domingo, 28 de março de 2010

A história do ensino de História no Brasil


Durante a graduação em história acabei deixando de lado o estudo dos aspectos pedagógicos da minha profissão. Desdenhei desses conhecimentos porque, como muitos, não me imaginava lecionando num futuro próximo. Erro crasso, que me atingiu em cheio quando entrei pela primeira vez numa sala de aula. Desarmado dessas ferramentas teóricas tão valiosas, o mundo escolar e suas peculiaridades me atordoou. E assim foi desde então. Ser professor sem conhecer o que já se falou e pensou sobre o processo pedagógico faz com que o ambiente escolar se torne confuso, incompreensível. No final, acabei por desenvolver uma lógica pessoal fundada na experiência, que mesmo quando funciona, me impede de enxergar além. Percebo que, muitas vezes, acabo agindo pelo instinto, sem ter plena consciência do significado de minhas ações.
Esse tipo de situação, obviamente, reduz a qualidade e a eficácia do trabalho do professor, e serve também para que interesses externos penetrem insidiosamente nas aulas, pelas frestas da ignorância... Um exemplo é o currículo: a inclusão de certos temas (e a omissão de outros) pode servir para enaltecer um partido político, uma linha de pensamento, um sistema socio-econômico. Se o professor estiver despreparado, principalmente o de História, acaba servindo de porta-voz para esse proselitismo disfarçado.
A vida me oferece agora uma segunda chance, nas aulas de Didática da professora Lilian no lato senso da PUC. Os textos agora fazem sentido, vem discutir assuntos que são o cerne das minhas preocupações.
Para compreender uma coisa, nada melhor do que analisar seu trajeto ao longo do tempo. É isso que propõe a historiadora Elza Nadai em relação ao ensino de história: acompanhar sua gênese, as formas que assumiu ao longo do tempo, as mudanças e os desafios atuais.
No Brasil, a história surge como disciplina escolar no ano de 1838, quando foi fundado no Rio de Janeiro o Colégio Pedro II, primeira instituição dedicada ao ensino secundário no país, que serviu de modelo para outras instituições que foram aparecendo no Brasil. No seu primeiro século de existência as aulas eram ministradas por professores autodidatas, uma vez que não existiam cursos de formação de docentes especializados nessa área. Somente em 1934 seriam fundadas no país instituições formadoras de professores de história. Nesses primeiros cem anos, a história se colocou como ferramenta de legitimação do status quo, da laicização progressiva do Estado e da promoção de um espírito de corpo nacionalista. Era uma disciplina bastante influenciada pelo positivismo, ligada aos Institutos Históricos que emergiam nessa época. Desenvolvia-se uma visão europocêntrica, promotora do liberalismo, onde o estudo da história nacional tinha pouco espaço. A Europa era vista como centro irradiador de um modelo ideal de civilização. Ocultava-se o caráter colonial do Brasil, ocultava-se a violência das relações sociais, esquecia-se do restante da América do Sul e da África. O método de ensino era o da memorização mecânica mediante coerção. O aluno era um depósito onde se emplilhavam os conceitos. O conhecimento era dado como pronto e acabado, sem espaço para discussão ou crítica. O historiador e o professor de história eram vistos como elementos imparciais e neutros, meros coletores-transmissores das verdades históricas presentes nas fontes documentais. A história era vista como uma narrativa lógica, uma progressão cronológica uniforme, com ênfase na continuidade, donde se podiam extrair “leis científicas” que se prestavam a explicações gerais sobre qualquer povo em qualquer tempo. Esse paradigma tinha ainda como característica a construção de mitos e a exaltação dos grandes personagens-heróis, responsáveis isolados pelas glórias do passado, e a colocação da elite e do Estado como os agentes históricos por excelência, omitindo-se o papel do restante da população na construção das trajetórias sociais.
Somente nos anos 1920 chegaria um sopro de renovação, a bordo das teorias da Escola Nova. A maior crítica feita ao ensino tradicional de história incidia sobre o caráter passivo do estudante, confinado ao papel de mero espectador no processo. Passou-se a pregar a necessidade de um ensino que promovesse a crítica, o raciocínio lógico, a reflexão. Criticou-se também a ênfase no nacionalismo militarista e chauvinista, crítica advinda da observação das consequências desse tipo de mentalidade na Europa.
A criação dos núcleos universitários formadores de profissionais docentes, na década seguinte, transformou ainda mais profundamente o ensino de história. Várias matrizes teóricas tomaram parte na composição do curso de História nessas instituições: Annales, tradicionalismo do IHGSP, interdisciplinaridade de corrente norte-americana. Nas décadas seguintes, principalmente a partir de 1950, as novas gerações de professores formados nessas academias promoveram transformações grandiosas no ensino de história. A disciplina se cientifizou, tornando-se instrumento de compreensão da sociedade.
Um novo revés, porém, se avizinhava: o golpe militar de 1964. No ambiente acadêmico, ainda que marcado por perseguições, prisões e vigilância, o estudo da história se enriqueceu com a adoção de novas abordagens, metodologias e com a ampliação do conceito de fonte. Nas escolas, no entanto, o empobrecimento foi brutal: na ânsia de excluir do currículo conhecimentos potencialmente danosos ao regime, os técnicos a serviço dos militares impuseram mudanças que mutilaram quase todos os campos de saber. A história, disciplina tradicionalmente instigadora do debate, da crítica e da reflexão, recebeu cortes colossais, chegando a desaparecer do currículo em alguns dos anos da escolaridade, ou sendo abastardada em conjunto com outras disciplinas sob nomes como Organização Social e Política do Brasil (OSPB) e Educação Moral e Cívica (EMC). Essas “disciplinas” eram pastiches ideologicamente construídos com objetivo explícito de exaltar o regime ditatorial e enaltecer os grandes vultos do passado, quase todos, por coincidência, militares. Era a volta da velha visão positivista. Colaborou para esse triste cenário a alteração feita nos cursos de formação de docentes, que sofreram alterações importantes, suprimindo-se a pesquisa de seus currículos. Isso contribuiu para a formação de técnicos meramente reprodutores incapazes de construir conhecimentos.
O processo de "redemocratização" levou ao poder grupos ligados à onda neoliberal, emanada da Inglaterra de Margareth Tatcher e dos EUA de Ronald Reagan. O poder público retraiu-se, buscando o estado mínimo. Na esfera da educação, passou-se a priorizar o atingimento de metas impostas pelos organismos credores internacionais (leia-se FMI e congêneres). Os processos de ensino e aprendizagem, naturalmente avessos a tais medições, foram mutilados. Concomitantemente, e também com a finalidade de alcançar boas cotações nas listas mundiais, promoveu-se a "universalização" do ensino. Grandes parcelas da população, antes excluídas do sistema formal de educação, ingressaram nas escolas. É importante que se lembre aqui que universalização do acesso não implica automaticamente em democratização do ensino, como mostrou Pablo Gentili em artigo sobre o assunto. A qualidade inferior do ensino oferecida às pessoas mais pobres garante a permanência da segregação escolar, uma vez que somente as classes mais ricas poderão assegurar escolas de excelência para seus filhos, auferindo-lhes vantagens na vida adulta.
A história ensinada nas escolas hoje carrega um pouco de cada uma dessas fases históricas, agrega métodos oriundos das mais diversas correntes de pensamento pedagógico. De acordo com Elza Nadai, o ensino de história atualmente se desenvolve amparado por algumas diretrizes. Em primeiro lugar, superou-se a visão de uma história universal, uniforme e regular, aceitando-se o paradigma do “espelho estilhaçado”. Não se hierarquiza mais os conteúdos, provocando com isso o fim da hegemonia das explicações economicistas ou focadas na história política. O método de produção da História, o “como fazer”, foi incorporado ao conteúdo da disciplina. Explicitar a forma como a história é escrita proporciona a capacidade de “pensar historicamente” e confere emancipação aos indivíduos, que deixam de estar filiados, muitas vezes inconscientemente, a determinado prisma interpretativo. As antigas separações entre ensino e pesquisa, entre professores e alunos e entre escola e meio social estão sendo superadas. Por fim, amplia-se a noção de fontes, o que permite a inclusão de outras “vozes” na construção da história e evidencia o caráter de discurso da produção histórica.
Estamos todos tentando imprimir às aulas de história essas novas ideias, abandonando as cansativas aulas expositivas, investindo na análise de fontes, na identificação de discursos e, quando possível, na produção de história com nossas próprias mãos. O ambiente escolar, no entanto, ainda permanece o mesmo, a mesma configuração antiquada que fazia sentido quando se desenvolviam aqueles modelos arcaicos descritos neste texto. Essa reformulação ainda se faz esperar, e é só com ela, a remodelação do ambiente escolar e a construção de um novo conceito de escola, que poderemos atingir plenamente todos os objetivos da moderna aula de história. Enfileirados, sentados em carteiras uniformemente dispostas, amontoados aos magotes nas salas de aula, vistos como uma multidão homogênea e indistinta, numerados, nossos alunos não terão a chance de ver essa nova história emergir.
Bibliografia:
ALENCAR, Chico. Educação no Brasil: um breve olhar sobre o nosso lugar. in: Educar na Esperança em Tempos de Desencanto. Petrópolis: Editora Vozes, 2003.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
GENTILI, Pablo. A Exclusão e a Escola: o Apartheid Educacional como Política de Ocultação. in: Educar na Esperança em Tempos de Desencanto. Petrópolis: Editora Vozes, 2003.
NADAI, Elza. O Ensino de História no Brasil: trajetória e perspectivas. in: Memória, História, Historiografia - Dossiê Ensino de História. ANPUH. São Paulo: ANPUH/Marco Zero, 1992/93.

