sábado, 2 de abril de 2011

Publicação e consumo de quadrinhos no Brasil 1985-1995

Um cidadão que entrasse numa banca de revistas qualquer, no intervalo de tempo que vai da segunda metade dos anos oitenta até a mesma altura dos anos 1990, encontraria a sua disposição uma quantidade farta de quadrinhos, de todos os gêneros, origens e feitios. Por pouco dinheiro, poderia levar consigo belos quadrinhos de terror – mesclados com uma pitada generosa de erotismo - de revistas como “Cripta”, “Calafrio” e congêneres, todas escritas e ilustradas por artistas brasileiros. Se o gênero não agradasse, podia escolher um entre os muitos títulos de revistas que traziam arte “autoral” de brasileiros: Geraldão, do saudoso Glauco Villas Boas, “Chiclete com Banana”, best-seller de Arnaldo Angeli, “Piratas do Tietê” ou “Striptiras”, que traziam a arte primorosa de Laerte Coutinho, a engraçadíssima “Níquel Náusea”, do impagável Fernando Gonsales, Big Bang Bang, de Adão Iturrusgarai, e uma infinidade de outros títulos; havia ainda as multiautorais “Circo”,”Canalha”, “Mega”, “Udigrudi” e muitas outras. Mesmo as revistas de autor citadas acima abriam espaço para colaborações, colocando o leitor em contato com trabalhos de Newton Foot, Negreiros, André Toral, Spacca, Marcatti, Schiavon, Luis Gê, Pelicano, e muitos outros.

Estas publicações de periodicidade incerta, na maioria empreendimentos independentes de pequenas editoras, quixotescamente se aproveitavam de confluências favoráveis para abrirem um amplo espaço para toda uma geração de artistas, ligando-os a um ávido público leitor. Junto a estas, na mesma banca de revistas, poderiam ser encontradas publicações que traziam o melhor do quadrinho internacional, especialmente o europeu e norte-americano, editado pelos brasileiros sortudos o bastante para não só serem capazes de compreender outras línguas em um país de iletrados, mas também de poderem estender um periscópio investigativo em viagens internacionais e se ligarem em uma rede mundial de admiradores da “nona arte”. Numa época em que a informática era coisa de filme de ficção científica, era um feito e tanto. A imponente “Animal” introduziu para o público maior artistas como Vuilleman, Tamburini e Liberatore, Andrea Pazienza; a semipirata “Porrada” trazia Horácio Altuna, Moebius, Crumb... As editoras maiores, como Globo e Abril, também sintonizaram-se com a onda de quadrinhos e editaram obras primas em formato mais bem acabado – ainda que mais caro: Miguelanxo Prado, Arno, Katsuhiro Otomo, Jano. A editora Abril tinha, inclusive, uma linha só para quadrinhos de alto nível, reunida sob o título “Graphic Novel”.

É bom que se diga que, além de quadrinhos, estas publicações traziam também textos, reportagens e informações que ajudavam a furar o esquema conservador de transmissão de dados das grandes redes de informação, comprometidas com valores tradicionais e mercantis... Algumas inclusive desenvolveram seções especiais, apêndices para este tipo de informações como o “Jam” da Chiclete e o “Mau” (Feio, sujo e malvado) da Animal. Ali o brasileiro – que via o mundo apenas pelo filtro da Rede Globo, do Estadão e da Veja - podia aprender a história da Contracultura, podia conhecer por dentro os “squats” europeus e seu ethos anarquista, e podia, afinal, ter acesso a uma interpretação dos fatos menos compromissada com a manutenção do status quo e mais irreverente.

Some-se a essa fartura editorial o grande universo subterrâneo dos fanzines, modalidade que democratizou o acesso à publicação, transgredindo e subvertendo os papéis de leitor, editor e autor. A rede de fanzines usava o serviço dos Correios para se estender país afora, num processo que se autoalimentava. A divulgação de novos quadrinistas foi grande ali, e mais de uma banda que depois atingiu o sucesso radiofônico rompeu o anonimato por meio deles. Uma vertente bastante fértil de fanzines se dedicava à crítica musical, alimentando a distribuição de fitas K7 com trabalhos originais que seguia o mesmo esquema de distribuição das publicações.

