Segunda feira, às 20 horas, um comerciante foi morto numa tentativa de assalto. Como Iguape é uma cidade pequena, o ocorrido ganhou ares de assunto da semana. É realmente incomum este tipo de coisa por aqui. Desde 2006, é a segunda vez que acontece uma morte violenta relacionada a roubo. Na manhã do dia do crime estive na loja do comerciante e conversei com ele sobre uns reparos que pretendia fazer no banheiro de casa.
Hoje espalhou-se a notícia da prisão dos autores do crime: quatro adolescentes oriundos de uma cidade vizinha.
Lembrei disso hoje, quando conversávamos na sala dos professores, sobre a apatia geral que percebemos nos alunos. Uma professora, que também dá aulas para crianças do ensino básico, relatou que essa condição se manifesta desde cedo. Alunos de oito anos apresentam grande desdém pela escola, preguiça, falta de vontade, o que é incomum, já que nesta fase da vida a curiosidade natural deveria guiar as mentes, e a energia da infância proporcionaria uma conduta ativa. Adolescentes, passando por grandes mudanças hormonais, tendem a ser mais sazonais, menos ativos em determinados momentos.
Comentei os resultados fracos dos alunos dos terceiros anos no simulado que realizei na semana passada, e ouvi que “era de se esperar”, uma vez que eles não demonstram nenhuma vontade de aprender. Em geral, os professores acabam culpando os alunos pelo fracasso escolar.
Mais tarde, li na revistá Época dessa semana uma matéria intitulada “E escola que nossos jovens merecem”, onde cinco adolescentes foram acompanhados em seu dia-a-dia e registraram suas impressões sobre a vida escolar, entre outras coisas. A matéria trazia diversas estatísticas que “comprovam” o fracasso do Ensino Médio no Brasil, destacando aspectos como o alto índice de evasão e reprovação no ciclo. O teor geral da matéria, bem como dos relatos dos alunos, é de que a escola e os professores é que são os culpados pelo caos na educação escolar. O que é oferecido por ambos seria antiquado, desinteressante, pouco sedutor. O sistema, como disse uma das pessoas entrevistadas, foi elaborado para atender às demandas da sociedade de vinte anos atrás, e foi incapaz de se adequar à nova realidade...
No meio desse tiroteio, fico sempre confuso. Aliás, muito confuso. Sou eu que estou errando, como professor, falhando na tarefa de despertar o interesse dos jovens? Ou são eles que não querem saber de nada mesmo, não importando o quanto me esforce? Concordo que o que se oferece para os jovens hoje é algo que destoa de seus desejos. Talvez possa ser classificado como “antiquado”. Por outro lado, não posso deixar de sentir a apatia dos estudantes, o descaso com a escola, a ausência de um ”sentido de escola” por parte deles. Para a maioria, a escola é apenas um lugar pra onde se vai encontrar os amigos, se divertir, sem compromisso nenhum com qualquer tipo de projeto.
Ninguém está oferecendo a eles um projeto... Nem os pais, nem nós professores. O que se oferece é a ilusão do mundo cintilante que aparece na TV, nos clipes, nas letras das músicas, nas revistas de celebridades. Ou a lógica do microcosmo religioso emitida dos púlpitos ocupados por estelionatários profissionais, pessoas com alergia de trabalho honesto.
Acho que a crise é muito maior do que supõe os que contrapõe alunos e professores. As mudanças que o mundo vem sofrendo nos últimos anos destruiram modelos de conduta, tanto do indivíduo para consigo mesmo quanto nas relações entre as pessoas. Romperam formas tradicionais de lidar com os jovens que, mesmo inadequadas ou injustas, funcionavam...
Lembrei do crime porque, às vezes, convivendo com os jovens, me bate uma incerteza grande, um medo do futuro... Não sei se isso é “coisa de velho”. Sei que os mais velhos reclamam dos jovens desde a antiguidade, fato registrado em textos que sobreviveram aos milênios. Mas quando os vejo pelas ruas, estropiando a língua portuguesa, expondo formas pouco ortodoxas de comportamento, me sinto acuado. Sinto que algo se perdeu. Espero estar errado. Espero estar sofrendo da mania dos velhos de criticarem a juventude...