quarta-feira, 24 de março de 2010

ON STRIKE!!


Em função das más condições de trabalho que enfrentamos cotidianamente, sem contar a baixa remuneração, decidi aderir a essa greve. Estou parado desde o dia 8 de março. Pessoalmente, é angustiante tomar essa decisão, quando se pensa em todas as consequências que ela pode trazer...

É impressionante constatar o boicote da mídia ao movimento. Os dois maiores jornais do estado de SP ignoraram a greve nos primeiros dias, e quando ficou impossível manter esse posicionamento, estamparam editais desmerecendo-o. Além disso, estão divulgando os números oficiais, que nem de longe representam a realidade. Aqui na capital as escolas estão paradas ou funcionando de maneira parcial, mas na mídia isso não aparece...

É triste também perceber que para muitos, inclusive colegas que sofrem com os mesmos problemas estruturais graves, a greve é vista como baderna, coisa de malandro... Se não for por esta via, de que forma lutaremos?

Devemos ignorar todos esses mecanismos maquiavelicamente criados pelo estado para esvaziar movimentos de greve, como o bônus e a política de promoção por mérito. Devemos abrir mão de benefícios pessoais imediatos e priviliegiar melhorias coletivas. A situação de caos na educação, que é uma realidade mundial, só vai mudar se fizermos algo. Aderir à greve é um bom começo...

sexta-feira, 5 de março de 2010

"A Assustadora HIstória das Pestes e Epidemias"

