domingo, 30 de maio de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Governo neoliberal do Estado de São Paulo: piada de mau gosto...


Manchete da Folha de hoje: "SP abandona exigência para contratar professor". Depois de prejudicar mais de 40 mil profissinais e milhões de alunos, o governo de São Paulo recua em suas tentativas de impor a lógica de mercado à educação. Vai contratar mesmo os que foram reprovados em suas "avaliações", vai contratar mesmo os que nem fizeram a prova, vai contratar pedagogos para ministrar disciplinas específicas... O motivo: escassez de professores. São poucos os obstinados que insistem em ganhar pouco, sofrer violências dentro e fora das salas de aula. Os que ainda insistem tem que se submeter a esses exames constrangedores que, do ponto de vista técnico, são mais do que questionáveis. Uma avaliação que não avalia nada, que despreza aspectos essenciais de um bom profissional, focando no saber enciclopédico e na capacidade de seguir as modas pedagógicas.

Na cidade de São Paulo, um indivíduo que possua licenciatura em qualquer área pode encontrar em poucos dias um emprego mais bem remunerado que a docência no estado. Muitos licenciados preferem a informalidade ao regime de trabalho oferecido pelas escolas estaduais...

Esse governo não mostra nada exceto uma sucessão de trapalhadas e medidas contraditórias, irracionais e maldosas. E ainda quer chegar ao controle do país. Estamos quase no meio de 2010 e a pasta da Educação ainda não conseguiu resolver o problema básico de contratação de professores, por conta de sua própria incompetência. E depois, no final do ano, ainda tem a cara de pau de submeter os alunos a provas para detectar o seu nível de aprendizado, e com base nesses resultados pune as escolas. Alunos e escolas que estão sendo prejudicados pelas próprias medidas do governo. O sistema de ensino público do estado de São Paulo funcionaria melhor se esses escalões burocráticos fossem extintos...



segunda-feira, 24 de maio de 2010

Análise de notícias veiculadas no jornal "Folha de São Paulo" sobre a educação


Algumas notícias, veiculadas semana passada, no Jornal Folha de São Paulo: dia 19 de maio divulgou-se o caso de uma professora do RS que receberá uma indenização de R$2.000,00 da família de um aluno que a havia agredido. A professora tentava impedir que o rapaz, que tinha 13 anos na época, atirasse frutos numa colega. Ele então segurou a professora por um braço e deu-lhe repetidos tapas. Abalada, ela teve que se afastar e fazer acompanhamento psicológico.
A especialista em educação Ângela Soligo, da UNICAMP, não concorda com o desfecho da questão. Segundo suas declarações para o jornal, “é complicado quando se criminaliza um conflito no ambiente escolar. Quando se recorre à Justiça, estão dizendo que o problema está fora da escola". Em sua opinião, os pais deveriam ter sido chamados para um “diálogo”.
Dia seguinte, 20 de maio, novo caso noticiado: uma família de Belo Horizonte deverá pagar uma indenização de R$ 8.000,00 a uma colega de escola de seu filho. O rapaz, de idade não revelada, foi condenado por bullying. Segundo o jornal,


o adolescente xingou e ofendeu sua colega, chamando-a de ‘g.e.’, que viria a ser ‘grupo das excluídas’, pelo fato de se relacionar com outras colegas que eram classificadas pelo estudante como ‘lésbicas’. A vítima foi classificada ainda de ‘interesseira’ e ‘prostituta’ por ter começado a namorar um colega mais rico do colégio. Os apelidos e insinuações não cessaram mesmo após os pais da aluna se queixarem à escola.


