segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sobre Stallone, o Brasil e os brasileiros


"Você pode explodir o país inteiro e eles vão dizer 'obrigado, aqui está um macaco para você levar de volta para casa’”.
“Não poderíamos ter feito o que fizemos (em outro lugar). Explodimos muita terra. Parecia assim: 'todo mundo traz o cachorro quente, vamos fazer um churrasco, vamos explodir essa cidade'”.




Essa polêmica a respeito das declarações de Stallone sobre sua experiência de filmar no Brasil é interessante para se analisar a mentalidade do país. De cara, surgiram inúmeras manifestações na internet, a grande maioria pejada de termos grosseiros e agressivos, que no lugar de argumentar se prestaram a um linchamento moral raivoso e irracional.

Mas se deixarmos de lado o nacionalismo magoado e o ressentimento cego veremos que o ator tem mais razão do que gostaríamos de admitir. Não é à toa que os produtores escolhem países como o Brasil para locações de filmes do tipo, uma vez que nos EUA o volume de legislação preventiva que entraria em ação virtualmente inviabilizaria as filmagens. Nossas autoridades são benevolentes com tais iniciativas. Ainda sofremos do mal de país colonizado que se derrete com qualquer traço de afago que os estrangeiros endinheirados dediquem a nós.

Mas o ponto mais certeiro da declaração de Stallone é o que se refere a nossa atitude em relação ao meio ambiente que nos cerca. Ao dizer que oferecemos macacos de recordação, pensei nos vendedores de caranguejos, que infestam nossas estradas com suas tristes fieiras de animais agonizantes; pensei nos vendedores de palmito, tão comuns nas vias que margeiam o que resta de nossas matas litorâneas; pensei nos traficantes de madeira, nos exploradores do comércio de orquídeas e animais silvestres, nos grandes produtores de soja e pecuaristas que exterminam a flora em troco de seus lucros obscenos. A história de nossa relação com a natureza que nos cerca é absolutamente abjeta: desde sempre enxergamos nas florestas e nos seus habitantes apenas cifrões, e exploramos esses "recursos" de maneira absurdamente ineficiente e destrutiva. Quem duvida, ou quer entender melhor esses mecanismos destrutivos que entraram em ação desde antes de 1500, leia a obra-prima do brasilianista Warren Dean, "A Ferro e Fogo". É uma revisão impressionante da história do Brasil...

Stallone talvez tenha errado por excesso de sinceridade, ao falar de um país onde nunca se usam os substantivos corretos nem os adjetivos cabíveis...



Fonte da foto: http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2010/07/240_2331-sylvester-stallone-comic-con.jpg

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