terça-feira, 29 de julho de 2025

Exegese do método filosófico escrotológico-hidráulico-progressivo ou carvalho-escrotismo: excurso às profundezas perineais do pensamento contemporâneo

Prof. COSME MESSIAS Lente do Colégio-Internato para Rapazes D. Botelho Pinto

Olavo de Carvalho, doravante referido apenas como o Guru, Guia, Iluminado, Escroto-Pensador ou Escroto-Mor, é fundador do método filosófico escrotológico-hidráulico-progressivo, que consiste no aproveitamento dos estímulos perineais na geração de pensamentos (torpes) que levam à palavra (chula). Admoestado pela necessidade de livrar testículos e epidídimos de uma opressora carga cumulativa, o filósofo escrotológico-hidráulico-progressivo converte a ejaculação ordinária em uma torrente que encontra sua extrusão final pela via oral ou pelas extremidades dáctilas (a depender da ocasião e do meio de que se serve para realizar seu intento). 

O praticante do método demonstra desapego por outras formas de efetivar a ação excretora-escrotal e pretere outras possibilidades – como a autossatisfação manual (descartarmos de saída qualquer hipótese que dependa de terceiros, com exceção de situações que envolvam o estímulo pela pecúnia e estupefacientes e/ou ações não-consensuais, que apresentam a clara desvantagem de serem condenadas pela moral ou pela lei, sem falar nos custos cada vez mais elevados em tempos de inflação quando ninguém mais quer trabalhar por causa do Bolsa Família). 

O método filosófico escrotológico-hidráulico-progressivo conta atualmente com apenas um praticante, que é também seu desenvolvedor autodidata. Não faltam aspirantes a discípulos desta doutrina, mas sua profunda complexidade tem contribuído para o isolamento de seu Guru, que é o único até agora capaz de reunir o poder fisiológico-perineal essencial para o bom funcionamento do método. A despeito da ausência de outros cérebros tão escrotalmente dotados quanto o do fundador, a doutrina já vem constituindo-se numa escola, e alguns críticos já se referem a ela pela denominação de carvalho-escrotismo.

Estudiosos do método revelam-se espantados frente à constatação de que todo o edifício filosófico erigido pelo método filosófico escrotológico-hidráulico-progressivo foi levantado e se sustenta sobre o frágil papel jornal, suporte que veicula as fontes da sabedoria filosófica de que se serve seu criador. O doutrinador autodidata, num raro gesto de condescendência, facultou aos mortais um vislumbre do misterioso processo de gênese de seu raciocínio – ou, como preferem alguns especialistas em fisiologia escroto-cerebral, escroticínio. Deixemos que o próprio Guia nos ilumine com sua Palavra ungida:

"Levado por algum demônio oculto, meu cérebro se tornara cada vez mais atento e sensível às tolices irritantes que em doses cada vez maiores eu encontrava nos jornais, ditas por homens de letras nesta parte obscura do mundo, e das quais o anjo bom, movido pelos cuidados que lhe inspirava o alarmante inchaço do meu saco escrotal, me aconselhava em vão guardar a máxima distância e devotá-las a um merecido esquecimento".

Note-se que este trecho da Palavra demonstra outro elemento primordial dessa intrincada alquimia que compõe a filosofia carvalho-escrotista: a presença do sobrenatural. Na mesma sentença iluminada, o grande Guru arrola demônios e anjos como atores indispensáveis ao bom processo de escroticínio. Que o interessado em desvendar a Santa Doutrina do elevado Guru não perca de vista esse fato: ainda que o pensamento carvalho-escrotista inicie-se nas mais baixas áreas (pudendas) do magnífico corpo do Iluminado, ele atingirá, em seu esplendor máximo, as esferas do divino. O pilar central do pensamento carvalho-escrotista encontra-se nas regiões etéreas do oculto, do invisível, do intangível, infensas ao escrutínio da ciência, mas ao alcance do escrotínio carvalhista. 


Tome-se como exemplo da importância do sobrenatural ao carvalho-escrotismo a forma brilhante com que o elevado Guru desvencilhou-se do espinhoso tema dos universais. Em poucos parágrafos - porque os adeptos não toleram nenhuma leitura que não possa ser executada entre duas mensagens - o guru fulminou as três posições possíveis a respeito do tema a que chegaram as mentes humanas em milênios de elucubrações (reles mentes, faltava a elas o impulso escrotal). Não, ensina o mestre, não nos serve nem o “relativismo cético” – que “destrói todo conhecimento, ao negar os universais”, nem o “relativismo científico” – que procura os universais mas confessa ainda não os ter encontrado – e muito menos o “relativismo ‘politicamente correto’” – que prega a criação dos universais “pela persuasão e pela atividade política, o que é o mesmo que reduzi-los a mentiras socialmente úteis”. 

(Este último, aliás, revela-se arqui-inimigo principal da escola carvalho-escrotista: é justamente o consenso construído na esfera pública do debate, da argumentação e do compromisso o alvo principal da filosofia escroto-perineal. O Guru revela profunda ojeriza a esse tipo de composição, a que chama de ideologia, doutrina ou “imbecil coletivo”, porque, segundo sua mais destilada sabedoria, o resultado do processo culmina na construção do “mínimo divisor comum mental”. O elevado filósofo considera tóxico este elemento, pela sua capacidade de aniquilar o pensamento individual – ainda que de natureza escroto-perineal). 


O profundo Guru desfaz o nó górdio dos universais com uma estocada certeira em que se sente o impulso profundo das vibrações de seu períneo: os universais existem, indiscutivelmente, e a prova disto está na “perfeita homogeneidade das estruturas e conteúdos da experiência mística” entre povos distantes no tempo e no espaço. O sobrenatural, portanto, prova-se real porque os vestígios do contato com ele se repetem entre povos que não os poderiam ter adquirido de outra forma, senão no próprio contato com o sobrenatural (perdoem-me a tautologia, juro que não é minha). 


Infelizmente, a calamidade alada esquelética hedionda nos privou dos desenvolvimentos que o carvalho-escrotismo certamente traria nesses tempos tão sombrios. Nosso Guru não teve a felicidade de ver alguns de seus para-seguidores mais audazes atingirem os píncaros do poder e da glória. Ele estaria seguramente confortável nesses tempos de pós-verdade e pós-vergonha. Seus universais, forjados ao sabor do momento e das necessidades do cliente eventual, seriam um enorme lastro para que pudéssemos conduzir-nos em meio a essa enxurrada de informações equívocas que nos circunda. Resta-nos, ao menos, o consolo de saber que Ele já não fuma há mais de três anos. Essa vitória, sobretudo, nos resta... Avohai, grande Guru! Que vosso períneo encantado o conduza às imensidões escróticas do infinito!