A escola, acionada judicialmente pela família, foi isentada pela justiça, mas terá que pagar parte das custas judiciais.
Consideradas em conjunto, essas notícias são um bom indicador das condições das escolas atualmente, deixando claro as situações enfrentadas diariamente pelos professores.
Mas o jornal não parou por aí. No dia 23, publicou uma reportagem especial que tinha como chamada “A cada dia, um professor se licencia por dois anos”. O texto discutia a questão dos professores readaptados. No estado de São Paulo, readaptados são professores que, por motivos de saúde, solicitam o afastamento, por dois anos, das salas de aula, passando a desempenhar outras funções na escola. A reportagem se baseou em dados de uma pesquisa feita por Maria de Lourdes de Moraes Pezzuol, ela própria uma professora readaptada que decidiu transformar sua experiência e suas descobertas em dissertação de mestrado. O tom da reportagem, no entanto, é bastante incômodo. Inicia-se o texto da seguinte forma

“O professor de história Carlos, 42, fala sozinho às vezes. Seu coração, conta, dispara sem motivo aparente. "Não conseguia controlar os alunos. Queria passar o conteúdo, poucos me ouviam. Foi me dando uma angústia. Fiquei nervoso." Não era assim. "Eu era bem calmo", afirma, referindo-se ao período anterior a 2004, quando entrou como docente temporário na rede de ensino paulista. Aprovado um ano depois em concurso, foi considerado apto a dar aulas, na zona sul da capital. Passados três anos, obteve uma licença médica, que se renova até hoje, sob o diagnóstico de disforia - ansiedade, depressão e inquietude. Carlos espera nova perícia. Quer se tornar readaptado -situação de servidores com graves problemas de saúde, que ficam ao menos dois anos afastados da sala de aula. Fazem atividades administrativas na secretaria e na biblioteca, por exemplo.”

Mais adiante nessa reportagem o jornal desfia sua opinião através de uma frase do doutor em educação Rudá Ricci, que transcrevo textualmente: “esta geração é muito ativa. O professor se vê frustrado dia a dia por não conseguir a atenção deles". Segundo ele, os professores erram por esperar encontrar alunos “quietos e enfileirados”.

Para finalizar uma sequência de “análises” sobre a educação, a Folha publicou hoje uma matéria que descreve o que seria a solução para o problema. Com o título “Escolas de Nova York têm autonomia para gerenciar verbas e contratar professores”, o jornal descreve o caminho de salvação das escolas do Bronx, em NY: a adoção de um “modelo de negócios para a realidade de um sistema educacional”. Trata-se de dar aos diretores das escolas total liberdade para escolher, demitir, punir e premiar seus professores. Relata-se o caso de uma escola onde o teste de escolha dos profissionais é uma sabatina de 5 horas, onde o diretor avalia não os conhecimentos ou a capacidade do professor, mas sua disposição para aceitar críticas e reorientar seu trabalho, ou seja, obedecer ordens. As escolas que conseguem “melhorar seus índices” recebem bônus, e as que fracassam, são extintas (qualquer semelhança com o sistema em implantação no estado de São Paulo não é mera coincidência). Ressalte-se que esse sistema foi implantado em NY na gestão de Michael Bloomberg, bilionário das telecomunicações. Ou seja, um indivíduo dotado de uma visão antes mercantilista que social dos processos humanos. Concepções que agradam tanto ao jornal quanto aos setores políticos ligados ao neoliberalismo que tentam a todo custo impor sua agenda ao Brasil.
O que se conclui, após a análise destas notas jornalísticas, é que existe uma parcela importante de pessoas que insistem em reputar aos professores toda a responsabilidade pelo caos e pelo fracasso do sistema escolar. É o que faz, por exemplo, o especialista Rudá Ricci, ao indicar uma inadequação dos docentes ao que chama de “geração muito ativa”. As duas primeiras notícias às quais me referi neste texto mostram a natureza dessa “atividade”: violência, desrespeito, descaso, indiferença. Não concordo com o especialista, porque o que vejo no meu dia a dia como professor não é uma resistência juvenil sadia a um sistema obsoleto, mas sim um cenário inimaginável de inadequação total das novas gerações a toda e qualquer norma social de conduta e convivência.
O fracasso da educação é um problema mundial, e é reflexo de uma crise muito maior, que extrapola seus limites. O que se manifesta nas escolas hoje é o sintoma de uma crise social sem precedentes, com desfecho imprevisível.


