sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A cultura no fin-de-siècle



“Uma era da história se encontra indubitavelmente em declínio, e uma nova era anuncia sua aproximação. Todas as tradições se dilaceram, e parece que o futuro se esboçará sem conexão nenhuma com o presente. Tudo se agita e cai, tudo se fragmenta, porque o homem está esgotado, e não se acredita que valha a pena levantá-lo. As regras que até aqui governaram o pensamento estão mortas, ou foram destronadas como reis derrotados, e aqueles que detém o direito de herdar o trono pugnam contra os usurpadores. Enquanto não se preenche esse vácuo prevalece o terror; há confusão entre os poderes estabelecidos; milhões, destituídos de seus líderes, ficam sem saber para onde ir, os fortes impõem sua vontade, emergem falsos profetas, e a autoridade duvidosa pesa mais do que nunca nas mãos de seus detentores, porque seu tempo de governo é curto. Os homens apegam-se ansiosamente a qualquer coisa que esteja mais a mão, mesmo sem poder saber quando ela vingará, ou como se desenvolverá. Eles têm esperança de que, no caos do pensamento, a arte possa oferecer um vislumbre da ordem que virá a emergir desse emaranhado de forças. O poeta, o músico, deve anunciar, ou adivinhar – ou ao menos sugerir – as formas em que a civilização irá evoluir. O que será considerado bom, amanhã, e o que será considerado belo? O que saberemos amanhã, em que acreditaremos? O que nos inspirará? Como apreciaremos as coisas? Tais questões emergem das vozes de milhares de pessoas, e onde quer que o vendilhão assente sua barraca e pretenda oferecer uma resposta, onde quer que o tolo ou o patife subitamente comece a profetizar, em verso ou em prosa, em som ou em cor, ou declare praticar sua arte de maneira diferente de seus antecessores e de seus competidores, ali ajunta-se uma grande multidão, amontoando-se ao redor dele, para ver o que ele forjou, como nos oráculos se acorria às pitonisas, para ver se é possível adivinhar ou interpretar algum sentido. Quanto mais vagos e insignificantes forem seus pronunciamentos, mais parece, às pobres almas desesperadas por revelações, que eles transmitem os traços do futuro, e mais sôfrega e apaixonadamente eles serão interpretados" 

(Max Nordau, Degeneration, 1895, p. 5-6).

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