Esse é um dos textos que gosto de usar na sala de aula. A linguagem é clara e atrativa, e o assunto oferece inúmeras oportunidades de aprendizado e discussão. Esta é a introdução do livro.
INTRODUÇÃO: O ATAQUE DOS MINÚSCULOS GIGANTES
Naquela fria tarde de dezembro de 1799, quando George Washington sentiu pela primeira vez a garganta irritada, deve ter percebido que mesmo ele, o senhor de Mount Vernon, o primeiro presidente dos Estados Unidos, vencedor do exército britânico na guerra pela independência norte-americana, podia estar diante de um inimigo que não conseguiria derrotar. Apesar do péssimo tempo no dia anterior, Washington cavalgou em meio ao vento, à chuva, ao granizo e à neve para supervisionar sua fazenda. Na manhã seguinte, sentiu os primeiros sinais de uma gripe, e foi durante a noite que acordou a esposa para dizer que estava com calafrios e febre. Logo ao amanhecer, chamaram seu amigo, o dr. James Craik.
Preocupado, o dr. Craik chamou outros dois médicos, o dr. Elisha Dick, de Alexandria, Virgínia, e o dr. Gustavus Richard Brown, de Port Tobacco, Maryland, reunindo o que havia de melhor em termos de cuidados médicos. O tratamento prescrito consistia em fazer George Washington inalar vinagre e água, gargarejar uma mistura de vinagre e chá de salva, submeter-se a um enema e tomar três doses de calomelano e várias de tártaro emético. Provocaram o surgimento de bolhas na pele de Washington, esfregaram vinagre em sua garganta e drenaram das veias dois litros de sangue. Na metade do dia, Washington anunciou: "Acho que estou indo embora, minha respiração não vai durar muito tempo. Desde o início acreditei que a doença seria fatal." No final da tarde, ele disse a um dos médicos que "não tinha medo de partir".
Às onze horas daquela noite de 14 de dezembro de 1799, George Washington estava morto. Seu médico estendeu o braço e fez parar os ponteiros do relógio do quarto.
George Washington, ex-presidente dos Estados Unidos, teve uma irritação na garganta e desde o início acreditou que isso poderia matá-lo. Essa suposição era compreensível em 1799. Hoje, mais de dois séculos depois, não esperamos morrer por causa de uma irritação na garganta. Nos dois séculos que se seguiram à morte de Washington, mudou completamente a maneira como convivemos com as doenças infecciosas: descobrimos os micróbios que causam infecções e aprendemos a eliminar muitos deles. A história da luta da humanidade contra a doença revela até onde chegamos e quanto ainda temos que aprender.
Este livro conta as histórias de sete doenças infecciosas que tiveram profundo impacto sobre a história da humanidade, doenças que causaram grande sofrimento e que trouxeram à luz o que há de melhor e de pior em nós enquanto lutávamos para entendê-las e controlá-las. São elas: varíola, lepra, peste, tuberculose, malária, cólera e Aids.
As doenças infecciosas são causadas por pequenos organismos que invadem nosso corpo e que chamamos de germes. Esses organismos podem passar de um corpo para outro e, assim, espalhar a doença. Muitas doenças não são infecciosas - doenças cardíacas e a maioria dos cânceres, por exemplo - nem são causadas por microrganismos, mas por outros fatores, como dieta insuficiente ou problemas herdados.
Todas as doenças, por serem um obstáculo em nosso caminho, nos perturbam profundamente. Quase sempre, tocamos a vida sem pensar no corpo, apenas utilizando-o para chegar onde queremos. Entretanto, quando adoecemos, só pensamos na cabeça que dói ou naquela indisposição no estômago. Sentimo-nos à mercê de forças além do nosso controle. As doenças infecciosas têm um aspecto ainda mais perturbador: às vezes, contraímos a doença de outra pessoa. Isso pode transformar o medo da doença em medo do outro. Na reação a esse medo, os seres humanos têm sido incrivelmente corajosos e cruéis.
Foi no século XVI que um médico italiano, Girolamo Fracastoro, declarou que as doenças eram disseminadas por corpos invisíveis. Chamou essas pequenas criaturas de seminaria contagium, ou sementes de contágio. Fracastoro dizia que alguns desses corpúsculos passavam de pessoa para pessoa quando elas se tocavam, enquanto outros podiam sobreviver numa camisa ou num lençol e infeccionar a próxima pessoa que os tocasse. Outros, ainda, não precisavam de toque algum, pois propagavam-se pelo ar. Propôs, então, que essas pequeninas criaturas invisíveis eram a fonte do grande sofrimento causado pelas doenças infecciosas. Essa idéia chamou a atenção das pessoas. Explicava muito do que se via ao se observar a propagação de doenças. As doenças infecciosas, como a peste e a varíola, que surgiam em surtos repentinos e amplos, avançavam nitidamente de cidade em cidade e de casa em casa. Contudo, havia ainda muitos mistérios: quando a peste chegava a uma cidade, por exemplo, por que algumas pessoas morriam e outras não? Será que a vida de uma pessoa dependia apenas de ela ter tocado ou não um cobertor carregado de pequenas e repugnantes partículas? Como alguém poderia provar a existência de criaturas pequenas demais para serem vistas?
