quinta-feira, 29 de abril de 2010

quarta-feira, 21 de abril de 2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A day in the life

Às vezes me pergunto se não estou sendo muito pessimista, se não estou adotando uma atitude muito negativa, se não é por isso que vejo tantos problemas na escola e na educação. Pensava nisso ontem, a caminho do trabalho. O HTPC que tivemos antes das aulas reforçou esta impressão: coordenadores, diretores e colegas falavam de uma escola idílica. Fiquei confuso, porque essa não é a realidade que vejo no cotidiano de trabalho. Isso aprofundou em mim aquele medo de que seria eu o problema, dono de um olhar focado nas coisas ruins.
Mas a realidade do cotidiano resolveu esse dilema. Reproduzo abaixo as anotações que fiz em meu Diário de Classe, meu confidente e tábua de salvação, um instrumento do desespero, onde registro as crônicas da vida entre os muros da escola.

“Trabalhamos hoje o texto ‘Floresta abrigou primeiro milharal, diz estudo’. Não foi possível executar adequadamente a exposição oral que orientaria os trabalhos em função da recusa dos alunos em fazer silêncio. O nível de ruído oriundo da Avenida XXXXX também prejudicou o andamento da aula. Muitas janelas estão quebradas, e o pequeno alívio proporcionado pela refração do som pelos vidros não está presente hoje. A maçaneta da porta foi arrancada, o que obriga que se use uma tesoura para abri-la. Grupos numerosos de estudantes circulam o tempo todo pelos corredores, sendo necessário manter a porta fechada. A cada pequeno intervalo de tempo, alguém bate na porta. Ficar perto dela é perigoso: alguns a chutam com violência, arremessando-a contra quem estiver atrás.
O aluno XXXXXXX chegou com um atraso de 25 minutos, sendo impedido de assistir a primeira aula. Após ser admitido no segundo período, iniciou uma série de provocações e insultos a minha pessoa (citando textualmente: “está bravo? Então por que essa cara de bobo?”, “se está incomodado vai embora, cuzão”, entre outros). Procurei relevar inicialmente, e perguntei ao rapaz se havia algum problema, se havia motivo para essa atitude de enfentamento. No final da aula, após mais um insulto, perguntei a ele se havia esquecido de tomar seu medicamento, ao que me respondeu perguntando se eu já havia “chupado” hoje. Decidi que o limite tinha sido extrapolado: levei o aluno para a diretoria. No caminho, quase chorando, ele me pediu desculpas e quis se livrar da situação, alegando que a diretora ligaria para seu pai. Mantive a determinação e o levei para a diretoria”
Isto tudo aconteceu nas duas primeiras aulas. Mas havia mais coisa ainda por vir. Abaixo, o registro no Diário de Classe de uma outra aula:

“Conclusão da atividade com texto sobre o milho ancestral. No início da aula, quando tentava organizar a sala para começar os trabalhos, fui atingido no rosto por um fragmento de barra de chocolate [mais tarde vim a saber que se tratava de alimento fornecido pelo governo a título de ‘merenda escolar’]. Como não pude identificar o autor do arremesso, solicitei aos três alunos envolvidos na atividade de atirar o objeto fossem para a direção. Diante da recusa, fui obrigado a chamar a diretora para retirar os alunos da sala”.
Na volta pra casa, com um gosto de derrota na boca e um nó na garganta, tive o duvidoso prazer de perceber que minhas preocupações eram infundadas...
O pior é que querem que acreditemos que a culpa por esse caos na sala de aula é nossa, porque estamos adotando os métodos errados, porque somos antiquados e desinteressantes...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A qualidade do processo educacional pode ser medida em números?


Reportagem da Folha de São Paulo de hoje desmonta um esquema estelionatário que mostra bem como funciona o sistema educacional deste comecinho de século XXI no Brasil. Um "instituto" de Guarulhos envia para escolas do país todo uma carta parabenizando-as pela boa colocação nas avaliações de qualidade. Dizendo-se autorizados e mesmo apoiados pelo MEC e pelo Ministério da Educação, convidam a escola vitoriosa a participar de uma solenidade de entrega de certificado, e aí entra o golpe: para participar, basta pagar uma taxa de R$ 2.000,00, que pode ser parcelada em até 8 vezes.

Muitos donos de colégios e universidades caíram nesse golpe, e mais, obtiveram ganhos com isso. Uma diretora afirmou que sua escola, depois de premiada, recebeu 150 pedidos de matrícula a mais. E o pior é que muitas, quase todas, dessas escolas premiadas pelo instituto fajuto, eram na verdade mal colocadas nas avaliações e provas governamentais. Eram institutos de educação medíocres e fracassados. Mas a simples concessão de um prêmio, a simples comunicação de que uma avaliação externa indicou que ela superou os índices, serve de indicativo de sua qualidade, mesmo que o cotidiano não mostre isso, mesmo que os alunos que ali se formam sejam incapazes de realizar as tarefas mais básicas como ler, escrever e raciocinar corretamente.

