terça-feira, 17 de março de 2015

Os protestos de domingo



Os protestos anti-Dilma, pró-Impeachment, estão nitidamente encaixados no lado errado da história. Não tenham dúvidas que o futuro vai qualificar negativamente esse movimento. “Corrupção” é algo tão vago quanto crônico e endêmico: não é privilégio do PT.
O que está em jogo é outra coisa; a “classe média” de SP e do sudeste, fruto de um desenvolvimento histórico muito próprio da região (descendentes de imigrantes pobres que no início do século XX vieram para o país em busca de novas oportunidades), não está se conformando com o fato de que o governo PT (corrupto tanto quanto qualquer outro antes e depois dele, em qualquer parte do país e do mundo) ter estendido às camadas mais pobres da população, historicamente afastadas dos benefícios, o acesso a coisas que antes não tinham. Trocando em miúdos, a classe média brasileira, que se acha superior em todos os sentidos, está ressentida pelo fato de que os seus antigos serviçais agora tenham acesso ao que antes era seu privilégio: carros, casas, direitos trabalhistas, acesso às leis, etc. Veja esta capa da VEJA, órgão mais veementemente clarificador da mentalidade desse segmento social (e obtusamente carente de autocrítica):


Esconde-se (de forma nada sutil) um lamento pelo fato de que as mulheres das classes menos favorecidas estejam tendo acesso a outros tipos de emprego, ao ensino superior, a oportunidades que antes eram reservadas apenas às ”moças de família”. Trocando em miúdos ainda menores: os protestos anti PT, anti Dilma, são fruto de um profundo egoísmo de classe, que não aceita que outros segmentos tenham acesso aos direitos integrais da cidadania. E isso não passará despercebido aos historiadores do futuro. Essa recusa, esses protestos, estão profundamente errados. São manifestação do mais nítido sentimento de superioridade racial, de classe, de gênero, que se pode conceber.

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