segunda-feira, 9 de maio de 2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Vocabulário alcantarense-paulista

Bogue – pancada

Lapada – despesa alta, evento dispendioso

Qualira – homossexual

Troíra – lagartixa

Banana d’água - Banana nanica (passei seis meses sem comer banana nanica até descobrir isso...)

Pescar - colar na prova

Farda – uniforme escolar

Blusão – camiseta

Pão de massa grossa – Pão francês

Pão de massa fina – Pão de leite

Pastel – salgado frito, de massa grossa, sem similar em São Paulo

Grade de cerveja – engradado ou caixa de cerveja

Calazar – leishmaniose

Madeira – pênis

Xiri - vagina

He-hem – sim, interjeição de concordância, ou http://conhecimentopratico.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/25/artigo185982-1.asp

Na hora – “tudo bem”, também usado como resposta a “obrigado”

Terminou – acabou. Ex. “Tem pão?” “Não, já terminou...”

Titia – professora

Piquena (o) – menina (o)

Praga – pernilongo

Fuleiro – de qualidade inferior

Égua! – interjeição de espanto. Ex. Égua, que calor!

Esbandalhar – quebrar, danificar

Espoletado – irritado

Amostrar – mostrar, exibir

Ê - interjeição equivalente a "oi"

domingo, 17 de abril de 2011

sábado, 2 de abril de 2011

Publicação e consumo de quadrinhos no Brasil 1985-1995

Um cidadão que entrasse numa banca de revistas qualquer, no intervalo de tempo que vai da segunda metade dos anos oitenta até a mesma altura dos anos 1990, encontraria a sua disposição uma quantidade farta de quadrinhos, de todos os gêneros, origens e feitios. Por pouco dinheiro, poderia levar consigo belos quadrinhos de terror – mesclados com uma pitada generosa de erotismo - de revistas como “Cripta”, “Calafrio” e congêneres, todas escritas e ilustradas por artistas brasileiros. Se o gênero não agradasse, podia escolher um entre os muitos títulos de revistas que traziam arte “autoral” de brasileiros: Geraldão, do saudoso Glauco Villas Boas, “Chiclete com Banana”, best-seller de Arnaldo Angeli, “Piratas do Tietê” ou “Striptiras”, que traziam a arte primorosa de Laerte Coutinho, a engraçadíssima “Níquel Náusea”, do impagável Fernando Gonsales, Big Bang Bang, de Adão Iturrusgarai, e uma infinidade de outros títulos; havia ainda as multiautorais “Circo”,”Canalha”, “Mega”, “Udigrudi” e muitas outras. Mesmo as revistas de autor citadas acima abriam espaço para colaborações, colocando o leitor em contato com trabalhos de Newton Foot, Negreiros, André Toral, Spacca, Marcatti, Schiavon, Luis Gê, Pelicano, e muitos outros.

Estas publicações de periodicidade incerta, na maioria empreendimentos independentes de pequenas editoras, quixotescamente se aproveitavam de confluências favoráveis para abrirem um amplo espaço para toda uma geração de artistas, ligando-os a um ávido público leitor. Junto a estas, na mesma banca de revistas, poderiam ser encontradas publicações que traziam o melhor do quadrinho internacional, especialmente o europeu e norte-americano, editado pelos brasileiros sortudos o bastante para não só serem capazes de compreender outras línguas em um país de iletrados, mas também de poderem estender um periscópio investigativo em viagens internacionais e se ligarem em uma rede mundial de admiradores da “nona arte”. Numa época em que a informática era coisa de filme de ficção científica, era um feito e tanto. A imponente “Animal” introduziu para o público maior artistas como Vuilleman, Tamburini e Liberatore, Andrea Pazienza; a semipirata “Porrada” trazia Horácio Altuna, Moebius, Crumb... As editoras maiores, como Globo e Abril, também sintonizaram-se com a onda de quadrinhos e editaram obras primas em formato mais bem acabado – ainda que mais caro: Miguelanxo Prado, Arno, Katsuhiro Otomo, Jano. A editora Abril tinha, inclusive, uma linha só para quadrinhos de alto nível, reunida sob o título “Graphic Novel”.