Cento e trinta anos depois, no final do século XVII, algo extraordinário aconteceu: Antony van Leeuwenhoek descobriu um meio de ver essas pequenas criaturas. Leeuwenhoek vivia em Delft, na Holanda. Negociava tecidos e também fabricava chapéus, fazia levantamento topográfico de terras e cuidava da casa de cultos da cidade. Nas horas vagas, ele fazia lentes de aumento. O olho humano não pode ver objetos menores do que um décimo de milímetro, mas há séculos as pessoas sabiam que, utilizando um pedaço de vidro curvo, era possível ampliar pequenas coisas, tornando-as mais fáceis de ver. Leeuwenhoek conseguiu moldar um pedaço de vidro em uma lente com tal habilidade que pôde usá-la para examinar coisas tão pequenas que nunca tinham sido vistas. Numa carta com data de 9 de outubro de 1676, ele escreveu sobre seus experimentos:
"No ano de 1675, em meados de setembro... descobri criaturas vivas na água da chuva que ficara estagnada por alguns dias num novo barril... Isso me encorajou a investigar essa água mais atentamente, já que esses [animais] me pare-ciam aos olhos mais de dez mil vezes menores do que o [animal]... de nome pulga-d'água, que se pode ver em movimento na água com a vista desarmada". No século XVII, quando o mais rápido que uma notícia podia se espalhar era na velocidade do galope de um cavalo, era possível que esse negociante em Delft fizesse ótimas lentes e visse aquele mundo extraordinário sem que ninguém jamais ficasse sabendo. Felizmente para nós, porém, naquele tempo havia um grupo de homens interessados em ciência e que tinham criado a Royal Society of London. Essa sociedade incentivava pensadores de toda a Europa a escrever para ela, contando sobre suas idéias e descobertas, para que pudessem publicá-las, compartilhá-las e basear-se uns nos trabalhos dos outros. Foi em suas cartas para a Royal Society que Leeuwenhoek contou ao mundo sobre as inimagináveis criaturas que viu nas águas do lago, do mar e da chuva; no queijo, no vinagre e em resíduos tirados de seus dentes; criaturas que, na verdade, encontrou em toda parte onde olhou. Durante cinqüenta anos, Leeuwenhoek escreveu sobre suas descobertas e o mundo reagiu com espanto. Todas as pessoas importantes da Europa, da realeza aos cientistas, queriam olhar através do microscópio do comerciante de Delft. E ficavam pasmados com o que viam. Numa outra carta, Leeuwenhoek escreveu:
"Vieram várias damas a minha casa, ansiosas para ver as pequenas enguias no vinagre, mas algumas ficavam tão enojadas com o espetáculo que juravam nunca mais usar vinagre. E se alguém contasse a essas pessoas no futuro que há mais dessas criaturas nos resíduos dos dentes da boca de um homem do que o total de homens de todo um reino? Especialmente naqueles que nunca limpam os dentes".
Leeuwenhoek e os microscopistas que vieram depois dele descreveram os diferentes tipos de seres que existem nesse mundo em miniatura. Havia os bastões curtos, finos e retos, que chamaram de bacilos, as pequeninas vírgulas conhecidas como vibriões, os longos filamentos espiralados chamados de espírilas, e sucessões de pequenas contas de nome cocos. Algumas criaturas eram incapazes de se movimentar por si próprias e apenas se deixavam levar; outras tinham pequeninos apêndices que funcionavam como remos para impulsioná-las. Aquelas que eram longas espirais podiam mover-se em rodopio, como se fossem um parafuso. Algumas deslizavam, exsudando numa direção ou em outra.
Logo os cientistas viram que havia dois tipos distintos dessas criaturas unicelulares. Um deles é pequeno e simples. Seu interior parece não apresentar qualquer organização. Centenas cabem na ponta de um alfinete. Micróbios dessa natureza incluem as bactérias, algumas das quais infectam pessoas. O outro tipo é um pouco maior e muito mais complexo. Dentro dele existem minúsculas estruturas, como os órgãos do nosso corpo. Entre essas criaturas mais complexas estão os protozoários, que ao infectarem pessoas ou outros organismos são chamados de parasitas.
Outro pequenino agente infeccioso, o vírus, foi ainda mais difícil de descobrir do que as criaturas de Leeuwenhoek. Os vírus nem sequer chegam a ser uma célula; não passam de um projeto para se auto-reproduzir encapsulado num envoltório de proteína. Sozinho um vírus nada pode fazer, mas dentro de uma célula onde sua mensagem é "lida", pode fazer com que ela siga suas ordens. A varíola e a Aids são causadas por vírus. Essas estruturas são tão pequenas que milhões podem ocupar a cabeça de um alfinete. Tornaram-se visíveis apenas no século XX, após a invenção de um microscópio que usava elétrons em vez de luz. Na década de 1930, os cientistas descobriram meios de utilizar feixes de partículas eletricamente carregadas, chamadas elétrons, para interagirem com objetos minúsculos, de modo que nos permitisse ver suas formas.
