Em 1989 um filme de 13 minutos de duração, dirigido por um brasileiro, rodou o mundo chamando atenção para os problemas sócio-econômicos do país. O valor da obra foi oficialmente reconhecido através da concessão de vários prêmios de peso, na Europa, nos EUA e no Brasil. Seu idealizador, Jorge Furtado, apropriando-se das técnicas fílmicas de documentários construiu, através da saga de um tomate, uma narrativa analítica da cisão social e econômica do país. E o fez de maneira tão direta, objetiva e aparentemente simples que a tornou uma das mais usadas fontes de discussão sobre o tema, completando 20 anos de exibição garantida em salas de aula de todo o país. Trata-se, como já deve saber a esta altura o leitor, do curta metragem “Ilha das Flores”.
Qual o segredo do sucesso da obra, que projetou o nome do diretor para fora do Rio Grande do Sul? Que elementos a mantém viva no imaginário dos professores do ensino fundamental e médio, tornando-os seus divulgadores entre as novas gerações? Não há dúvida de que o tema é bastante atrativo, sobretudo num país que acabava de sair de um longo ciclo ditatorial onde tais verdades eram varridas para baixo do tapete. Os aspectos técnicos também ajudaram a alavancar a obra, sua edição eficiente e ao mesmo tempo inovadora, suas inusitadas inserções musicais, como o tema de “O Guarani”, facilmente reconhecível após décadas desgastando-se como vinheta de abertura da famigerada “Hora do Brasil”, ou a narração em tom entre compenetrado e irônico do ator Paulo José, que acentua as passagens impactantes com um forte apelo emocional. Mas creio que o que realmente marcou a obra com o signo do universal foi o recurso discursivo escolhido pelo diretor, que também assinou o roteiro.
“Ilha das Flores” procura fazer um novo olhar sobre os ítens mais básicos do cotidiano, coisas tão elementares que deixaram de ser postas sob o olhar crítico das pessoas, coisas que migraram para a categoria do axioma. Dinheiro, trabalho, família, entre outros, são elementos escrutinados a frio, como que por uma criança, despidos dos destroços que os encobrem e impedem a observação de sua essência. Depois de desnudados, são novamente apresentados ao telespectador através de definições diretas, saídas de dicionários, cínicas, antagonizando com as imagens, explicitando a distância hipócrita entre o dito e o real.
Esse exercício de revisão e ressignificação das coisas mais elementares é extremamente saudável e necessário, e deve fazer parte das atividades rotineiras do historiador. A ciência histórica, seus métodos, teorias e práticas são objeto de extensa discussão, preenchendo milhões de páginas de publicações nas mais diversas línguas. O profissional de história – professor, pesquisador, estudante – vive imerso nesse emaranhado de opiniões, visões, interpretações, teorias, que se acumulam ao longo dos séculos sobre a prática da história. Os conceitos tornam-se familiares, aclara-se na mente do estudioso a estrutura que sustenta toda essa produção, as linhas, correntes, escolas de produção historiográfica. Toda essa rede de elementos intelectuais é capaz de confundir o jovem iniciado, especialmente quando ele se depara com a bizarra estrutura organizacional dos cursos de formação acadêmica, onde a teoria é estudada como se fosse corpo autônomo dissociado de qualquer elemento real.
Qual o segredo do sucesso da obra, que projetou o nome do diretor para fora do Rio Grande do Sul? Que elementos a mantém viva no imaginário dos professores do ensino fundamental e médio, tornando-os seus divulgadores entre as novas gerações? Não há dúvida de que o tema é bastante atrativo, sobretudo num país que acabava de sair de um longo ciclo ditatorial onde tais verdades eram varridas para baixo do tapete. Os aspectos técnicos também ajudaram a alavancar a obra, sua edição eficiente e ao mesmo tempo inovadora, suas inusitadas inserções musicais, como o tema de “O Guarani”, facilmente reconhecível após décadas desgastando-se como vinheta de abertura da famigerada “Hora do Brasil”, ou a narração em tom entre compenetrado e irônico do ator Paulo José, que acentua as passagens impactantes com um forte apelo emocional. Mas creio que o que realmente marcou a obra com o signo do universal foi o recurso discursivo escolhido pelo diretor, que também assinou o roteiro.
“Ilha das Flores” procura fazer um novo olhar sobre os ítens mais básicos do cotidiano, coisas tão elementares que deixaram de ser postas sob o olhar crítico das pessoas, coisas que migraram para a categoria do axioma. Dinheiro, trabalho, família, entre outros, são elementos escrutinados a frio, como que por uma criança, despidos dos destroços que os encobrem e impedem a observação de sua essência. Depois de desnudados, são novamente apresentados ao telespectador através de definições diretas, saídas de dicionários, cínicas, antagonizando com as imagens, explicitando a distância hipócrita entre o dito e o real.
Esse exercício de revisão e ressignificação das coisas mais elementares é extremamente saudável e necessário, e deve fazer parte das atividades rotineiras do historiador. A ciência histórica, seus métodos, teorias e práticas são objeto de extensa discussão, preenchendo milhões de páginas de publicações nas mais diversas línguas. O profissional de história – professor, pesquisador, estudante – vive imerso nesse emaranhado de opiniões, visões, interpretações, teorias, que se acumulam ao longo dos séculos sobre a prática da história. Os conceitos tornam-se familiares, aclara-se na mente do estudioso a estrutura que sustenta toda essa produção, as linhas, correntes, escolas de produção historiográfica. Toda essa rede de elementos intelectuais é capaz de confundir o jovem iniciado, especialmente quando ele se depara com a bizarra estrutura organizacional dos cursos de formação acadêmica, onde a teoria é estudada como se fosse corpo autônomo dissociado de qualquer elemento real.
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