É bom que se diga que, além de quadrinhos, estas publicações traziam também textos, reportagens e informações que ajudavam a furar o esquema conservador de transmissão de dados das grandes redes de informação, comprometidas com valores tradicionais e mercantis... Algumas inclusive desenvolveram seções especiais, apêndices para este tipo de informações como o “Jam” da Chiclete e o “Mau” (Feio, sujo e malvado) da Animal. Ali o brasileiro – que via o mundo apenas pelo filtro da Rede Globo, do Estadão e da Veja - podia aprender a história da Contracultura, podia conhecer por dentro os “squats” europeus e seu ethos anarquista, e podia, afinal, ter acesso a uma interpretação dos fatos menos compromissada com a manutenção do status quo e mais irreverente.

Some-se a essa fartura editorial o grande universo subterrâneo dos fanzines, modalidade que democratizou o acesso à publicação, transgredindo e subvertendo os papéis de leitor, editor e autor. A rede de fanzines usava o serviço dos Correios para se estender país afora, num processo que se autoalimentava. A divulgação de novos quadrinistas foi grande ali, e mais de uma banda que depois atingiu o sucesso radiofônico rompeu o anonimato por meio deles. Uma vertente bastante fértil de fanzines se dedicava à crítica musical, alimentando a distribuição de fitas K7 com trabalhos originais que seguia o mesmo esquema de distribuição das publicações.

Aos poucos, na segunda metade da década de 1990, a disponibilidade de quadrinhos nas bancas começou a dar sinais de que minguava. Os títulos sumiam, um a um, mês a mês. Os sebos ainda mantiveram a circulação das revistas por alguns anos, o que mascarou, para os que testemunharam o processo, o declínio da publicação de revistas de quadrinhos. Só quando os sebos mostraram-se finalmente esvaziados dos títulos tão apreciados é que se percebeu que o movimento havia morrido: os quadrinhos, nas bancas de revista, se retraíram para o nicho infantil, o único público que ainda viabiliza algum movimento. Aqueles autores brasileiros e estrangeiros que povoaram as prateleiras por dez anos agora só estavam disponíveis nas estantes de grandes livrarias, em álbuns luxuosos – e caríssimos. O prosaico e barato papel jornal dava espaço ao cuchê... Os artistas brasileiros passaram a se dedicar com mais afinco aos seus empregos estáveis em jornais de grande circulação – caso de Angeli, Laerte, Glauco, Adão, etc; ou meteram-se em projetos mais profundos, que envolvem pesquisa e resultam em livros, caso de Spacca, Toral. Ou enveredaram para outras profissões e atividades. Alguns ainda se mantem num esquema independente, mesclado com o mainstream, como Marcatti – que por sinal sempre foi indie, senhor de sua própria offset.

O universo dos fanzines foi irremediavelmente absorvido pela internet...


A forma de consumo de histórias em quadrinhos passou por uma brutal reorganização, fechando-se, elitizando-se, imaterializando-se em bits e bytes... O número de leitores de HQ deve ter declinado muito nesse processo.


(DRC)