Fonte da ilustração: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u738445.shtml (trata-se da ilustração que venceu o concurso da Folha de São Paulo. Seu autor é Fernando Real)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

Resenha - "O que é a Comuna?" de Karl Marx

Karl Marx: seu tempo e suas ideias

Quem era o homem que observou os acontecimentos da França de 1871 e extraiu deles considerações e conclusões profundas a respeito da dinâmica social daquele país, de suas diretrizes econômicas e instituições políticas? Compreender o escrito “O que é a Comuna?” é tarefa que exige, antes de qualquer coisa, que se saiba melhor de que ponto seu discurso é emanado.
Karl Marx nasceu numa Europa que ainda sentia as vibrações das grandes alterações trazidas pela Revolução Francesa. Filho de um advogado pequeno burguês de origem judaica, membro de uma família acossada pelo antissemitismo que se viu forçada à conversão ao protestantismo, ele cresceu numa região fronteiriça recém assimilada pela Prússia. Um governo de tendências absolutistas havia sido imposto pelo Congresso de Viena e tentava extinguir as influências da Revolução de 1789, enfrentando resistência quase sempre. Nesse cenário, ocorria ainda a consolidação e o antagonismo de duas forças jovens em ascensão: a burguesia e proletariado. Marx viveu no limiar de um período de transição histórico onde as forças sociais e econômicas se reacomodavam, e cuja configuração final ainda era indefinida. As possibilidades estavam abertas.
Sua formação foi variada, mas no doutorado Marx dedicou-se à filosofia. Impossibilitado de alcançar a almejada cátedra na universidade por conta de suas posições ideológicas divergentes das dos mandatários, ele encontrou no jornalismo um canal para veiculação de suas concepções. Desde a juventude, Marx preocupou-se com questões concernentes ao bem-estar da humanidade. No cenárrio em que viveu, identificou-se com a classe operária e se alinhou aos socialistas que buscavam formas de solucionar as mazelas que atingiam esse segmento da sociedade. Descontente com as ideias socialistas existentes, dedicou-se à formulação de um novo socialismo científico.
Em conjunto com Friedrich Engels, Marx elaborou um modelo de explicação que via a economia como elemento determinante das estruturas políticas e sociais. Detectou a existência de classes com interesses antagônicos em constante conflito. Essa disputa pela primazia entre as classes seria responsável pelos movimentos e transformações ao longo do tempo. Em sua obra mais conhecida, “O Capital”, de 1867, Marx empregou esse prisma para desnudar os mecanismos de funcionamento do capitalismo, apontando a contradição entre capital e trabalho e concluindo com a previsão de que os proletários acabariam por conquistar espaço mediante a supressão da propriedade privada.
A partir desse conjunto de ideias Marx criou um programa de ação e procurou colocá-lo em prática através da doutrinação do proletariado. Essa é uma característica marcante desse pensador: sua atuação política real e direta. Marx participou de inúmeras assembleias e reuniões de operários e líderes sindicais, onde argumentava a favor de suas ideias, além de promover sua doutrina por meio da imprensa, sendo reconhecido em toda parte como uma força política pró-operariado, a ponto de ser preso em 1848 sob a acusação de incitar rebeliões. No entanto, recusou sistematicamente todos os convietes para participar de movimentos armados. Desejava a libertação “de dentro para fora”, uma insurreição baseada na compreensão, não na força.
No plano pessoal e familiar, tais opções ideológicas trouxeram infindáveis problemas e inúmeros dramas. Foi obrigado a se deslocar constantemente, fugindo de perseguições, até encontrar um porto seguro em Londres. Submeteu-se e aos seus a uma vida miserável, onde a fome, o desconforto material e as doenças eram companheiras habituais. Três de seus filhos morreram ainda na infância, em decorrência dessa vida atribulada e pobre.
Em seus últimos anos de vida, debilitado e cada vez menos ativo, Marx percebeu uma tendência que iria se acentuar após sua morte: o empobrecimento de suas ideias. Seus discípulos promoveram uma interpretação ruim de seu pensamento, resultando em escritos e ações economicistas, reducionistas e dogmáticas. O aviltamento era tão patente que o próprio Marx se declarava não marxista.

