sábado, 2 de maio de 2009

ZAQUEU DA SILVA RAMOS


Sr. Zaqueu da Silva Ramos, nascido no Itimirim e morador da região há 39 anos.


Pergunta: Como era a escola nessa região antigamente?

Sr.Zaqueu: A escola ficava ali, do outro lado da estrada, e era feita de madeira. Era uma escola muito humilde. A gente tinha que andar muitos quilômetros a pé para chegar, não era que nem hoje, que tem condução, essas facilidades. Nessa escola só tinha até a quarta série, e o ensino era bem mais rígido que hoje. A professora mandava a gente ir lá na frente e tinha que ter tudo na ponta da língua, como por exemplo a tabuada. Se errasse, ela dava com a palmatória na mão da gente. Era bem diferente de hoje.


Pergunta: E os professores vinham de Iguape?

Sr. Zaqueu: Vinham tudo de lá. Eu me lembro até hoje da professora Donizete, que me ensinou muita coisa.


Pergunta: Se a pessoa quisesse estudar depois da quarta série, como fazia?

Sr. Zaqueu: Nessa época, tinha que pegar um ônibus e ir até Iguape, que lá tinha até a oitava série. Mas era muito difícil, pouca gente continuava porque era muito longe e tinham que trabalhar na lavoura.


Pergunta: E as estradas daqui, como eram?

Sr. Zaqueu: Do quilômetro 21 para cima era tudo de barro, uma dificuldade só. Toda hora encalhavam carros por aí. Aqui era um lugar muito isolado, não tinha luz, telefone, nem televisão. Os mais ricos tinham rádios, mas eram só alguns...


Pergunta: O que se cultivava aqui?

Sr. Zaqueu: A maioria do pessoal plantava para eles mesmo usar: arroz, feijão, milho, tinha as criações (animais), mas pouca coisa era pra comércio. Meus avós mesmo, que já moravam aqui, plantavam o arroz para vender. Depois as pragas começaram a atacar e o pessoal passou a cultivar o chuchu.


Pergunta: O senhor chegou a conhecer seus avós?

Sr. Zaqueu: Sim, convivi com eles algum tempo. Meu bisavô era descendente de índios. Naquele tempo a gente conversava muito... Não tinha televisão, nem rádio, então os mais velhos contavam histórias pras crianças, lendas, contos, até a gente se cansar e ir dormir. Ele contava sempre a história de uma casa velha onde tinham enterrado muitas riquezas, ouro, prata. Depois a gente ia dormir e ficava sonhando com essas coisas.


Pergunta: O senhor acha melhor a vida do passado ou a de hoje?

Sr. Zaqueu: Olha, antigamente o pessoal era mais unido. Em época de festas, como a Folia de Reis, todos os parentes se juntavam e comemoravam juntos. Os vizinhos e conhecidos se ajudavam em época de trabalho, como colheita ou plantio. Hoje essas coisas quase não existem mais. Mas também tinha no passado muitas mortes por aqui. A lei não chegava nessa região, então tinha muitos homens brabos, que andavam sempre armados e matavam por qualquer coisa. O Pé da Serra era um lugar muito perigoso, tinha morte quase toda semana, e às vazes eles deixavam um morto pendurado por uns dias. Antigamente também tinha muitas doenças que matavam, porque a medicina ainda não estava avançada. O parto das mulheres era feito em casa mesmo, e muitas acabavam morrendo.


Pergunta: O senhor gostaria de deixar alguma mensagem para os alunos do Jofre?

Sr. Zaqueu: Meu conselho é que estudem bastante, aproveitem para aprender agora porque no futuro vocês vão precisar. Não largue dos estudos, porque hoje até pra varrer rua tem que ter diploma. Quem abandona a escola acaba se arrependendo no futuro.

COITI SUZUKI

Entrevista com o senhor Coiti Suzuki, realizada em 20 de maio de 2007.