quinta-feira, 17 de março de 2011

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

domingo, 23 de janeiro de 2011

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

terça-feira, 18 de janeiro de 2011


ESTUDO DE CASO - O ANTIGO LIXÃO DO BAIRRO ROCIO - IGUAPE





Um exemplo local dos impactos causados pela deposição irracional de resíduos sólidos domésticos pode ser encontrado no Bairro Rocio, em Iguape. Nos limites dessa região, às margens da Rodovia Ivo Zanello (SP – 222), existe um local que durante vários anos foi usado como lixão, e recebeu toneladas de lixo sem qualquer tratamento ou critério. Por todo o perímetro podemos perceber uma grande quantidade de resíduos, mais visivelmente plásticos semi-enterrados no solo. Num dos lotes, pudemos observar um “recorte” no solo, onde o morador pretende instalar manilhas para canalizar um fluxo de água. Observando as camadas de terra à mostra, nota-se uma grande variação de tonalidade do solo, que talvez indique uma contaminação por resíduos de lixo.
Os moradores da região relatam como é viver com um “vizinho” tão incômodo. Tiago de Morais Ribeiro, 20 anos, vive no local desde 1998, e conta que até 4 anos atrás a região ainda recebia lixo da cidade inteira diariamente. Ele mostra plantações de banana e mandioca vizinhas à sua casa, e comenta que as plantas podem estar contaminadas por resíduos do lixo no solo. Observando o pavimento da rua, onde ficam as marcas de passagens de veículos, podemos perceber a presença de uma infinidade de resíduos plásticos oriundos do lixo, que afloram à superfície com o desgaste das rodas de veículos e da chuva.
Vários habitantes dessa região consomem água proveniente de poços. Um deles, Adriano Cruzado, 51, relata que não bebe a água que obtém do poço, porque ela apresenta cheiro forte. Usa o líquido, que retira de um poço semi-artesiano com o uso de uma bomba manual, apenas para lavagem e irrigação. Ele prefere buscar a água que bebe na cidade, em galões. Conta também que quando se mudou para o terreno onde vive, retirou da terra várias camadas de lixo acumulado. Diz também que, para muitas pessoas, ainda existe a cultura de enxergar o local como depósito de lixo. Relata que há cerca de seis meses alguém atirou grande quantidade de restos de peixes (manjubas) e de frutos do mar (caranguejos) no terreno vizinho ao seu, o que ocasionou forte mau cheiro.
O problema do manejo dos resíduos produzidos pela sociedade humana é antigo e complexo. Desde tempos remotos o homem vem lidando com seu lixo de maneira irracional. Arqueólogos que estudam restos de vilarejos da Antiguidade encontram às vezes diversos metros de camadas de lixo soterrando as casas.
Mas, a partir da segunda metade do século passado, a questão se tornou mais grave, já que os avanços na indústria química passaram a gerar um novo tipo de lixo, artificialmente criado pelas mãos humanas, com alto potencial de toxicidade e longo ciclo de degradação.
O exemplo abordado no estudo de caso é bastante ilustrativo. Pelo que pudemos constatar a partir da observação superficial da área e através dos relatos dos moradores, o lixo presente no subsolo da região é um transtorno, e talvez uma ameaça para a saúde das pessoas e do meio ambiente.
Para avaliar o real impacto que este lixão proporciona para o local, seria necessário realizar análises mais detalhadas em amostras de solo, água, plantas e nas pessoas moradoras da região.

COLETA SELETIVA - IGUAPE
ASSOCIAÇÃO DE CATADORES NOVO HORIZONTE DE IGUAPE

A Associação foi fundada em 2002, tendo entrado em funcionamento no dia 22 de setembro daquele ano. De início houve cooperação entre a Associação e órgãos públicos como a Prefeitura Municipal e o Colégio Técnico Agrícola, que trabalharam conscientizando a população sobre a importância da coleta seletiva e dos procedimentos de separação do lixo doméstico.
Atualmente, de acordo com o presidente da Associação, João Amaro da Costa Filho, a entidade trabalha sem respaldo de qualquer outro órgão. Oito pessoas estão ligadas à cooperativa, trabalhando na coleta, triagem e compactação do material reciclável. O lucro obtido com a venda desse material é rateado entre os associados.
João relata a existência de catadores clandestinos, que priorizam apenas a coleta de materiais com alto valor de comércio (como alumínio e papelão), e acabam jogando outros materiais em terrenos baldios e áreas de mata nas bordas da cidade.
A coleta da associação resulta em uma média e 500 a 600 quilos por dia. Nas terças-feiras o trator da entidade percorre 120 km na cidade, coletando 700 quilos de material reciclado. Apenas 120 casas acondicionam apropriadamente o material reciclável. Muitas vezes há a necessidade de separar o material reciclável de lixo orgânico, que são misturados pelos moradores.
Uma vez coletado, o material passa por uma triagem, depois é compactado em uma prensa industrial (a associação possui duas) e então destinado ao comércio. O presidente da associação conta que o material é vendido para empresas em diversas partes do Brasil (Sorocaba, Rio de Janeiro, cidades do Estado de Santa Catarina, entre outras). No final do processo o material é reciclado e reutilizado pelas indústrias. O lixo orgânico incorretamente acondicionado junto com os recicláveis é separado e recolhido pelo serviço de coleta da prefeitura Municipal.
João Amaro revela que o principal problema enfrentado pela cooperativa é a falta de conscientização da população sobre os procedimentos de separação do lixo reciclável. Ele sugere que haja campanhas de divulgação desses procedimentos, assim como a criação de leis que regularizem o descarte do lixo urbano domiciliar e comercial.

