Diante do que considerou “um
péssimo estado sanitário” da Província, atacada por epidemias que
ceifavam centenas de vidas, o presidente Almeida e Albuquerque nomeou
uma comissão de médicos para que elaborassem um relatório sobre as
causas e que estabelecessem um conjunto de medidas a serem adotadas para
minimizar os estragos.
O resultado aparece transcrito abaixo.
“1º Quesito
Quaes as causas da insalubridade da capital?
R. – Deve-se considerar como causas de insalubridade desta capital a completa falta de asseio do matadouro, dos mercados, dos chãos vasios, dos quintaes e das praias, etc. etc. em consequencia dos detritos de materias organicas decompostas e de corpos de animaes em via de putrefação. Além destas causas, existem outras, como sejam a grande quantidade de pântanos que cercão a cidade, a exposição das praias ao sol ardente, a collocação dos cemiterios, a irregularidade das estações e provavelmente o uso da carne em virtude do modo porque são conduzidos e tratados os animaes.
2º Quesito
Quaes os meios de removel-a?
R. – Para a limpeza da cidade deverão as authoridades competentes nomear comissões fiscalizadoras que dirijão o prompto asseio do matadouro, mercados, chãos vasios e quintaes etc. etc. de maneira que o lixo e outras immundícies sejão, á proporção que forem tirados, conduzidos em carroças e lançados fora do centro povoado. Para a remoção de muitas das causas apontadas seria necessário muito tempo, e para a de outras existe verdadeira impossibilidade.
3º Quesito
Quaes as endemias da província?
R. – As endemias da província são as febres intermitentes simples – as perniciosas – as remittentes simples – as biliosas – as diarrhéas – as dysenterias – a varíola – as ophtalmias e o beri-beri. São muitas destas moléstias desenvolvidas por occasião da mudança das estações e da vasante dos rios, tempo em que algumas tomão a forma epidêmica.
4º Quesito
Quaes as circunstâncias que as entretem?
R. – As causas que as entretem são as mesmas já enunciadas para a insalubridade da capital, accrescendo mais, a vasante dos rios, em certa epocha, fazendo com que as águas geralmente bebidas pela população ribeirinha do interior da província, corrão sujas de lodo e outras immundicies, que ellas acarretão das margens à proporção que as vão deixando livres e expostas a ação solar.
5º Quesito
Reina alguma epidemia?
R. – Grassão fortemente as epidemias de beri-beri e variola, tendo tomado a segunda, neste último mez até esta data, proporções agigantadas.
6º Quesito
Desde quando e qual a sua causa?
R. – O beri-beri existe bem conhecido e caracterisado, ha 6 annos, apresentando-se ora menos, ora mais intenso e extenso, principalmente na estação invernosa.
Com o caráter epidemico, reina a varíola entre nós ha 5 annos, e se tem conservado sempre ora menos, ora mais forte, como presentemente.
7º Quesito
A febre amarella de 1º de janeiro a 30 de junho ultimo tem se revelado bem caracterisada?
R. – De 1º de janeiro a 30 de junho ultimo nem um do s membros desta commissão observou caso algum de febre amarella bem caracterisado.
8º Quesito
Até hoje quantos casos registraram-se dessa moléstia?
R. – A commissão só conhece um caso registrado de febre amarella, dado na pessoa da portugueza Gertrudes Rosa da Silva. Esse caso se acha publicado no Paiz de 28 de julho p. p. pertencendo ao obituário do dia 26 do mesmo mez e foi observado unicamente por um dos membros desta comissão o Sr. Dr. Jauffret.
9º Quesito
Com plausível fundamento deve-se cre-la reinando epidemicamente?
R. – A vista de ter o Sr. Dr. Jauffret affirmado a realidade do caso que também fora reconhecido pelo Sr. Dr. Hall, médico assistente de Gertrudes da Silva, parece não haver dúvida de que, ao menos esporadicamente já foi ella aqui observada.
10º Quesito
Finalmente os edifícios publicos correspondem satisfactoriamente ao fim de sua instituição?
R. – Quanto a este quesito, responderemos que, nos edificios publicos muito haveria que melhorar, mas como nos parece que sobre a quadra actual nada influem directamente, nada diremos.
