“Uma era
da história se encontra indubitavelmente em declínio, e uma nova era anuncia
sua aproximação. Todas as tradições se dilaceram, e parece que o futuro se esboçará
sem conexão nenhuma com o presente. Tudo se agita e cai, tudo se fragmenta,
porque o homem está esgotado, e não se acredita que valha a pena levantá-lo. As
regras que até aqui governaram o pensamento estão mortas, ou foram destronadas
como reis derrotados, e aqueles que detém o direito de herdar o trono pugnam contra
os usurpadores. Enquanto não se preenche esse vácuo prevalece o terror; há
confusão entre os poderes estabelecidos; milhões, destituídos de seus líderes,
ficam sem saber para onde ir, os fortes impõem sua vontade, emergem falsos
profetas, e a autoridade duvidosa pesa mais do que nunca nas mãos de seus
detentores, porque seu tempo de governo é curto. Os homens apegam-se ansiosamente
a qualquer coisa que esteja mais a mão, mesmo sem poder saber quando ela
vingará, ou como se desenvolverá. Eles têm esperança de que, no caos do
pensamento, a arte possa oferecer um vislumbre da ordem que virá a emergir
desse emaranhado de forças. O poeta, o músico, deve anunciar, ou adivinhar – ou
ao menos sugerir – as formas em que a civilização irá evoluir. O que será
considerado bom, amanhã, e o que será considerado belo? O que saberemos amanhã,
em que acreditaremos? O que nos inspirará? Como apreciaremos as coisas? Tais
questões emergem das vozes de milhares de pessoas, e onde quer que o vendilhão
assente sua barraca e pretenda oferecer uma resposta, onde quer que o tolo ou o
patife subitamente comece a profetizar, em verso ou em prosa, em som ou em cor,
ou declare praticar sua arte de maneira diferente de seus antecessores e de
seus competidores, ali ajunta-se uma grande multidão, amontoando-se ao redor
dele, para ver o que ele forjou, como nos oráculos se acorria às pitonisas,
para ver se é possível adivinhar ou interpretar algum sentido. Quanto mais
vagos e insignificantes forem seus pronunciamentos, mais parece, às pobres
almas desesperadas por revelações, que eles transmitem os traços do futuro, e
mais sôfrega e apaixonadamente eles serão interpretados"
(Max Nordau, Degeneration, 1895, p. 5-6).
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