segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Atividade - aula inicial

Para as primeiras aulas, esta atividade pode servir como ferramenta de detecção e sondagem.



Os tempos do tempo

Quanto tempo dura o dia e a noite? O que demora mais para passar: cinco minutos na praia ou cinco minutos na cadeira do dentista? Em que horário você tem fome? Qual é a data mais importante na sua vida? Essas perguntas se referem a tempo diferentes: o tempo astronômico, o psicológico, o biológico e o histórico. E cada um deles é percebido de uma determinada maneira. Marcar o tempo, dividi-lo em horas, dias meses, anos etc. é uma criação humana. Em outras palavras, a contagem do tempo é uma convenção.
A primeira forma de marcar o tempo, talvez usada pelos caçadores da Pré-História, teve como referência a sucessão do dia e da noite. Depois, a observação das mudanças do aspecto da Lua em suas quatro fases levou à criação do calendário lunar, ainda hoje utilizado por vários povos. Mas o calendário lunar não marca as estações climáticas – informação importante para o desenvolvimento de muitas atividades. Os agricultores, por exemplo, precisam saber qual a melhor época para preparar a terra e plantar, qual o período das chuvas, qual o momento de armazenar alimentos para enfrentar o inverno.
Há uns 6 mil anos, os egípcios, um povo agricultor que vivia às margens do rio Nilo, no norte da África, observaram uma coincidência: a época de cheia do rio ocorria com o aparecimento da estrela Sirius. Contando os dias transcorridos até a repetição cíclica desse fato, fixaram o ano em 365 dias. Dividiram o ano em doze meses de trinta dias ao quais adicionaram cinco dias suplementares. O calendário egípcio é o calendário solar mais antigo que se conhece.
Para contar as horas, inventou-se o relógio solar. A passagem do tempo era marcada por um obelisco fincado num lugar amplo. A direção e o comprimento da sombra projetada por esse “ponteiro de pedra” mudavam ao longo do dia de acordo com altura do Sol, indicando a hora. O problema do relógio solar era os dias nublados e a impossibilidade de medir o tempo à noite, o que mais tarde, foi contornado com outras invenções, como o relógio de água (a clepsidra) e o de areia (a ampulheta).

RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento. Imagem e Texto. FTD: São Paulo, 2002.

1) Os antigos romanos levaram do Egito para Roma um obelisco de pedra do século VII a.C, Era usado como gnômon (ponteiro) de um grande relógio solar, indicando a passagem das horas ao longo do dia. Como funcionava? Qual a sua desvantagem?
2) A clepsidra utilizada pelos egípcios no século III a. C, marca o tempo pela passagem da água de um recipiente a outro, sendo que uma engrenagem movimenta os ponteiros do relógio. Que vantagem ela tinha em relação ao relógio solar?
3) Os gregos antigos contavam que Cronos, um dos titãs que habitavam a Terra no início dos tempos, tomou o lugar do pai e proclamou-se o senhor do Céu. Mas seu pai e sua mãe o alertaram de que seus filhos o destronaria. Para evitar que o destino se cumprisse, Cronos tratou de se livrar dos filhos que teve, devorando-os à medida que iam nascendo. Cronos, em grego, quer dizer “tempo”. De acordo com esse mito, que idéia os gregos tinham sobre o tempo? Que palavras derivam do nome Cronos?

Material para trabalhar o Renascimento

O RENASCIMENTO

Galileu Galilei


Que mudanças ocorreram na cultura e na arte da Europa?

No século XV e sobretudo no XVI, a Europa passou por grandes mudanças. O tempo dos castelos e dos feudos ficava para trás. Uma profunda renovação no pensamento e na arte estava ocorrendo. Valorizavam a observação, a experiência e o espírito crítico, como mostra este trecho de uma peça teatral sobre o período.

“GALILEU – Você entendeu o que eu lhe expliquei ontem?

ANDREA – O quê? Aquela história do Copérnico e da rotação?

GALILEU – É

ANDREA – Não. Por que o senhor quer que eu entenda? É muito difícil, e eu ainda não fiz onze anos, vou fazer em outubro.

GALILEU – Mas eu quero que também você entenda. É para que se entendam essas coisas que eu trabalho e compro livros caros em lugar de pagar o leiteiro.

ANDREA – Mas eu vejo que o Sol de noite não está onde estava de manhã. Quer dizer que ele não está parado! Nunca e jamais.

GALILEU – Você vê! O que é que você vê? Você não vê nada! Você arregala os olhos, e arregalar os olhos não é ver. (Galileu põe a bacia de ferro no centro do quarto.) Bem, imagine que isso é o Sol. Sente-se aí. (André senta-se na única cadeira; Galileu está de pé, atrás dele.) Onde está o sol, à direita ou à esquerda?

ANDREA – À esquerda.

GALILEU – Como fazer para ele passar para a direita?

ANDREA – O senhor carrega a bacia para a direita, claro.

GALILEU – E não tem outro jeito? (Levanta Andréa junto com a cadeira do chão, faz meia volta com ele.) Agora, onde é que o Sol está?

ANDREA – À direita.

GALILEU – E ele se moveu?

ANDREA – Ele, não.

GALILEU – E o que se moveu?

ANDREA – Eu.

GALILEU (berrando) – Errado, seu burro! A cadeira!

ANDREA – Mas eu com ela!

GALILEU – Claro. A cadeira é a Terra. Você está em cima dela.
(A empregada entra para fazer a cama e assiste à cena.)

DONASARTI – Senhor Galieu, o que o senhor está fazendo com o meu menino?

GALILEU – Eu o estou ensinando a ver.”

BRECHT, Bertold (1898-1956). Vida de Galileu (1938-39).
In Teatro Completo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. p.58-60.


Uma nova visão do homem e do mundo

Profundas transformações ocorreram na Europa entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, como a intensificação da vida urbana, da economia monetária e comercial, o enriquecimento da burguesia e o fortalecimento do poder dos reis. Esse foi também o período das Grandes Navegações, da criação de novas técnicas de exploração agrícola e mineral, da difusão do uso das armas de fogo, da imprensa, de novos tipos de papel e de tintas, do desenvolvimento da matemática, da geometria, da cartografia, da medicina etc.
Tais mudanças despertaram novas idéias sobre a natureza e o ser humano. Pensadores chamados humanistas acreditavam que o homem, com a educação adequada, seria capaz de dominar seu destino, controlar e transformar a natureza. Essa nova visão de mundo, chamada antropocentrismo, se opunha aos valores medievais, atribuindo ao homem, e não à vontade de Deus, a responsabilidade por suas conquistas e fracassos.
O humanismo tornou-se um movimento literário e filosófico que propunha uma nova educação, baseada na crítica dos textos, no estudo das línguas e das ciências e na observação da natureza. Seus seguidores traduziram e divulgaram os textos da Antiguidade grega e romana.
A paixão e o entusiasmo pelo conhecimento levaram os humanistas a expandirem-se nas mais diversas áreas – línguas, ciência, religião, música, geografia, astronomia, artes etc. – a fim de descobrirem o funcionamento e a razão de ser de todas as coisas.
Eles não se limitaram a estudar os textos antigos e os fenômenos naturais. Procuraram também melhorar a sociedade em que viviam. O inglês Thomas Morus, por exemplo, imaginou em sua obra Utopia (1516), uma sociedade ideal baseada na igualdade e na tolerância. O holandês Erasmo de Rotterdam criticou os costumes sociais e os abusos da Igreja em Elogio da Loucura (1511). O italiano Maquiavel, na sua obra O Príncipe (1513), estudou como se toma, se conserva e se perde o poder. O francês Rabelais, em seus livros Pantagruel (1532) e Gargântua (1534), defendeu a idéia de que os homens deviam se guiar apenas pelas leis da natureza.
Os humanistas, mesmo discordando da Igreja, não eram ateus. Eram cristãos que desejavam reinterpretar as mensagens bíblicas. Muitos foram perseguidos, exilado ou condenados à morte por suas idéias.