OBSERVAÇÕES
Como é a epidemia de varíola aquela que actualmente mais disima a população e traz ao seu seio o terror pannico, a commissão entende dizer, sobre a maneira de attenual-a e evitar maiores desgraças, alguma coisa de mais pratica, e então acha de magna importância, que o governo crie, para os atacados de varíola:
1º Hospitaes com accommodações vastas, afastados do centro povoado e bem providos de pessoal para o tratamento dos doentes.
2º Que obrigue, de alguma maneira, a população vaccinar-se e revaccinar-se.
3º Que nomeie commissões ou agentes vaccinadores pelas diversas freguezias.
4º Que auxilie, na repartição da vaccina, ao commissário vaccinador, augmentando-lhe o número do pessoal para o serviço da vaccinação.
5º Deverá o chefe da casa onde existir um doente e varíola, mandar vaccinar todas as pessoas ainda não vaccinadas e revaccinar aquellas que já o tiverem sido há muitos annos.
6º O governo fará com que os facultativos declarem nos attestados de óbito, si o doente era ou não vaccinado, a fim de se poder mostrar com uma estatística o erro dos descuidados em vaccinar-se ou revaccinar-se.
7º O governo fará com que os particulares deem immediatamente parte, por escripto ao inspector de saude publica, que teem em sua casa um doente de varíola confirmada, para que por meio de uma boa estatística bem se possa avaliar da extensão e do progresso da epidemia.
8º O governo mandará examinar as casas em que lhe constar existir um doente atacado de varíola entregue a curandeiros, e o fará remmeter para um dos hospitaes.
9º O governo mandará oferecer ao inspector da saúde pública, os desinfectantes que elle achar necessários para o serviço dos hospitaes.
10º O governo prohibirá, com assistência de agentes policiaes, que se lavem roupas dos doentes de varíola nas mesmas fontes, em que se lavão outras.
11º O governo nomeará, para enquanto durar a epidemia, uma commissão de tres medicos com os quaes se entenderá sobre as medidas a tomar e sobre o melhor meio de pôl-as em prática.
Como já se acha registrado, entre nós, um caso de febre amarella e ella tem reinado forte e epidemicamente no Rio de Janeiro, de onde nos vem vapores de 10 em 10 dias, convem que o governo crie, como medida preventiva, um Lazareto na Ponta d’Area, onde possão ser recolhidos e tratados os doentes que, por accaso, nos forem vindo de fora. Outro sim porá em pratica as medidas já expendidas, em relação à variola, nos arts. 1º, 7º, 8º, 9º e 11º.
Podemos assegurar que, ha mais de 20 annos, existe o beri-beri nesta capital, posto que não fosse conhecida sua verdadeira natureza, e nem tivesse sido descripto ainda com essa denominação.
Alguns, d’entre nós, tratarão há muitos annos, de um certo número de doentes que apresentavão todos os symptomas do beri-beri, o qual era ora classificado como paralysia nervosa e reflexa, ora como congestão e hydropisia da medulla espinhal, comquanto não parecesse, mesmo então, acertado este diagnostico, por se não poder explicar satisfactoriamente, a combinação da hydropisia e da paralysia que caracterisão esta moléstia.
A maior parte dos casos observão-se entre as mulheres, depois do parto, outros porém complicavão as affecções hepaticas produzidas pellas febres intermittentes, e parecião nada mais ser do que, uma forma especial de cachexia paludosa.
As descripções que havião do beri-beri da India, por muito resumidas e imperfeitas, não permitiam reconhecer a identidade da natureza da moléstia, então observada, como a do beri-beri e a do barbier das costas do Malabar e de Ceylão, comquanto houvesse entre ambas notáveis analogias.
Desde que, porém, o beri-beri, ganhando em extensão, tornou-se epidêmico, entre nós, e declarou-se, não com menor intensidade, na capital da Bahia, então mais completos estudos foram feitos sobre sua symptomatologia, e foi reconhecido como indêntico com a affecção endemica da India, denominada beri-beri.
Há pouco mais ou menos 6 annos, que o beri-beri tomou, aqui, o caracter epidemico, attacando, annualmente, podemos dizer sem exageração, mais de 300 pessoas.
Nos primeiros 4 annos notou-se que elle se desenvolvia, com mais força, durante os mezes mais chuvosos de Março, Abril e Maio, sem que, comtudo, desapparecesse na estação secca.
