sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Na Praça da Figueira
Há na Praça da Figueira,
entre os vários vendedores, 
diversos que na verdade, 
são da praça da cidade 
os verdadeiros senhores.
Verbo et gratia... a mãe Vicência... 
rechonchuda, toda enxuta, 
que tem o lugar de fruta
todo belo... o principal:
fornece à casa real, 
conselheiros e barões, 
chefes de repartições
e todo bicho graúdo! 
Ela vai ali vendo de tudo, 
risonha a cara matrona, 
de sobre a sua poltrona, 
entre mil maçãs e flores, 
peixes n’água nadadores, 
ananases e bananas, 
vai vendendo aos ratazanas, 
com lábia estudada e fina, 
a Laranja de Setúbal 
lá por laranja da China. 
O seu lugar tem vidraças 
e à porta prazenteira, 
uma velha cacatua, 
que ora passeia na rua, 
ora à porta se empoleira. 
Também possui uma pega, 
como preso da galé, 
porque veio a dita pega 
de grilheta no seu pé. 
Há na Praça da Figueira 
muita soma de peixeira 
mas a fidalguia inteira 
se quer marisco esquisito 
lagosta de nova raça 
lagostim ou a centóia 
peixe estimado na praça, 
ei-la buscando-o lampeira 
no lugar do nédio e gordo 
João Henrique da Silveira. 
Do lado daquela rua 
(da velha e antiga rua) 
que se chama do Amparo 
há o lugar ancião 
deste tipo maganão, 
do senhor Passarinheiro, 
que por bem pouco dinheiro, 
(mentiras aqui não prega 
eu cá nunca as prego, não),
nos vende à gente bem cego, 
um infeliz tentilhão! 
Ao lado é assaz notória 
a bela tia Vitória, 
que tem grilos num caixote, 
lá se ostenta de seu xale 
sem nunca usar de capote. 
Açougue também lá há, 
todos de luxo e casaca, 
que vendem carne de boi 
sempre por carne de vaca. 
Naquela rua das frutas, 
onde se escutam mil graças, 
tu lá vês, caro leitor, 
D. Maria das passas 
que tem sempre todo o ano, 
azeitonas a primor, 
e sobremesas das finas; 
e do mais fino sabor.
Vou findar, e ora dedico, 
estes meus versos ratões, 
às vendeiras da praça, 
e mais aos seus vendilhões. 
Luiz de Araújo
Publicador Maranhense
18 de janeiro de 1871