Este aqui publiquei em 04/10/2008. A imagem é de minha autoria

Brasilândia - MS



este lobo-guará morreu em 2003, atropelado na estrada que liga as cidade de Brasilândia e Três Lagoas, no MS.

FERNANDO

"Quando eu nasci, com oito meses, nasci com problema nas vistas. A primeira vez que fui passar no médico lá no Hospital das Clínicas fizeram vários exames e os médicos descobriram que no meu olho, eles falaram que eu tinha uma cicatriz no fundo do olho e depois dos exames mandaram colocar um colírio no olho só para endireitar a vista para o olho ficar certo. Fiquei fazendo tratamento e minha mãe ficou procurando escola. Ela veio no Isaías e eles falaram que se não tivesse problema de cabeça tudo bem. Mandaram fazer exame na cabeça e não deu nada, graças a Deus. Entrei na escola com nove anos. O problema nos olhos era estrabismo.
Mais tarde na minha vida eu fiquei traumatizado porque meu pai entrou na bebida. Eu fico sofrendo muito. Hoje ele vive internado, se tornou um alcoólatra e eu sofro muito. Por causa disso o pouco dinheiro que ele ganha da licença não dá. Eu podia viver muito melhor, mas esse problema do meu pai atrapalhou tudo. Eu preciso trabalhar só que até hoje nada achei, está muito difícil arrumar emprego pra poder ajudar em casa.
Meu pai nunca me explicou nada. Comecei a falar com cinco anos, minha mãe achava que eu era mudo. Passava no médico e ele falava que um dia eu ia desenvolver. Cresci e comecei a entender as coisas pouco a pouco e soltei a voz, fui desenvolvendo a fala, fui desenvolvendo com um pouco de dificuldade. Sou muito tímido, tem muita coisa que eu não entendo, eu troco as palavras. Agora eu ajudo minha mãe varrer a casa e lavar o banheiro e depois secar o chão. Ajudo também a lavar a roupa, ponho a roupa no varal e pego um monte de prendedores e ponho um em cada roupa, e a roupa estendida no sol seca mais rápido. A tarde assisto televisão ou pego um livro e começo a ler. Gosto de sair para distrair um pouco, para não pensar muita besteira e refrescar a cabeça. Chego em casa numa boa, janto e visto minha roupa para ficar vestido. Quando chega a noite eu vou para a escola na hora certa. Tem dia que chego atrasado na sala de aula porque chego e os professores já estão passando lição na lousa, começo a copiar a lição da lousa e fico atrasado.
Eu já viajei bastante de ônibus. Fui para Aparecida do Norte, a primeira viagem, e eu achei muito estranha, porque em Aparecida do Norte tem o que eu quiser para comprar. A feira lá é muito grande: tinha quadro de Santo Expedito, vende também uma sanfoninha de brinquedo, vende até violão de time, tinha de tudo quanto é time lá: tinha do São Paulo, do Corinthians, tinha do Santos, tinha do Grêmio, tinha do Palmeiras e tinha do São Caetano. Lá em Aparecida do Norte vende de tudo. Eu andei na feira todinha e depois de andar na feira eu fui entrar na Igreja. Depois da missa o povo saiu para acompanhar a procissão até chegar na outra Igreja. Chegamos lá na outra Igreja tinha um mundão de gente, todo mundo achou banco para sentar, mas eu não achei banco pra eu sentar. Eu tive que ficar de pé, e um bocado de pessoas ficou de pé também. Nós estávamos rezando o Pai Nosso e a Ave Maria e Creio em Deus Pai, e depois foi acabando a missa e na saída da Igreja eu peguei a máquina fotográfica e tirei a foto da Igreja. No outro dia fui revelar e algumas saíram, outras não, quase todas foram queimadas. Tirei foto dentro do ônibus, tirei foto com o meu pai e minha mãe e com duas vizinhas. Nós ficamos dentro