No anno de mil oitocentos, setenta e cinco, pelo contrario, principiou a recrudescer em julho, agosto e setembro. Este anno a sua marcha parece ser, pouco mais ou menos, a mesma.
O beri-beri tem atacado, entre nós, tanto os brancos como os pretos e pessoas de raça cruzada, e com igual intensidade, ambos os sexos, sendo sempre as mulheres mais expostas a contrahil-o no estado de gravidez e no estado puerperal. Não ataca sempre com a mesma intensidade e varião suas formas, desde a mais grave e rapidaque, paralysando o coração, mata em poucos dias, até a forma benigna que não tende a aggravar-se, e que abandonada a si mesma, termina pela cura expontanea.
É esta uma verdade que se deprehende da resistencia que apresenta o beri-beri aos tratamentos mais bem aconselhados, quando é de forma grave e progressiva, e da facilidade com que cede, muitas vezes, aos mesmos meios ou a quaesquer outros por mais insignificantes e irracionaes que pareção.
Sabemos que a emigração para fóra desta capital tem sido o recurso mais proveitoso aos beri-bericos, ao qual muitos devem a vida, e desse facto parace dever concluir-se que o beri-beri é, aqui, entretido ou por qualquer princípio miasmático derramado na atmospheral, ou pela influência prejudicial de qualquer dos generos da nossa alimentação.
Á respeito da prophilaxia do beri-beri, nada podemos dizer, por isso que ainda não se conhecem as suas causas especiaes.
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Para julgar-se do estado sanitario desta capital, apresentamos um mappa da mortalidade dos ultimos quatro meses.
O resultado aparece transcrito abaixo.
“1º Quesito
Quaes as causas da insalubridade da capital?
R. – Deve-se considerar como causas de insalubridade desta capital a completa falta de asseio do matadouro, dos mercados, dos chãos vasios, dos quintaes e das praias, etc. etc. em consequencia dos detritos de materias organicas decompostas e de corpos de animaes em via de putrefação. Além destas causas, existem outras, como sejam a grande quantidade de pântanos que cercão a cidade, a exposição das praias ao sol ardente, a collocação dos cemiterios, a irregularidade das estações e provavelmente o uso da carne em virtude do modo porque são conduzidos e tratados os animaes.
2º Quesito
Quaes os meios de removel-a?
R. – Para a limpeza da cidade deverão as authoridades competentes nomear comissões fiscalizadoras que dirijão o prompto asseio do matadouro, mercados, chãos vasios e quintaes etc. etc. de maneira que o lixo e outras immundícies sejão, á proporção que forem tirados, conduzidos em carroças e lançados fora do centro povoado. Para a remoção de muitas das causas apontadas seria necessário muito tempo, e para a de outras existe verdadeira impossibilidade.
3º Quesito
Quaes as endemias da província?
R. – As endemias da província são as febres intermitentes simples – as perniciosas – as remittentes simples – as biliosas – as diarrhéas – as dysenterias – a varíola – as ophtalmias e o beri-beri. São muitas destas moléstias desenvolvidas por occasião da mudança das estações e da vasante dos rios, tempo em que algumas tomão a forma epidêmica.
4º Quesito
Quaes as circunstâncias que as entretem?
R. – As causas que as entretem são as mesmas já enunciadas para a insalubridade da capital, accrescendo mais, a vasante dos rios, em certa epocha, fazendo com que as águas geralmente bebidas pela população ribeirinha do interior da província, corrão sujas de lodo e outras immundicies, que ellas acarretão das margens à proporção que as vão deixando livres e expostas a ação solar.
5º Quesito
Reina alguma epidemia?
R. – Grassão fortemente as epidemias de beri-beri e variola, tendo tomado a segunda, neste último mez até esta data, proporções agigantadas.
6º Quesito
Desde quando e qual a sua causa?
R. – O beri-beri existe bem conhecido e caracterisado, ha 6 annos, apresentando-se ora menos, ora mais intenso e extenso, principalmente na estação invernosa.
Com o caráter epidemico, reina a varíola entre nós ha 5 annos, e se tem conservado sempre ora menos, ora mais forte, como presentemente.
7º Quesito
A febre amarella de 1º de janeiro a 30 de junho ultimo tem se revelado bem caracterisada?