Depois que os seres humanos puderam ver as criaturas existentes em resíduos nos dentes, persistiram algumas perguntas: o que esses pequeninos seres vivos, os micróbios, fazem, e de onde vêm? Muita gente insistia em que eles simplesmente se desenvolviam a partir do material que havia no próprio dente. Imaginavam que, reunidos os ingredientes certos, essas minúsculas criaturas se formariam, especialmente se as coisas começassem a apodrecer. Deixe um pedaço de carne exposto por alguns dias e, para nossa surpresa, aparecerão pequenas larvas brancas. O mesmo acontece, dizem, com a água parada, ou com pedaços de comida que ficam em nossos dentes. Depois de algum tempo, pequeninas criaturas desenvolvem-se a partir da matéria em putrefação. Outros, porém, argumentavam que, uma vez que essas pequenas larvas brancas da carne transformavam-se em moscas, elas não vinham na carne em decomposição, mas das moscas que depositavam seus ovos na carne. E as minúsculas criaturas nos resíduos de nossos dentes também vieram de algum outro lugar, talvez do alimento ingerido ou do ar que respiramos. Afinal de contas, Leeuwenhoek tinha visto pequenas criaturas praticamente em toda parte. Nenhuma forma de vida se desenvolve de coisas que não são vivas, argumentavam essas pessoas, e aqueles pequeninos seres simplesmente seriam gerados por outros pequeninos seres.
Esse argumento continuou a ser formulado por alguns séculos, até que alguns experimentos finalmente convenceram a todos. Os mais importantes foram as descobertas realizadas pelo cientista francês Louis Pasteur, no século XIX. Pasteur provou que os micróbios apareciam numa solução somente depois de esta ser exposta ao ar infestado dessas criaturas. Pasteur também estabeleceu que se podia garantir que não havia micróbios numa solução, aquecendo-a a uma temperatura suficientemente alta. Em altas temperaturas, todos os micróbios presentes numa jarra de água, por exemplo, morreriam. Se a jarra fosse vedada, de modo que nenhum micróbio pudesse entrar, permaneceria estéril, ou seja, livre de micróbio. Agora restava apenas vincular a existência dessas criaturas invisíveis à irritação da garganta de uma pessoa para provar que, entre o turbilhão de micróbios que podiam ser encontrados dentro da boca de alguém, a maioria inofensiva, havia determinado microrganismo que causava doença. Isso foi feito pelo cientista alemão Robert Koch, contemporâneo de Pasteur. Koch foi o primeiro cientista a provar que uma determinada criatura microscópica causava doença. Em 1876, descobriu o germe causador do carbúnculo, uma doença que atingia principalmente as ovelhas, o gado e outros animais. Para tanto, Koch teve que descobrir como isolar um determinado tipo dessas criaturas das demais que habitam uma pessoa doente, cultivar essa criatura, e só ela, em seu laboratório e depois inoculá-la em um animal, para ele contrair a doença.
Os esforços de Koch e Pasteur revolucionaram nosso conhecimento sobre as doenças infecciosas. Enquanto, em 1799, a causa da morte de Washington era um mistério, no final do século seguinte, em apenas cem anos, os micróbios causadores de difteria, tétano, peste, botulismo, cólera, tuberculose, lepra, febre tifóide e malária, além de alguns tipos de pneumonia, disenteria e meningite, tinham todos sido identificados. Os seres humanos agora sabiam que compartilhavam a terra com minúsculos gigantes que, apesar de pequenos, podiam assumir o controle de uma vida humana. Uma vez que os micróbios portadores de doenças haviam sido descobertos, começaríamos a encontrar meios de controlá-los. Isso não foi tão fácil quanto esperávamos.Neste livro, você vai ler sobre a varíola e a lepra, doenças que parecem ter sido mais ou menos eliminadas por meio ou apesar dos esforços humanos. Vai conhecer a malária e a tuberculose, doenças que não mais perturbam os ricos, mas continuam a causar grande sofrimento em milhões de pessoas. E, por fim, vai ler sobre a Aids, que os melhores esforços da medicina ainda não podem conter. Com tudo o que aprendemos nos dois últimos séculos, George Washington provavelmente teria sobrevivido à sua irritação na garganta, mas a batalha contra as doenças está longe de terminar.
A descoberta e identificação desses micróbios dão uma resposta definitiva sobre as causas de muitas doenças infecciosas e ensinam como combater algumas delas. Contudo, elas ainda continuam assustadoras e misteriosas: dizer que nossa vida foi completamente mudada só por causa de uma infecção por micróbios não é uma resposta satisfatória. Queremos saber, por que eu? Ou, se nossa irmã ou nosso irmão está doente, por que não eu? Por que os ponteiros de nosso relógio têm que parar na hora que eles querem? Para esse mistério não temos uma resposta melhor do que a dos médicos de Washington, dois séculos atrás.
FARREL, Jeanette. A Assustadora História das Pestes & Epidemias. São Paulo: Editora Prestigio, 2003.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Atividades com imagens - pré-história