Aos poucos, na segunda metade da década de 1990, a disponibilidade de quadrinhos nas bancas começou a dar sinais de que minguava. Os títulos sumiam, um a um, mês a mês. Os sebos ainda mantiveram a circulação das revistas por alguns anos, o que mascarou, para os que testemunharam o processo, o declínio da publicação de revistas de quadrinhos. Só quando os sebos mostraram-se finalmente esvaziados dos títulos tão apreciados é que se percebeu que o movimento havia morrido: os quadrinhos, nas bancas de revista, se retraíram para o nicho infantil, o único público que ainda viabiliza algum movimento. Aqueles autores brasileiros e estrangeiros que povoaram as prateleiras por dez anos agora só estavam disponíveis nas estantes de grandes livrarias, em álbuns luxuosos – e caríssimos. O prosaico e barato papel jornal dava espaço ao cuchê... Os artistas brasileiros passaram a se dedicar com mais afinco aos seus empregos estáveis em jornais de grande circulação – caso de Angeli, Laerte, Glauco, Adão, etc; ou meteram-se em projetos mais profundos, que envolvem pesquisa e resultam em livros, caso de Spacca, Toral. Ou enveredaram para outras profissões e atividades. Alguns ainda se mantem num esquema independente, mesclado com o mainstream, como Marcatti – que por sinal sempre foi indie, senhor de sua própria offset.

O universo dos fanzines foi irremediavelmente absorvido pela internet...


A forma de consumo de histórias em quadrinhos passou por uma brutal reorganização, fechando-se, elitizando-se, imaterializando-se em bits e bytes... O número de leitores de HQ deve ter declinado muito nesse processo.


(DRC)

quinta-feira, 17 de março de 2011

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011


domingo, 23 de janeiro de 2011

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

terça-feira, 18 de janeiro de 2011


ESTUDO DE CASO - O ANTIGO LIXÃO DO BAIRRO ROCIO - IGUAPE





Um exemplo local dos impactos causados pela deposição irracional de resíduos sólidos domésticos pode ser encontrado no Bairro Rocio, em Iguape. Nos limites dessa região, às margens da Rodovia Ivo Zanello (SP – 222), existe um local que durante vários anos foi usado como lixão, e recebeu toneladas de lixo sem qualquer tratamento ou critério. Por todo o perímetro podemos perceber uma grande quantidade de resíduos, mais visivelmente plásticos semi-enterrados no solo. Num dos lotes, pudemos observar um “recorte” no solo, onde o morador pretende instalar manilhas para canalizar um fluxo de água. Observando as camadas de terra à mostra, nota-se uma grande variação de tonalidade do solo, que talvez indique uma contaminação por resíduos de lixo.
Os moradores da região relatam como é viver com um “vizinho” tão incômodo. Tiago de Morais Ribeiro, 20 anos, vive no local desde 1998, e conta que até 4 anos atrás a região ainda recebia lixo da cidade inteira diariamente. Ele mostra plantações de banana e mandioca vizinhas à sua casa, e comenta que as plantas podem estar contaminadas por resíduos do lixo no solo. Observando o pavimento da rua, onde ficam as marcas de passagens de veículos, podemos perceber a presença de uma infinidade de resíduos plásticos oriundos do lixo, que afloram à superfície com o desgaste das rodas de veículos e da chuva.
Vários habitantes dessa região consomem água proveniente de poços. Um deles, Adriano Cruzado, 51, relata que não bebe a água que obtém do poço, porque ela apresenta cheiro forte. Usa o líquido, que retira de um poço semi-artesiano com o uso de uma bomba manual, apenas para lavagem e irrigação. Ele prefere buscar a água que bebe na cidade, em galões. Conta também que quando se mudou para o terreno onde vive, retirou da terra várias camadas de lixo acumulado. Diz também que, para muitas pessoas, ainda existe a cultura de enxergar o local como depósito de lixo. Relata que há cerca de seis meses alguém atirou grande quantidade de restos de peixes (manjubas) e de frutos do mar (caranguejos) no terreno vizinho ao seu, o que ocasionou forte mau cheiro.
O problema do manejo dos resíduos produzidos pela sociedade humana é antigo e complexo. Desde tempos remotos o homem vem lidando com seu lixo de maneira irracional. Arqueólogos que estudam restos de vilarejos da Antiguidade encontram às vezes diversos metros de camadas de lixo soterrando as casas.
Mas, a partir da segunda metade do século passado, a questão se tornou mais grave, já que os avanços na indústria química passaram a gerar um novo tipo de lixo, artificialmente criado pelas mãos humanas, com alto potencial de toxicidade e longo ciclo de degradação.
O exemplo abordado no estudo de caso é bastante ilustrativo. Pelo que pudemos constatar a partir da observação superficial da área e através dos relatos dos moradores, o lixo presente no subsolo da região é um transtorno, e talvez uma ameaça para a saúde das pessoas e do meio ambiente.
Para avaliar o real impacto que este lixão proporciona para o local, seria necessário realizar análises mais detalhadas em amostras de solo, água, plantas e nas pessoas moradoras da região.

