Não dava pra imaginar um final mais melancólico para a greve. Trinta dias de paralisação parcial, com uma adesão decrescente dos professores, terminam assim, sem nenhum resultado, com direito a bate boca entre os manifestantes e a direção do movimento... E agora, o que fazer?
O governo, como dizia um colega dos velhos tempos de Isaías Matiazzo, age maquiavelicamente, vai minando a categoria, dividindo-a em classes (OFAs e efetivos, OFAs categorias F e L, aprovados e reprovados na prova classificatória para os OFA, e agora aprovados e reprovados na prova de "promoção por mérito"). Formam-se assim uma miríade de subcategorias entre a classe dos professores da rede estadual, cada uma delas com seus interesses específicos que inviabilizam a unidade em torno de uma causa. O governo criou o tenebroso BÔNUS, que em seus critérios (se é que há algum realmente), considera a assiduidade. O professor que optar pela greve perde o bônus... O professor que reprovar demais perde o bônus. O professor que não conseguir manter o aluno na escola perde o bônus. O bônus acaba criando uma imagem fictícia de escola que aprova, escondendo o fracasso escolar massivo que é a situação real. Mas isso não importa para os técnicos e burocratas, uma vez que as estatísticas ficam bonitas.
Ninguém, exceto nós que estamos vivendo isso cotidianamente, conseguiria imaginar o pesadelo que se tornou o ambiente escolar, assolado por legislações punitivas, assolado por incompetência profunda dos órgãos administrativos, assolado pela legião de jovens alucinados por anos de negligência parental e por exposição ao lixo mais torpe que sai das TVs e seus congêneres. Estar na escola hoje, na posição de professor, é estar exposto a situações surreais, inimagináveis...
E pelo que vimos nesta greve que se canibalizou nesta quinta-feira, dia 8 de abril de 2010, estamos dispostos a conviver com toda essa enxurrada de lodo...
PROFESSOR - O TEU SILÊNCIO
ResponderExcluirProfessor, o teu silêncio secou teu olhar para a aurora.
Ao teu alheamento ergueu-se a saudade dos sussurros.
A catedral de silêncios é a própria sombra do momento, criado para te calar.
A tua voz é viúva e o tédio do teu silêncio abriga os horizontes da dor.
O teu riso professor é o eco das harpas sem cordas.
Os alunos foram cúmplice do teu calar,
mas não são acusados pelo teu eterno silenciar.
Professor, o teu silêncio é uma nau perdida em um mar de dor e solidão.
O coração dos alunos é uma âncora para esta voz surda e pálida.
É hora de assombros, no teu céu interior.
Tua alma é caverna onde as emoções são talhadas em mármore frio.
E os sonhos, professor, são tristes enganos, adormecem em leitos de dor.
O palácio das angústias é tua alma, pálida hora do sussurro.
Dói, mestre, ver o abandono dos sorrisos cristalinos e a angústia da voz cortada pelo olhar de dor.
As ruínas que abrigam tua alma é irmã daquela que acolhe tua voz.
És náufrago de um mar de dor.
Poeira ao vento do esquecimento.
Professor, um olhar furtivo e caridoso acolhe todo timbre e alegria da tua voz, enquanto um mar de lágrimas abriga toda tua dor.
Querem te silenciar, assim como querem teu esquecimento.
Os eleitos pelo povo silenciam a voz dos mestres.
Obra sublime, venceram décadas de ditadura.
Com um silenciar insistente e amplo.
Silenciar, que atinge tua alma, teu bolso e tua dignidade.
Eles profetizam: cala-te professor!
O silêncio se faz.... Até quando?
DUCI MEDEIROS