Pergunta: Como foi sua chegada aqui neste lugar?
Coiti: Na verdade nós chegamos aqui em junho de 1957, já faz cinquenta anos, então quando chegamos aqui, os japoneses que vieram para o Itimirim geralmente forma enganados por corretores. Os corretores enrolaram a gente. Quando nós chegamos aqui não tinha a rodovia Bigua-Iguape, nem a BR-116 ainda não tinha. Nós viemos por Tapiraí, a maioria do interior do estado de São Paulo, alguns de Minas Gerais. Lá se perdia muitas lavouras por falta de chuva. Minha família veio de Riolândia. Então os corretores nos enrolaram, falando da abundância de chuva que tinha por aqui. Só que na verdade era chuva demais. Tinha meses que você não podia trabalhar, o mês inteiro chovendo. Hoje já acabou um pouco essa chuva né, mas antes era só chuva. Nossa região de origem era plana, e aqui era serra, área montanhosa. Na hora da mudança mesmo, usamos uma estradinha ruim, e eu olhava aquelas ribanceiras e pensava “se virar aqui, não vai sobrar um...” Pra gente que vivia na planície, qualquer morrinho era coisa de outro mundo. Quando cheguei aqui tinha dezessete anos, estava estudando, fazia curso prático agrícola em Jaboticabal. A japonesada que entrou aqui começou a fazer melhorias nas estradas, jagando pedras. Tinha um caminhãozinho que entrava aqui e levava banana prá Biguá, onde tinha uma estação de trem que puxava banana até Santos, prá exportação. Só passava nas estradas se colocassem corrente nos pneus, e só tirava a corrente pra colocar outra nova (risos). A estrada era muito ruim, péssima. Eu chegeui aqui recém-formado em técnico agrícola e fiquei desanimado com os buracos, com a estrada. O caminhão vivia quebrado...
Pergunta: O que era cultivado aqui?
Coiti: O principal era a banana, né. Naquela época era mais banana, mas depois que a japonesada entrou ai começaram a plantar mais verdura também. Vagem, pimentão. Quando nós chegamos aqui a gente encontrava o povo típico da região, o caiçara, que eram os únicos que vivam nessa região. Eles não tinham estrada, tinham só trilhos. A turma ia pra Iguape de canoa, pelos rios. O máximo que se chegava era até a altura da casa do Totó Carneiro (segundo o entrevistado, a tal casa ficava na altura da atual Escola Jofre Manoel) pelo Rio Preto.
Pergunta: Formou-se aqui uma colônia de japoneses?
Coiti: Sim, eram aproximadamente 30 famílias, do paraná, do Interior de São Paulo, e começaram a plantar vagem no inverno, e no verão pimentão e pepino. Naquela época a gente vendia as verduras para a cooperativa de Cotia, da qual éramos associados. Embarcava naquele caminhão com as correntes nos pneus e levava para Biguá. De lá ia tudo pra São Paulo.
Pergunta: O senhor conta que hije existem apenas cerca de seis famílias de japoneses por aqui. Por que os a maioria foi embora?
Coiti: O que fez muitos abandonarem a região foram as obras de asfaltamento da rodovia Biguá-Iguape, que foram tocadas pela firma Azevedo Travassos. Eles abriram trechos para aplainar a estrada e as chuvas que eram muito pesadas tornaram a estrada intransitável. Para nós daqui era necessário dar a volta por Iguape para levar a mercadoria até Biguá. Era duro, muito mais longe, tínhamos que passar por duas balsas. A mercadoria passava por Pariquera-Açu, Registro, pra depois chegar no destino. Era uma viagem que correspondia a duas até São Paulo, em distância. A japonesada não conseguiu mais aguentar a situação e foi tudo embora, pra outras regiões. A gente ficou de teimoso, porque até agora não ganhamos nada.
Pergunta: A dificuldade continua até hoje?
Coiti: Hoje tá ainda mais difícil. O preço que pagam pelos produtos vem caindo, e o custo dos insumos vai aumentando. Apesar disso, me casei em 1970, e tive dois filhos, que conseguiram estudar. Tenho um filho que se formou em Engenharia Florestal. Na época em que eles estavam estudando nos mudamos para Miracatu, mas eu vinha todos os dias trabalhar aqui no sítio.
Hoje nós trabalhamos todos os dias, eu e minha mulher, e não conseguimos nos sustentar quase. Teve uma época, lá pelos anos oitenta, que vieram pra cá os plantadores de chuchu da região de Guarulhos, os Canelas, os Batistas, os Joanim, e o chuchu deu dinheiro, muito dinheiro. Os meeiros de chuchu compravam carro zero quilômetro! Mas aí todos começaram a plantar chuchu e o preço caiu muito. A maioria dos grandes produtores foi embora, e os que sobraram estão cambaleando aqui.
Acho que muito dessa decadência veio da falta de corrigir o solo, do cultivo repetido na mesma área, que acabou levando a uma queda na produção. Muitos foram para outros locais com solo mais fértil, como Atibaia.
O cultivo de banana está ameaçado também. Nos anos oitenta e noventa, praticamente só havia banana aqui no litoral. Hoje já plantam em Santa Catarina, Minas Gerais, Nordeste... E tem a sigatoca negra, que veio lá do Equador. A pulverização agora é uma necessidade.
Muita gente está abandonando o chuchu e a banana e tentando outras coisas, como o Antúrio.
Pergunta: O senhor pensa em ir embora daqui?
Coiti: Já faz cinquenta anos que estamos aqui, mas às vezes a gente pensa sim. Está cada vez mais difícil nos manter aqui, e meu filho vive dizendo pra eu vender este sítio e ir embora, morar perto dele.