do ônibus até chegar a hora do motorista avisar os passageiros para virem todos, mas ficaram faltando pessoas, e só quando todos entraram no ônibus nós fomos embora. Eu cheguei em casa tardão da noite, mais de 11:00h e eu fui dormir. Meu pai tinha saiu do para o trabalho e ficou no serviço até o dia amanhecer, e aí encheu a cara de bebida e ficou lá desmaiado, e caiu um tombo e machucou o rosto todinho e quebrou o queixo. Meu pai estava na UTI, chegamos e os médicos puseram ele numa cama, ele tinha que fazer uma cirurgia e tinha que emendar o osso do queixo. Por causa das pingas e das bebidas. Este é todo o sofrimento da minha vida.
Passou o tempo e as coisas começaram a melhorar um pouquinho. Aquele tempo eu já era grandinho e meu pai tinha um pouco de responsabilidade. Pagava as contas de água e de luz e o imposto foi ele que pagou.
Depois que eu cresci as coisas não ficaram boas pro meu lado. O meu pai voltou para as bebidas, e começou a agredir minha mãe. Não queria saber mais de trabalhar, só queria entrar na bebida. Estas bebidas deixam a cabeça do meu pai atrapalhada. Ele perdeu a carteira de trabalho e teve roubada também uma bicicleta novinha que ele comprou a prestação. De tão bêbado meu pai estava desmiolado da cabeça e os ladrões pegaram a bicicleta nova dele e montaram na garupa e foram embora. Ele chegou em casa sem a bicicleta, roubaram os documentos e foi roubado também um cartão de crédito, e foi tirado o dinheiro do banco. Meu pai tirou também o dinheiro do Banco para ir atrás de beber pinga, e o carteiro foi trazendo cartas que reclamavam de ele tirar o dinheiro. A minha mãe brigou com o meu pai para parar de ficar tirando o dinheiro, mas ele não tomou jeito e não tomou vergonha nesta cara. O homem do banco Nossa Caixa disse que meu pai ficou tirando o dinheiro sem parar, e o gerente reclamou e deu uma bronca no meu pai porque ele só fazia empréstimo no banco e ficou devendo. Agora ele tem pagar só daqui a dois anos, em 2007. Por causa da cagada do meu pai ele agora está ganhando muito pouco, só trezentos reais. Daí em diante as coisas começaram a se complicar, e o gerente teve que chamar minha mãe e reclamar que estavam tirando o dinheiro todo sem chegar o dia de receber. Quando o gerente falou pra ela que estavam tirando o dinheiro sem parar minha mãe ficou admirada e chegou em casa já começou a brigar com ele para parar de tirar dinheiro a russo, de ficar fazendo empréstimo. Ele já começou com a ignorância dele, começou a agredir minha mãe, começou a ficar agressivo, começou a bater a porta e o portão e já correu para o bar atrás de beber pinga. Aí era do bar para casa, já chegava em casa bêbado e desmaiava. A vida do meu pai era só dormir e quando levantava era ir atrás de pinga. A minha mãe não tava mais agüentando essa maldita pinga. Minha mãe falou que se não parasse de beber ela não queria mais morar junto com ele. Minha mãe estava nervosa e perdeu a paciência. Ela foi na advogada reclamar, e contou que meu pai estava agressivo em casa e quebrando tudo dentro de casa, e por causa da ciumeira dele ele quebrou o vidro da janela. Por que a minha mãe foi dar boa tarde para o vizinho o meu pai ficou com ciúme e deu um murro na janela da sala e quebrou o vidro, estuporou o vidro todo, só porque o vizinho passou na rua e deu boa tarde. O meu pai ficou com ciúme e encheu a cara de pinga. Minha mãe brigou com ele e bateu no meu pai, e levou um tapa na boca que até saiu sangue da boca. Pára de ficar destruindo tudo dentro de casa."

