Meu cérebro é um moinho tenebroso
um moinho que gira sem cessar.
Um vento mudo e misterioso
fá-lo girar.
É velho e pardo, abandonado e feio
como bem poucos.
Já m’o disseram e eu também o creio:
- É o moinho dos loucos.
E a roda gira! De girar não cessa!
Os grânulos de ideia vão tombando...
E a mó de pedra sempre mais depressa
pulverizando.
Estranho moinho, o teu destino é triste!
Teu tormento indizível é sem fim.
Ah! na verdade em parte alguma existe
um outro moinho assim!
Moinho ambulante, de onde vem o vento,
teu algoz invisível e maldito?
... E a mó sempre a moer o pensamento.
- Trigo infinito!
Mas este mundo é muito curioso:
- Que quer dizer toda essa gente infinda
de boca aberta, a me fitar?
Homens de juízo, não sabeis ainda?
Meu cérebro é um moinho tenebroso,
um moinho que gira sem cessar...
Osório Cesar – A Expressão Artística nos Alienados, 1929, p.64
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