domingo, 11 de abril de 2010

O fim da greve é o fim


Não dava pra imaginar um final mais melancólico para a greve. Trinta dias de paralisação parcial, com uma adesão decrescente dos professores, terminam assim, sem nenhum resultado, com direito a bate boca entre os manifestantes e a direção do movimento... E agora, o que fazer?
O governo, como dizia um colega dos velhos tempos de Isaías Matiazzo, age maquiavelicamente, vai minando a categoria, dividindo-a em classes (OFAs e efetivos, OFAs categorias F e L, aprovados e reprovados na prova classificatória para os OFA, e agora aprovados e reprovados na prova de "promoção por mérito"). Formam-se assim uma miríade de subcategorias entre a classe dos professores da rede estadual, cada uma delas com seus interesses específicos que inviabilizam a unidade em torno de uma causa. O governo criou o tenebroso BÔNUS, que em seus critérios (se é que há algum realmente), considera a assiduidade. O professor que optar pela greve perde o bônus... O professor que reprovar demais perde o bônus. O professor que não conseguir manter o aluno na escola perde o bônus. O bônus acaba criando uma imagem fictícia de escola que aprova, escondendo o fracasso escolar massivo que é a situação real. Mas isso não importa para os técnicos e burocratas, uma vez que as estatísticas ficam bonitas.

Ninguém, exceto nós que estamos vivendo isso cotidianamente, conseguiria imaginar o pesadelo que se tornou o ambiente escolar, assolado por legislações punitivas, assolado por incompetência profunda dos órgãos administrativos, assolado pela legião de jovens alucinados por anos de negligência parental e por exposição ao lixo mais torpe que sai das TVs e seus congêneres. Estar na escola hoje, na posição de professor, é estar exposto a situações surreais, inimagináveis...

E pelo que vimos nesta greve que se canibalizou nesta quinta-feira, dia 8 de abril de 2010, estamos dispostos a conviver com toda essa enxurrada de lodo...

Um comentário:

  1. PROFESSOR - O TEU SILÊNCIO

    Professor, o teu silêncio secou teu olhar para a aurora.
    Ao teu alheamento ergueu-se a saudade dos sussurros.
    A catedral de silêncios é a própria sombra do momento, criado para te calar.
    A tua voz é viúva e o tédio do teu silêncio abriga os horizontes da dor.
    O teu riso professor é o eco das harpas sem cordas.
    Os alunos foram cúmplice do teu calar,
    mas não são acusados pelo teu eterno silenciar.


    Professor, o teu silêncio é uma nau perdida em um mar de dor e solidão.
    O coração dos alunos é uma âncora para esta voz surda e pálida.
    É hora de assombros, no teu céu interior.
    Tua alma é caverna onde as emoções são talhadas em mármore frio.
    E os sonhos, professor, são tristes enganos, adormecem em leitos de dor.
    O palácio das angústias é tua alma, pálida hora do sussurro.


    Dói, mestre, ver o abandono dos sorrisos cristalinos e a angústia da voz cortada pelo olhar de dor.
    As ruínas que abrigam tua alma é irmã daquela que acolhe tua voz.
    És náufrago de um mar de dor.
    Poeira ao vento do esquecimento.


    Professor, um olhar furtivo e caridoso acolhe todo timbre e alegria da tua voz, enquanto um mar de lágrimas abriga toda tua dor.
    Querem te silenciar, assim como querem teu esquecimento.


    Os eleitos pelo povo silenciam a voz dos mestres.
    Obra sublime, venceram décadas de ditadura.
    Com um silenciar insistente e amplo.
    Silenciar, que atinge tua alma, teu bolso e tua dignidade.
    Eles profetizam: cala-te professor!
    O silêncio se faz.... Até quando?

    DUCI MEDEIROS

    ResponderExcluir