"Lionardo fez para Francesco del Giocondo o retrato de Mona Lisa, sua esposa; trabalhou quatro anos nele e deixou-o inacabado; essa obra está hoje com o rei Francisco da França em Fountainebleau; quem quiser ver até que ponto a arte consegue imitar a natureza, poderá compreendê-lo facilmente observando aquele semblante, pois nele estão reproduzidas todas as minúcias que é possível pintar com sutileza. os olhos têm o brilho e a umidade que se costumam ver nos seres vivos, e em torno deles percebem-se zonas lívidas e rosadas, assim como pelos, coisas que não é possível fazer sem muita sutileza. os cílios, representados no modo como nascem na carne, ora mais densos, ora mais ralos, obedecendo ao giro dos poros, não poderiam ser mais naturais. o nariz, com aquelas belas narinas róseas e tenras, parece estar vivo. a boca, cuja fenda termina em cantos de um vermelho que se une à carnação do rosto, na verdade não parece feita de tintas, mas de carne. Na base de seu pescoço, quem olhar atentamente verá a pulsação das artérias: na verdade, pode-se dizer que essa pintura foi feita de uma maneira capaz de causar medo e temor a qualquer artista valente, fosse ele qual fosse. Lionardo valeu-se do seguinte artifício: enquanto retratava a Mona Lisa, que era belíssima, por perto sempre havia pessoas a tocar ou a cantar, bem como bufões que a mantinham alegre, para eliminar aquela melancolia tão frequente na pintura e nos retratos que se fazem. e nesse retrato feito por Lionardo há um sorriso tão agradável, que mais parece coisa divina que humana, tão admirável por não ser diferente do natural."
Giorgio Vasari, Vida dos Artistas, 1550.
Ed. brasileira 2011, p. 448; trad. Ivone Castilho Bennedetti
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