quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Alcântara, janeiro de 1878


Do dia 3 do corrente faleceu nesta cidade Joaquim Jorge Vieira Napoleão, que exercia há anos a profissão de guarda-livros de diversas casas comerciais.
Era Napoleão um tipo excêntrico no rigor da palavra.
Homem ativo e laborioso, consta que possuía alguns bens de fortuna, que o punham ao abrigo da miséria; no entretanto, quem o encontrasse nas ruas da cidade e não o conhecesse tomá-lo-ia por um pobre mendicante, tal era o pouco asseio de seus vestidos.
Era excessivamente amante da música, tanto que não ouvia partir de alguma parte a noite sons de qualquer instrumento que ali se não achasse imediatamente.
Pois não obstante isso, não podia tolerar que em sua casa se tocasse, sequer um violão.
Tinha em sua companhia uma senhora, de cuja união houve oito filhos, entre moças e rapazes. Nada porém o demoveu nunca a perfilhar estes, a despeito das instâncias de alguns de seus amigos neste sentido.
Por último: a sua nacionalidade foi sempre, e é um mistério que ninguém sabe decifrar. Muitos o tomavam por português, mas outros afirmam que era brasileiro, natural da vila de Guimarães, onde tem uma irmã e outros parentes.
Era homem inofensivo, e vivia sempre de bom humor, e conta-se que gracejou até quase a hora da morte.
Geralmente benquisto, foi o seu passamento muito sentido nesta cidade.
Antes de morrer, pediu que lhe não fizessem a barba, que tinha bastas, e que a banda de música tocasse no seu enterro.
Foram-lhe satisfeitos estes pedidos.
Sentimentamos a seus filhos e com particularidade ao nosso amigo Candido das Neves Vieira Napoleão.

(Diário do Maranhão, 12-1-1878) 

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