Pai de Níquel Náusea, Fernando Gonsales diz não ler quadrinhos
Com 29 anos de carreira como cartunista, Fernando Gonsales, 53, criador da tirinha "Níquel Náusea", publicada diariamente na Folha, não anda lendo quadrinhos.
Homenageado pelo HQMix, maior
prêmio das HQs nacionais, Gonsales afirma, meio sem jeito, que
ultimamente tem "lido mais livros de iniciação científica".
"Não tenho um objetivo com isso, ajuda um pouco nas tiras", diz. "É um
assunto que me interessa, em especial evolução e comportamento." A
despeito da formação como biólogo e veterinário e dos hábitos de
leitura, ele sobrevive somente como cartunista.
A homenagem está presente no troféu deste ano. O prêmio que será
entregue aos escolhidos desta 26ª edição tem a forma de seu personagem
mais famoso, o rato Níquel Náusea, ao lado da barata Fliti, presa por
uma ratoeira.
Raquel Cunha/Folhapress | ||
Fernando Gonsales e o troféu criado com personagens de 'Níquel Náusea' |
"Para falar a verdade, eu pedia para adiarem ao máximo. Eu acho mais legal quando o homenageado é um autor morto, né?", ri.
Gonsales, tem de consultar suas anotações para lembrar quantas vezes ganhou o prêmio. "Acho que foram umas 25 vezes", diz.
Na folha sulfite que serve de lembrete, ele marca categoria, ano e, caso
não tenha sido escolhido pela tirinha, quem levou a melhor —Laerte é
seu maior "concorrente", de acordo com as anotações.
A lista entrega uma verdade um pouco mais humilde. Desde a primeira
edição, em 1988, foram, na verdade, 22 troféus —o primeiro deles em
1989, quatro anos após iniciar sua carreira como cartunista na Folha, com a tira que é publicada até hoje.
O cartunista conta que observou uma evolução na personalidade de Níquel
ao longo das décadas, o que acompanha seu próprio amadurecimento. "O
personagem sempre reflete a forma como você é", afirma. "No começo, ele
era mais irado. Agora, é mais galhofeiro."
A própria tirinha evoluiu também. Se no começo ele afirma que se
obrigava a manter Níquel como a estrela de ao menos 60% delas, com o
tempo foi diminuindo a presença do rato.
"Na prática, eu não tenho feito mais tiras do Níquel", conta. "Tento me
manter mais nos animais, para manter o tema, mas chega uma hora que
esgota. Dá mais vontade de fazer outras coisas."
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