 1759, em que Leibniz aparece sob a caricatura do dr.Pangloss. Enquanto o infeliz Cândido é vítima de injustiças, prepotências e loucuras, o dr.Pangloss garante-lhe que há motivos para ele se alegrar, já que vive no melhor dos mundos possíveis. Moral da história: o melhor é cultivar nosso jardim particular e deixar que o mundo enlouqueça lá fora.
Foi precisamente o que Voltaire procurou fazer em Ferney. Transformou a fazenda maltratada numa gleba produtiva, distribuiu justiça, dirigiu a irrigação, abriu escolas. E teria continuado nessas atividades se não tivesse recebido, num dia incerto de 1761, a visita de uma família aterrorizada, contando uma fúnebre
história de perseguição. Um jovem suicidara-se em Tolouse. Havia, contudo, uma lei pela qual o corpo dos suicidas deveria ser arrastado pelas ruas e, depois, enforcado em público. O pai do rapaz, Jean Calas, arranjara tudo pra que o suicídio parecesse morte natural e o corpo do filho fosse respeitado. Mas Calas era protestante, e acabou sendo acusado de ter assassinado o filho para que não se convertesse ao catolicismo. Foi preso, torturado e condenado à morte.
Enquanto Voltaire defendia a família e a memória de Jean Calas, o corpo de uma certa Elisabeth Sirven foi encontrado num poço, no ano de 1762. A família também era protestante, e o juiz acusou os pais de terem matado a jovem. Voltaire lançou uma campanha, contratou advogados, redigiu defesas e enviou-as para os tribunais. E foi nessa época que escreveu o Tratado sobre a Tolerância, publicado em 1763.
Esses casos ainda estavam sob a ordem do dia quando, em 1767, o jovem La Barre, de família protestante, foi acusado de mutilar crucifixos. Ao ser preso, encontraram em seu poder um exemplar do Dicionário Filosófico, escrito com a intenção de ridicularizar o fanatismo católico.
Do caso La Barre em diante, a atividade de Voltaire assemelhou-se à erupção de um vulcão: inundou o país de panfletos, livros, ironias, apelos. Todas as suas cartas terminavam com um veemente apelo: ‘Esmagai o infame’. Voltaire passou a ser aclamado pelo povo, pelo clero e pelos cortesãos iluministas o apóstolo do progresso. Tomado de gosto pelo papel de ‘defensor público’, passou a lutar por todos os que lhe pareciam injustiçados.
Morto Luís XV, nada mais o impedia de retornar a Paris. Sua volta foi uma apoteose. Mas a viagem desgastou-lhe as forças, e ele acabou recebendo as centenas de visitantes retido no leito. Um padre foi receber sua confissão ‘Quem o enviou’?, perguntou o enfermo. ‘Deus em pessoa’, respondeu o padre. ‘Bem, vejamos então as credenciais…’.
O melhor era chamar alguém que conhecesse Voltaire. Mas um abade de suas relações recusou-se a ouvir a confissão se ele não assinasse sua submissão completa à Igreja Católica. O doente despachou-o, chamou secretário e ditou uma declaração: ‘Morro amando Deus, amando meus amigos, não odiando meus inimigos e detestando a superstição. 28 de fevereiro de 1778’.
Mas, em vez de morrer, fez triunfal visita à Academia Francesa. Compareceu à Comédie, onde foi aplaudido durante longos vinte minutos. Cobriram-no com uma coroa de louros. Era a glória que ainda mantinha vivo aquele moribundo.
Por fim, entrou em agonia e lutou contra a morte como se travasse uma batalha corporal. Gritava como um possesso e ainda teve forças para expulsar do quarto o último padre. Mas em 30 de maio teve a batalha vencida. Voltaire, com 84 nos, mesmo morto, ainda daria algum trabalho: como em Paris recusaram-lhe sepultura cristã, os amigos colocaram o corpo numa carruagem, fazendo-o passar por vivo, e levaram-no sentado até Salier, onde foi enterrado. Doze anos depois a Assembléia Nacional da Revolução obrigou Luís XVI a trasladar o corpo para o Panteão de Paris, Setecentas mil pessoas seguiram o cortejo. Sobre seu túmulo, Voltaire pedira que escrevessem apenas uma frase: “Ele defendeu Calas”.