ATIVIDADES COM IMAGENS

1) Observe as imagens abaixo e responda:

Imagem 1

Imagem 2

a) Que ideias estão representadas na imagem 1?

b) Como se deu a evolução dos hominídeos de acordo com a imagem 2?

c) Qual das duas está mais correta do ponto de vista da evolução dos seres humanos? Por que?


Imagem 3

d) De acordo com a história em quadrinhos da imagem 3, como eram os homens primitivos?

e) Há algum erro na imagem 3? Qual?


Imagem 4

f) Que diferenças você percebe nos crânios representados na imagem 4?


Fonte das imagens: 1, 2 e 3: CARDOSO, Oldimar. Tudo é História – História Antiga e Medieval. São Paulo: Editora Ática, 2006
Fonte da imagem 4:
http://www.infovisual.info/03/019_en.html (modificada)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Texto e atividade - Renascimento


“No presente, o homem se faz através da posse da razão. Se as árvores e bestas selvagens crescem, os homens, creia-me, moldam-se. (...) A natureza, ao dar-vos um filho, vos presenteia com uma criatura rude, sem forma, a qual deveis moldar para que se converta em um homem de verdade. Se este ser moldado se descuidar, continuareis tendo um animal; se, ao contrário, ele se realiza com sabedoria, eu poderia quase dizer que resultaria em um ser semelhante a Deus.”

Erasmo de Rotterdam. Reproduzido de Van Acker, T. Renascimento e Humanismo. São Paulo: Atual, 1992. p. 32-3.

A idéia central desse trecho, escrito pelo humanista holandês Erasmo de Rotterdam, em 1529, é que “o homem se faz através da posse da razão”. Segundo o autor, como se adquire a razão? Você concorda com isso?

Esse texto e a atividade que o segue foram extraídos de RODRIGUE, Joelza Ester. História em Documento – Imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Itacoatiaras

A arte rupestre brasileira ganhou uma análise inteligente e interessante na obra de Luiz Galdino (Itacoatiaras. Uma pré-história da arte no Brasil. São Paulo, Editora Rios, 1988). O trabalho começa com um resumo bibliográfico daquilo que se escreveu sobre elas, desde os cronistas coloniais até os cientistas do século XIX, passando pelos religiosos de diversas denominações que com elas travaram contato. Essas impressões podem ser usadas nas aulas de história, pois tem o potencial de demonstrar a variação das mentalidades ao longo do tempo, simultaneamente à exposição sobre este tipo de manifestação pré-histórica. Posto abaixo texto produzido a partir da obra supracitada.


Itacoatiara é palavra que na língua dos índios significa pedra pintada, pedra marcada, pedra escrita. São conjuntos de pinturas e insculturas produzidas em tempos imemoriais, pelos habitantes mais antigos do Brasil. Estão presentes em todos os territórios do país, e foram produzidas por diversos grupos, que empregaram variadas técnicas e temas.

O primeiro relato escrito sobre as itacoatiaras pertence a Brandônio, que viveu no século XVI. Eis o que ele escreveu:

“Relatou-me por coisa verdadeira que, andando Feliciano Coelho de Carvalho, capitão-mór que foi da dita Capitania (Pernambuco), pela mesma serra, fazendo guerra ao índio potiguar, aos 29 dias do ano de 1598, se achara junto a um rio chamado Araçuagipe que, por ir então seco, demonstrava somente alguns poços de água, que o calor do verão não tinha ainda gastado, e que alguns soldados, que foram por ele abaixo, toparam nas suas fraldas, com uma cova, da banda do poente, composta de três pedras, que estavam conjuntas umas com as outras, capaz de se poderem recolher dentro quinze homens; a qual cova tinha de alto, para banda do sol nascente, de sete a oito palmos e ali, por toda a redondeza que fazia a face da pedra se achavam umas molduras, que demonstravam, na sua composição, serem feitas artificialmente.
Primeiramente à banda do poente dessa cova, na face mais alta dela, estavam cinqüenta mossas todas conjuntas, que tomavam princípio de baixo para cima de um tamanho, que semelhavam no modo com que estavam arrumadas o que se pinta por retablos o rosário de Nossa Senhora; e no cabo dessas mossas, se formava uma moldura de rosa dessa maneira:_____________. E é de se advertir que os mais dos caracteres, que se demonstravam nessa cova se arrumavam da banda do poente, aonde da parte da direita das cinqüenta mossas, em um cotovelo que a pedra fazia, se mostravam outras trinta e seis mossas, como as demais; das quais nove delas corriam de comprido para cima, e as outras tomavam através contra a mão esquerda, em cima delas todas estava outra rosa, como a primeira que tenho pintado; e logo, um pouco mais abaixo, estava outra semelhante rosa e junto dela um sinal que parecia caveira de defunto, e logo, contra a mão esquerda, se formavam doze mossas semelhantes às demais e no alto delas, que era conjunto às cinqüenta primeiras, pareciam uns sinais de modo de caveiras, e da banda direita do cotovelo estava uma cruz e logo, para a banda da esquerda, na face da pedra, se demonstravam, em seis partes, cinquenta mossas.
Em uma das partes estava uma rosa mal clara, porque parecia estar gastada pelo tempo, e logo adiante estavam outras nove mossas semelhantes às primeiras, e, por toda redondeza da cova, se viam pintadas outras seis rosas, e na pedra, que se assentava em meio das duas, estavam vinte e cinco sinais ou caracteres que abaixo debuxarei, divididos em três partes, com mais três rosas que o acompanhavam.
O que de tudo era de mais consideração, era o estar sobre duas pedras muito grandes, uma que botava a borda sobre as outras arcadamente, com estarem tão juntas, que por nenhuma parte davam lugar a se meter por elas o braço. E na pedra de mais baixo da cova pareciam doze mossas da própria maneira das que temos mostrado e no meio delas se formava um círculo redondo dessa qualidade:____ com mais uma rosa, pintada perfeitamente; e é de se notar que todas as rosas eram de uma maneira, exceto uma que tinha doze folhas com a do meio. E pela redondeza dessa cova estavam molduras que tenho dito ou caracteres que se formavam na maneira seguinte:______. Estes caracteres todos nos deram debuxados na forma que aqui vo-lôs demonstro.”


Os religiosos tinham uma relação dúbia com as Itacoatiaras. Aos jesuítas os índios explicaram que elas eram obras de Sumé, um herói mitológico tupi. Os jesuítas trataram de identificar Sumé com São Tomé, criando a lenda da peregrinação desse santo apóstolo pelas terras do Brasil, tendo em mira facilitar a catequese. Outras ordens religiosas, como os capuchinhos franceses, trataram os mitos e a cultura indígena com respeito maior, tentando compreendê-la.

Os naturalistas do século XIX e início do XX desenvolveram interpretações diferentes a respeita das itacoatiaras, que podem ser agrupadas em duas categorias: alguns, como Wilhelm Lund, diminuíam a importância das obras, tratando-as como expressões de uma cultura bárbara, inferior e incivilizada. Nas palavras dele: “os selvagens nômades da tribo dos Caiapós, segundo penso, ali fixaram residência e acharam abrigo nas grutas, sob as abóbadas deste imenso rochedo. Entusiasmados pela beleza da paisagem circunvizinha, ensaiaram representar os objetos que mais lhe davam na vista. O pé do rochedo está coberto de seus desenhos, que tão primitivos quanto a imaginação que guiou as mãos de seus autores, nem por isso interessa menos ao filósofo que deseje conhecer as produções do espírito no seu mais baixo grau de desenvolvimento.” Outros, como Paul Ehrenreich, conferiam valor a essas manifestações: “contudo, não devemos considerar estes litógrafos como simples desporto sem significação, executados em horas de ócio, porquanto, atento aos primitivos instrumentos indígenas, devem ter exigido extraordinário dispêndio de tempo e de trabalho.”

Finalmente, há aqueles que vêem nas itacoatiaras provas que fundamentam suas teorias disparatadas. Bernardo da Silva Ramos afirmou que os caracteres presentes nelas eram de origem fenícia. Para Alfredo Brandão, eram os componentes de uma “escrita-mãe”, sistema ancestral de escrita do qual todos os outros teriam se ramificado. O engenheiro Appolinário Frott, mais ousado, declarava ter descoberto nos escritos do norte do Amazonas a explicação para a “misteriosa” origem dos egípcios. Nos tempos mais recentes, as itacoatiaras tem sido vistas por alguns como sinais da presença extraterrestre no Brasil pré-cabralino.