Uma arte renovada

O melhor exemplo da renovação cultural dos séculos XV e XVI ocorreu nas artes plásticas. Pintores, escultores e arquitetos romperam com a arte medieval, utilizando novas técnicas e novo estilo. Inspiraram-se nas criações dos antigos gregos e romanos e, por isso, sua arte foi chamada de “renascentista”.
O Renascimento surgiu na Itália, onde ainda restavam muitos monumentos da Antiguidade romana. O comércio mediterrâneo havia feito florescer numerosas cidades-estados, como Florença, Veneza, Roma e Milão, rompendo definitivamente com a tradição feudal. Os governantes e burgueses poderosos dessas cidades disputavam entre si, mandando construir palácios, igrejas e catedrais, erguer estátuas em locais públicos e pintar quadros e afrescos para decorar os edifícios. Contratavam os artistas, pagavam suas despesas e a obra encomendada. Esses burgueses financiadores das artes eram chamados mecenas.
A arte renascentista tem um duplo aspecto: inspira-se no passado e mostra inovações. Os artistas exploraram temas da mitologia e da história antiga e imitaram as formas da arquitetura e da escultura greco-romana. Mas inventaram a perspectiva e aprimoraram o naturalismo, usando novos conhecimentos da matemática, da física, da anatomia, da geometria e de outras ciências.
O artista renascentista tratou a figura humana como a mais bela de toda a criação e procurou fazê-la exprimir força e harmonia. Estudou as proporções e o movimento do corpo, a tensão dos músculos, os traços fisionômicos e os gestos das mãos. Reproduziu cenas do cotidiano e, uma novidade, pintou a si mesmo e assinou seu quadro. Esse é um exemplo do culto ao indivíduo, que também caracterizou o período.
O Renascimento se difundiu por toda a Europa graças ao mecenato dos nobres e burgueses e às viagens dos artistas. Entre os maiores artistas destacaram-se os italianos:
- Leonardo da Vinci (1452-1519): um gênio criativo que, além de pintar (Última ceia, Virgem dos rochedos e Mona Lisa ou Gioconda), estudou anatomia, botânica, ótica, geologia e mecânica, formulando, em cada uma dessas áreas de conhecimento, múltiplos projetos e fecundas hipóteses.
- Michelangelo (1475-1564): célebre por seus afrescos na Capela Sistina (no Vaticano), entre eles A criação do Homem e Juízo Final, e suas esculturas Pietà, Moisés e Davi. Como arquiteto, projetou a gigantesca cúpula da basílica de São Pedro, em Roma.

Uma revolução nas ciências

Até o século XV, os fenômenos da natureza eram matéria religiosa. A verdade baseava-se na fé e na tradição, isto é, na Bíblia e nos ensinamentos dos mais velhos. Assim, desde as doenças até os movimentos dos astros, tudo estava relacionado com a vontade de Deus. Duvidar da verdade estabelecida pela Igreja ou estimular a curiosidade eram atitudes desrespeitosas e ofensivas. Na Idade Média, acreditava-se que a natureza era um mistério que só a Deus pertencia.
Os renascentistas não aceitaram essa atitude e ousaram questionar as verdades estabelecidas pela Igreja. Curiosos e observadores interessaram-se por tudo o que os rodeava. Usaram a razão para conhecer e explicar os fenômenos naturais. Recusaram-se a aceitar aquilo que não pudessem ser comprovados. Por basearem suas observações em cálculos e experimentos, os renascentistas deram origem à “ciência experimental”.
Copérnico se opôs à idéia de Ptolomeu de que a Terra era o centro do universo, afirmando que ela era apenas mais um planeta girando em volta do Sol. Mas confirmou a trajetória circular dos planetas. Em 1584, o filósofo italiano Giordano Bruno defendeu a idéia de um universo infinito e da existência de outros mundos habitados. Pouco depois, o alemão Kepler descobriu a trajetória elíptica dos planetas. Em 1610, o físico, matemático e astrônomo Galileu Galilei, no primeiro de sues muitos livros, confirmou o sistema heliocêntrico proposto por Copérnico e revelou suas descobertas, feitas por meio de um telescópio que ele próprio aperfeiçoara: as montanhas da Lua, os satélites de Júpiter, as manchas solares, as fases de Vênus e os anéis de Saturno.
Vesálio estudou o corpo humano por meio da observação e dissecação de cadáveres, fundando as bases da moderna anatomia. Na mesma época, o alquimista e médico suíço Paracelso curava doenças usando métodos novos que dariam origem à homeopatia e à quimioterapia. Em 1546, o livro do médico italiano Fracastoro revelava a teoria do contágio e explicava a causa das infecções. Em 1628, o inglês William Harvey publicou a sua descoberta sobre a circulação do sangue.
Leonardo da Vinci, além de artista, foi grande pesquisador, com agudo senso de observação. Projetou inventos espetaculares que, séculos depois, seriam realizados: o pára-quedas, o “parafuso-voador” (futuro helicóptero), o submarino, a máquina a vapor, o balão etc. Pesquisou também o som, as cores e as luzes.

Esse material tem origem em diversos livros didáticos.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Pré-história - Situação de Aprendizagem 1 (1ºEM)

Alguns conceitos precisam ser trabalhados para que os alunos dessa série consiga resolver as atividades do Caderno do Aluno. Entre elas, as noções de nomadismo e sedentarismo e as fases da pré-história. O texto abaixo foi modificado a partir do original, cuja fonte é citada, e serve para introduzir esses elementos.