R. – De 1º de janeiro a 30 de junho ultimo nem um do s membros desta commissão observou caso algum de febre amarella bem caracterisado.
8º Quesito
Até hoje quantos casos registraram-se dessa moléstia?
R. – A commissão só conhece um caso registrado de febre amarella, dado na pessoa da portugueza Gertrudes Rosa da Silva. Esse caso se acha publicado no Paiz de 28 de julho p. p. pertencendo ao obituário do dia 26 do mesmo mez e foi observado unicamente por um dos membros desta comissão o Sr. Dr. Jauffret.
9º Quesito
Com plausível fundamento deve-se cre-la reinando epidemicamente?
R. – A vista de ter o Sr. Dr. Jauffret affirmado a realidade do caso que também fora reconhecido pelo Sr. Dr. Hall, médico assistente de Gertrudes da Silva, parece não haver dúvida de que, ao menos esporadicamente já foi ella aqui observada.
10º Quesito
Finalmente os edifícios publicos correspondem satisfactoriamente ao fim de sua instituição?
R. – Quanto a este quesito, responderemos que, nos edificios publicos muito haveria que melhorar, mas como nos parece que sobre a quadra actual nada influem directamente, nada diremos.
OBSERVAÇÕES
Como é a epidemia de varíola aquela que actualmente mais disima a população e traz ao seu seio o terror pannico, a commissão entende dizer, sobre a maneira de attenual-a e evitar maiores desgraças, alguma coisa de mais pratica, e então acha de magna importância, que o governo crie, para os atacados de varíola:
1º Hospitaes com accommodações vastas, afastados do centro povoado e bem providos de pessoal para o tratamento dos doentes.
2º Que obrigue, de alguma maneira, a população vaccinar-se e revaccinar-se.
3º Que nomeie commissões ou agentes vaccinadores pelas diversas freguezias.
4º Que auxilie, na repartição da vaccina, ao commissário vaccinador, augmentando-lhe o número do pessoal para o serviço da vaccinação.
5º Deverá o chefe da casa onde existir um doente e varíola, mandar vaccinar todas as pessoas ainda não vaccinadas e revaccinar aquellas que já o tiverem sido há muitos annos.
6º O governo fará com que os facultativos declarem nos attestados de óbito, si o doente era ou não vaccinado, a fim de se poder mostrar com uma estatística o erro dos descuidados em vaccinar-se ou revaccinar-se.
7º O governo fará com que os particulares deem immediatamente parte, por escripto ao inspector de saude publica, que teem em sua casa um doente de varíola confirmada, para que por meio de uma boa estatística bem se possa avaliar da extensão e do progresso da epidemia.
8º O governo mandará examinar as casas em que lhe constar existir um doente atacado de varíola entregue a curandeiros, e o fará remmeter para um dos hospitaes.
9º O governo mandará oferecer ao inspector da saúde pública, os desinfectantes que elle achar necessários para o serviço dos hospitaes.
10º O governo prohibirá, com assistência de agentes policiaes, que se lavem roupas dos doentes de varíola nas mesmas fontes, em que se lavão outras.
11º O governo nomeará, para enquanto durar a epidemia, uma commissão de tres medicos com os quaes se entenderá sobre as medidas a tomar e sobre o melhor meio de pôl-as em prática.
Como já se acha registrado, entre nós, um caso de febre amarella e ella tem reinado forte e epidemicamente no Rio de Janeiro, de onde nos vem vapores de 10 em 10 dias, convem que o governo crie, como medida preventiva, um Lazareto na Ponta d’Area, onde possão ser recolhidos e tratados os doentes que, por accaso, nos forem vindo de fora. Outro sim porá em pratica as medidas já expendidas, em relação à variola, nos arts. 1º, 7º, 8º, 9º e 11º.
Podemos assegurar que, ha mais de 20 annos, existe o beri-beri nesta capital, posto que não fosse conhecida sua verdadeira natureza, e nem tivesse sido descripto ainda com essa denominação.
Alguns, d’entre nós, tratarão há muitos annos, de um certo número de doentes que apresentavão todos os symptomas do beri-beri, o qual era ora classificado como paralysia nervosa e reflexa, ora como congestão e hydropisia da medulla espinhal, comquanto não parecesse, mesmo então, acertado este diagnostico, por se não poder explicar satisfactoriamente, a combinação da hydropisia e da paralysia que caracterisão esta moléstia.