É esse, afinal, o retrato das escolas de hoje. Todos os anos ficamos torcendo para que os índices apontem que melhoramos, e comemoramos quando isso acontece. Mas na prática, no dia a dia, é patente o fracasso, a decadência. Mesmo as escolas melhor avaliadas em qualquer desses certames questionáveis, sejam oficiais ou fajutos como o da reportagem, apresentam problemas sérios, profundos e que demorarão gerações para serem superados.

Essa política idiotizante das avaliações de qualidade só pode gerar isso que aí está: miragens que alimentam bobos e enriquecem raposas...


foto: http://www.jornalvicentino.com.br/home/wp-content/uploads/2008/10/SARESP1.jpg


Eis a reportagem sobre o golpe mencionado acima:

Golpe usa nome do MEC para premiar escola

Instituto de Guarulhos cobra R$ 2.000 para emitir certificado de qualidade que afirma ser baseado em índices oficiais

Anualmente, 150 escolas, supletivos e faculdades compram o direito de ser premiadas; ministro da Educação se disse perplexo

RICARDO GALLO DA REPORTAGEM LOCAL

Um instituto da Grande São Paulo vende, por R$ 2.000, um prêmio educacional baseado em um ranking inexistente do Ministério da Educação. Anualmente, 150 escolas, supletivos e faculdades compram desse instituto o direito de ser premiadas como as "melhores instituições de ensino do Brasil", à revelia do ministério.
Entre as premiadas, estão ao menos seis instituições de ensino superior reprovadas pelo MEC, além de colégios sem expressão e/ou mal colocados no Enem -exame que avalia o ensino médio. Elas propagandeiam o prêmio como se fosse oficial e disseram não saber que não era do MEC.
Não há ranking nacional que junte escolas e universidades -elas são avaliadas por exames diferentes.O ministério pedirá que a Polícia Federal investigue o caso e tomará as "providências judiciais cabíveis". Por meio da assessoria de imprensa, o ministro Fernando Haddad se disse perplexo. O MEC afirmou que fará campanha para divulgar em todo o Brasil índices oficiais, de modo a evitar o uso indevido de dados federais.
O Prêmio Nacional de Excelência em Qualidade no Ensino existe desde 2005, promovido pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa de Qualidade Gomes Pimentel, de Guarulhos.
Receberam o título de melhores do país escolas como o Qui-Mimo, de Guanambi (BA), o Jardim Escola Vovô Lima, de São Pedro da Aldeia (RJ), e o supletivo Supla, de Timbó (SC), além dos centros universitários Unieuro (DF) e Unibahia (BA).
A premiação foi em novembro, em um bufê no Tatuapé (zona leste de SP). Quem paga pelo prêmio tem direito a jantar, DVD, troféu e um certificado com brasão da República e o logotipo do governo federal ("Brasil, um país de todos").
Além de usar indevidamente o nome do ministro, o instituto colocou em seu site uma foto de Haddad como se ele estivesse presente em uma das edições do prêmio. Trata-se, na realidade, de imagem retirada do Google, de uma entrevista do ministro dada à TV UFMG.
Abordagem
É o Gomes Pimentel que procura as instituições para oferecer o prêmio, segundo relato de quatro "vencedores" à Folha. Primeiro, envia uma carta em que aponta o destinatário como potencial homenageado. São cinco critérios, quatro deles vagos: filosofia educacional, prática operacional, respeito ao aluno, responsabilidade social e qualidade de ensino.
Apenas o último item é medido pelo MEC, embora o instituto assegure se basear em dados oficiais. Em seguida, vem a cobrança dos R$ 2.000, que podem ser parcelados em até oito vezes. O instituto chama o pagamento de "adesão" e diz aos 150 premiados que o dinheiro corresponde aos custos do evento. O informativo, a que a Folha teve acesso, é claro: só recebe o troféu e o certificado de qualidade quem estiver na "solenidade".
A negociação pode, em alguns casos, resultar em desconto. A Folha falou com uma instituição que disse ter pago R$ 1.700. Nos últimos dois anos, a relação de instituições "vencedoras" aumentou -em 2007, eram 120. A edição de 2010, marcada para 29 de novembro, já tem 18 instituições homenageadas, informa o site do instituto.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo, dia 12 de abril de 2010, caderno Cotidiano.