PALEOLÍTICO

O paleolítico abrange cerca de 99% do tempo de existência das sociedades humanas. Seu início é marcado pelo surgimento dos primeiros hominídeos e estende-se aproximadamente até 8000 a.C.
Durante esse período os seres humanos de diferentes regiões do mundo confeccionaram suas primeiras ferramentas – instrumentos feitos de madeira, ossos, chifres e pedras lascadas.
Nessa época os seres humanos ainda não produziam seus alimentos, isto é, não cultivavam plantas nem criavam animais. Consumiam o que encontravam na natureza como frutos, grãos e raízes, e o que caçavam e pescavam. Quando se esgotavam os alimentos da região que habitavam, mudavam-se para outra. Por isso, foram denominados caçadores-coletores e nômades.
O controle do fogo foi uma das maiores conquistas desse período, permitindo aos seres humanos suportar o frio, afastar animais perigosos e cozinhar alimentos. Supõe-se que, a princípio, procuraram manter aceso o fogo provocado ocasionalmente pelas forças da natureza, e mais tarde aprenderam a produzi-lo pelo atrito de pedaços de madeira, lascas de pedra, etc. Os grupos humanos aperfeiçoaram técnicas para proteger-se dos rigores do clima, construindo abrigos e roupas com peles de animais. Além disso, aprimoraram e diversificaram a produção de instrumentos e utensílios como lanças, arcos e flechas, arpões, lâminas e anzóis. O uso cada vez mais generalizado de instrumentos é um dos principais fatores que distinguiram os seres humanos dos demais animais.
Para melhor garantir a sobrevivência, as sociedades dos caçadores –coletores foram estabelecendo formas de cooperação e divisões de tarefas entre os membros do grupo. Com a cooperação. Conseguiam, por exemplo, construir abrigos em menor tempo ou desenvolver táticas de caça em conjunto.

NEOLÍTICO

A denominação neolítico se refere ao período em que a pedra recebeu uma nova forma de tratamento: antes lascada, passou a ser polida, sendo melhorado o fio de seu corte. Por esse motivo, o neolítico também é conhecido como Idade da Pedra Polida, enquanto o Paleolítico é chamado de Idade da Pedra Lascada.
Nesse período, tiveram início novos modos de relacionamento entre os seres humanos e a natureza. Eles passaram a interferir de forma ativa no ambiente, cultivando plantas, domesticando e criando animais. Começaram assim a produzir sua própria alimentação. A vida sedentária foi sendo adotada aos poucos, à medida que as atividades agrícolas e pastoris se consolidavam. Esse novo modo de vida, que se caracterizou pelo desenvolvimento da agricultura, da criação de animais e das aldeias sedentárias, ocorreu em diversas partes do planeta, mas em diferentes épocas. Calcula-se que começou a ocorrer por volta de 8000 a.C. no Oriente Próximo, e em cerca de 2500 a.C. na América Central. Os tipos de plantação variavam de uma região para outra, destacando-se as espécies vegetais como trigo, centeio, cevada, milho, batata, mandioca e arroz, entre outras. Os animais criados foram principalmente carneiros, cabras, bois e porcos. Com o domínio dessas técnicas, muitas comunidades puderam produzir mais alimentos que o necessário ao consumo imediato, passando, assim, a fazer estoques.
Outras inovações surgidas no neolítico foram a cerâmica (modelagem e cozimento de argila) e a tecelagem (produção de tecidos a partir de fibras vegetais e pêlos de animais).
As primeiras aldeias sedentárias surgiram quando as comunidades neolíticas se estabeleceram num território, dedicando-se predominantemente à criação de animais e ao cultivo agrícola. Nas aldeias, a população cresceu e ampliou-se a oferta de alimentos. A vida social foi se tornando mais complexa: a divisão do trabalho se ampliou. Por exemplo, uma pessoa com habilidade para fazer cerâmica podia trocar seus potes por alimentos, e assim, empregar a maior parte de seu dia produzindo cerâmica. Isso aos poucos aconteceu com outros tipos de trabalho, e foram-se constituindo atividades específicas, como as de tecelão, de sacerdote e, mais tarde, de metalúrgico. Algumas dessas aldeias foram incorporando à sua organização social novos elementos, como por exemplo, uma muralha protetora, um templo para o culto aos deuses ou um armazém para conservar os alimentos. Isso faz parte do processo de surgimento das primeiras cidades.

METALURGIA

Por volta de 4000 a.C., as primeiras sociedades urbanas do Oriente Próximo começaram a desenvolver a metalurgia, que consiste na utilização de metais para a fabricação dos mais variados objetos. O primeiro metal a ser fundido em larga escala foi o cobre. Sua utilização, porém, não eliminou os instrumentos de pedra, que foram sendo substituídos muito lentamente. Misturando cobre com estanho, o ser humano conseguiu obter o bronze, metal mais resistente que o cobre, empregado na fabricação de instrumentos como espadas, lanças e martelos. Por volta de 1500 a.C. alguns povos desenvolveram a metalurgia do ferro, e a nova técnica foi difundida. Os instrumentos de ferro possibilitaram significativo aumento da produção artesanal e agrícola. O desenvolvimento da metalurgia representou enorme conquista tecnológica, pois possibilitou a produção de instrumentos e objetos resistentes, das mais variadas formas. Os metais, em geral, são tão duros quanto a pedra, mas podem ser modelados na forma que se desejar, por meio da infusão (derretimento pela ação do calor intenso). Assim tornou-se possível confeccionar panelas, vasos, enxadas, machados, pregos, agulhas, facas e lanças de meta, entre outros objetos. O trabalho metalúrgico exigia habilidade, conhecimentos especializados e disponibilidade de tempo.

Características das sociedades civilizadas

Aparecimento de grupos sociais – com o surgimento de ricos e pobres, exploradores e explorados, foram se estabelecendo diferenças entre as pessoas, o que formou grupos sociais distintos.
Formação do Estado – organizou-se um governo para administrar a sociedade e controlar a força militar (exército).
Divisão Social do Trabalho – as atividades foram divididas entre os membros da sociedade, surgindo trabalhadores especializados (metalúrgicos, ceramistas, barqueiros, vidraceiros, agricultores, pastores, sacerdotes, comandantes militares etc.)
Aumento da Produção Econômica – o desenvolvimento das técnicas agrícolas e pecuárias e do artesanato propiciou o crescimento da produção econômica. Além do necessário consumo imediato, as sociedades começaram a produzir excedentes, armazenando vários produtos para a troca comercial.
Registros Escritos - acompanhando a organização das primeiras cidades, desenvolveram-se a escrita, a numeração, o calendário e um sistema de pesos e medidas.

Relações sociais

Das primeiras comunidades às sociedades civilizadas, as relações sociais sofreram grandes mudanças.
Nas primeiras comunidades, as relações sociais baseavam-se nos laços de parentesco, nos usos e costumes comuns, na cooperação entre os membros do grupo. O alimento, a terra, o rebanho compunham propriedades coletivas da comunidade.
Nas sociedades civilizadas, quase todos esses elementos se modificaram. A cooperação foi substituída pela competição social, surgindo a propriedade privada da terra e de outros bens. O acúmulo desigual de bens materiais pelos indivíduos passou a diferenciar as pessoas, surgindo então relações de poder entre ricos e pobres. Criou-se um estado governado por uma minoria, detentora dos poderes econômico (riqueza), político (força) e ideológico (saber).

Fonte do texto: COTRIM, Gilberto. História Global - Brasil e Geral. Editora Saraiva: São Paulo, 2007.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sobre o Haiti

Sempre que um evento é veiculado tão insistentemente nos noticiários surge uma oportunidade de discussão em sala de aula. Em geral, o contato com as informações disseminadas pelos meios de comunicação de massa gera uma noção superficial e sensacionalista do fato. O uso de textos analíticos inteligentes pode servir como exercício de aprofundamento da compreensão e dá margem para se enxergar as estruturas profundas por trás da notícia. O texto que posto abaixo, publicado na segunda-feira no jornal Folha de São Paulo, permite ver as raízes históricas do desmantelamento do Haiti, demonstra os atores históricos envolvidos nesse processo e as intenções que moveram suas ações. Sobretudo, é uma chance de mostrar o peso do passado na vida cotidiana. Treinar as mentes para que façam esse tipo de análise pode ajudá-las a compreender melhor seus próprios contextos, um dos objetivos das aulas de história.