A maior parte dos casos observão-se entre as mulheres, depois do parto, outros porém complicavão as affecções hepaticas produzidas pellas febres intermittentes, e parecião nada mais ser do que, uma forma especial de cachexia paludosa.
As descripções que havião do beri-beri da India, por muito resumidas e imperfeitas, não permitiam reconhecer a identidade da natureza da moléstia, então observada, como a do beri-beri e a do barbier das costas do Malabar e de Ceylão, comquanto houvesse entre ambas notáveis analogias.
Desde que, porém, o beri-beri, ganhando em extensão, tornou-se epidêmico, entre nós, e declarou-se, não com menor intensidade, na capital da Bahia, então mais completos estudos foram feitos sobre sua symptomatologia, e foi reconhecido como indêntico com a affecção endemica da India, denominada beri-beri.
Há pouco mais ou menos 6 annos, que o beri-beri tomou, aqui, o caracter epidemico, attacando, annualmente, podemos dizer sem exageração, mais de 300 pessoas.
Nos primeiros 4 annos notou-se que elle se desenvolvia, com mais força, durante os mezes mais chuvosos de Março, Abril e Maio, sem que, comtudo, desapparecesse na estação secca.
No anno de mil oitocentos, setenta e cinco, pelo contrario, principiou a recrudescer em julho, agosto e setembro. Este anno a sua marcha parece ser, pouco mais ou menos, a mesma.
O beri-beri tem atacado, entre nós, tanto os brancos como os pretos e pessoas de raça cruzada, e com igual intensidade, ambos os sexos, sendo sempre as mulheres mais expostas a contrahil-o no estado de gravidez e no estado puerperal. Não ataca sempre com a mesma intensidade e varião suas formas, desde a mais grave e rapidaque, paralysando o coração, mata em poucos dias, até a forma benigna que não tende a aggravar-se, e que abandonada a si mesma, termina pela cura expontanea.
É esta uma verdade que se deprehende da resistencia que apresenta o beri-beri aos tratamentos mais bem aconselhados, quando é de forma grave e progressiva, e da facilidade com que cede, muitas vezes, aos mesmos meios ou a quaesquer outros por mais insignificantes e irracionaes que pareção.
Sabemos que a emigração para fóra desta capital tem sido o recurso mais proveitoso aos beri-bericos, ao qual muitos devem a vida, e desse facto parace dever concluir-se que o beri-beri é, aqui, entretido ou por qualquer princípio miasmático derramado na atmospheral, ou pela influência prejudicial de qualquer dos generos da nossa alimentação.
Á respeito da prophilaxia do beri-beri, nada podemos dizer, por isso que ainda não se conhecem as suas causas especiaes.
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Para julgar-se do estado sanitario desta capital, apresentamos um mappa da mortalidade dos ultimos quatro meses.
Do prezente mappa ve-se que a variola que já existe epidemica, nesta capital ha 5 annos, tomou nos ultimos quatro mezes grande incremento e sobretudo no mez de julho passado em que a mortalidade que, em termo-medio, não passa dos 90 obitos por mez, elevou-se a 163, dos quaes 66 por conta da variola.
Pelo que se vê a mortalidade trazida pela variola é um accrescimo sobre a ordinaria, pois deduzidos 114 obitos devidos a variola nos ultimos 4 mezes, restão 388, o que dá uma média de 97, ainda superior a ordinaria.
É diminuta, sem duvida, a mortalidade pelo beri-beri, o que explica-se pela emigração dos doentes mais gravemente affectados, e por ter sido, mais geralmente benigna a molestia no corrente anno.
Maranhão, 10 de agosto de 1876
Dr. José Maria Faria de Mattos
João Francisco Corrêa Leal
J. R. Jouffret
Dr. Antonio Eduardo de Berredo
Dr. Antonio dos Santos Jacinto
Fabio Augusto Bayma
Dr. Amancio Alves d’Oliveira Azedo"
Relatório do Presidente da Província Senador Frederico de Almeida e Albuquerque, 07/12/1876, p. 39 – 44. O documento pode ser encontrado no APEM.
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