A França no século XIX: na vanguarda da revolução

Para Marx, a França era um interessante laboratório de provas para suas teorias, uma vez que era o núcleo dos movimentos sociais que convulsionavam a Europa, a vanguarda do desenrolar dos acontecimentos e palco de uma luta prolongada entre as forças da burguesia contra o proletariado. Ele empregou a metodologia do materialismo histórico para empreender uma explicação dos acontecimentos da França. Estudou as engrenagens e a dinâmica de seus sistema econômico e identificou uma coincidência entre as alterações dele e as convulsões políticas. Percebeu, por exemplo, que a aristocracia financeira foi beneficiada no governo de Luis Felipe e que a exclusão dos outros setores sociais fomentou a Revolução de 1848. Estabeleceu uma clara relação entre os movimentos econômicos com os sociais e políticos, inferindo o determinismo daqueles nestes. Essa análise da situação francesa foi retomada e ampliada mais tarde, quando Marx se dedicou a explicar a Comuna.
Resta apontar ainda que, à época da Comuna, Marx já havia publicado sua obra principal e que os acontecimentos de abril de 1871 pareciam confirmar as predições expostas nela. A partir da Inglaterra, ele acompanhou vivamente os eventos que se sucediam na Paris communard, e declarou de imediato o apoio da Internacional Comunista ao movimento.

Aspectos Formais do Texto

Essa é a essência do discurso de Marx presente em “O que é a Comuna?”: desvendar, em cada evento político, as forças sociais e econômicas que se beneficiam dele, ou que se prejudicam com ele, apontando o sentido dos esforços dos atores envolvidos.
Neste escrito, Marx dedica-se inicialmente a descrever a formação do Estado moderno, apresentando-o como uma construção burguesa que surgiu como instrumento de tomada e manutenção de poder, em sua luta contra a estrutura feudal. Uma vez apagados os sinais dessa forma arcaica de organização socio-econômica, o Estado burguês torna-se ferramenta de controle sobre as classes trabalhadoras pelo capital.
Dessa forma, demonstra que a burguesia francesa aperfeiçoou progressivamente seus mecanismos de coerção sobre o proletariado florescente e cada vez mais organizado. A revolução de 1830, vista por esse prisma, é mais do que a mera substituição de monarcas: a ascensão de Luis Felipe representa a troca de grupo dominante no poder, dos proprietários de terra pelos capitalistas
A sujeição das classes produtoras se acirra com a chegada de Napoleão III ao poder. A burguesia, superando momentaneamente as dissensões internas, concentra nesse personagem seus poderes, o que leva a uma centralização radical que acabou ferindo de morte o sistema parlamentar. Segundo Marx, esse foi o ápice do domínio burguês, momento em seus ganhos atingiram níveis “jamais sonhados por eles mesmos”. Sintomaticamente, foi um período de grande miséria para a massa trabalhadora.
O desastre dos projetos imperialistas delirantes do governo abriu espaço para que os parisienses realizassem uma forma de governo que repudiava não só o regime monárquico como também a própria dominação de classe. A Comuna representava, nessa análise, o modelo de governo ideal para as classes trabalhadoras. Uma vez senhores do governo, os representantes dos trabalhadores atacaram diretamente os maiores pilares de sustentação do Estado burguês: as forças policiais e militares, que perderam suas atribuições políticas, e a Igreja, destituída de seus bens e de sua influência sobre os destino espirituais. Os sistemas judiciário e escolar e a administração pública sofreram reformas que expurgaram os mecanismos benéficos às classes possuidoras. É esse o sentido que Marx confere às ações que a Comuna desempenhou nos pouco mais de dois meses em que permaneceu no controle de Paris.
Do meio da profusão de acontecimentos e da nuvem de interpretações e opiniões, Marx extraiu uma diretriz geral e se entusiasmou com experiência comunal e autogestionária corporificada em Paris. Tratou de defender, ponto por ponto, as ideias e ações da Comuna, apontando-a como elemento inédito na história política da Europa. Ele procurou demonstrar que a Comuna, longe de querer destruir o Estado, desejava universalizar o acesso a ele, retirando-o das mãos de um único segmento social. O mesmo afirma em relação à propriedade privada: o que se pretende é socializá-la, arrancando-a do controle de uns poucos privilegiados e colocando-a a serviço do bem comum.
Para Marx, a comuna é a materialização das ideias expostas em “O Capital”: o esgotamento do sistema capitalista, a assunção do “mandato histórico” de arautos de um novo tempo pelas classes trabalhadoras, que libertam com suas ações as novas forças. É ainda a demonstração empírica de sua noção de luta de classes como desencadeadora de dinâmicas e transformações.
A derrota da Comuna, canibalizada pelos asseclas do “anão monstruoso”, Monsieur Thiers, amparados por Bismarck, fez Marx repensar alguns de seus conceitos. Daí por diante, ele passou a defender a necessidade de um período de transição entre a derrubada do capitalismo e a construção do socialismo, um hiato a ser ocupado por uma “ditadura do proletariado” capaz de superar, com suas forças centralizadas, o caos que se desenvolve nos momentos de transformações profundas.

