Do dia 3 do corrente faleceu
nesta cidade Joaquim Jorge Vieira Napoleão, que exercia há anos a profissão de
guarda-livros de diversas casas comerciais.
Era Napoleão um tipo excêntrico
no rigor da palavra.
Homem ativo e laborioso, consta
que possuía alguns bens de fortuna, que o punham ao abrigo da miséria; no
entretanto, quem o encontrasse nas ruas da cidade e não o conhecesse tomá-lo-ia
por um pobre mendicante, tal era o pouco asseio de seus vestidos.
Era excessivamente amante da música,
tanto que não ouvia partir de alguma parte a noite sons de qualquer instrumento
que ali se não achasse imediatamente.
Pois não obstante isso, não podia
tolerar que em sua casa se tocasse, sequer um violão.
Tinha em sua companhia uma
senhora, de cuja união houve oito filhos, entre moças e rapazes. Nada porém o
demoveu nunca a perfilhar estes, a despeito das instâncias de alguns de seus
amigos neste sentido.
Por último: a sua nacionalidade
foi sempre, e é um mistério que ninguém sabe decifrar. Muitos o tomavam por
português, mas outros afirmam que era brasileiro, natural da vila de Guimarães,
onde tem uma irmã e outros parentes.
Era homem inofensivo, e vivia
sempre de bom humor, e conta-se que gracejou até quase a hora da morte.
Geralmente benquisto, foi o seu
passamento muito sentido nesta cidade.
Antes de morrer, pediu que lhe não
fizessem a barba, que tinha bastas, e que a banda de música tocasse no seu
enterro.
Foram-lhe satisfeitos estes
pedidos.
Sentimentamos a seus filhos e com
particularidade ao nosso amigo Candido das Neves Vieira Napoleão.
(Diário do Maranhão, 12-1-1878)
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