"Meu caro Francesco, venho elogiando a época em que vivemos por conta da dádiva grandiosa, realmente divina, do novo tipo de escrita que há pouco nos foi trazido da Alemanha. Vi um único homem imprimir num único mês tanto quanto poderia ser manuscrito por diversas pessoas num ano [...]. Por este motivo, fui levado a crer que em pouco tempo contaríamos com uma quantidade tão vasta de livros que obra alguma seria impossível de obter por conta de raridade ou falta de recursos [...]. Percebo, contudo — oh, esperanças falsas e tão humanas —, que as coisas tomaram um rumo bem diferente do que eu imaginava. Como agora qualquer um é livre para imprimir o que bem desejar, em geral desconsideram aquilo que é melhor e escrevem, meramente para se divertir, aquilo que ficaria melhor se fosse esquecido ou, melhor ainda, apagado de todos os livros. E, mesmo quando escrevem algo digno, distorcem e corrompem aquilo até um ponto em que bem melhor seria não dispor de tais livros em vez de ter mil exemplares espalhando falsidades pelo mundo todo."
Fonte: Robert Darnton, "A Questão dos Livros"
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