OMAR RIBEIRO THOMAZ e OTÁVIO CALEGARI JORGE ESPECIAL PARA A FOLHA, EM PORTO PRÍNCIPE

O TERREMOTO no Haiti, que afetou de forma particularmente arrasadora sua capital, foi há cerca de uma semana. O pouco de um Estado já frágil foi destruído, a missão das Nações Unidas foi incapaz de ir além de resgatar seus próprios mortos e feridos, a ajuda internacional tarda, e o que vemos são haitianos ajudando haitianos. Entre quarta-feira e sábado, caminhar pelas ruas do centro de Porto Príncipe e de Pétionville era observar o civismo dos haitianos que, muitas vezes, e como nós, sem entender claramente o que havia acontecido, procuravam cuidar dos feridos, resgatar aqueles que ainda estavam vivos sob os escombros, e dispor de seus mortos. O que vimos foi, de um lado, solidariedade, de outro a ausência quase que total e absoluta das forças da ONU e da ajuda internacional. Por quê? Afinal, a Minustah não estava no Haiti há cerca de seis anos e não dizia estar agindo no sentido de estabilizar o país e reconstruir o Estado haitiano? Quando nos perguntávamos do porquê da demora de disponibilizar comida e remédios já no aeroporto de Porto Príncipe para as centenas de milhares de pessoas que se aglomeravam nos campos de refugiados improvisados por todos os lados, a resposta era que não existiam canais locais capazes de serem mobilizados para a tarefa. Homens e mulheres que tinham vindo para ajudar, e as coisas que traziam, se aglomeravam num aeroporto controlado por forças militares americanas, como se de uma operação de guerra se tratasse. Após seis anos no Haiti, aqueles que diziam que estavam ali para reconstruir o país, não tinham entendido nada, ou muito pouca coisa. Quando fomos às praças e campos de futebol transformados em campos de refugiados, eram as "dame sara", mulheres que controlam as redes comerciais existentes no país, que garantiam o acesso dos haitianos a produtos; eram aquelas que cozinham na rua, "chein jambe", que ofereciam galinha, espaguete, arroz, feijão e verduras aos haitianos e haitianas aglomerados; eram caminhões pertencentes a empresários locais que distribuíam água potável. Haitianos ajudando haitianos. Por que não aproveitar esta energia e estas redes existentes para fazer chegar a ajuda? Por desconhecimento, talvez, ou talvez por duvidar de sua eficácia, ou da possibilidade de uma vítima ser mais do que uma vítima passiva à espera de ajuda. O desconhecimento, no entanto, é duvidável. Em nossa visita ao batalhão brasileiro da Minustah, horas antes do terremoto, pudemos ver na apresentação do coronel João Bernardes um extremo conhecimento do funcionamento da sociedade haitiana. Infelizmente, a falta de ajuda parece estar mais ligada às disputas internacionais pelo controle do futuro do povo haitiano do que à emergência da situação. Sim, os haitianos são vítimas, mas estão longe da passividade: pra cima e pra baixo, entre as "dame sara" e o "chein jambe", vimos jovens escoteiros removendo entulho, jovens pedido ajuda com alto-falantes, médicos haitianos dando atendimento aos feridos nas ruas, freira haitianas prestando os primeiros socorros quando possível. Paralelamente, o aparato da Minustah, cerca de 5.500 militares de diferentes nacionalidades, ou estava parado, ou mobilizado na atenção dos próprios quadros da ONU. Os haitianos ajudam haitianos, a ONU ajuda a ONU.
Culpas internacionais Duas reações foram recorrentes nos dias que se seguiram aos terremotos. Uma, talvez a mais primária, era a de responsabilizar a natureza. A outra, a de responsabilizar os próprios haitianos pelo caos que sucedeu ao cataclismo. Afinal, foram incapazes de construir um Estado e, por isso, são incapazes de reagir. Ambas as reações são perversas. Não estamos só diante de um cataclismo natural, mas também de uma catástrofe social. E o desmantelamento do Estado haitiano não é responsabilidade exclusiva dos haitianos, muito pelo contrário. País com pouca margem de manobra no contexto caribenho ao longo das décadas de Guerra Fria, viu as grandes potências apoiarem uma ditadura regressiva e particularmente violenta; concomitantemente, e especialmente a partir do fim dos anos 1970 e ao longo dos anos 1980, o Haiti, como tantos outros países, foi vítima de profissionais engravatados que aplicavam a mesma receita em qualquer lugar: desregulamentação, estado mínimo, livre comércio. Foram as pressões do FMI e do Banco Mundial que obrigaram o Haiti a desproteger a produção de arroz no início dos anos 1980. O Haiti era, até então, autossuficiente em arroz. Em pouco tempo não só se viu obrigado a importar este produto, como massas de camponeses foram expulsas do campo para a capital do país, aglomerando-se em habitações precárias, as mesmas que foram abaixo com o terremoto. Tal como ocorreu com o arroz, o cimento também foi afetado. Antes era produzido no país, e desde finais de 1980 foi importado dos EUA, o que obrigou os haitianos a fazerem uso de tijolos pobremente produzidos com areia. Tais tijolos são frágeis e acabam afetando a própria condição das construções. E podemos seguir adiante para demonstrar que o desmantelamento do Estado haitiano foi obra da "comunidade internacional". Somente uma crítica sistemática ao próprio caráter da ajuda internacional nas últimas décadas poderá ajudar o Haiti a sair de um atoleiro que não foi construído apenas por ele. O que pudemos observar, além da passividade da própria comunidade internacional, capaz de mobilizar mundos e fundos, mas incapaz de conversar com as "dame sara" para imaginar uma saída criativa para a distribuição da ajuda, foi um movimento mais do que preocupante. Milhares de soldados americanos ocupam, mais uma vez, o país, como se houvesse uma situação de guerra civil, e o Brasil, já imerso há seis anos em toda essa lama, entra no circo das potências que querem "ajudar" o Haiti. Sem termos presente o fato de que o Haiti é um país soberano, e que os haitianos não são vítimas passivas de catástrofes naturais, dificilmente sairemos do circulo de pobreza e miséria criada pela própria "comunidade internacional", no qual o Brasil ocupa um trágico lugar central.