Fonte: Vida e Obra de Voltaire, Ed. Nova Cultural, 1996

Fonte:
http://palavrassussurradas.net/?p=60 e http://www.consciencia.org/voltaire.shtml

Jean-Jacques Rousseau - Perfil biográfico
(Nascimento: 28/6/1712, Genebra, Suíça – Morte: 2/7/1778, Ermenonville, França)


Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de Junho de 1712Ermenonville, 2 de Julho de 1778) foi um filósofo suíço, escritor, teórico político e um compositor musical autodidata. Foi uma das figuras marcantes do Iluminismo francês.
Ao defender que todos os homens nascem livres, e a liberdade faz parte da natureza do homem, Rousseau inspirou todos os movimentos que visavam uma busca pela liberdade.
Filósofo suíço, natural de
Genebra, não chegou a conhecer a própria mãe, que faleceu após o trabalho de parto. Era filho do relojoeiro calvinista Isaak Rousseau, cujo avô era um huguenote e tinha fugido da França. O pai de Rousseau morreu quando ele tinha 10 anos, de modo que ele teve uma juventude agitada. Ele morou em lugares diferentes e soube desde pequeno o que era ser explorado, deparando-se com a necessidade de trabalhar.
O menino Jean-Jacques aprendeu a ler e a escrever ainda muito novo, influenciado pelo pai. Mais tarde, fora aluno do Pastor Lambercier, de rígida disciplina moral e religiosa. Precisou trabalhar desde cedo e sentira o que significava ser maltratado.
Relatou, no fim de sua vida, o quanto gostava dos passeios pelos campos e bosques. Vaguear pela natureza era um grande prazer na vida do menino Rousseau.
Na adolescência, encontrando os portões da cidade fechados, quando voltava de uma de suas saídas, opta por vagar pelo mundo. Acaba tendo como amante uma rica senhora (a madame de Warens) e, sob seus cuidados, acaba estudando música e filosofia. Longe de sua protetora, que agora estava em uma situação financeira ruim e com outro amante, ele parte para
Paris, em 1742.
Havia inovado muitas coisas no campo da música, o que lhe rendeu um convite de
Diderot para que escrevesse sobre isso na famosa Enciclopédia. Além disso, obteve sucesso com uma de suas óperas, intitulada O Adivinho da Vila. Aos 37 anos, participando de um concurso da academia de Dijon cujo o tema era: "O restabelecimento das ciências e das artes terá contribuído para aprimorar os costumes?", torna-se famoso ao escrever respondendo de forma negativa o Discurso Sobre as Ciências e as Artes, ganhando o prêmio em 1750.
Após isso, Rousseau, então famoso na elite parisiense, é convidado para participar de discussões e jantares para expôr suas idéias. Entretanto, aquele ambiente não o agradava. Ao contrário de seu grande rival Voltaire, que também não tinha o sangue azul, não gostava de tal ambiente.
Rousseau tem 5 filhos com sua amante de Paris, chamada Thérèse Levasseur, porém, acaba por colocá-los todos em um
orfanato. Uma ironia, já que anos depois escreve o livro Emílio, ou Da Educação que ensina sobre como deve-se educar as crianças.
O que escreve como peça mestra do Emílio, a "Profissão de Fé do Vigário Saboiano", acarretar-lhe-á perseguições e retaliações tanto em
Paris como em Genebra. Chega a ter obras queimadas. Rousseau rejeita a religião revelada e é fortemente censurado. Era adepto de uma religião natural, em que o ser humano poderia encontrar Deus em seu próprio coração.
Entretanto, seu romance
A Nova Heloísa mostra-o como defensor da moral e da justiça divina. Apesar de tudo, o filósofo era um espiritualista e terá, por isso e entre outras coisas, como principal inimigo Voltaire, outro grande iluminista. Em sua obra Confissões, responde a muitas acusações de François-Marie Arouet (Voltaire). No fundo, Jean-Jacques Rousseau revela-se um cristão rebelado, desconfiado das interpretações eclesiásticas sobre os Evangelhos. Sempre proferia uma frase: "Quantos homens entre mim e Deus!", o que atraía a ira tanto de católicos como de protestantes.
Politicamente, expõe suas idéias no Contrato Social. Procura um Estado social legítimo, próximo da vontade geral e distante da corrupção. A soberania do poder, para ele, deve estar nas mãos do povo, através do corpo político dos cidadãos. Segundo suas idéias, a população tem que tomar cuidado ao transformar seus direitos naturais em direitos civis, afinal "o homem nasce bom e a sociedade o corrompe".
Depois de toda uma produção intelectual, suas fugas às perseguições e uma vida de aventuras e de errância, Rousseau passa a levar uma vida retirada e solitária. Por opção, ele foge dos outros homens e vive uma vida de certa
misantropia. Nesta época, ele dedica-se à natureza, que sempre foi uma de suas paixões. Seu grande interesse por botânica, o leva a recolher espécie e montar um herbário. Seus relatos desta época estão no livro "Devaneios de Caminhante Solitário".
Rousseau termina por falecer aos 66 anos, onde estava hospedado, no
castelo de Ermenonville. Entretanto, até os dias de hoje, ele ainda é um provocador, que leva muitos a acreditarem na bondade natural do ser humano e de como a sociedade acaba destruindo essa bondade. E, por muitos, não é esquecido por sua forte crítica à propriedade privada, como causa da miséria entre as pessoas. Rousseau foi um iluminista à parte, talvez pelas suas próprias experiências desde a infância.

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