COLETA SELETIVA - IGUAPE
ASSOCIAÇÃO DE CATADORES NOVO HORIZONTE DE IGUAPE

A Associação foi fundada em 2002, tendo entrado em funcionamento no dia 22 de setembro daquele ano. De início houve cooperação entre a Associação e órgãos públicos como a Prefeitura Municipal e o Colégio Técnico Agrícola, que trabalharam conscientizando a população sobre a importância da coleta seletiva e dos procedimentos de separação do lixo doméstico.
Atualmente, de acordo com o presidente da Associação, João Amaro da Costa Filho, a entidade trabalha sem respaldo de qualquer outro órgão. Oito pessoas estão ligadas à cooperativa, trabalhando na coleta, triagem e compactação do material reciclável. O lucro obtido com a venda desse material é rateado entre os associados.
João relata a existência de catadores clandestinos, que priorizam apenas a coleta de materiais com alto valor de comércio (como alumínio e papelão), e acabam jogando outros materiais em terrenos baldios e áreas de mata nas bordas da cidade.
A coleta da associação resulta em uma média e 500 a 600 quilos por dia. Nas terças-feiras o trator da entidade percorre 120 km na cidade, coletando 700 quilos de material reciclado. Apenas 120 casas acondicionam apropriadamente o material reciclável. Muitas vezes há a necessidade de separar o material reciclável de lixo orgânico, que são misturados pelos moradores.
Uma vez coletado, o material passa por uma triagem, depois é compactado em uma prensa industrial (a associação possui duas) e então destinado ao comércio. O presidente da associação conta que o material é vendido para empresas em diversas partes do Brasil (Sorocaba, Rio de Janeiro, cidades do Estado de Santa Catarina, entre outras). No final do processo o material é reciclado e reutilizado pelas indústrias. O lixo orgânico incorretamente acondicionado junto com os recicláveis é separado e recolhido pelo serviço de coleta da prefeitura Municipal.
João Amaro revela que o principal problema enfrentado pela cooperativa é a falta de conscientização da população sobre os procedimentos de separação do lixo reciclável. Ele sugere que haja campanhas de divulgação desses procedimentos, assim como a criação de leis que regularizem o descarte do lixo urbano domiciliar e comercial.

Este aqui publiquei em 04/10/2008. A imagem é de minha autoria

Brasilândia - MS



este lobo-guará morreu em 2003, atropelado na estrada que liga as cidade de Brasilândia e Três Lagoas, no MS.