domingo, 11 de abril de 2010

Australopitecus sediba


Fonte: Folha de São Paulo, 9 de abril de 2010, pág A18


O fim da greve é o fim


Não dava pra imaginar um final mais melancólico para a greve. Trinta dias de paralisação parcial, com uma adesão decrescente dos professores, terminam assim, sem nenhum resultado, com direito a bate boca entre os manifestantes e a direção do movimento... E agora, o que fazer?
O governo, como dizia um colega dos velhos tempos de Isaías Matiazzo, age maquiavelicamente, vai minando a categoria, dividindo-a em classes (OFAs e efetivos, OFAs categorias F e L, aprovados e reprovados na prova classificatória para os OFA, e agora aprovados e reprovados na prova de "promoção por mérito"). Formam-se assim uma miríade de subcategorias entre a classe dos professores da rede estadual, cada uma delas com seus interesses específicos que inviabilizam a unidade em torno de uma causa. O governo criou o tenebroso BÔNUS, que em seus critérios (se é que há algum realmente), considera a assiduidade. O professor que optar pela greve perde o bônus... O professor que reprovar demais perde o bônus. O professor que não conseguir manter o aluno na escola perde o bônus. O bônus acaba criando uma imagem fictícia de escola que aprova, escondendo o fracasso escolar massivo que é a situação real. Mas isso não importa para os técnicos e burocratas, uma vez que as estatísticas ficam bonitas.

Ninguém, exceto nós que estamos vivendo isso cotidianamente, conseguiria imaginar o pesadelo que se tornou o ambiente escolar, assolado por legislações punitivas, assolado por incompetência profunda dos órgãos administrativos, assolado pela legião de jovens alucinados por anos de negligência parental e por exposição ao lixo mais torpe que sai das TVs e seus congêneres. Estar na escola hoje, na posição de professor, é estar exposto a situações surreais, inimagináveis...

E pelo que vimos nesta greve que se canibalizou nesta quinta-feira, dia 8 de abril de 2010, estamos dispostos a conviver com toda essa enxurrada de lodo...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vautrin e Tardi - O Grito do Povo

Para preencher a aridez dos textos historiográficos sobre a Comuna de Paris de 1871. O cenário acaba se sobrepondo às tramas ficcionais e leva o leitor ao angustiante clima da cidade sitiada, da revolução natimorta... Quadrinização magistral.












segunda-feira, 5 de abril de 2010

Marx


Relatório de um agente policial a serviço do Estado prussiano que frequentou a casa de Karl Marx em Londres, em 1853:

“Marx é de estatura mediana, tem 34 anos e seus cabelos já estão grisalhos. Seus ombros são largos. Usa barba. Seus grandes olhos penetrantes e vivos tam qualquer coisa de demoníaco: sente-se que se trata de um homem cheio de gênio e energia. Sua superioridade intelectual fascina irresistivelmente os que o cercam. É um homem de vida extremamente desorganizada; não tem hora para levantar-se nem para deitar-se. Frequentemente passa as noites em claro; depois, ao meio dia, deita-se sobre um sofá e dorme até anoitecer, sem se preocupar com as pessoas que estão sempre entrando em sua casa. Sua esposa, irmã do ministro da Prússia, é uma mulher culta e simpática, que se acostumou à miséria e à essa vida boêmia; tem duas filhas e um filho, um menino muito bonito. Quando as pessoas entram na casa de Marx, são envolvidos por uma nuvem de fumaça e são obrigadas a caminhar cautelosamente, como se entrassem em uma caverna. Nada disso constrange Marx ou sua mulher, que recebem os visitantes com amabilidade, trazendo-lhes fumo e alguma coisa para beber. Uma conversa inteligente e agradável acaba, então, por compensar as deficiências da casa, tornando suportável a sua falta de conforto. Esse é o quadro fiel da vida familiar do chefe comunista Marx.”


Fontes:


KONDER, Leandro. Marx - Vida e Obra. Rio de Janeiro: José Álvaro Editor, 1968. (texto)


domingo, 4 de abril de 2010

Imagens da Greve dos Professores - 2010

Às vezes tem cara de carnaval, às vezes de batalha campal... Na última quarta-feira, numa Assembleia esvaziada por meio de repressões inexplicáveis num regime democrático, a força da união, a força irresistível da multidão venceu motos e armas, carros e câmeras. O maior adversário desta vez, porém, não está no Palácio dos Bandeirantes nem nos batalhões de choque, mas no seio da própria classe, fendida, ferida. Muitos são os profissionais que não acreditam mais na greve, no caminho de luta direta pelos direitos. Uma certa apatia contamina parte grande dos docentes da rede estadual. Estaremos anestesiados depois de tantas manobras maquiavélicas de diversionismo? Espero que essa greve prove que não, e que possamos reecontrar o caminho da luta e retomar em nossas mãos o controle da situação...









Fonte das imagens: recebi essas fotos através de e-mail onde se creditava como fonte a Subsede Apeoesp Santo André.