sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Coxinhas ontem, hoje e sempre, amém.



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Entre 1880 e 1910 emergiu uma febre preservacionista entre os membros das altas classes norte-americanas. O número de Museus Casa saltou de 20 em 1895, para 100 em 1910. Para Michael Wallace, esse fenômeno representa um gesto de afirmação de identidade: nesse momento em que o capitalismo corporativo se consolida, as antigas famílias patrícias recorrem à “herança” para marcarem distanciamento dos “novos ricos” e dos “imigrantes estrangeiros” que com suas “ideologias subversivas destruíam a República”. Wallace demonstra que algumas concessões interessadas foram feitas para ricaços sem raízes, que foram admitidos nas associações, mas que o “centro de gravidade” permaneceu nas mãos dos “old monieds”.
“Eles procuravam, compravam restauravam e exibiam as casas em que homens famosos haviam vivido. Esses projetos davam à elite a oportunidade de se associar às virtudes e glórias dos mortos”. Assimilavam junto um padrão estético: a arquitetura dos séculos XVII e XVIII se tornou seu “emblema cultural”. Criava-se assim “ordem social pré-imigração”. Símbolos como a bandeira e a Constituição se tornaram o centro de um verdadeiro culto.
Havia também um interesse “pedagógico” nesta valorização da "herança": desejava-se americanizar a classe trabalhadora imigrante, empreendimento que tinha conotações políticas: as classes populares deveriam ser extraídas “dessas grosseiras e loucas ideias de direitos populares... para o verdadeiro entendimento de liberdade Americana como aquela doada por nosso Pais” (p. 141).
Essa mentalidade, inicialmente benevolente e paternalista, elevou-se a um tom beligerante e cruel conforme a elite patrícia se sentia mais e mais acuada. Converteu-se em xenofobia e anti-esquerdismo delirante e histérico. Essa burguesia amedrontada pelas revoluções e socialismos convencia-se de que defendia não apenas seus privilégios de classe, mas “um legado histórico”.
(Qualquer semelhança com indivíduos vivos ou mortos, fritos ou cozidos, de carne ou de frango com catupiri, é mera coincidência).


WALLACE, Michael. Visiting the Past – History Museums in the United States. In: BENSON, Susan Porter; BRIER, Stephen; ROSENZWEIG, Roy (ed.). Presenting the past – Essays on History and the Public. Philadelphia: Temple University Press, 1986.



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