quinta-feira, 16 de abril de 2009

RELATOS - EUROPEUS EM CONTATO COM NOVAS CULTURAS



A Situação de Aprendizagem 4 do 2º E.M. traz como tema "Contatos Culturais". Pede-se que primeiro trabalhemos a questão das grandes navegações, para depois dar ênfase ao encontro das culturas européia, asiática, africana e americana. Disponibilizo abaixo coletânea de relatos, extraídos de diversos sites.






Frei Bartolomé de Las Casas - “Brevíssima Relação da Destruição das Índias”



"Nestas mansas ovelhas, e com sobreditas qualidades dotadas pelo seu Feitor e Criador, entraram desde logo os espanhóis, mal as conheceram, como lobos e tigres e crudelíssimos leões famintos de muitos dias. E outra coisa não fizeram de há quarenta anos a esta parte, até hoje, e no próprio dia de hoje não fazem senão despedaçá-las, matá-las, angustiá-las, afligi-las, atormentá-las e destruí-las por vias estranhas e novas e várias nunca vistas nem lidas nem ouvidas formas de crueldade, das quais mais adiante umas poucas hão-de dizer, a tal ponto que havendo na ilha Espanhola perto de três milhões de almas, que vimos, ali não há hoje de seus naturais duzentas pessoas".
“E ainda hoje em dia, outra coisa não fazem (os espanhóis) ali senão despedaçar, matar, afligir, atormentar e destruir este povo ... A ilha de São João e de Jamaica, ambas muito grandes e muito férteis estão desoladas ... quanto à grande terra firme, estamos certos de que nossos espanhóis, por suas crueldades e execráveis ações, despovoaram e desolaram mais de dez reinos, maiores que toda a Espanha.” “
Entravam pelas aldeias, não poupando crianças nem velhos, nem sequer mulheres prenhas a quem rasgavam o ventre e faziam em pedaços, como se dessem com cordeiros metidos em seus redis. Faziam apostas sobre quem de um só golpe havia de abrir ao meio um homem, ou lhe cortaria a cabeça com uma espadeirada ou lhe poria fora as entranhas. Tomavam pelas pernas as crianças de mama do seio de suas mães, e atiravam com elas contra os penedos, de cabeça".



MARCO PÓLO – O LIVRO DAS MARAVILHAS



“Os tártaros usam carroças com um couro preto que as protege da chuva. As mulheres lá ficam encarregadas de comprar, vender e outras tarefas. Já os homens se ocupam de caçar e dos combates. Os tártaros se alimentam de carne, leite e verduras. Os tártaros se casam depois de mortos é assim que acontece: Um senhor tem uma filha que morreu a muito tempo, então ele procura uma família que tenha morrido um homem e pergunta se eles querem se casar, se aceitarem, faz-se uma cerimônia e as famílias se tornam parentes. (...)”
“ No Porto de Ormuz as pessoas são negras e adoradores de Maomé. É um lugar muito quente que todos os dias de manhã vem do deserto um vento muito quente e forte. É tão quente o vento que as pessoas do local não conseguem respirar perfeitamente por isso quando ele chega, as pessoas entram na água que cobre até seu queixo. Nesse porto chegam várias mercadorias, de tecidos até elefantes, que de lá vão para o mundo inteiro.”



AMÉRICO VESPÚCIO – NOVUS MUNDUS



“Começarei pela gente. Foi tanta a multidão dela, mansa e tratável, que encontramos naquelas regiões, que, como diz o Apocalipse, não se pôde contar. Os de um e outro sexo andam nus, sem cobrir nenhuma parte do corpo, como saem dos corpos das mães, e assim vão até a morte. Têm os corpos grandes e robustos, bem dispostos e proporcionados, de cor tirante a vermelha, o que, segundo creio, lhes procede de serem tintos pelo sol, andando nus.
Têm os cabelos negros e crescidos; são ágeis e fáceis no andar e nos jogos, e de mui belas feições, as quais contudo a si próprios desfiguram, furando as faces, os lábios, as ventas e as orelhas. E não se creia que os buracos sejam pequenos ou tenham apenas um, pois vi muitos com sete, cada um dos quais tão grandes como um abrunho. Tapam estes buracos com bonitas pedras azuis de mármore, cristalinas ou de alabastro, e com ossos alvíssimos e outros objetos elaborados segundo seu uso, que é insólito e monstruoso. Homens há que levam nas faces e lábios sete pedras, cada uma de metade da palma da mão de comprido. Não sem admiração, muitas vezes achei pesarem essas sete pedras dezesseis onças, além das que trazem pendentes de três buracos nas orelhas.
Mas este uso é somente dos homens. As mulheres não furam as faces, mas somente as orelhas.
Outro costume têm extravagante, e que parece incrível: que as mulheres, sendo libidinosas, fazem inchar o membro de seus maridos tanto, que parecem brutos, e isto por meio de certo artifício e mordedura de uns bichos venenosos, por cujo motivo muitos deles o perdem e ficam como eunucos.
Não possuem panos de lã nem de linho, nem mesmo de algodão; porque os não necessitam, nem têm bens de propriedade; porém tudo lhes é comum. E vivem juntos, sem rei nem império, e cada qual é senhor de si. Tomam tantas mulheres quantas querem, e o filho se junta com a mãe, e o irmão com a irmã, e o primo com a prima, e o caminhante com a que encontra. Basta a vontade para matrimoniarem, no que não observam ordem alguma. Além disso não possuem templos nem leis, nem são idólatras. Que mais direi? Não há entre eles comerciantes nem comercio. Guerreiam-se entre si, sem arte nem ordem. Os mais velhos, com alguma parcialidade, obrigam a quanto querem os jovens, e os levam à guerra, na qual se matam cruamente; e aos que cativam não poupam as vidas senão para que os sirvam toda a vida, ainda que a outros comem, sendo certo que é entre eles a carne humana manjar comum; e se há visto haver o pai comido mulher e os filhos. E um conheci eu, a quem falei, que se gabava de haver saboreado trezentos corpos humanos, e até estive vinte e sete dias em certa povoação, onde vi dependurada pelas habitações carne humana salgada, como entre nós se usa com o toucinho e a chacina de porco.”



