terça-feira, 18 de maio de 2010

O problema do lixo em Iguape e região: um olhar retrospectivo




Era 2006, o ano em que eu trocara São Paulo pela bucólica cidadezinha litorânea chamada Iguape. Nesse período eu havia iniciado uma jornada de reconstrução pessoal e profissional, proporcionada pelas ótimas condições do lugar: trabalhava numa escola onde tinha a possibilidade de realmente dar aulas e vivia numa cidade encravada num dos últimos remancescentes de Mata Atlântica, que me ofereceu um contato direto com a natureza: trilhas, praias, cachoeiras.
Mas novas preocupações apareceram, quando percebi a relação brutal que as pessoas de lá tinham com o meio ambiente. Isso me foi revelado no dia em que conheci o depósito de lixo da cidade vizinha, Ilha Comprida. Todos os resíduos da região eram despejados ali, às margens do rio Candapuí, sem qualquer lógica nem cuidados. Ao redor dos dejetos, além de ratos e urubus, viviam dezenas de pessoas que obtinham seu sustento rasgando com as mãos nuas as sacolas rejeitadas pelos moradores da cidade. Me interessei pelo problema do lixo, e fui buscar mais informações sobre o tema. Acabei descobrindo outras áreas de despejo de lixo, algumas clandestinas, algumas desativadas, e até um antigo lixão transformado em área de construção de casas populares, no bairro do Rocio. Registrei todas essas descobertas com minha singela câmera de 4 megapixels, montei com as imagens e informações coletadas algumas apresentações em Power Point, as quais exibi para algumas pessoas.
Dois anos depois, trabalhando numa escola privada da cidade, tive a oportunidade de retomar o projeto. Convidei um pequeno grupo de alunos para revisitar os locais de depósito de lixo, dessa vez munidos com uma câmera de vídeo. O objetivo era produzir material para realizar uma série de palestras de conscientização e tentar, ao final, levar o poder público municipal a tomar providências com relação ao problema. Aproveitamos o ano eleitoral para entrevistar os candidatos a prefeito inquirindo-os sobre suas propostas para o problema do lixão (e percebemos que, na verdade, a maioria não tinha nenhuma). Entrevistamos ainda os catadores, coletando seus relatos, ouvindo suas reclamações. Tínhamos, ao final, várias horas de imagens.
Mas os planos grandiosos que animaram os esforços de todos acabaram-se melancolicamente. Os vídeos editados foram exibidos apenas uma vez, na feira de ciências no final do ano. A audiência respondeu com indiferença. O ano acabou, cada um seguiu seu caminho e as ideias ficaram pegando poeira no fundo da gaveta...
Me lembrei disso porque hoje uma das alunas que participou daquilo me escreveu, contando que passou a tarde olhando o material que coletamos naquele ano de 2008 e que quer usa-lo para fazer alguma coisa... Esse contato inesperado deu início a um balanço daquele trabalho, uma reflexão que se concentrou nos motivos do fracasso relativo do processo todo. Avalio que o que nos desmotivou foi perceber, ao longo do estudo, que era uma luta perdida. Descobrimos que os órgão ambientais já haviam multado a prefeitura da Ilha diversas vezes por conta do problema do lixão, e que a atitude dos prefeitos frente a essas ameaças era a indiferença. Conversamos com os políticos que mostraram despreparo, ignorância, desconhecimento e uma clara atitude de não se comprometer
Analisando friamente hoje, a questão do lixão, assim como todos os outros problemas da região, é uma coisa que vai levar tempo pra ser resolvida, simplesmente porque não é prioridade para a sociedade. As pessoas da comunidade, que são a única força capaz de imprimir mudanças reais, não estão nem um pouco preocupadas com o destino do lixo.
Parecem pessimistas minhas conclusões, mas é a elas que chego hoje, alguns anos depois do acontecido...

Fotos: acervo pessoal

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