OMAR RIBEIRO THOMAZ, 44, é professor de antropologia da Unicamp; OTÁVIO CALEGARI JORGE , 21, é estudante de ciências sociais na mesma universidade

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Luiz Felipe Pondé e o ofício do professor

Foi publicado ontem no jornal Folha de São Paulo um artigo de Luiz Felipe Pondé que faz considerações sobre o ato de ensinar. Bastante perturbador pelas afirmações pouco otimistas e por apontar coisas que todos sentimos mas nunca dizemos... A íntegra pode ser lida em http://integras.blogspot.com/2010/01/quem-cre-que-educacao-cria-novos-seres.html. Posto abaixo um trecho selecionado:


"Acreditar na educação é crer que com ela criamos novos seres humanos. Isso não acontece porque a maioria de nós professores, como todo mundo, ganha menos do que queria, é mais infeliz do que esperava, é mais sozinho do que sonhava, é muito menos importante do que imaginava. Esse não costuma ser um perfil indicado para "criar novos seres humanos" porque nele facilmente brota o rancor, o fracasso, a inveja e, por isso mesmo, a mentira.
A maioria de nós acabou como professor por falta de opção ou ilusão juvenil ou incapacidade de enfrentar o mercado profissional ou porque sonhava em ser um novo Marx ou um novo Freud. Quem crê que a educação cria novos seres humanos o faz para disfarçar seu cotidiano ordinário, é uma mentira contada a si mesmo todo dia.
O conhecimento é um risco e não uma ferramenta de alegria. Um fardo, uma dádiva de um Deus que parece torturar os covardes ou uma sequela de uma seleção natural sonambúlica e cruel. A educação é um ofício que nos prepara para nosso destino. Uma conversa infinita entre mortos e vivos sobre o enfrentamento desse fardo, que nos une a todos no mesmo tecido cego."
Foto: arquivo pessoal

sábado, 12 de dezembro de 2009

Resenha: Movimentos Sociais - novas tendências

Resenha final do curso "Movimentos Sociais, novas tendências" do lato senso da PUC-SP.

Uma breve explicação

“Deus está morto” decretou Nietzsche no século XIX. Junto com Ele, sucumbiram também seus sucedâneos materiais, as grandes metanarrativas apoiadas na crença racionalista inaugurada pelos renascentistas e consolidada pelos iluministas. Esse cataclisma na base mental do Ocidente, detectado pelos filósofos há mais de um século, se disseminou para as outras esferas do pensamento, contagiando progressivamente a arte, a ciência e, a esta altura, até o senso comum. Essa nova configuração intelectual, identificada como relativismo pós-moderno, tem sido analisada pelos impactos negativos que provoca, sendo atacada por pensadores oriundos de setores tão díspares quanto a Igreja e o marxismo.
Hoje não é tão simples, para o profissional de história, se posicionar metodologicamente, ideologicamente, politicamente. Não há grandes eixos aos quais se alinhar comodamente, sem reflexão. As dúvidas profundas que se impõe a respeito da validade dos conceitos absolutos levam à necessidade de se repensar as bases sobre as quais se fundamentam as contruções mentais.
Esse estudo tem como objetivo desenvolver reflexões sobre os impactos dessas mudanças no trabalho do historiador. Ele foi suscitado pela leitura do artigo[1] de Irma A. Antognazzi, exigida para o curso “História dos Movimentos Sociais: Novas Abordagens”. A contundência de suas afirmações provocou um movimento de reavaliação de valores, práticas e ideias que precisou se alimentar de outras fontes para esboçar algumas prematuras conclusões. Outras formas de encarar a questão foram encontradas em Ciro Flamarion Cardoso[2] e Keith Jenkins[3]. Ainda há um grande volume de obras a ser percorrido antes de se chegar a considerações mais conclusivas. A estratégia de abordagem desse texto é descrever e comparar as ideias desses três autores, havendo algum espaço para reflexão pessoal. Nesses momentos, optei pelo uso da primeira pessoa, recurso que facilita a construção das sentenças baseadas em minhas ideias. Ao final, além de considerações finais sobre a questão discutida, reservei uma seção para considerações subjetivas e impressionistas sobre o impacto do relativismo no ensino da história.



Análise das Ideias de Irma A. Antognazzi, Ciro Flamarion Cardoso e Keith Jenkins a respeito do posicionamento do historiador
em sua atividade profissional.


