"Exceção feita a alguns pichadores que se acham artistas, todos concordam que pichação não passa de vandalismo.Ela não só suja a propriedade de quem não pediu aqueles garranchos em suas paredes.
Ela também produz uma cidade mais feia." Assim começa o editorial da Folha de São Paulo de ontem, 24 de janeiro. O jornal, arvorando-se em autoridade na crítica de arte, tenta separar grafite (bom) de picho (mau).
Não sou pichador, nem crítico de arte, mas gosto de pichação. Não acho que seja vandalismo. Acho que, como disse o "artista" Banksy, pichar é dialogar com a cidade. Somos diariamente bombardeados com mensagens, símbolos e cores que não solicitamos: a publicidade invade sem pedir a nossa vida, e as próprias autoridades usam e abusam da comunicação gráfica em sua eterna batalha para conter a multidão: conte quantos imperativos você ouve/lê num só dia de sua vida... Pichar é o ato do sujeito inserido nessa máquina de mensagens que quer ele também, democraticamente, comunicar de volta.
A arte moderna que hoje figura nos museus que a Folha elogia já foi um dia também chamada de tudo, menos de arte: doença, escândalo, vergonha, lixo etc. Toda arte viva incomoda. A arte que cabe no museu já perdeu metade da força, virou dispositivo domesticado ou produto. Pra significar algo vivo, precisa de aparelhos ressuscitadores e máquinas do tempo virtuais.
A Folha sempre anda na contramão da história. E parece se orgulhar disso: há poucos dias republicou um de seus textos, de 1956, que recebia da seguinte maneira o "fenômeno do rock": "A dança selvagem do 'rock and roll' provoca cenas deprimentes na cidade". A Folha não considera que o que houve em 31 de agosto foi golpe. A Folha acha que a reforma da previdência é necessária, e que os "ajustes" do governo Temer são justos. Agora quer apoiar esse bobo que deixamos ser prefeito nessa cruzada inútil contra a pichação...
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