JOSÉ DAVID DO ESPÍRITO SANTO

Já publiquei esse material antes, em outro blog, mas acho que ele merece estar aqui... De tudo o que faço profissionalmente, essa é a parte que mais me dá prazer: ouvir as pessoas. Melhor que ler uma análise erudita, melhor que saborear uma fonte histórica documental. Conversar com os que viveram e sentiram as coisas é o que dá carne e sangue à História. Aqueles fatos relatados com precisão, mas com aridez, nos livros, ganham cor, cheiro, som, ao serem proferidos pelas vozes de suas testemunhas. Pobres historiadores "científicos", que desprezam os relatos por considerá-los "subjetivos". Deixam de ter contato com o que há de mais rico, complexo e revelador...


Entrevista com JOSÉ DAVID DO ESPÍRITO SANTO, 83 anos, um dos mais antigos moradores da nossa região, realizada no dia 30 de junho de 2006, pelos alunos da 8º série “B”.


Jornal do Jofre: Seu José, conte para nós como era a vida no bairro, no passado.

José David: Ah, era muito difícil, muito mesmo. Para chegar até a cidade, fazer nossos negócios, demorava 3 dias. Eu lutava, tinha um patrão lá na cidade que comprava minha produção. Ele mandava uma “lancha” pelo rio Peroupava, que buscava nossas coisas aqui. No começo nós sofremos muito aqui.

JJ: O transporte era feito pelo rio?

JD: Tudo de canoa.

JJ: E qual era o principal produto da região?

JD: Nós vivíamos de arroz, nossa produção era o arroz. Nós íamos na cidade, fazia compra com os negociantes, fiado, aí plantava o arroz, colhia, batia. Depois de cinco ou seis meses, o arroz tava pronto, e aí o negociante mandava a lancha e os sacos para transportar o produto, e nós acertávamos as contas. Nossos mantimentos nós comprávamos em grandes fardos, pra durar o ano inteiro. Mas comprávamos apenas o que não era produzido aqui: café, sal, querosene e sabão, tudo em grande volume. As outras coisas nós produzíamos aqui mesmo: criação, farinha, feijão, milho.

JJ: O senhor freqüentou escola?

JD: Eu fiquei só onze meses na escola, não cheguei a inteirar um ano. A escola era no posto do Itacurumim, no Peroupava.

JJ: E como era o dinheiro naquela época?

JD: Era a época do “réis”, 20 réis, 50 réis, mil réis... Eu ainda tenho guardado lá em casa umas notas dessas antigas.

JJ: Como era o cultivo do arroz?

JD: Plantava-se em outubro, novembro e dezembro. Lá pra abril, maio, nós colhíamos e quando chegava junho a gente batia. O arroz era batido no sistema de “puxirão”: as pessoas da vizinhança eram chamadas para pisar o arroz, que era espalhado pelo chão da casa, e sempre tinha um sentado com o tambor, tocando pra turma manter o ritmo. Até meia-noite batia o arroz, depois da meia-noite o pessoal dançava (risos). Depois de limpo o arroz, a gente avisava o patrão para mandar os sacos, e depois a lancha vinha buscar.

JJ: O senhor se lembra de quando foi que abriram essa estrada aqui (Rodovia Casimiro Teixeira)?

JD: Foi por volta de 1961, 62, que fizeram a primeira estrada, que era ainda de barro. Só tinha uma pessoa que passava por aqui, um japonês apelidado de “Segunda-feira”, que tinha um caminhão e levava nossas coisas pra Iguape. Lembro que ele tinha que colocar correntes nos pneus pra conseguir passar.

JJ: O que o senhor acha da vida nos dias de hoje.