Publiquei esta postagem em 31/08/2008

SOBRE CAINGANGUES E A MORTE CULTURAL


Minha terra natal, Araçatuba, era habitada até o começo do século XX pelos índios caingangue, chamados pelos colonizadores de “cabeças coroadas”. A palavra caingangue significa “homem viril superior”, que era como os indivíduos desse grupo se classificavam em relação aos demais. E eles eram realmente fortes e altivos. Pertencentes ao tronco lingüístico Jê, eram guerreiros temidos e treinados nas artes marciais. Usavam tacapes que chegavam a 1,80 m, exigindo grande força para manejar. Seus arcos ultrapassavam os 2,00 m, e as flechas podiam atingir alvos a centenas de metros. Para se ter uma idéia de sua ferocidade, basta saber que a principal diversão dos caingangues eram as lutas entre si mesmos, em que nenhum dos oponentes poderia sair ileso, sob risco de ser ridicularizado pelos demais. Fraturas, concussões e contusões eram comuns.
Quando os primeiros colonizadores brancos chegaram, trazendo as linhas férreas nos primeiros anos do século XX, tentaram estabelecer contato com os caingangue, “pacificá-los” e integrá-los à sociedade civilizada. Essas tentativas foram rechaçadas com violência pelos índios. É bem conhecido triste fim do religioso conhecido como Padre Monsenhor. Em inícios do século XX ele estabeleceu uma missão nas matas da região, e espalhou presentes pela floresta. Quando foi verificar a reação dos índios, percebeu que eles não só ignoraram as ofertas como haviam fincado flechas e tacapes no chão ao redor deles. O Padre Monsenhor percebeu o perigo e tentou fugir pelo rio, mas foi mortalmente ferido com flechadas.
Muitos outros perderam a vida no confronto com os caingangues. Para resolver a situação, foram contratados capitães-do-mato especializados em matar índios, chamados bugreiros. Eles usavam táticas brutais em suas ofensivas. Escolhiam sempre as primeiras horas do dia para ordenar os ataques às tribos, pegando os oponentes de surpresa. Também costumavam espalhar pela floresta roupas e tecidos contaminados com o vírus da varíola, que dizimavam famílias inteiras. Em algumas décadas de combates aguerridos, os “civilizados” finalmente exterminaram os caingangues, pacificando a região e tornando-a apta para o desenvolvimento de seus projetos agro-econômicos. Em Araçatuba, os nomes dos bugreiros mais eficientes foram dados a Escolas, ruas e praças. Nenhuma rua da cidade ganhou o nome de nenhum caingangue. Aliás, os milhares de guerreiros caingangues, que nunca se renderam frente à violência nem se intimidaram com a superioridade dos brancos, viveram e morreram anônimos. Nenhum livro de História pode ostentar seus nomes desconhecidos.
Essa história rende considerações mais profundas sobre nosso cotidiano. Não seriam as escolas a primeira tentativa de “amansar” os “selvagens”, tornando-os aptos a se inserir em nosso empreendimento comercial chamado “sociedade”? Levi-Strauss, que agora completa 100 anos de idade, já desconfiava disso, quando conviveu com os índios brasileiros na década de 1930. Ele percebeu que a introdução da cultura “civilizada” por força das armas ou pela religião, anulava a milenar cultura dos índios, enterrando-a para sempre. É inevitável que eu me pegue a pensar essas coisas em alguma altura de todos os anos letivos. O que garante que aquilo que diariamente insiro no universo mental e cultural dos meus alunos é necessário e útil? Que elementos culturais mato nesse processo? Que direito tenho de julgar e escalonar as coisas e decidir o que é “bom” e o que deve ser excluído? Até que ponto posso ter certeza da validade das coisas que ensino?
Companheiras de trabalho deste professor: a incerteza e a dúvida...

publiquei este texto em 27/11/2008, em outro blog, nos meus tempos de professor...
IMAGEM: museumarechalrondon.blogspot.com

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

domingo, 2 de janeiro de 2011

Bluebird - Bukowsky

há um pássaro azul dentro do meu coração
e ele quer sair
mas eu sou duro com ele
eu digo “fica quieto, eu não vou deixar
ninguém
ver você”

há um pássaro azul dentro do meu coração
e ele quer sair
mas eu o afogo em whisky e o sufoco com
fumaça de cigarro
e as putas, os balconistas do boteco,
os caixas da mercearia
nunca saberão que ele
está lá.

há um pássaro azul dentro do meu coração
e ele quer sair
mas eu sou duro com ele
eu digo “Fica quieto, você quer me complicar?
quer acabar com o meu trabalho?
quer arruinar a venda de meus livros na Europa?”

há um pássaro azul dentro do meu coração
e ele quer sair
mas eu sou esperto, só o deixo sair à noite, às vezes,
quando todo mundo está dormindo.
eu digo “eu sei que você está aí dentro,
então,
não fique triste”.
e então eu o tranco novamente.
mas ele está cantando lá dentro,
eu ainda não consegui matá-lo.
assim nós mantemos em segredo
nosso pacto secreto
e isso é belo o bastante para fazer um homem chorar,
mas eu não choro.
e você?