Considerações Finais

O século XIX testemunhou o zênite da economia capitalista ortodoxa. Depois de uma longa etapa de desenvolvimento e elaboração, as forças desse novo modelo de organização sócio-econômica se viram livres de suas amarras mercantilistas e finalmente puderam realizar aquilo que Adam Smith e seus seguidores preconizaram em suas obras: uma economia onde o mercado dava as cartas e ordenava, sem outras orientações senão a da auto-regulamentação, a vida produtiva das sociedades. O trabalho e a terra, até então protegidos da lógica de mercado, foram finalmente assimilados e transformados em mercadorias.
Esse fenômeno sem precedentes na história provocou efeitos contrários e radicais: por um lado, as forças econômicas atingiram um auge de poder, criando um mundo de realizações grandiosas e impensáveis num passado não muito distante. A capacidade de intervenção das forças humanas se tornou imensa e, por um momento, virtualmente infinita. Por outro lado, porém, a mercantilização do trabalho representou uma transformação brutal na vida dos indivíduos, um movimento que quase destruiu as sociedades. Os dois extremos foram atingidos: a riqueza mais elevada e a miséria mais absoluta.
O que impediu a destruição foi uma reação quase instintiva de repúdio aos novos modos de organização. Aos poucos, o nível de consciência sobre os mecanismos de funcionamento do capitalismo cresceu. O ápice dessa tomada de consciência veio em 1867, com a publicação de “O Capital”, obra que pôs a nu o novo sistema econômico e, ao mesmo tempo, ofereceu uma perspectiva de mudança revolucionária para as massas oprimidas. A Comuna de Paris representou, afinal, um dos momentos em que o sofrimento do povo se converteu em luta.


Referências Bibliográficas

KONDER, Leandro. Marx: Vida e Obra.

MARX, Karl. ”O que é a Comuna?” In: FERNANDES, F. (org.). Marx e Engels - História. Col. Grandes Cientistas Sociais n° 36. São Paulo: Ática, 1983.