JD: Hoje ta tudo muito fácil, mas mesmo assim ninguém tem nada. Antigamente, ninguém tinha dinheiro, dinheiro não existia. O sujeito que tinha 40 mil réis era considerado rico. A gente não via dinheiro, mas tinha fartura. Hoje ta tudo muito fácil. Aqui da casa da minha filha eu posso ir em Iguape, buscar a mistura do almoço, e ainda voltar em tempo de almoçar. Mesmo assim, ninguém tem nada...

JJ: Por que as coisas estão assim?

JD: Porque os homens trocaram o sistema de trabalhar. Hoje um homem sozinho trabalha por 50, por 100, usando o maquinário. Muita gente ficou sem emprego, e agora um rouba e mata o outro porque não tem meio de viver. Naquela época ninguém se preocupava com nada, as portas vivam abertas, uma tranqüilidade só. Hoje por causa de 5 reais batem em você.

JJ: O senhor se casou, teve filhos?

JD: Fui casado, mas já faz trinta anos que sou viúvo. Tive 5 filhos, 2 homens e 3 mulheres, mas os meus filhos já morreram. Um foi atropelado, com 49 anos, aqui nessa estrada, e o outro morreu afogado numa represa. Moro com uma de minhas filhas aqui perto da escola, e as outras duas vivem em São Vicente.

JJ: Como era a religião no passado?

JD: Naquela época só tinha o Catolicismo. Nos sítios tinha as capelas, pra rezar, e sempre se faziam novenas. Uma vez por ano nós íamos para a Festa de Agosto. Era bonita essa época. A gente levava tudo de canoa pra lá: lenha, farinha, tudo que era de mistura, matava uma criaçãozinha, pra não gastar dinheiro com comida. O dinheirinho que a gente levava era pra comprar alguma coisinha dos turcos, que naquela época só tinha turcos vendendo coisas na feira. A luz acabava cedo. Por volta das 11:30h o gerador desligava e ficava tudo escuro.

JJ: E quando alguém ficava doente?

JD: As pessoas mais velhas conheciam coisas do mato, ervas. A gente os chamava de curador, porque eles sabiam as plantas certas pra fazer remédio.

JJ: O senhor sabe a origem do nome Coveiro?

JD: Muita gente acha que é por causa de um cemitério que tem lá, mas antes de existir o cemitério já se chamava assim. Esse nome é porque existia ali um rio muito cheio de peixes, e o pessoal colocava muitos covos nele. Essa é a origem do nome.

JJ: E como era a política antigamente?

JD: Tinha duas bandas, o PSP e o PDC. No dia da eleição, cada um mandava uma lancha buscar a turma aqui. Lá na cidade eles davam lanche pro pessoal, matavam dois ou três bois. Mas se você subia numa lancha, estava comprometido: tinha que votar na turma dela (risos).

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Surgimento dos humanos

Mais material didático, retirado da Folha de São Paulo de hoje (01/05/2009 - Ciência).


Atlas genético da África mostra origem do homem

Estudo de 121 populações africanas sugere que todas descendem de 14 gruposVarredura também indica que humanos modernos surgiram entre Angola e Namíbia há 200 mil anos e depois colonizaram o globo