Colombo e relatos de seu diário



Os arawak foram os primeiros ameríndios a ter contato com os europeus. Quando Cristóvão Colombo chegou às Bahamas, o navio atraiu a atenção dos nativos que, maravilhados, foram ao encontro dos visitantes, a nado. Quando Colombo e seus marinheiros desembarcaram, armados com suas espadas e falando uma língua estranha, os arawak lhes trouxeram comida, água e presentes. Mais tarde, Colombo escreverá em seu diário de bordo:Eles nos trouxeram papagaios, trouxas de algodão, lanças e muitas outras coisas que trocaram por contas de vidro e guizos. Trocavam de bom coração tudo o que possuíam. Eram bem constituídos, com corpos harmoniosos e feições graciosas. [...] Não usavam armas, que não conheciam , pois quando lhes mostrei uma espada, tomaram-na pela lâmina e se cortaram, por ignorância. Não conheciam o ferro. As lanças são feitas de cana. Dariam bons criados. Com cinqüenta homens, poder-se-ia submeter todos eles e fazer deles o que se quisesse.
Colombo, fascinado por essa gente tão hospitaleira, escreverá ainda:Desde que cheguei às Índias, na primeira ilha que encontrei, peguei alguns indígenas à força para que eles aprendam e possam me dar informações sobre tudo o que poderíamos encontrar nestas regiões.



Trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha



“Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijamente sobre o bater; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes. bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros.
Mostram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhe um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhe uma galinha; quase tiveram medo dela: não lhe queiram pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados.Deram-lhe ali de comer: pão e peixe cozido, confeites, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada daquilo; e se alguma coisa provaram, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal puseram a boca; não gostaram nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada. Não beberam. Mal a tomaram na boca, que lavaram, e logo a lançaram fora.Então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir, sem buscarem maneira de encobrir suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas. E lançaram-lhes um manto por cima; e eles consentiram, quedaram-se e dormiram.”



HANS STADEN - DUAS VIAGENS AO BRASIL



"Formaram um círculo ao redor de mim, ficando eu no centro com duas mulheres, amarraram-me numa perna um chocalho e na nuca penas de pássaros. Depois começaram as mulheres a cantar e, conforme um som dado, tinha eu de bater no chão o pé onde estavam atados os chocalhos. As mulheres fazem bebidas. Tomam as raízes de mandioca, que deixam ferver em grandes potes. Quando bem fervidas tiram-nas (...) e deixam esfriar (...) Então as moças assentam-se ao pé, e mastigam as raízes, e o que fica mastigado é posto numa vasilha à parte. Acreditam na imortalidade da alma(...)."
"Voltando da guerra, trouxeram prisioneiros. Levaram-nos para sua cabana: mas a muitos feridos desembarcaram e os mataram logo, cortarm-nos em pedaços e assaram a carne (...) Um era português (...) O outro chamava-se Hyeronimus; este foi assado de noite."


Hernan Cortez - CARTAS

Antes que os nativos pudessem se juntar, queimei seis povoados e prendi e levei para o acampamento quatrocentas pessoas, entre homens e mulheres, sem que me fizessem qualquer dano.
Antes do amanhecer do dia seguinte tornei a sair com cavalos, peões e índios e queimei dez povoados, onde havia mais de três mil casas. Como trazíamos a bandeira da cruz e lutávamos por nossa fé e por serviços de vossa sacra majestade, em sua real ventura nos deu Deus tanta vitória, posto que matamos muita gente sem que nenhum dos nossos sofresse dano.
No outro dia vieram cerca de cinquenta índios que traziam comida e começaram a olhar as saídas de nosso acampamento, bem como as cabanas onde dormíamos. Os de Cempoal vieram até mim e alertaram-me para olhar aqueles homens que eram maus e vinham espionar. Dissimuladamente prendi um deles sem que os outros vissem. [ ...] Depois tomei mais outros cinco ou seis e todos confessaram a mesma coisa. Em vista disso, mandei prender todos os cinquenta e cortar-lhes as mãos e os enviei a seu senhor para que dissessem a ele que quando ele viesse saberia quem éramos.
...saí uma noite, depois de rendida a guarda da prima, com os peões, índios e cavalos, e antes que amanhecesse dei com dois povoados onde matei muita gente.
...Como sempre que batíamos em retirada ao final do dia os índios atrás dos nossos cavalos em grande alarido, resolvi preparar-lhes uma cilada. [...] Depois que os nossos passaram por ali no retorno do fim da tarde, os de cavalo caíram sobre os inimigos que vinham logo atrás fazendo seu constante alarido. Foi uma cilada muito bem feita e conseguimos matar uns quinhentos dos índios mais bravos e mais corajosos. [...] graças a esta vitória que Deus Nosso Senhor nos concedeu neste dia, se tornou mais próximo o momento de se ganhar toda a cidade, porque os nativos sofreram um grande abalo [...] A única perda lamentável que tivemos naquele dia foi uma égua cujo cavaleiro caiu, e que saiu em corrida sem rumo, indo parar no meio dos nossos inimigos que a flecharam...

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