"A assustadora história das pestes e epidemias"
A aproximação de uma epidemia é precedida por um momento de pânico, que cresce na medida que chegam informações desencontradas das partes já infectadas. A proximidade com a morte é desconfortável, e leva a reações extremadas. É nesse momento que o homem mostra o que tem de pior e de melhor. Alguns buscam responsáveis, culpados, promovem banhos de sangue (quase sempre inocente). Outros revestem-se de caridade, compaixão e bons sentimentos e tentam ajudar o próximo, tratando e confortando os doentes e moribundos, mesmo que isso coloque em risco sua própria vida.
Uma vez superada a fase crítica da epidemia, entram em campo os que buscam explicar o ocorrido, tratando de analisar, com os olhos da razão ou da religião, as causas da enfermidade. Em geral, as duas visões se chocam...
O livro em questão traz uma narrativa instigante, que perfaz com maestria os passos tenebrosos de sete doenças infecciosas que acompanham a humanidade: peste bubônica, malária, tuberculose, hanseníase, varíola, cólera e Aids. A autora, Jeanette Farrel, busca mostrar as origens históricas dessas enfermidades e os impactos de sua disseminação entre os humanos. Do ponto de vista formal, o livro congrega vários aspectos que permitiriam classificá-lo como fruto da Nova História: recorre à narrativa, faz levantamentos sobre o imaginário e as mentalidades, apóia-se em outras ciências... É um livro legível, que não sofre do hermetismo, mal que atinge, infelizmente, a maioria das obras históricas.
A obra é recheada de trechos de textos e citações de cientistas, médicos e testemunhas das epidemias, o que a torna extremamente útil como material didático. Este livro está disponível em todas as escolas públicas do Estado de São Paulo, pois faz parte da Biblioteca do Professor.
Alguns trechos comentados:
O holandês Antony van Leeuwenhoek foi o responsável por desenvolver o sistema de lentes capazes de revelar aos olhos humanos a vida das criaturas muito pequenas: o microscópio. Em 9 de outubro de 1676, ele escreveu o trecho abaixo em uma carta:
“No ano de 1675, em meados de setembro... descobri criaturas vivas na água da chuva que ficara estagnada por alguns dias num novo barril... Isso me encorajou a investigar essa água mais atentamente, já que esses animais me pareciam aos olhos mais de dez mil vezes menores do que o animal de nome pulga-d’água, que se pode ver em movimento na água com a vista desarmada.”
Muitas pessoas visitavam o inventor para poderem observar com seus olhos o que liam e ouviam pelas ruas. Nessas ocasiões, van Leeuwenhoek mirava suas lentes para todo tipo de objeto: água do lago, do mar e da chuva, queijo, vinagre:
“Vieram várias damas à minha casa, ansiosas para ver as pequenas enguias no vinagre, mas algumas ficavam tão enojadas com o espetáculo que juravam nunca mais usar vinagre. E se alguém contasse a essas pessoas no futuro que há mais dessas criaturas nos resíduos dos dentes da boca de um homem do que o total de homens em todo um reino? Especialmente naqueles que nunca limpavam os dentes.”
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