Diversidade genética entre africanos é a mais alta do planeta


RICARDO BONALUME NETODA REPORTAGEM LOCAL


Levou uma década, mas uma equipe internacional de pesquisadores coletou amostras de material genético de 2.432 africanos de 113 populações (outras oito já haviam sido estudadas), muitas delas em locais de difícil acesso. O resultado é o mais completo atlas da diversidade genética no continente onde surgiu a humanidade.O estudo confirma muito do que se sabe sobre migrações e distribuição de idiomas, embora traga algumas surpresas. Apesar de existirem mais de 2.000 grupos etnolinguísticos diferentes na África, representando um terço das línguas faladas na Terra, elas podem ser divididas em quatro grandes famílias. São a Níger-Cordofão (Sudão), Nilo-Saariana, Afro-asiática e Khoisan.Mas, principalmente, a pesquisa é uma ferramenta com potencial de esclarecer os fatores de risco genéticos para várias doenças, além de servir para planejar ensaios clínicos mais representativos.Variação genética significa também diferenças na resistência a doenças como câncer, Aids ou malária.Os cientistas compararam os padrões de variação de 1.327 trechos do código genético de 3.000 africanos. A pesquisa está publicada hoje no periódico científico "Science". Foram estudadas 121 populações africanas, 4 de afroamericanos e 60 de outras partes do mundo.Apesar de hoje existirem grupos de caçadores-coletores espalhados pelo continente, a pesquisa mostrou que todos têm ancestrais comuns. De acordo com a coordenadora da pesquisa, Sarah Tishkoff, da Universidade da Pensilvânia, essa foi uma das maiores surpresas do estudo.Estes grupos teriam uma população ancestral que começou a divergir 35 mil anos atrás.Os dados indicam que os africanos de hoje têm origem em 14 grupos populacionais no passado. O ser humano moderno surgiu na África há 200 mil anos e migrou para o resto do globo nos últimos 100 mil anos.Por estarem mais tempo em um continente, com populações de relativamente grandes tamanhos e adaptadas a diferentes nichos ecológicos, os africanos possuem uma maior variabilidade genética."Nosso objetivo era coletar DNA de uma gama significativa de populações etnicamente e geograficamente variadas na África para que pudéssemos estudar a variação genética para beneficiar os africanos, ao permitir que eles conheçam a história da suas populações e servir de base para pesquisa biomédica", afirmou Tishkoff em entrevista coletiva.A dificuldade de acesso e de preservação do material era um dos motivos pelos quais a África era pouco representada nos estudos genéticos. "Muitas vezes pode ser um desafio conseguir amostras de DNA de pessoas vivendo em lugares geograficamente remotos e às vezes perigosos", disse Tishkoff.A pesquisa envolveu muitas vezes viagens de vários dias em veículos com tração 4 X 4. "Tínhamos de trazer todo nosso equipamento, incluindo centrífugas portáteis que precisávamos ligar na bateria do carro, pois frequentemente não havia eletricidade", disse ela.Os dados da variação genética confirmam ainda que o "berço" da espécie humana está no sul do continente. A análise indicou também que a migração do homem moderno se originou no sudoeste africano, perto da fronteira na costa entre Namíbia e Angola.Já o local de "saída" da África teria sido próximo do centro do mar Vermelho."A história de todo mundo é parte da história africana, porque todos vieram da África", disse outro autor do estudo, Muntaser Ibrahim, da Universidade de Cartum, Sudão.

Dica de Leitura - ESTIGMAS


Confesso que fui preconceituoso quanto a este livro... Já o havia visto e folheado várias vezes em sebos e livrarias, mas o estilo dos desenhos me fazia concluir que era uma obra "de vanguarda", indigesta exceto para os adoradores de extravagâncias. Até que um dia levei um espécime para casa e vi o quanto estava errado.

É a história de um beberrão desajustado que, após um sonho cheio de revelações, vê surgirem nas palmas de suas mãos duas chagas que sangram e nunca cicatrizam. A saga desse homem é narrada de forma impressionante, num roteiro belíssimo de autoria de Claudio Piersanti. A arte de Lorenzo Mattotti, que a princípio me era tão estranha, revelou-se o par perfeito para a história torta do "dharma bum".

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Os trabalhos e os dias...


“Para nós é difícil imaginar a importância dos jogos e das festas na sociedade antiga: hoje, tanto para o homem da cidade como para o do campo, existe apenas uma margem muito estreita entre uma atividade profissional laboriosa e hipertrofiada, e uma vocação familiar imperiosa e exclusiva. Toda a literatura política e social, reflexo da opinião contemporânea, trata das condições de vida e de trabalho. Um sindicalismo que protege os salários reais e seguros que reduzem o risco da doença e do desemprego: eis as principais conquistas populares, ao menos as mais aparentes na opinião pública, na literatura e no debate político. Mesmo as aposentadorias tornam-se cada vez menos possibilidades de repouso: são antes privilégios que permitem uma renda mais gorda. O divertimento, tornado quase vergonhoso, não é mais admitido, a não ser em raros intervalos, quase clandestinos: só se impõe como dado dos costumes uma vez por ano, durante o imenso êxodo do mês de agosto que leva às praias e às montanhas, à beira d’água, ao ar livre e ao sol uma massa cada vez mais numerosa, mais popular e ao mesmo tempo mais motorizada. Na sociedade antiga, o trabalho não ocupava tanto tempo do dia, nem tinha tanta importância na opinião comum: não tinha o valor existencial que lhe atribuímos há pouco mais de um século. Mal podemos dizer que tivesse o mesmo sentido. Por outro lado, os jogos e os divertimentos estendiam-se muito além dos momentos furtivos que lhes dedicamos: formavam um dos principais meios de dispunha uma sociedade para estreitar seus laços coletivos, para se sentir unida.” Philippe Ariès - História Social da Criança e da Família

segunda-feira, 27 de abril de 2009