Entre 1880 e 1910 emergiu uma
febre preservacionista entre os membros das altas classes norte-americanas. O número
de Museus Casa saltou de 20 em 1895, para 100 em 1910. Para Michael Wallace, esse fenômeno representa um gesto de afirmação de identidade: nesse momento em que o
capitalismo corporativo se consolida, as antigas famílias patrícias recorrem à “herança”
para marcarem distanciamento dos “novos ricos” e dos “imigrantes estrangeiros” que
com suas “ideologias subversivas destruíam a República”. Wallace demonstra
que algumas concessões interessadas foram feitas para ricaços sem raízes, que
foram admitidos nas associações, mas que o “centro de gravidade” permaneceu nas
mãos dos “old monieds”.
“Eles procuravam, compravam
restauravam e exibiam as casas em que homens famosos haviam vivido. Esses projetos
davam à elite a oportunidade de se associar às virtudes e glórias dos mortos”. Assimilavam junto um padrão estético: a arquitetura dos séculos XVII
e XVIII se tornou seu “emblema cultural”. Criava-se assim “ordem
social pré-imigração”. Símbolos como a bandeira e a Constituição se
tornaram o centro de um verdadeiro culto.
Havia também um interesse “pedagógico” nesta valorização da "herança": desejava-se americanizar a classe trabalhadora imigrante, empreendimento que tinha conotações
políticas: as classes populares deveriam ser extraídas “dessas grosseiras e
loucas ideias de direitos populares... para o verdadeiro entendimento de liberdade Americana como aquela doada por
nosso Pais” (p. 141).
Essa mentalidade, inicialmente
benevolente e paternalista, elevou-se a um tom beligerante e cruel conforme a
elite patrícia se sentia mais e mais acuada. Converteu-se em xenofobia e
anti-esquerdismo delirante e histérico. Essa burguesia amedrontada pelas revoluções
e socialismos convencia-se de que defendia não apenas seus privilégios de
classe, mas “um legado histórico”.
(Qualquer semelhança com indivíduos vivos ou mortos, fritos ou cozidos, de carne ou de frango com catupiri, é mera coincidência).
WALLACE, Michael. Visiting the Past – History Museums in the United States. In:
BENSON, Susan Porter; BRIER, Stephen; ROSENZWEIG, Roy (ed.). Presenting the past – Essays on History and
the Public. Philadelphia: Temple University Press, 1986.
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