No filme brasileiro “Narradores de Javé”[4] esboçam-se algumas críticas ao processo de escrita da história que podem servir de introdução ao debate que se inicia. Na obra de Eliana Caffé conta-se a história de um vilarejo, Javé, prestes a submergir nas águas de uma represa criada para alimentar uma hidrelétrica. Frente a essa ameaça, os moradores se reunem e discutem uma forma de evitar a tragédia, chegando à conclusão que o único caminho possível para salvar a cidade é provar que ela tem valor histórico, elevando-a à categoria de “patrimônio”. Como não há registros da sua história, resolvem produzir um, convocando para tal tarefa Antônio Biá, único letrado da região. Este, munido de um caderno onde objetiva escrever a história “científica”, passa a colher as provas do valor histórico de Javé, trazidas à tona através de relatos de alguns de seus habitantes. Os fatos narrados, no entanto, variam de acordo com o entrevistado, que dão ênfase hora a um, hora a outro vulto do passado javélico. Os realizadores dessa obra acabaram criando uma metáfora poderosa que desnuda os mecanismos de produção e consumo do saber histórico, entrando na discussão acirrada que atualmente se impõe aos que se dedicam a esse ramo do saber. Afinal a história ainda é, para alguns, uma ciência objetiva, que é capaz de apreender fidedignamente a realidade de seu objeto (o passado) e ainda, aos moldes das ciências da natureza, é meio de “descobrir” as leis que regem os movimentos das sociedades no tempo e das classes entre si. É essa a visão que se questiona no filme. Que fatos são esses, que cambiam ao sabor dos interesses de cada um dos narradores? Que imparcialidade é essa, uma vez que os produtores da história já têm uma conclusão pronta a ser corroborada pelo manuseio hábil do passado? Que critérios objetivos são esses que elegem determinados narradores como porta-vozes do passado, em detrimento de outras vozes? Como, afinal, se pretende científica uma história que agrega em seu processo de constituição elementos tão subjetivos, aleatórios e imprevisíveis como os citados acima? Qual é, então, a verdadeira natureza da história, e como deve o historiador se posicionar nesse pântano de incertezas?
Para a argentina Irma A. Antognazzi, a história é uma ciência capaz de desvendar a realidade do mundo. Em artigo recente, ela expõe suas ideias a respeito das alterações ocorridas no campo historiográfico e das ciências sociais. Fundamenta seu texto na defesa das teorias de Marx e do materialimo histórico; é a partir dessa posição que erige seus argumentos. Ela reconhece o abandono dessas concepções, atribuindo-o a ações intencionais de grupos ligados ao grande capital transnacional, que ao mesmo tempo fomentam as ideias relativistas. Tal estado de coisas interessaria a esses grupos, uma vez que a ausência de um paradigma totalizante explicativo da realidade social e a adoção de chaves de compreensão fragmentárias impedem a formação da consciência, tolhem o entendimento dos mecanismos do mundo e, em consequência, obstam as ações reformadoras ou revolucionárias.
No que tange especificamente à historiografia, Irma defende que as “novas tendências” (estudos que contemplem mentalidades, cultura, cotidiano, etc. ) devem ser vistos como complementares ao marxismo. Retira deles o caráter de “novidade”, uma vez que aponta a existência de abordagens desse tipo desde o século XIX, que eram feitas sem o abandono da perspectiva totalizante.
Sobretudo, o que a autora defende é a tomada de posição por parte do historiador, que deve compreender a possibilidade de atuação no presente e servir de “guia consciente” das forças do povo, revestindo de ciência os esforços, evitando o método de ensaio e erro. A exortação é para que o trabalho do historiador seja voltado para a revolução, para a melhoria nas condições sociais via combate aos dominadores/exploradores. Todos esses esforços, fica evidente, devem ser embasados teoricamente por orientações marxistas.
A visão de mundo que se subentende a partir da análise desse artigo é bastante simplificadora: existem dois pólos contraditórios, a massa que é explorada e que ignora os mecanismos e as causas que a devoram, e uma camada de exploradores que age intencional e conscientemente no sentido de dominar e manter a dominação mediante a ocultação dos sistemas de controle. Nesse contexto entra em cena o historiador, que desvenda tudo com seu olhar treinado. Ele deve então fazer sua escolha: seguir o caminho do bem e resgatar a massa de sua ignorância ou aventurar-se pelo caminho do mal, juntando esforços com os dominadores para produzir teorias diversionistas que encubram no lugar de descobrir. Nesse universo de forças tão bem definidas, existe apenas uma trajetória de luta, que é o da compreensão, sob a ótica do materialismo histórico, da realidade social e a consequente revolução proletária. Essa é a única verdade aceita, e todo o resto é equívoco, intencional ou inconsciente.
O objetivo do texto é claro. Trata-se de tentar convencer da necessidade de não se abandonar o paradigma marxista, defendendo-o como o único caminho verdadeiro. Trata-se também de sugerir que essa visão permeie os cursos de formação das novas gerações de profissionais de história e cientistas sociais. Em última análise, o que se sugere é a doutrinação do historiador, que deve sair de sua etapa formativa fiel às diretrizes do prisma marxista.
Ciro Flamarion Cardoso situa a discussão num outro nível. Apesar de crer na necessidade da existência das visões holísticas do social, único meio de propor mudanças, percebe o descrédito delas como oriundo de outros fatores. Não há aqui o maniqueísmo de Antognazzi, não se apontam “mãos invisíveis” tramando deliberadamente pela queda do marxismo. Ciro vê um movimento maior, uma contestação mais profunda que leva de arrasto não só o marxismo, mas todas as teorias fundadas no paradigma iluminista. A crença na razão e na ciência como promotores do progresso entram em declínio, entre outros fatores, em função da desilusão que o contato com as mazelas geradas por elas produziu nos indivíduos ao longo do século XX. O futuro brilhante projetado pelos arautos do cientificismo dos séculos XVIII e XIX se consolidou num cenário de morte e miséria no século XX. O abandono dessa visão marca o fim de uma era, momento do qual se aproveitam elementos conservadores e neoliberais para impor configurações favoráveis aos seus interesses. Elementos que se beneficiam do contexto, mas que, ao contrário do que sustenta o texto de Irma Antognazzi, não o engendraram. Ciro aponta ainda um fenômeno concomitante, uma transformação profunda que nos coloca com “um pé no mundo das primeiras revoluções industriais, outro no mundo nascente”. Esse movimento rumo ao indefinido põe em xeque visões holísticas. O futuro, no entanto, tempo de estabilização, trará um novo paradigma totalizante, que carregará “elementos do marxismo”, mas que será novo e singular. Se a realidade está sempre mudando, é impossível criar uma visão holística absoluta, senão circunstancial e temporária. E a nova visão holística não surgirá enquanto o novo não emergir e se estabelecer: é impossível teorizar o casual.
Os escritos de Irma Antognazzi e Ciro Flamarion Cardoso têm em comum a crença na necessidade de uma visão holística do social e a crítica ao modelo pós-moderno; divergem quanto aos motivos do ocaso das visões holísticas, e também no apego ao marxismo: Antognazzi reafirma sua validade, Ciro se despede dele.
Keith Jenkins, no obrigatório “A História Repensada”, enxerga a emergência do pós-modernismo como fruto de uma nova fase de desenvolvimento do capitalismo, onde as forças do mercado são tomadas como valor máximo. Diante dessa nova baliza, tudo perde seu valor intrínseco e passa a ser avaliado mediante sua relação com as outras coisas. É a morte do absoluto. Ao contrário de Ciro e de Antognazzi, Jenkins percebe o relativismo como algo positivo, benéfico e potencialmente renovador.
No que se refere à história, ele parte da demonstração da cisão fundamental entre a ciência e seu objeto para evidenciar a impossibilidade de se atingir a objetividade. O principal obstáculo à cientifização da história é que seu objeto de estudo – o passado – é de natureza diferente, e o processo de transformação do passado em história é permeado por situações condicionantes que inviabilizam a invocação da “verdade”. Uma dessas condicionantes é o caráter ilimitado do passado: o que resta dele, através dos vestígios, é apenas uma fração, incapaz de fornecer uma visão completa do todo. Essa constatação obsta os esforços dos que pensam na história como a simples narração do passado como ele foi realmente: a perspectiva positivista. Além disso, o que nos chega do passado são relatos, já contaminados da subjetividade de seus produtores. Mesmo que os intérpretes desses relatos conseguissem se livrar de toda sua subjetividade (o que na prática é impossível), eles não conseguiriam expurgar a subjetividade inerente aos documentos do passado. O máximo que se pode fazer é comparar tais relatos, o que torna a história um exercício de interpretação dos discursos sobre o passado. Por fim, há a condicionante subjetiva, ou seja, o papel do historiador na intermediação entre passado e história, situação em que obrigatoriamente serão agregados ao resultado do trabalho os “constructos pessoais” do historiador, sua perspectiva.
Em suma, Keith Jenkins procura demonstrar que a história é um “campo de forças”, onde interesses dos diversos grupos e indivíduos combatem na tentativa de fazer prevalecer suas ideias e percepções. Eventualmente um deles predomina sobre os outros, e impõe aos outros o seu discurso como o verdadeiro, universalizando-o. No discurso de Jenkins o próprio conceito de verdade perde a validade, sendo também indentificado como um constructo parcial e subjetivo, sustentado por uma estrutura de poder.
Todo o trabalho de Jenkins, que desmonta conceitos tão caros e fundamentais para tantas pessoas, poderia levar a um posicionamento negativista: se nada é absoluto, se tudo é construção, se nada há de sólido além do simbólico, as possibilidades de compreender e transformar o mundo se anulam. Essa é, aliás, a crítica central que Ciro, Antognazzi e muitos outros dirigem ao pensamento pós-moderno, apontando seu aspecto desmobilizante e antirrevolucionário. Essa crítica, segundo Jenkins, é infundada, uma vez que ele deixa claro que a atuação política é amplificada no campo do relativismo, já que em essência esse tipo de raciocínio colabora para desvendar os jogos de poder manipulando os discursos e as verdades. Além disso, ao negar a existência de um centro interpretativo único, abre-se espaço para que mais pessoas e mais grupos possam produzir sua história e fazer-se ouvir, produzindo efeitos no mundo.
Dessas considerações se depreende que as ideias dos autores analisados ocupam posições diferentes no espectro intelectual. Ao que parece, o olhar pós-moderno de Jenkins engloba os outros e os demonstra como reflexos dos jogos de poder, coisa que seus autores não aceitam. Ciro sugere, em suas conclusões, um equilíbrio entre as perspectivas iluminista e pós-moderna, equilíbrio que, em minha opinião, é impossível de ser alcançado. Uma vez demonstrada a ausência de suportes lógicos e reais aos discursos, uma vez evidenciado seu aspecto parcial e sempre subjetivo, o único caminho a ser empregado pelo historiador que deseja realmente ser senhor de seu discurso é o da aceitação da impossibilidade de ser unânime e hegemônico. O caminho é perceber a natureza transitória dos postulados e a impossibilidade de alcançar uma explicação universal.