Fontes:
BRANDÔNIO, (Anônimo) – Diálogo das Grandezas do Brasil – Edições Melhoramentos/INL, São Paulo, 1977.
GALDINO, Luiz. Itacoatiaras. Uma pré-história da arte no Brasil. São Paulo, Editora Rios, 1988.


Textos - Surgimento e evolução dos hominídeos

I . À procura de nossa origem

Há dezenas de anos, os cientistas têm pesquisado sobre a origem do ser humano. Encontraram muitos fósseis de ancestrais humanos. Os mais antigos foram descobertos na África, o que sugere que o homem originou-se neste continente.
Na África foram descobertas ossadas aparentemente humanas datando de milhões de anos. São pedaços de crânios, maxilares, dentes e fêmures. Estudando-os, os cientistas perceberam que eles pertenceram a diferentes tipos de seres. Por serem semelhantes ao homem, deram-lhes o nome genérico de hominídeos. Todos eles eram bípedes, quer dizer, andavam apoiando-se somente nas pernas. Atualmente, os hominídeos são classificados em dois gêneros: Australopithecus e Homo.
O Australopithecus é o nosso mais antigo ancestral. Vivia na parte sul e oriental da África, há cerca de 1,5 a 5,5 milhões de anos, agrupado em pequenos núcleos familiares.
De longe, os Australopthecus pareciam macacos. Eram pequenos: o adulto media cerca de 1,20 m de altura e pesava uns 30 kg. Alimentavam-se basicamente de vegetais. Não fabricavam nenhuma ferramenta e, por isso, não foram considerados humanos pelos cientistas. Mas distinguem-se dos macacos por uma única diferença decisiva: ficavam de pé sobre as patas traseiras e usavam as mãos e pedras brutas para arrancar raízes ou quebrar frutas de cascas duras, por exemplo.
O andar ereto e a habilidade manual contribuíram para o desenvolvimento cerebral e para a sobrevivência dos hominídeos. Eles tinham a capacidade de usar simultaneamente os membros inferiores (pernas) e os superiores (braços) para carregar alimentos e mover-se rapidamente. Com isso, podiam, por exemplo, levar alimentos para os companheiros.
A mais conhecida ossada de Australopithecus foi encontrada em 1974 na Etiópia. Ela tinha 3,5 milhões de anos. Era uma fêmea adulta e recebeu o nome de Lucy em referência à música dos Beatles “Lucy in the Sky with Diamonds”, o maior sucesso da época.
Não se sabe exatamente por que os Australopithecus desapareceram. Mas, centenas de milhares de anos antes disso acontecer, surgiu outro gênero de hominídeo: O Homo.

II. O hominídeo tornou-se humano

O Homo tem inteligência, isto é, tem capacidade de raciocinar, de fabricar utensílios, de articular uma linguagem e de se comunicar. Mas estas capacidades foram surgindo aos poucos. Os cientistas constataram que o gênero Homo dividiu-se em quatro espécies distintas (nós pertencemos a uma delas), sendo que uma não gerou a outra e algumas delas podem ter convivido entre si em curtos períodos de tempo. Forma elas:
Homo habilis - o “homem habilidoso” fabricava toscas peças de pedra para usar como ferramentas e arma. Esta habilidade manual deve estar relacionada ao aumento do tamanho do cérebro. Com as armas de que dispunha, conseguia caçar pequenos animais. Disputava com as hienas e os abutres a carne de animais maiores, comendo-a crua, pois conhecia mas não dominava o fogo. Seus restos forma encontrados na África, onde ele viveu há cerca de 1,5 a 2,4 milhões de anos;
Homo erectus – o “homem ereto” possuía a cabeça e a coluna vertebral perfeitamente alinhadas, como o homem moderno. Talhava melhor a pedra e fazia diferentes tipos de instrumentos. O controle do fogo foi sua maior conquista. Organizava-se em grupo para caçar animais de grande porte, como mamutes, cavalos e rinocerontes. O alimento era distribuído entre os membros do grupo. Estas atividades requeriam uma capacidade de comunicação verbal que ele provavelmente possuía. Viveu há cerca de 1,3 milhão de anos;
Homo sapiens neanderthalensis – sua aparência física era muito semelhante à nossa. Sabia produzir fogo, vivia em comunidade, fabricava instrumentos de pedra, de osso e de madeira e decorava-os com figuras de animais entalhadas. Foi o primeiro hominídeo a enterrar seus mortos e o fazia com rituais e oferendas. Viveu há cerca de 40 mil a 200 mil anos. No final de sua existência, foi contemporâneo do homem moderno. Deconhecem-se as razões de seu desaparecimento.
Homo sapiens sapiens – é o homem moderno de cuja espécie descendemos. Ele surgiu há 100 mil anos e é o único hominídeo existente na Terra hoje. Tinha todas as habilidades dos hominídeos anteriores, mas sua maior conquista foi a capacidade de se expressar através de pinturas, desenhos e esculturas. Este foi um passo importante para uma grande invenção: a escrita. Mas ela demoraria ainda muitos milênios para acontecer.
Fonte: RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento. Imagem e Texto. FTD: São Paulo, 2002.