Hoje espalhou-se a notícia da prisão dos autores do crime: quatro adolescentes oriundos de uma cidade vizinha.
Lembrei disso hoje, quando conversávamos na sala dos professores, sobre a apatia geral que percebemos nos alunos. Uma professora, que também dá aulas para crianças do ensino básico, relatou que essa condição se manifesta desde cedo. Alunos de oito anos apresentam grande desdém pela escola, preguiça, falta de vontade, o que é incomum, já que nesta fase da vida a curiosidade natural deveria guiar as mentes, e a energia da infância proporcionaria uma conduta ativa. Adolescentes, passando por grandes mudanças hormonais, tendem a ser mais sazonais, menos ativos em determinados momentos.
Comentei os resultados fracos dos alunos dos terceiros anos no simulado que realizei na semana passada, e ouvi que “era de se esperar”, uma vez que eles não demonstram nenhuma vontade de aprender. Em geral, os professores acabam culpando os alunos pelo fracasso escolar.
Mais tarde, li na revistá Época dessa semana uma matéria intitulada “E escola que nossos jovens merecem”, onde cinco adolescentes foram acompanhados em seu dia-a-dia e registraram suas impressões sobre a vida escolar, entre outras coisas. A matéria trazia diversas estatísticas que “comprovam” o fracasso do Ensino Médio no Brasil, destacando aspectos como o alto índice de evasão e reprovação no ciclo. O teor geral da matéria, bem como dos relatos dos alunos, é de que a escola e os professores é que são os culpados pelo caos na educação escolar. O que é oferecido por ambos seria antiquado, desinteressante, pouco sedutor. O sistema, como disse uma das pessoas entrevistadas, foi elaborado para atender às demandas da sociedade de vinte anos atrás, e foi incapaz de se adequar à nova realidade...
No meio desse tiroteio, fico sempre confuso. Aliás, muito confuso. Sou eu que estou errando, como professor, falhando na tarefa de despertar o interesse dos jovens? Ou são eles que não querem saber de nada mesmo, não importando o quanto me esforce? Concordo que o que se oferece para os jovens hoje é algo que destoa de seus desejos. Talvez possa ser classificado como “antiquado”. Por outro lado, não posso deixar de sentir a apatia dos estudantes, o descaso com a escola, a ausência de um ”sentido de escola” por parte deles. Para a maioria, a escola é apenas um lugar pra onde se vai encontrar os amigos, se divertir, sem compromisso nenhum com qualquer tipo de projeto.
Ninguém está oferecendo a eles um projeto... Nem os pais, nem nós professores. O que se oferece é a ilusão do mundo cintilante que aparece na TV, nos clipes, nas letras das músicas, nas revistas de celebridades. Ou a lógica do microcosmo religioso emitida dos púlpitos ocupados por estelionatários profissionais, pessoas com alergia de trabalho honesto.
Acho que a crise é muito maior do que supõe os que contrapõe alunos e professores. As mudanças que o mundo vem sofrendo nos últimos anos destruiram modelos de conduta, tanto do indivíduo para consigo mesmo quanto nas relações entre as pessoas. Romperam formas tradicionais de lidar com os jovens que, mesmo inadequadas ou injustas, funcionavam...
Lembrei do crime porque, às vezes, convivendo com os jovens, me bate uma incerteza grande, um medo do futuro... Não sei se isso é “coisa de velho”. Sei que os mais velhos reclamam dos jovens desde a antiguidade, fato registrado em textos que sobreviveram aos milênios. Mas quando os vejo pelas ruas, estropiando a língua portuguesa, expondo formas pouco ortodoxas de comportamento, me sinto acuado. Sinto que algo se perdeu. Espero estar errado. Espero estar sofrendo da mania dos velhos de criticarem a juventude...
Você está coberto de razão Daniel. A coisa está ficando cada vez mais confusa. Alguém que entende bem de seres humanos e escolas é o Pe. Pedro Cunha, ele dá aula na Fatea, em Lorena. Que tal trocar algumas palavras com ele? Ele é bom nisso. Lourdes Dias.
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