O problema do lixo em Iguape e região: um olhar retrospectivo




Era 2006, o ano em que eu trocara São Paulo pela bucólica cidadezinha litorânea chamada Iguape. Nesse período eu havia iniciado uma jornada de reconstrução pessoal e profissional, proporcionada pelas ótimas condições do lugar: trabalhava numa escola onde tinha a possibilidade de realmente dar aulas e vivia numa cidade encravada num dos últimos remancescentes de Mata Atlântica, que me ofereceu um contato direto com a natureza: trilhas, praias, cachoeiras.
Mas novas preocupações apareceram, quando percebi a relação brutal que as pessoas de lá tinham com o meio ambiente. Isso me foi revelado no dia em que conheci o depósito de lixo da cidade vizinha, Ilha Comprida. Todos os resíduos da região eram despejados ali, às margens do rio Candapuí, sem qualquer lógica nem cuidados. Ao redor dos dejetos, além de ratos e urubus, viviam dezenas de pessoas que obtinham seu sustento rasgando com as mãos nuas as sacolas rejeitadas pelos moradores da cidade. Me interessei pelo problema do lixo, e fui buscar mais informações sobre o tema. Acabei descobrindo outras áreas de despejo de lixo, algumas clandestinas, algumas desativadas, e até um antigo lixão transformado em área de construção de casas populares, no bairro do Rocio. Registrei todas essas descobertas com minha singela câmera de 4 megapixels, montei com as imagens e informações coletadas algumas apresentações em Power Point, as quais exibi para algumas pessoas.
Dois anos depois, trabalhando numa escola privada da cidade, tive a oportunidade de retomar o projeto. Convidei um pequeno grupo de alunos para revisitar os locais de depósito de lixo, dessa vez munidos com uma câmera de vídeo. O objetivo era produzir material para realizar uma série de palestras de conscientização e tentar, ao final, levar o poder público municipal a tomar providências com relação ao problema. Aproveitamos o ano eleitoral para entrevistar os candidatos a prefeito inquirindo-os sobre suas propostas para o problema do lixão (e percebemos que, na verdade, a maioria não tinha nenhuma). Entrevistamos ainda os catadores, coletando seus relatos, ouvindo suas reclamações. Tínhamos, ao final, várias horas de imagens.
Mas os planos grandiosos que animaram os esforços de todos acabaram-se melancolicamente. Os vídeos editados foram exibidos apenas uma vez, na feira de ciências no final do ano. A audiência respondeu com indiferença. O ano acabou, cada um seguiu seu caminho e as ideias ficaram pegando poeira no fundo da gaveta...
Me lembrei disso porque hoje uma das alunas que participou daquilo me escreveu, contando que passou a tarde olhando o material que coletamos naquele ano de 2008 e que quer usa-lo para fazer alguma coisa... Esse contato inesperado deu início a um balanço daquele trabalho, uma reflexão que se concentrou nos motivos do fracasso relativo do processo todo. Avalio que o que nos desmotivou foi perceber, ao longo do estudo, que era uma luta perdida. Descobrimos que os órgão ambientais já haviam multado a prefeitura da Ilha diversas vezes por conta do problema do lixão, e que a atitude dos prefeitos frente a essas ameaças era a indiferença. Conversamos com os políticos que mostraram despreparo, ignorância, desconhecimento e uma clara atitude de não se comprometer
Analisando friamente hoje, a questão do lixão, assim como todos os outros problemas da região, é uma coisa que vai levar tempo pra ser resolvida, simplesmente porque não é prioridade para a sociedade. As pessoas da comunidade, que são a única força capaz de imprimir mudanças reais, não estão nem um pouco preocupadas com o destino do lixo.
Parecem pessimistas minhas conclusões, mas é a elas que chego hoje, alguns anos depois do acontecido...

Fotos: acervo pessoal

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Zumbizero


Esse texto é de um grande poeta-filósofo que observa, desde tempos imemoriais, do alto de suas torres como uma gárgula, a movimentação incongruente das pessoas que se movem, como formigas, e deixam trajetórias sempre tristes e irrefletidas. Já teve muitos nomes, mas hoje encarna a figura do Zumbizero. Direto das ruas de Araçatuba, a implacável escrita deste notável:


Ladeira

I
Pegue embalo na ladeira, vá perdendo altitude, caia na realidade, conheça a magnitude do abalo que embala as estruturas da cidade, onde o homem acordado sonha com a felicidade, e essa fantástica utopia vai comprando a prestação, de vida a caixa vazia ausente em presente ilusão a alma vendida ao diabo enquanto o corpo busca paz e imagina o horizonte com medo de olhar para trás.


E alêm do mais, teu sonho alimenta a cidade, esse monstro que se cria ao devorar dignidade.

II
Por entre ruas sempre cheias de pessoas tão vazias, caminhando sós e alheias dentro de suas fantasias, fora da realidade submerge a multidão que persegue cega as rédeas da própria corrupção, entre o som do vozeirio desvairado e delirante que dilui o individuo numa massa dissonante que com pedras molda o mundo a primitivos ideais e arranha o céu com seus altares feitos de nobres metais.

E alêm do mais, teu sonho alimenta a cidade, esse monstro que se cria ao devorar dignidade


III
E um grande circo então se arma em torno da sociedade e embriagando-se os sentidos patrocina-se a vontade do anuncio que propaga na armadilha cintilante as cores vivas do néon atraindo o destino errante, pelo atalho na corrida que organiza o vencedor, cada qual aposta a vida ou guarda em frascos seu suor, vendo o desejo com o tempo sem valor frente a razão mostrar-lhe o pescador de outrora preso a rede da ilusão.
Este texto, e outros do mesmo jaez, podem ser fruidos no blog original do Zumbizero:

sexta-feira, 7 de maio de 2010

domingo, 2 de maio de 2010