Considerações sobre os conflitos de paradigmas e
seus efeitos no ensino de história

Nesta seção, tentarei relacionar o conflito entre os paradigmas que se desenrola hoje com fenômenos manifestados no ensino de história. Estes escritos serão necessariamente inconclusivos e baseados majoritariamente em minha experiência pessoal, uma vez que não houve tempo hábil para realizar as leituras necessárias.
Ocorre um movimento de transformação na natureza e na essência do ensino de história, e ele se relaciona com uma transformação maior, no nível das mentalidades, a respeito da configuração ideal do conhecimento. O ensino baseado no paradigma iluminista ainda é hegemônico. Os livros didáticos, em sua imensa maioria, tendem a apresentar pastiches da história, explicações generalizantes de períodos, homogeneizando aspectos díspares numa tentativa de conferir certo sentido e lógica à narrativa. Busca-se a visão explicativa universal, criam-se categorias de compreensão, rótulos, compartimentos, onde é acondicionado o conhecimento histórico. Essa divisão começa na eurocêncentrica e arbitrária divisão da história em 5 etapas. Fala-se em “feudalismo” na Europa, por exemplo, sem se considerar as peculiaridades de cada tempo e espaço. A impressão final formada na mente do estudante é que a história evolui positivamente, e que o sistema civilizatório criado pelos europeus e disseminado pelo mundo é o ápice dessa evolução. Esse tipo de estudo cria a noção de que existem leis universais regendo os fatos. Sem contar a invisibilidade das massas: tudo é creditado a grandes personagens. O “povo”, quando aparece, é uma massa sem forma e sem cara, uma variável na equação.
O método de ensino dessa história distorcida é o tradicional, baseado na transmissão/recepção de informações.
Evidente que existem milhares de outras configurações, tanto de conteúdo quanto de método, no ensino de história, mas é esse o padrão desejado e exigido pelos vestibulares das grandes e prestigiosas instituições de ensino superior brasileiras, as mesmas, aliás, em cujos currículos constam autores e ideias que contrariam esse modelo.
Essa “história engessada” é usada também para a doutrinação política, por parte de professores que não se furtam de ser proselitistas, manejando os dados de maneira a criar no estudante uma visão sectária e dogmática do processo histórico, estimulante da “revolução”.
Novos ventos, entretanto, tem arejado o cenário. A adoção de novas formas de ingresso nas instituições de ensino superior simbolizam uma reorientação geral. Nessa nova configuração, o aluno é instado a trabalhar com as informações, compreendendo-as, interpretando-as, conectando-as. Trata-se de construir o conhecimento, no lugar de memorizar saberes já prontos. Além disso, a queda dos conceitos absolutos provocou uma revisão no próprio papel do professor e do currículo: se pensarmos de acordo com o novo paradigma, o que se ensinava antes nas aulas de história não era história, mas um discurso sobre o passado, amparado num determinado equilíbrio de poder, que tinha como finalidade justificar e conservar o status quo.

Considerações Finais

Comecei a refletir sobre esses assuntos em função de uma certa culpa que sentia por atuar de maneira despolitizada enquanto professor de história. Achava que faltava um alinhamento político claro permeando meu trabalho, mas ao mesmo tempo pensava ser incorreto doutrinar os estudantes numa determinada linha interpretativa. Ao ler o artigo de Irma Antognazzi estremeci: estaria eu sendo vítima da fragmentação intencional da visão social, imposta por forças terríveis para evitar a luta por igualdade e justiça? Busquei compreender melhor o que está se passando no campo das ideias, para decidir se o discurso de Irma é ou não válido. Descobri dois textos que aprofundaram gradualmente a questão. No de Ciro, descritivo, a queda do marxismo e das outras visões generalizantes é reputada não a forças intencionais, mas ao desenvolvimento histórico da sociedade. É um movimento natural. Mas ainda restava um ranço negativista em relação ao pós-moderno, e então busquei no texto filosófico de Jenkins uma visão otimista. E me convenci, afinal, de que a melhor postura que pode adotar um profissional de história é a de sempre desnudar e desconstruir os discursos, apontando os interessados em sustentar as “verdades”, e adotando simultaneamente, e em consequência, um respeito pelos discursos alheios, permitindo-lhes a existência e dialogando com eles.
Os textos discutidos, é evidente, possuem muitos outros ângulos de análise não abordados nessa simples resenha. E a discussão feita não se conclui aqui. Ainda precisa ser alimentada com muitas outras leituras. Mesmo assim, esse trabalho serviu como um ponto de partida para um processo de reposicionamento consciente dos fundamentos de minha atuação.


FONTES CONSULTADAS


ANTOGNAZZI, Irma A. Necessidade do Enfoque Historiográfico para Explicar os Processos Sociais do Presente. In: Projeto História (revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) nº29. São Paulo, dez/2004. Pág. 35 a 51. Tradução: Vera Lúcia Vieira.

CARDOSO, Ciro Flamarion. Introdução: História e Paradigmas Rivais. In: Domínios da História.

JENKINS, Keith. A História Repensada. Tradução: Mário Vilela. São Paulo: Contexto, 2001.

NARRADORES DE JAVÉ. Dir. Eliane Caffé. Brasil. 2003

sábado, 28 de novembro de 2009

resenha - Paul Thompson

Esta resenha apresentei como trabalho de conclusão de curso da disciplina "Tendências da Historiografia Contemporânea", ministrada no primeiro semestre de 2009 pela professora Lilia, no Latu Senso da PUC-SP.
Paul Thompson - A Voz do Passado - História Oral
Introdução
Trata-se de uma obra multifacetada e de importância vital para todos os que se utilizam de reminiscências, memórias e relatos orais em suas atividades de pesquisa e escrita da história. A História Oral emergiu muito recentemente como possibilidade historiográfica. O primeiro projeto nominalmente ligado a esta corrente surgiu em 1948, nos EUA, liderado pelo professor Allan Nevis, criador do “Oral History Project”. Como toda novidade, causa certo desconforto entre os guardiões das tradições acadêmicas, e precisa provar sua validade para ser aceita plenamente. Ainda há um senso comum que descarta sumariamente a História Oral por considerá-la demasiadamente subjetiva e imprecisa.
Thompson parte justamente deste ponto, porque sabe que é a frente que exige os maiores esforços defensivos. E começa atacando: ao invés de perder tempo tentando provar que as fontes coligidas pelos métodos da história oral são objetivas, afirma e procura provar que a subjetividade é um dado real em todas as fontes históricas. O fato de ser escrito e oficial não torna o documento mais fiel à realidade. O único remédio para lidar com esses desvios é submeter as fontes a um rígido sistema crítico.
O autor demonstra, ao longo da obra, que a História Oral é um método que tem os mesmos problemas e limites de quaiquer outros, mas que apresenta vantagens muito grandes do ponto de vista da abrangência. A história oral permite uma escrita mais democrática, muito ligada ao movimento novo conhecido como “história vista de baixo”. Dá voz aos que, nos documentos tradicionais, não seriam considerados.
Thompson é um guerrilheiro da nova história, é um entusiasta das possibilidades que ela traz ao campo da história. Em muitos pontos, seu trabalho é quase panfletário, e o tom se aproxima, por vezes, daquele empregado nas campanhas publicitárias.
Ao mesmo tempo, ele é um apaixonado defensor da revolução social. Defende que a função de um historiador é contribuir para que se alcance esse ideal. Thompson vê a história como instrumento para agir na sociedade e provocar mudanças. Em suas palavras, “o que se requer é uma história que leve à ação, não para confirmar, mas para mudar o mundo”. Ainda que o leitor mais tradicionalista considere esse arroubos um tanto exagerados, a obra mantém seu valor porque não se resume a isso. Thompson faz uma profunda reflexão sobre o uso de fontes orais, memórias e relatos, apontando suas limitações e possibilidades.
História e Comunidade
Thompson faz uma discussão acerca dos métodos e fontes tradicionalmente empregados na escrita da história, buscando compará-los com aqueles obtidos através da história oral. Nesse processo, ele reafirma sua filiação às diretrizes da Nova História.
A afirmação inicial é um libelo em defesa da importância da história. A necessidade de conhecer e explicar o passado, e através dele compreender melhor o presente e se situar no mundo é descrita como universal e inerente à condição humana. Sempre houve história, em qualquer sociedade, a qualquer tempo.
Infelizmente, por muito tempo ela foi escrita por pessoas ligadas aos grupo dominantes das sociedades, fato que levou a uma seleção muito restrita do que deveria ser registrado e preservado. Era uma história etnocêntrica, elitista e que fechava os olhos para as mulheres e para os menos favorecidos. É a velha crítica que os historiadores da Nova História fazem à historiografia tradicional.
Thompson parte dessa constatação já aceita e estabelecida para reforçar sua defesa da história oral. Segundo ele, mesmo após a ampliação do campo de interesse da história, permaneceram problemas graves, uma vez que as fontes tradicionais refletem a distorção promovida pela historiografia tradicional. Apenas os documentos que interessavam aos propóstitos daquele tipo de história foram preservados. Mesmo que a abordagem seja nova, as fontes permanecem conservadoras. Para o autor, recorrendo-se à história oral pode-se resolver esse problema. Os relatos orais podem preencher essas lacunas deixadas pelas fontes tradicionais.
Thompson vai além, e aponta outras vantagens decorrentes do emprego da história oral. As constatações dele transcendem os campo historiográfico tradicional: a história oral é algo tão revolucionário que suas implicações transbordam da história para outras áreas de atuação humana. Ela promove a remoção das barreiras entre historiadores e público leigo, apaga as fronteiras entre instituições de ensino e comunidade, rompe o distanciamento entre professores e alunos. Uma de suas vertentes tem funções curativas: é a terapia da reminiscência, que ajuda pessoas idosas desalentadas diante da modernidade, recuperando pela memória sua identidade.
Essa expansão impressionante do campo de atuação da história oral, apontada triunfalmente por Thompson, merece uma discussão mais aprofundada, uma vez que esse processo provoca, inveitavelmente, um distanciamento das razões originais do método: alimentar as pesquisas históricas.
Historiadores e história oral
O autor faz um grande passeio pela historiografia, apontando o uso de relatos orais, memórias e reminiscências como fontes de informação histórica. É um importante e minucioso levantamento, uma compilação de todos os que fizeram uso desse tipo de fonte ao longo da história.
Thompson constata que a tradição oral foi a primeira espécie de história, que somente no século XIX deixou de ser considerada pelos historiadores. Diversas sociedades reservavam espaço para a existência de indivíduos que se dedicavam especificamente a memorizar e transmitir os conhecimentos históricos, como os skald na escandinávia, os rajput na Índia e os griot na África ocidental.
Grandes nomes da historiografia antiga e medieval, como Heródoto e Bede, recorreram preferencialmente às fontes orais. No século XVIII, os iluministas fizeram largo uso dos relatos. Voltaire não via diferenças entre as fontes orais e documentais.
Thompson demonstra que, em muitos casos, os testemunhos orais são vistos como mais confiáveis que os documentos escritos. É o que ocorre nos tribunais, onde as testemunhas devem ser ouvidas; essa exigência vem da convicção de que os documentos são mais fáceis de forjar. Os registros contábeis devem ser auditados anualmente, ou seja, lidos em voz alta.
Por que, então, os historiadores relegaram os relatos ao esquecimento? A profissionalização do historiador, no século XIX, contribuiu para isso. Leopold von Ranke foi um grande ator nesse processo. Ele procurou sistematizar a disciplina ao longo de seus 60 anos de atuação acadêmica. Buscava criar um método próprio à história, e passou a desprezar radicalmente tudo o que considerava subjetivo. A ele interessava descobrir as coisas “como realmente foram” (wie es eigentlich gewesen ist). Seu método se espalhou e fez adeptos, como os franceses C.V. Langlois e Charles Seignobos, que afirmavam sem reservas que “se não há documentos, não há história”. De fato, o objetivo foi alcançado: a abordagem documental deu aos historiadores seu método próprio, peculiar, diferenciando-os como especialistas num determinado campo. Como afirma Thompson, essa noção de propriedade profissional era muito importante no século XIX.
Outro motivo para o abandono das fontes orais foi a mudança de atitude dos próprios historiadores em relação a sua realidade social. Restringindo-se aos documentos os historiadores podiam isolar-se socialmente, arrogando uma “neutralidade objetiva” em função da ausência de contato com o mundo.
No começo do século XX essas convicções foram caindo por terra, num processo que acompanhou uma mudança de paradigmas geral e universal. As velhas chaves de compreensão não conseguiam mais explicar o moderno mundo multifacetado, aberto ao relativismo. Os historiadores passaram a aceitar que a diversidade de fontes contribuía para uma aproximação de seus trabalhos com a complexidade do mundo real.
Considerações Finais
Não vivemos em tempos fáceis para historiadores. A trajetória humana sofreu uma radical transformação no decorrer do século XX, num processo tão profundo que tornou obrigatória uma revisão geral na mentalidade e na estrutura do pensamento. Os velhos modelos de explicação histórica, que se pretendiam absolutos e aos quais nada escapava, tornaram-se obsoletos, incapazes de compreender a realidade. Tornaram-se objetos de culto de obstinados militantes, que agarram-se a eles de maneira desesperada, procurando extrair algum sentido de suas desgastadas engrenagens.
Frente a esse mundo complexo e multifacetado, uma abordagem histórica que considere, com método e critério, as informações adquiridas diretamente das testemunhas dos fatos tende a ser mais fiel à realidade.
A obra de Paul Thompson oferece bons argumentos de reflexão para o historiador que se utiliza de tais fontes em seu trabalho.